sexta-feira, 30 de abril de 2010

Refeição Cultural 52

Foto de William Mendes: uma flor "vira-lata" (não menos linda que uma flor com pedigree)
Liberdade, laços de ternura e o valer a pena

A minha digestão cultural do momento abrange a minha visita à Uberlândia, onde está minha família querida, o filme Spirit - o corcel indomável, a saudade de minha tia falecida, e sobre o que vale a pena para estar vivo.

Vale a pena viver de qualquer jeito? Vale a pena ser escravo? Não ser livre?
Penso nisso toda vez que reflito sobre a escravidão humana e sobre a luta pela liberdade de uns e pela não-luta pela liberdade de outros.

No filme Spirit, o protagonista não aceitou ser subjugado e perder a sua liberdade. Filme infantil - é um desenho de longa-metragem - mas é um filme muito legal, feito em 2002.

Antes do filme, vi um diálogo entre dois homens negros (era uma cena da novela Sinha Moça) onde um negro explicava ao outro como era a vida livre deles na África e comparava a tentativa fracassada dos colonizadores em fazer os índios escravos, pois os silvícolas não aceitaram o "regime produtivo de exploração e escravidão dos europeus".

EU NÃO VIVERIA COMO UM BOI, COMO UM ESCRAVO PARA OUTRO SER HUMANO. SERIA MELHOR MORRER LUTANDO.

Estou bebendo a presença de meus pais, minha avozinha e meus famíliares de Minas que tanto gosto por três parcos dias.

Minha vida tem sido corrida e atribulada de maneira a não poder estar um tempo mínimo com as pessoas que são meus laços com a existência. Isso só não deprime mais o próprio ser porque não dá tempo para tal.

De repente, perdi uma tia que eu amava muito; minha avozinha está daquele jeito - uma casquinha de ovo; meus primos com problemas de saúde; meu tio quase morreu com dengue; meu pai com doença degenerativa nos rins... e eu quase não os vejo! Que maus!

O que posso dizer e refletir? A resposta é aquela que Chris McCandless descobriu em sua jornada pela NATUREZA SELVAGEM:

HAPPINESS ONLY REAL WHEN SHARED!

E pelo que vale a pena viver?

Eu evito parar para filosofar sobre isso porque sempre me pego deprimido de não dedicar-me a coisas que gostaria e não posso fazer, ver, sentir.

Porém, levo uma vida concreta. Concreta no sentido de ser hoje um militante de esquerda e progressista que procura fazer algo para mudar o mundo. E sei que várias vezes fico devendo ao mundo fazer algo melhor. Mas não posso perder o foco.

Devo buscar organizar pessoas para lutarem por um mundo socialista e democrático, tolerante e justo, que divida riquezas produzidas por todos a todos, e que busquem consumir menos do planeta para que as gerações de amanhã possam desfrutar de um mundo como nós o fazemos.

É isso! Afinal, parece que um pouco disso seria aquilo que pensamos sobre o comunismo.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Refeição Cultural 51

Filme "21 Gramas" e o imponderável quebrando a pretensa estabilidade


Estava ainda nesta quarta-feira almoçando com pessoas companheiras e debatendo sobre a vida, a fé e o imponderável.


Eu estava questionando a existência de um suposto deus, através da questão do imponderável nas e das existências.


No entanto, o tempo inteiro tenho concordância sobre a importância que o místico ocupa na explicação das existências: a fé em algo metafísico ajuda a dar uma conformação à nossa existência trágica.


Sem esse liame que liga passado, presente e futuro, justificando perdas e sofrimentos, bem como alegrias, o ser humano racional teria muita dificuldade em aceitar a existência trágica.


Após o almoço, encontrei em um café mais alguns companheiros que casualmente deram sequência no debate que eu já havia feito sobre o programado pela cilivização e o imponderável.


Interessante! Quando comentamos sobre a erupção do vulcão na Islândia e o caos incalculável causado a milhões de pessoas, a primeira coisa que me veio à cabeça foi a situação encaixar-se como uma luva naquilo que eu dizia sobre o imponderável ser a constante em nossas vidas supostamente programadas e estabilizadas com rotinas sociais.


O FILME "21 GRAMAS", de 2003

Assim que cheguei a casa à noite, o imponderável me pôs diante da tv e comecei a assistir ao filme com Sean Penn, Benicio Del Toro e Naomi Watts, com a direção de Alejandro González-Iñarritu.


O filme é todo fragmentado. Tem semelhanças com Crash e interliga vidas, fatos e consequências.


O filme é muito bom!


Lembrei-me do debate do dia sobre as pessoas dizerem que têm um certo controle de suas vidas e que não estão à merce do imponderável a todo instante.


Cara, assim como acontece no filme, ou seja, aquela interrupção da pretensa estabilidade em que vivia a moça protagonista, a nossa vida é toda marcada pelo imponderado. A todo instante.


A MINHA CRENÇA

Eu acredito que não há nenhuma predestinação, ou desenho inteligente, ou qualquer outra forma de organização do mundo e das pessoas e demais existências dentro do planeta que respeitem a certa ligação cármica ou dármica, de retorno ou recorrência, inerentes a vidas passadas ou futuras ou ainda a certas passagens de algum ser consubstanciado em uma matéria como essa que vos fala. Mas respeito aqueles que assim veem a existência.


Fazemos escolhas a todo instante, é verdade. Porém, não somos uma ilha e tudo que se passa ao nosso redor tem impacto em nossas vidas.


Nessa conformação real é que se encaixa a conformação mística criada pela grande maioria das pessoas.


O ser humano está a milhares de anos buscando certa estabilidade em forma de um mundo organizado onde se tenha disponível todas as maravilhas produzidas pela tecnologia humana. As religiões e crenças ajudaram na questão de formatar explicações para as tragédias existenciais.


MAS, o imponderável está a todo instante, hoje e sempre, nos lembrando que o nosso mundo "arrumadinho" é falível e que tudo o que é planejado tem uma semente de caos.

Aliás, termino lembrando de uma aula de biologia que tive onde a professora explicava o exato momento em que havia na separação e multiplicação das células o momento mágico chamado CROSS-OVER, evento da natureza que faz com que não tenhamos sempre cópias iguais de cada ser reproduzido. É O CAOS GERANDO A VARIABILIDADE GENÉTICA E RICA QUE SALVA A EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES DESDE SEMPRE.

Crossing-over
O sobrecruzamento dos cromossomas durante a meiose I pode fazer aumentar a variabilidade genética dos gâmetas. O cross-over permite a recombinação de genes localizados em cromossomas homólogos. Dado que cada cromossoma contém milhares de pares de bases e que o cross-over pode ocorrer entre qualquer delas, as combinações são incalculáveis.

A fecundação, o fenômeno que permite transmitir ao novo indivíduo a constituição genética dos dois gâmetas. A união de dois dos gâmetas, entre milhares deles formados ou possíveis, faz com que a constituição genética de um novo indivíduo seja totalmente imprevisível.

Resumindo, a reprodução sexuada pode contribuir para a variabilidade das populações por três vias: distribuição ao acaso dos cromossomas homólogos, sobrecruzamento e união ao acaso dos gâmetas formados. No entanto, a reprodução sexuada não cria nada de novo, apenas rearranja o que já existe nos progenitores. (fonte: portalsaofrancisco.com.br)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Refeição Cultural - A importância da Leitura


Eu e Miguel de Cervantes em Toledo, Espanha (set/2009).
Cervantes era leitor voraz, lia tudo... 
"aunque sean los papeles rotos por la calle".

(Atualizado em 26/11/16)

Fidel e Che, a importância da leitura

Li com razoável facilidade a primeira parte do livro sobre a amizade de Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. (depois terminei o livro com a mesma facilidade)

Comentei com amigos e companheiros que eu pouco conheço a respeito da vida desses dois ícones revolucionários, apesar de me considerar uma pessoa de esquerda.

É tocante o quanto a vida juvenil e adulta de ambos está interligada com a leitura e o estudo. Eles leram e estudaram muito. Cada um à sua maneira, mas foram leitores contumazes. Lembrei-me do amigo Gilmar Carneiro dizendo que devemos ler todos os dias, ao menos 30 minutos.

Na leitura deste livro, lembrei-me o quanto a leitura foi importante na minha infância e adolescência. É uma pena que eu não tenha começado por livros mais profundos sobre sociologia, antropologia, filosofia, história e outros do gênero.

Também não comecei a ler por uma literatura mais "engajada" ou "clássica". Mas foi importante começar a ler qualquer coisa.

Acho que somando a leitura de livros com a educação religiosa de minha mãe, o resultado foi a minha saída das ruas e a minha maior permanência longe dos problemas das gangues que haviam no bairro Marta Helena, em Uberlândia, nos anos oitenta.

Meu primo Jorge Luiz tinha muitos livros, pois a minha tia era funcionária pública e ele assinava o Círculo do Livro. Foi dali que comecei a ler um livro atrás do outro. 

Não vou dizer que não li livros clássicos na adolescência, pois posso citar alguns como "Lolita" de Vladimir Nabokov, "O vermelho e o negro" de Stendhal, li Shakespeare, Machado de Assis, Eça de Queirós. Mas é evidente que o que mais li foi Stephen King e outros mais de terror e suspense.


VOLTANDO A FIDEL E CHE

É interessante como as histórias vão se interligando. Che Guevara estava na Guatemala quando a CIA e La Frutera derrubaram o governo democrático e progressista de Árbenz em 1954.

Eu já conheço um pouco esta história porque li faz um tempo "Week-end na Guatemala" de Miguel Ángel Astúrias. Mas nunca imaginei que o jovem Che Guevara (e outros exilados revolucionários) estivesse no país durante o massacre dos guatemaltecos pelos mercenários contratados pela CIA e pelos capitalistas investidores no país.


Presente dos amigos durante curso 
de formação da Contraf-CUT.

Uma frase de Fidel Castro, escrita durante sua permanência na solitária, me emocionou bastante, pois é algo que sempre penso. Aprender algo útil todos os dias para compreender melhor o mundo e para evoluir também como pessoa é uma necessidade.

"Esqueço tudo o que existe no mundo e me concentro mais uma vez no esforço de aprender algo novo e útil, mesmo que seja apenas para entender melhor a humanidade" (Fidel Castro, durante sua prisão)

Que coisa bela!!

Se servir de algo partilhar o que penso com meus amigos e companheiros do movimento sindical e progressista, diria:

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Insisto para que cada dirigente dedique ao menos 30 minutos de leitura diária de algum texto ou obra literária mais engajada e com reflexão. É muito importante para a formação do próprio eu.
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O mundo contemporâneo perdeu muito com a quantidade de coisas inúteis disponíveis que disputam os segundos da nossa existência com uma leitura mais densa e reflexiva, com um bom debate entre amigos, uma boa música com letras que nos põem a pensar etc.

Companheiros, leiam ao menos 30 minutos por dia, assim como vocês se alimentam algumas vezes ao dia. É para a própria formação ética, filosófica e humana.

O que vocês estão lendo atualmente? Teçam comentários a respeito.


Post Scriptum (26/11/16):

O Comandante Fidel Castro, grande líder revolucionário, faleceu em 25/11/16, aos noventa anos de idade.

Comandante Fidel, você, Che e a Revolução Cubana, seguirão sendo grandes inspirações para nós, que lutamos pelos povos trabalhadores e humildes e contra o imperialismo e o capitalismo, sistema de exploração do homem pelo homem e de destruição do Planeta.

Presente!

William

domingo, 18 de abril de 2010

Refeição Cultural 49

Foto de William Mendes: Plaza de Toros, Madrid, set/09.
Mariátegui, Fidel e Che, Minority Report e caminhada

(Atualizado em 14/6/10)

Pelo menos, não posso reclamar que não li nada hoje, pois li 54 páginas do livro sobre a vida e obra de Mariátegui e li um capítulo do livro sobre Che e Fidel –mais 28 páginas-, livro que ganhei de meus amigos da segunda turma do curso de formação de dirigentes sindicais bancários, curso finalizado na última semana.

Caminhei umas duas horas hoje na "hora" do almoço – almoço dos outros, ou seja, entre uma e três da tarde – e pensei sobre muitas coisas. Pensei sobre o que fazer de minha vida para deixar de ser tão infeliz pessoalmente. Pensei sobre o rumo que dei na minha existência pessoal, estudantil e profissional. Pensei sobre alguma perspectiva futura palatável à minha existência pesada.

Lendo biografias como a desses revolucionários e intelectuais de esquerda que citei acima, vejo o quanto a minha caminhada foi totalmente distinta da deles. Estou com mais de quarenta anos e só estou na militância mais organizada há dez. Tenho buscado conhecer melhor o que somos e de onde viemos, para poder seguir os princípios, premissas e práticas daqueles da geração que me antecedeu.

Mas, ao mesmo tempo que estou nisso – a militância-, vejo o quanto a minha vida pessoal continuou caótica. Sim, porque seria mentira se eu dissesse que foram o movimento e a militância que tornaram a minha vida caótica. Ela sempre o foi, em todos os sentidos – pessoal, estudantil e profissional.

Lendo o livro que ganhei de amigos e que fala da amizade de Fidel Castro e Ernesto Che Guevara, acabo percebendo que eu estou no caminho certo em querer prestar mais atenção a minhas amizades, pois eu não cuido e nunca cuidei de preservar as boas amizades que tenho.

Porém, esse cultivo da amizade que quero fazer me traz problemas domésticos, pois em casa sempre pensam que todos os relacionamentos humanos são movidos a paixões e desejos carnais – problemas acarretados pelo mal-estar do ciúmes. Que coisa triste e inconveniente o ciúmes, mas bastante real em minha vida atual.

Sobre o ato de ler em si mesmo, eu sugiro aos raros leitores de minhas reflexões que LEIAM COMO ATO COTIDIANO E COM ATENÇÃO REFLEXIVA. Acredito piamente que a leitura pode mudar a vida das pessoas, e além de tudo, a leitura pode mudar o mundo. Só a educação para a libertação da mente pode CRIAR GERAÇÕES QUE TRANSIJAM PARA UMA SOCIEDADE SOCIALISTA, MAIS JUSTA, DEMOCRÁTICA E IGUALITÁRIA COM O RESPEITO ÀS DIFERENÇAS.

Não será a educação atual, pública e privada, ocidental e oriental, domesticadora e adestradora que se tem por aí, que mudará a tragédia global de miséria humana e falta de solidariedade e distribuição da grande riqueza material produzida por muitos e retida por poucos, tragédia global que impera no planeta.

Sobre o filme Minority Report – a nova lei, tenho a dizer que acho bem interessantes esses filmes que pensam o futuro, mesmo quando viajam muito na maionese. Algumas coisas já são realidade como, por exemplo, a leitura da retina como identificação das pessoas. Fico pensando em uma das obras futuristas que mais admiro: Admirável mundo novo, de Aldoux Huxley, de 1931, o livro é demais!


TAGS: AMAUTA, MARIÁTEGUI, FIDEL CASTRO, ERNESTO CHE GUEVARA, BIOGRAFIAS, REFEIÇÃO CULTURAL, ESPORTE E SAÚDE, LEILA ESCORSIM

sábado, 17 de abril de 2010

Caminhada vespertina reflexiva

Foto de William Mendes, abril/10.
Hoje caminhei uns 7 km. O dia foi bastante belo.


Venho de uma semana sem praticar nenhum exercício físico, pois estive no último módulo do curso de formação de dirigentes sindicais bancários feito pela Contraf-CUT e Dieese para a Fetec CUT SP.


Ganhei um livro da turma sobre a amizade entre Fidel Castro e Ernesto CHE Guevara. Já comecei a lê-lo e me parece muito bom.

domingo, 11 de abril de 2010

Caminhada de domingo - confesso que movida à preguiça

Foto de William Mendes. Anoitecer em Madri, em tarde fria de set/2009.
Caminhei hoje uns 7,5 km pela manhã. Estava com uma preguiça desgraçada! Mas... caminhei.


Bom, para embelezar meu blog, postei aqui uma bela imagem do anoitecer de um dia muito frio em Madri, estava me despedindo de meu curso na OIT e iria embora dois dias depois.

Fala que a foto não está bonita, heim! Estou no segundo andar de um ônibus de turismo que fazia um passeio pelo roteiro da cidade antiga.

sábado, 10 de abril de 2010

Refeição Cultural 48 - O resgate do soldado Ryan, 1998, Spielberg

Foto de William Mendes abr/10.
(atualizado em 11/04/10)

Cheguei a casa nesta sexta-feira, cansadaço da semana de trabalho e acabei colocando o filme de Spielberg sobre um evento real da 2a GM - o desembarque na Normandia, em 6 de junho de 1944 - e sobre um evento ficcional - o resgate de um soldado americano, cujos três irmãos haviam morrido no mesmo conflito.

A opção pelo filme foi meio circunstancial, pois meu filho o assistiu com os amigos para fazer um trabalho de escola. Como eu não via o filme há muito tempo, resolvi dar uma olhada.

Aliás, dar uma olhada é modo de dizer porque na verdade são quase três horas de sofrimento na cadeira, pois além do martírio dos 2o minutos iniciais - o banho de sangue na tela reproduzindo o desembarque na praia dos soldados americanos sob fogo cruzado dos alemães - o restante do filme segue com a tensão do cotidiano da guerra, de não saber sobre o minuto seguinte.

Destaco a excelente interpretação do ator Tom Hanks. É impressionante como grandes filmes que marcaram uma geração - a minha - têm a interpretação desse ator, filmes como Forrest Gump e O Náufrago.

Após o filme, li um pouco sobre a 2a GM. Foram 20 páginas de uma velha apostila do Anglo sobre o conflito.

REFLEXÃO
Terminado o filme, fiquei pensando sobre a guerra e sobre nós, humanos de ontem e de sempre.

Não tenho uma visão otimista dos humanos quando olho as crianças e a juventude ao meu redor. Eu os acho deprimentes e vazios. Não existem mais valores como respeito ao próximo, ética, caráter, solidariedade e noção de justiça coletiva. Não existe!

O que fazer? Penso que devemos insistir na educação, mas primeiro deveríamos educar os adultos para então ser possível somar a educação em casa com a educação na escola.

Como os adultos estão deseducando seus filhos, dizendo que eles mandam no mundo e mandam nas pessoas que prestam serviços pagos por seus pais - educação, saúde, limpeza, transporte etc - não tem sido possível conjugar a liberdade que as gerações anteriores pensaram e conquistaram com a ideia de ética e de valores humanos como caráter, solidariedade e senso do respeito ao coletivo e ao próximo, que são tão necessários nas liberdades democráticas.

Pensar um mundo mais justo e igualitário, com menos guerras e intolerâncias, que conjugue democracia e liberdade, passa necessariamente por mudar os adultos que estão criando seres egoístas, egocêntricos e individualistas que não conseguem perceber sequer que todos vivem no mesmo espaço-mundo e que dependem uns dos outros para tudo, desde o pãozinho que comem até o ar que respiram.

Estamos atentos a isso? O que eu e você estamos fazendo neste momento, neste dia, em relação a isso?

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Fuçando em meus guardados de latim

Foto de William Mendes: Praça São Marcos, Veneza - Itália, set/09(atualizado 13/04/10)

Acordei esses dias fuçando em meu velho livrinho de gramática do latim.

Quando estudei dois semestres na faculdade, espaçados uns três anos um do outro, fiquei com uma sensação de frustração muito grande porque não aprendi nada da língua.

E, na verdade, eu acho o latim muito interessante. Além disso, acho importante o seu conhecimento pois ele é raiz das línguas românicas ou neolatinas como o português, o italiano, o espanhol, o francês, dentre outras.

Autores como Lima Coutinho afirmam ser o português o próprio latim modificado, pois "80,7% do léxico comum a Portugal e Brasil vertem do latim; 16%, do grego pelo latim; 4%, de outras línguas" (Bussarello, 2002).

"ADMIROR TE PARIES NON CECIDISSE (RUINIS) QUI TOTT SCRIPTORUM TAEDIA SUSTINEAS" (grafite de Pompeia)

"Admiro, parede, não teres caído em ruínas, tu que suportas tantos tédios dos escritores".

COMENTÁRIO:
Um leitor pediu-me que falasse um pouco melhor sobre ter dito que não aprendi nada da língua latina.

É que eu considero que tenho algumas incompletudes ou lacunas culturais tremendas. Uma grande área de lacunas de conhecimento que tenho é com relação às letras. Entrei na Usp em 2001 e logo depois no movimento sindical. Isso fez meu foco de responsabilidade se voltar para a representação de meus colegas bancários e o curso de letras ficou em segundo plano. Tanto que ainda devo 3 matérias obrigatórias para completar o bacharelado.

Acabei não explorando todas as possibilidades que a faculdade de letras me daria. Não melhorei o meu parco conhecimento em literatura. Não consegui fixar as estruturas básicas da língua latina - tão úteis para compreender as línguas portuguesa, espanhola, italiana e francesa - e, o pior de tudo, continuo ignorante em gramatiquês. É UMA PENA!


Bibliografia:
FURLAN, Oswaldo A. e BUSSARELLO, Raulino. Gramática Básica do Latim. Editora DAUFSC, 3a edição, 1997.
BUSSARELLO, Raulino. Dicionário Básico Latino-Português. Editora da UFSC, 2002.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Cartas de filho pra pai


Com meu pai em novembro de 2009.

Pois é meu pai querido, cá estamos para uma troca de palavras ou talvez de impressões.

Estou ficando velho. Maduro. Tenho sofrido muito com os problemas que você e mamãe estão enfrentando com a morte recente na família, de nossa tia, e a fragilidade de nossa avozinha.

Também me angustia muito saber de seus problemas de saúde e não ter me preparado na vida para ter suporte financeiro para cuidar melhor de vocês. Talvez tenha feito opções erradas ao não pensar em dinheiro durante a minha vida.

Essa carta é para dizer por escrito a você e ao mundo o quanto vocês são minhas referências e meu cais. Como vivo sem uma âncora rija e sólida, até hoje vocês e minha família de Uberlândia, que está se esfarelando, são o cais mais apropriado para atracar vez por outra de minhas jornadas nesta sobrevida.

Vocês sabem o quanto preciso de vocês vivos. A verdade é que preciso de vocês vivos inclusive de maneira egoísta, é por mim, é para mim mesmo, porque eu levo a minha vida com pouco apego a quase tudo da existência, mas sempre que caio... tenho vocês.

Pai, o que sou hoje em termos de princípios e atitudes de lutar pelo que acho correto e justo, não praticar o mal a ninguém, não querer aos outros o que não quero para os meus é fruto da educação e criação consistentes que você e minha mãezinha me deram naqueles tempos difíceis dos anos oitenta.

Amo você pai, e amo a minha mãe.

Espero longa vida a vocês e soluções para seus problemas de saúde, e de falta de atendimento público para seu tratamento.

Um beijo de seu filho.

William Mendes


Post Scriptum (9/08/15):

Anos depois, felizmente tenho você comigo pai. E tenho minha mãe também. Já não temos a tia Alice e a vovó Cornélia. Os problemas de saúde de vocês, até pela idade que avança, persistem. Felizmente e por uma casualidade, minha nova tarefa de representação dos trabalhadores me permite pagar um plano de saúde para vocês. O Brasil, com toda a crise mundial após 2008 (crise do sub-prime) criou o Programa Mais Médicos, que completou dois anos, e o programa já atende a 67 milhões de pessoas. Mas é evidente que estamos longe do ponto ideal na saúde pública, até porque não se faz mudanças nesta área em curto prazo, ainda mais em um país continental. Enquanto eu puder, investirei na saúde de vocês porque os amo e porque é meu dever de filho.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sarcopenia, esportes e alimentação após os 35 anos


Foto de William Mendes em fevereiro de 2010.

"EXPERIENTIA DOCET" (Tácito)
"A experiência ensina"


Corri e caminhei um pouco no domingo. Depois disso foi só chuva em São Paulo.

Li um texto sobre esporte e saúde e relembrei muito de meu curso inacabado de educação física, feito na década de noventa. Eu tenho certeza que seria um excelente profissional da área. Foi uma pena não ter terminado!

O texto que li explica um pouco sobre esporte, alimentação e perda de massa muscular na idade adulta - após 35 anos.

Sarcopenia: é o processo de redução de massa muscular depois dos 35 anos.

Ciclo vicioso de alimentação inadequada com falta de exercícios acelera o processo de sarcopenia.

1. A partir de certa idade, em geral após os 30 anos, o metabolismo corporal fica mais lento. Se fica mais lento, quer dizer que passa a consumir menos energia para se manter as funções normais do corpo, ou seja, sem carga extra de consumo de energia - exercícios físicos, por exemplo - as pessoas deveriam passar a ingerir menos calorias diárias.

2. Para complicar mais a situação, após os 30 anos as pessoas começam a perder massa muscular. Vale lembrar que os músculos precisam de muita energia para manter suas funções normais. Se diminuem os tecidos musculares no corpo, diminuem também os gastos de energia basilar.

Muita gente consegue unir o ruim ao desagradável quando se trata de cuidar da saúde do corpo após entrar na fase adulta posterior aos 35 anos. Além de serem sedentárias, começam a fazer regimes de cortar carboidratos da alimentação diária.

RECEITA TERRÍVEL PARA O SISTEMA MUSCULAR E EQUILÍBRIO CORPORAL

Ao invés de se fazer atividades físicas e continuar comendo alimentos ricos em carboidratos, que liberam energia fácil, as pessoas fazem o contrário: cortam o carboidrato e não fazem exercícios físicos.

RESULTADO: o corpo começa a ter sobra de calorias por gastar menos energia basilar diária, o que faz o organismo acumular essa sobra em forma de gordura. Além disso, como a pessoa troca o carboidrato por outro alimento como proteínas, o corpo vai buscar a energia que precisa justamente na energia disponível nos músculos que já estão sofrendo redução natural.

Eu já havia aprendido há bastante tempo uma formulazinha de ordem de consumo de energia do corpo.

Primeiro, o corpo consome a glicose que está disponível no sangue; depois recorre ao fígado que acumula glicose na forma de glicogênio; em seguida... vai buscar energia nos músculos! Só depois é que começa a consumir aquela energia que está acumulada na forma de gordura.

RESULTADO DA FALTA DE EXERCÍCIO, REDUÇÃO DA MASSA MUSCULAR E DE MENOS CONSUMO DE CARBOIDRATO: BOMBA!!

Pensem nisso e comecem a caminhar, correr, nadar, fazer musculação (é muito importante) e continuem consumindo moderadamente todos os tipos de alimentos. É a velha concepção budista de seguir o caminho do meio - nem um extremo, nem outro!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O porquê de "Esaú e Jacó", de Machado de Assis, ser bibliografia básica da carreira diplomática

Foto de William Mendes: pôr do sol no Palácio Real de Madri - Espanha (a partir da fachada sul, vendo o Pátio de Honra).
(atualizado em 4/4/10)

Estou pensando no porquê de o romance de Machado ser leitura obrigatória para o concurso da carreira diplomática do Itamarati.

Acredito que seja por se tratar a personagem de um diplomata aposentado que, ao falecer, deixa um conjunto de sete tomos sendo os seis primeiros do Memorial e um sétimo chamado de Último, que o narrador viria a chamar de Esaú e Jacó.

Machado descreve aquelas que seriam as características necessárias a um funcionário da carreira diplomática até à contemporaneidade dele.

"Não me demoro em descrevê-lo. Imagina só que trazia o calo do ofício, o sorriso aprovador, a fala brande a cautelosa, o ar da ocasião, a expressão adequada, tudo tão bem distribuído que era um gosto ouvi-lo e vê-lo".

Talvez o Ministério das Relações Exteriores veja também no conselheiro Aires as características básicas para um diplomata. O jeito de não pender apaixonadamente nem para um lado nem para o outro, de maneira a tentar conciliar os lados em qualquer tipo de pendenga internacional.

"Era cordato, repito, embora esta palavra não exprima exatamente o que quero dizer. Tinha o coração disposto a aceitar tudo, não por inclinação à harmonia, senão por tédio à controvérsia. Para conhecer esta aversão, bastava tê-lo visto entrar, antes, em visita ao casal Santos. Pessoas de fora e da família conversavam da cabocla do Castelo..."

E segue o conselheiro sem entrar em "bola dividida":

"-Chega a propósito, conselheiro, disse Perpétua. Que pensa o senhor da cabocla do Castelo?

Aires não pensava nada, mas percebeu que os outros pensavam alguma cousa, e fez um gesto de dous sexos. Como insistissem, não escolheu nenhuma das duas opiniões, achou outra, média, que contentou a ambos os lados, cousa rara em opiniões médias. Sabes que o destino delas é serem desdenhadas. Mas este Aires, - José da Costa Marcondes Aires, - tinha que nas controvérsias uma opinião dúbia ou média pode trazer a oportunidade de uma pílula, e compunha as suas de tal jeito, que o enfermo, se não sarava não morria, e é o mais que fazem pílulas. (...)"

MAS atenção, não quer dizer que o diplomata não tinha opinião e não a manifestava:

"Não cuides que não era sincero, era-o. Quando não acertava de ter a mesma opinião, e valia a pena escrever a sua, escrevia-a".

Bibliografia:

ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. In: Obras Completas. Editora Globo, 1997.

Leitura de Esaú e Jacó, de Machado de Assis

Foto de William Mendes: Palácio Real de Madri - Espanha (vista da fachada sul, a partir da Plaza de la Armería).

(atualizado em 29/8/11)

Ó céus! Ó vida! Como faz falta poder ler diariamente e alimentar minh'alma (cérebro) com o saber, da mesma forma que se alimentam os humanos que têm acesso à comida que alimenta o corpo e comem, comem, comem... (e olha que os humanos vivem para comer, e não o contrário, ou seja, deveriam comer para viver - como disseram os bichinhos no filme "Os sem floresta").

Peguei novamente para ler o livro Esaú e Jacó, penúltimo romance do mestre Machado de Assis, de 1904 (antes, havia começado a lê-lo em 2008 e depois em 2009).

Toda vez que leio com atenção, como diz o narrador da história "O melhor é ler com atenção", fico espantado e admirado com o quanto é ferina e constante a ironia machadiana. Cada frase de cada obra sua é uma construção que fala ou critica algo de nosso mundo - ou, do mundo de seu tempo e do seu passado.

E fico às vezes pensando se o professor Hansen (Usp) tem razão ou não quando dizia que é uma tremenda covardia pedir para um adolescente ler Machado de Assis pela dificuldade de compreender e captar toda a ironia e figuras de linguagem lançadas em cada parágrafo de sua arquitetura literária.

Já o professor Antonio Candido diz o contrário em algum texto seu, que não me lembro o nome, ou seja, que devemos deixar a literatura a disposição das pessoas de qualquer nível intelectual ou idade ou condição social pois elas sempre saberão captar o que há de bom na boa literatura.

Bom, o que eu sei é que ler Machado é diferente de tudo. A vontade é de ficar lendo e relendo algumas frases e de ler para as pessoas que estão em nosso entorno para dividir tanta maravilha.

A NECESSÁRIA ACUIDADE RACIONAL PARA NÃO ERRAR NA INTERPRETAÇÃO

Li certa vez uma frase nesta obra onde eu havia erroneamente interpretado que o narrador dizia mal dos banqueiros, algo como denunciá-los de levar vida vadia.

É um problema muito recorrente com a leitura de grandes autores. O maior exemplo da história talvez seja o velho Karl Marx. Cada um o lê como quer, com a passionalidade peculiar a cada cabeça e saem por aí dizendo que o coitado do Marx afirmou isso ou aquilo...

Como eu odeio banqueiro, quando li da outra vez não tive a capacidade de entender a frase inteira. Acusei Machado, na margem da página, de afirmar o que ele não afirmou. Vejamos o caso:

CAPÍTULO VIII - Nem casal, nem general

(O casal está elucubrando sobre o destino profissional que darão aos seus dois rebentos, os gêmeos Pedro e Paulo. O pai é de origem humilde mas se deu bem na vida e trabalha em algum posto importante em banco)

"Pedro seria médico, Paulo advogado; tal foi a primeira escolha das profissões. Mas logo depois trocaram de carreira. Também pensaram em dar um deles à engenharia. A marinha sorria à mãe, pela distinção particular da escola. Tinha só o inconveniente da primeira viagem remota; mas Natividade pensou em meter empenhos com o ministro. Santos falava em fazer um deles banqueiro, ou ambos. Assim passavam as horas vadias. Íntimos da casa entravam nos cálculos. Houve quem os fizesse ministros, desembargadores, bispos, cardeais..."

Vejam o meu comentário: "Banqueiros! Vadios já no século XIX".

Na leitura de hoje, mais atenta como sugere o próprio autor, foi simples perceber que a expressão "Assim passavam as horas vadias" não está se referindo ao modo de vida dos banqueiros.

É uma frase que faz referência às horas vadias passadas pelas personagens em casa, ali onde estavam naquele momento da história, fazendo elucubrações sobre o futuro dos filhos. Aquele momento é a referência das horas vadias.

MAS o meu ódio aos banqueiros não me permitiu sequer ler corretamente uma obra literária...

É sobre isso que o bom leitor tem que fijarse, estar atento, be atencion etc, sob pena de ler ler ler e não entender nada que se quis dizer e ainda sair por aí dizendo que o autor afirmou isso ou aquilo sem o coitado nunca ter ensinuado tal coisa.

Para finalizar, posso agora, tranquilamente, afirmar aquilo que eu, leitor, penso e que achei que o Machado havia sugerido. EU AFIRMO: os banqueiros são uns vadios!!

É ISSO!

Bibliografia:
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. In: Obras Completas. Editora Globo, 1997.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Literatura e sociedade - Antonio Candido (leituras)

Foto de William Mendes: Noturnas de Brasília em mar/10 - ao fundo, Explanada dos Ministérios.
Apesar de meu parco tempo para o ócio e a refeição cultural neste ano decisivo para o povo brasileiro, peguei por instantes (na estante) o livro do mestre Antonio Candido que analisa a literatura e suas relações com as sociedades.

Os estudos do mestre são antigos e datam de décadas atrás - antes de 1965 - e "procuram focalizar vários níveis da correlação entre literatura e sociedade".

CRÍTICA E SOCIOLOGIA

Já no primeiro texto que li aprendi conceitos claros sobre a diferença que existe entre fazer uma leitura crítica de uma obra e fazer uma leitura sociológica da mesma.

Antonio Candido nos ensina que nenhum dos extremos que existem na crítica literária são satisfatórios. Não é o ideal adotar a tese de que toda obra está condicionada ao seu meio e contexto externo, bem como também não é satisfatório dizer o inverso, que toda obra deve ser analisada sem qualquer consideração ao contexto externo e tempo histórico e considerando somente sua estrutura e economia interna.

"Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma dessas visões dissociadas; e que só a podemos entender fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, em que tanto o velho ponto de vista que explicava pelos fatores externos, quanto o outro, norteado pela convicção de que a estrutura é virtualmente independente, se combinam como momentos necessários do processo interpretativo."

Conceitos esclarecedores:

Sociologia da literatura: "É uma disciplina de cunho científico, sem a orientação estética necessariamente assumida pela crítica".

Critica melhorou visão interpretativa: "E nós verificamos que o que a crítica moderna superou não foi a orientação sociológica, sempre possível e legítima, mas o sociologismo crítico, a tendência devoradora de tudo explicar por meio dos fatores sociais".

O autor nos explica que "o perigo, tanto na sociologia quanto na crítica, está em que o pendor pela análise oblitere a verdade básica, isto é, que a precedência lógica e empírica pertence ao todo, embora apreendido por uma referência constante à função das partes".

Bibliografia:
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. In: Grandes nomes do pensamento brasileiro. Publifolha, 2000.