segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Diário e reflexões - 290118 (A injustiça se espalha como um vírus)


(atualizado às 0h50 de 30/1/18)





Tenho vivido uma agenda de trabalho e luta no mandato que exerço na Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil de forma tão intensa pela complexidade de problemas que estamos enfrentando, que mal consigo dormir o suficiente e sequer posso ler, ver um filme ou praticar atividades físicas como precisaria.

Vou cumprir meu período de férias nesses dias, mas tenho muita coisa a fazer e resolver em relação à nossa luta e militância pela Cassi e pelos direitos dos trabalhadores que represento. Tenho ainda questões de família para cuidar em poucos dias de ausência no trabalho. Não serão dias de curtição e repouso.

A INJUSTIÇA COMO REGRA CONTRA O POVO

Eu fico pensando pasmado onde o cidadão Lula da Silva encontra energia e equilíbrio para sobreviver ao massacre totalitário infligido a ele pelos grupos que mandam nas estruturas do nosso brazil-colônia. Sua esposa não resistiu. As pessoas que tiveram a sorte de não passarem por nenhum processo em suas vidas de assédio moral, de acusações vis e injustas contra as suas honras e contra a moral de cada uma delas não conseguiriam medir o quanto um ser humano sofre com tais processos.

A tortura psicológica e física leva as vítimas à morte. O corpo não aguenta, explode. Os órgãos internos entram em falência. A psique da vítima se destrói. Muitos psicólogos e intelectuais dos séculos 20 e 21 produziram reflexões acerca do processo de extermínio nazista nos campos de concentração.

O assassinato físico de milhões de pessoas nos campos de concentração foi a etapa final de um longo processo de mais de uma década no seio da Alemanha nazista após a ascensão do 3º Reich de Adolf Hitler, onde o assassinato moral era a moda e o cotidiano, a destruição de segmentos de seres humanos através da coisificação de pessoas e grupos sociais transformados em lixo social, responsáveis por qualquer mazela que o país alemão sofresse: judeus, pessoas com deficiência, comunistas, políticos da oposição ao governo nazista, todos fora do círculo de poder eram coisas, eram culpados de todo o mal.

É muito triste ver meu país viver no século 21 um processo semelhante ao da Alemanha nazista dos anos trinta e quarenta do século 20. O grupo que aplicou o golpe se instalou nas principais instâncias da república, com apoio e pressão de alguns empresários donos de todos os meios de comunicação de massa, e o Golpe caminha acelerado para recrudescer mais ainda os efeitos contra o povo, que foi vítima da manipulação totalitária dos meios midiáticos responsáveis pelo fim da jovem democracia brasileira.

O que é pior e não tem gerado a reação popular devida é que o processo de condenação sem crime e sem provas e por motivações políticas do grupo que tomou o país de assalto gera mudança no cotidiano das pessoas no país, todas, desde as comuns e desconhecidas até as personalidades dos diversos segmentos sociais. O exemplo vindo desse julgamento de "petistas" a partir da Lava Jato e a partir do STF no caso que chamaram de "mensalão", e a criminalização dos movimentos sociais por parte dos representantes do Golpe nos órgãos do Estado, esses processos viciados já estão destruindo a sociabilidade nas relações diárias privadas e públicas, na vida civil de forma geral.

A abertura da Caixa de Pandora manuseada pela oposição aos governos do PT e contrária aos avanços sociais para o povo brasileiro, ameaçando a paz social que tanto dissemos neste blog ao longo dos anos de 2015 e 2016, significou liberar todas as maldades e elas repercutem mais na vida da grande massa da população que necessita do Estado para assegurar os direitos humanos e sociais básicos da cidadania.

Os sinais enviados a nós por uma pequena casta nos espaços do judiciário, por cerca de 400 lesas-pátrias no Congresso Nacional e por um executivo ocupado por Golpe de Estado são sinais de que a lei não é para todos, a justiça tem lado; sinais que a injustiça social será a regra, e eles eliminam direitos do povo com acordos de jantares e bilhões de dinheiros públicos repartidos entre eles. Em canetadas vão-se direitos de trabalhadores e segmentos sociais conquistados em décadas de lutas.

Vem aí um período de muito sofrimento para o povo e a classe trabalhadora a qual pertenço. A esperança que tenho na luta é porque a história da humanidade é feita de idas e vindas. Acredito que em algum minuto de qualquer dia desses o povo vai sair às ruas e dar o troco que essa pequena elite e seus asseclas merecem, ao estilo das estórias narradas pelo grande José Saramago.

Seguimos nas lutas porque somos humanos, estamos vivos e não pactuamos com injustiças sociais e domínio de minorias em prejuízo do povo.

William

sábado, 20 de janeiro de 2018

Jeferson Miola: A incrível semelhança entre os casos Lula e Dreyfus


Comentário do Blog:

Olá prezad@s leitores e amig@s! 

Eu tenho dedicado as últimas semanas de minha vida a reler e estudar todo o caminho que percorri nesses quatro anos de atuação política como gestor eleito pelos trabalhadores associados a maior autogestão do país, a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. No pouco tempo livre que me sobra em finais de semana e madrugadas, apesar do cansaço, não faço outra coisa que organizar o memorial das lutas que fizemos.

Estou trabalhando arduamente na produção e registro de tudo que foi possível fazer em defesa dos direitos em saúde dos trabalhadores que represento e em defesa da autogestão em saúde sem fins lucrativos com um modelo inovador de atenção primária e medicina de família. Este esforço e trabalho pessoal de reler centenas e centenas de postagens feitas nos dois blogs ao longo de 4 anos de lutas vale a pena porque foi feito com uma dedicação sincera às causas coletivas que represento.

O processo de quebra da institucionalidade em nosso país, processo golpista feito para interromper as mudanças sociais que estavam em curso em benefício do povo brasileiro desde o início dos anos dois mil, é um processo que expõe, que deixa desprotegido qualquer cidadão brasileiro. A destruição dos direitos constitucionais, dos direitos coletivos e individuais do povo brasileiro, por uma casta que organizou o golpe, com apoio e em favor de um pequeno grupo de empresários e rentistas da burguesia vira-latas tupiniquim e em favor dos Estados Unidos, abriu um período de estado de exceção que durará muito tempo.

Nós avisamos que se as instituições do Estado permitissem e até fizessem parte do golpe e das ilegalidades que vinham sendo cometidas contra dois presidentes, Lula da Silva e Dilma Rousseff, e contra um segmento social, petistas e simpatizantes, seria aberto um tempo de exceções na vida civil brasileira. Isso está acontecendo nos cotidianos das cidades, das empresas, das instituições e cenas da vida diária.

Hoje, qualquer pessoa pode ter sua honra atacada, sua honestidade e seu caráter colocados em prova e até sofrer algum tipo de processo ilegítimo ou julgamento formal ou informal baseado em mentiras, ilações, denúncias anônimas, arbitrariedades burocráticas e totalitárias orquestradas por tecnocratas subservientes ao poder e ao status quo dominante. E SEMPRE CONTRA O LADO MAIS FRACO, O LADO QUE DE ALGUMA FORMA REPRESENTA O POVO, O TRABALHADOR, A MUDANÇA DE STATUS QUO.

Eu e cada um de vocês estamos à mercê de processos arbitrários e injustos no Brasil pós Lava Jato, pós Golpe de Estado em favor da elite, da casa-grande e do império americano.

Leiam abaixo o texto do excelente articulista Jeferson Miola, lembrando o Caso Dreyfus com o que vem acontecendo com o cidadão Lula da Silva.

Abraços, William

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Lula e Dreyfus - Perseguição injusta e condenações sem provas. 

Caso Lula e Caso Dreyfus: qual a reação ao arbítrio?

por Jeferson Miola, no Facebook


Lula não está sendo julgado; ele está sendo condenado sem provas, num processo enviesado e carente de fundamentos jurídicos.

A condenação arbitrária do ex-presidente no TRF4 são favas contadas.

O regime de exceção perpetrará esta violência jurídica mesmo que a falsa acusação, forjada pela Lava Jato para condená-lo – a suposta propriedade de um apartamento triplex – tenha sido totalmente desmanchada em decisão recente da juíza Luciana Corrêa Tôrres de Oliveira, da 2ª Vara de Execução de Títulos Extrajudiciais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.

A juíza determinou a penhora do imóvel para a empresa Macife S/A, credora da OAS que ajuizou a empreiteira para cobrar dívidas.

A penhora comprova cabalmente que o apartamento pertence, de fato e de direito, à empreiteira OAS – e não ao Lula. Este fato soterra a acusação fraudulenta, e, portanto, o processo contra Lula deveria ir para a lixeira.

O Brasil e o mundo assistem não a um julgamento justo e legal do maior líder popular do país, mas sim a um processo kafkiano, no qual a condenação foi concebida de antemão, num quadro de guerra jurídica permanente [lawfare], perseguição midiática e emprego do direito penal do inimigo.

A narrativa da Rede Globo e da mídia hegemônica, que reverbera as vozes fascistas da Lava Jato e da oligarquia golpista, cinicamente busca confundir o direito do Lula a um julgamento justo e honesto com a defesa da sua impunidade.

Defender o direito de todo cidadão a um julgamento justo e legal – desde que existam, de fato, razões materiais para qualquer pessoa ser processada judicialmente – é o mínimo que se deve fazer para proteger a democracia e o devido processo legal.

Lula não está nem acima nem abaixo das leis e da Constituição do Brasil.

Com este julgamento de exceção, porém, a classe dominante coloca Lula à margem das leis e da Constituição; subtrai dele o direito inerente a todo ser humano, de não ser condenado sem provas.

A farsa jurídica montada para condenar Lula é um passo em direção ao totalitarismo.

Nos estudos sobre a gênese do nazismo, do anti-semitismo e dos processos totalitários, Hannah Arendt analisou o Caso Dreyfus, ocorrido no final do século 19 – que guarda semelhanças com o Caso Lula.

Alfred Dreyfus foi perseguido por ser o único oficial do exército francês de origem judaica, e foi acusado de alta traição por supostamente colaborar com os alemães durante a guerra franco-prussiana na disputa pelas terras da Alsásia-Lorena, ricas em carvão.

Num processo baseado em documentos falsos e provas forjadas, como ocorre com Lula, Dreyfus foi condenado, por unanimidade, à prisão perpétua.

Para o autor William Shirer, a condenação de Dreyfus “convencera grande parte da população de que os judeus [no regime de exceção, Lula e os petistas são os estigmatizados] eram responsáveis não só pela chocante corrupção nos altos círculos políticos e financeiros, como também por traírem segredos militares em favor dos odiados alemães, solapando com isso a segurança da nação, que ainda sofria com a recuperação após a derrota que lhe fora infligida pela Prússia em 1870” [A Queda da França: o colapso da Terceira República].

No livro As origens do totalitarismo, Hannah Arendt disserta que, “como eram judeus, tornava-se possível transformá-los em bodes expiatórios quando fosse mister aplacar a indignação do público.

Os antissemitas podiam imediatamente apontar para os parasitas judeus de uma sociedade corrupta para ‘provar’ que todos os judeus de toda parte não passavam de uma espécie de cupim que infestava o corpo do povo”.

20 anos mais tarde, depois de verdadeiro e honesto julgamento, Dreyfus foi finalmente inocentado.

Com Lula não será diferente. Em breve tempo esta farsa monstruosa, montada para impedir seu retorno à presidência do Brasil, também será escancarada.

Exigir o direito de um julgamento justo para o ex-presidente Lula não é sinônimo de privilégio e de impunidade; é um dever para a defesa do Estado de Direito e da democracia.

Lula será vítima do arbítrio e de uma violência jurídica monumental. É preciso, por isso, se perguntar: qual a reação democrática e popular diante deste arbítrio anunciado de antemão?

Uma realidade é inescapável: as instituições, o judiciário e o congresso estão totalmente dominados pelas lógicas fascistas e golpistas.

A soberania popular, a desobediência civil e o direito à insurgência contra toda tirania e arbítrio são dispositivos democráticos do Estado de Direito que precisa ser urgentemente restaurado no Brasil.


Fonte: Viomundo

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

"Uma mentira dita mil vezes torna-se uma verdade" - A pós-verdade desde Goebbels


Apresentação do Blog:

Olá prezad@s leitores. O artigo abaixo é muito interessante e atual. Tenho chamado a atenção nos meios sociais em que convivo para o fato da pós-verdade, uma mentira que causa efeitos irreparáveis porque ela é feita para influenciar pessoas em determinados contextos e depois dos resultados dela não adianta mais a verdade objetiva e material ser identificada, pois o dano já foi causado ou a consequência pretendida por quem plantou a mentira com mais capacidade de distribuição e velocidade já aconteceu.

Estamos num contexto de total degeneração dos valores éticos e morais neste começo de século 21. Eu fico me perguntando como um ser humano que participa de construções e tramoias canalhas baseadas em mentiras tem coragem de olhar nos olhos das pessoas. Fico me perguntando ainda como outros seres humanos ou instituições, segmentos, grupos, também têm coragem de se aproveitarem de falsidades para prejudicarem os outros.

Esses tempos que chegamos serão de muitas pós-verdades e de destruições de pessoas e instituições sérias. Apesar do nojo e repulsa que isso nos causa, porque ainda temos muita gente formada e educação para a prática da ética, da moral e com caráter, temos que seguir adiante, com força nos princípios que nos constituem.

Leiam o texto de Ian Martin Vargas, ele nos alerta sobre as pós-verdades.

Abraços, William 

(Post Scriptum: a imagem do nazista Goebbels abaixo foi escolha minha para ilustrar o texto)

Joseph Goebbels, Ministro da
Propaganda do Nazismo.

A pós-verdade e o fascismo: uma ameaça antidemocrática

Publicado no Justificando, em 5/jan/18.


Recentemente foi compartilhada por milhares de pessoas nas redes sociais a informação de que o cantor Pabllo Vittar seria beneficiado pela Lei Rouanet em cerca de R$ 5 milhões de reais para uma produção musical. A notícia trazia o fato paralelo de que o Hospital de Câncer teria sido fechado por ausência de verba, fato este que trouxe imediata indignação coletiva de muitas pessoas que, antes da informação, possuíam algum tipo de preconceito com o cantor e com a representatividade LGBT no meio cultural.

Surpresa! A informação era falsa e compõe um dos diversos casos de notícias incorretas espalhadas virtualmente ao longo de 2017.

Governo de Goiás está distribuindo bonecas com órgão sexual trocado”; 


Maria do Rosário e Jean Wyllys se uniram para defender pedófilos

Estes e tantos outros exemplos vêm ocorrendo assiduamente nas redes sociais brasileiras. O fenômeno, porém, é mundial. Desde as eleições americanas em 2016, o termo “Pós-verdade” vem sendo citado em estudos, artigos, debates intelectuais e até entrou para o dicionário Oxford.

Tal fato se deu, principalmente, após o uso massivo de informações falsas e difamatórias utilizadas no Brexit britânico e na campanha eleitoral dos Estados Unidos de 2016 que culminou com a vitória do inescrupuloso Donald Trump. Todavia faz-se necessário aprofundarmos nas raízes desse fenômeno coletivo de ampla disseminação de informações espúrias e que possui indubitável uso político.

O termo pós-verdade foi utilizado pela primeira vez em meados dos anos 1990 pelo dramaturgo sérvio-americano Steve Tesich e referia-se a supressão da verdade dos fatos. Segundo o dicionário Oxford o termo se relaciona com as circunstâncias onde fatos objetivos possuem menor importância e influência em moldar a opinião pública do que os apelos emocionais e crenças morais na maneira com que se transmitem as informações. Há, evidentemente, uma apatia em relação à verdade.

As notícias falsas e a desinformação são espalhadas virtualmente em um ritmo e nível global assustador e correlacionam-se a um dos efeitos da globalização.

A evolução da globalização caminhou junto com a evolução tecnológica e, desde os anos 1990, do crescimento da influência da Internet. Nesse contexto o surgimento das redes deu lugar a um espaço virtual de interação e propagação de informações. Alguns autores, como Levy [2], que esquadrinham o ciberespaço em análises sociológicas e filosóficas veem a mudança da esfera pública pela influência das redes sociais como positiva uma vez que fornece aos cidadãos maior capacidade de expressão, aquisição de informações e associação. Segundo Levy isso colaboraria para aumentar a capacidade cívica do povo de pressionar governos e obtendo assim maior transparência e diálogo democrático.

Grandes nomes como o filósofo alemão Jürgen Habermas [3] observam nas redes sociais da Internet um perfil potencializador de participação política mais efetiva que combina colaboração, interação, mediação, acessibilidade a informações e mobilização. Outros como Luhmann [4], discordam. Para Luhmann, em sua teoria da comunicação, há a ideia de que os meios de comunicação modernos não contribuem para melhoria da participação política ou interação e sim colaboram para a produção contínua do que chamou de “irritações”.

Nesse sentido o avanço das redes sociais teria representado uma certa ruptura paradigmática entre a emissão e a recepção das mensagens. O emissor, a origem e validade da informação perderam importância dando lugar ao teor emocional e moral. Fato este verificado diuturnamente na divulgação de notícias difamatórias e espúrias feitos no Brasil por grupos como MBL, alguns youtubers e think tanks de extrema-direita e que trabalham em regime de cooperação para desqualificação das esquerdas no geral.

Esse fundamentalismo comunicacional nas redes sociais criou uma espécie de histeria coletiva, quando o falso exercício de direitos fundamentais como liberdade de expressão, liberdade de imprensa e o direito de livre associação dão lugar à proliferação dos discursos de ódio, segregacionismo, racismo, machismo, misoginia, anti-sindicalismo, anti-socialismo. Os indivíduos que compartilham as informações sem verificar a originalidade do conteúdo, contribuem para ganho de força eleitoral dos grupos políticos que fazem oposição a qualquer grupo ou político progressista.

O compartilhamento desenfreado de notícias falsas acarreta na estruturação de um fenômeno político já conhecido no passado: o fascismo.

Não mais aquele fascismo dos tempos de Mussolini e Hitler, grandes expoentes do ultraconservadorismo e extrema-direita (em frustrantes tempos em que se fala que o nazismo é de esquerda), mas um fascismo cultural virtual, tecnocrático. Não é mais apenas a mídia tradicional que serve o fascismo com sua parcialidade como a demonstrada pelo saudoso crítico do fascismo Umberto Eco [5] em seu último romance Número Zero, onde um grupo de jornalistas preparam um jornal que não tem interesse informativo mas apenas em difamar e chantagear a serviço de seu editor, mas também a própria população através das redes e da falta de consciência ao reverberar fatos falsos. Porém, nitidamente existe um uso político por trás.

Assim como o Ministério da Verdade na obra de Orwell [6], as informações desleais propaladas nas redes sociais servem a grupos reacionários para amplificar e legitimar o ódio. Assim como nos Estados Unidos, segundo Chomsky [7] os governos fazem uso da mídia para angariar apoio da população e assim legitimar entrada nos confrontos militares.

A mesma direita que incansavelmente acusa inconcebivelmente os direitos e liberdades defendidos por progressistas e humanistas de “politicamente correto” e fruto do marxismo cultural da hegemonia gramsciana, possui agora uma produção constante e articulada de um possível “fascismo cultural” que utiliza das redes para legitimar poder político e enfraquecer as esquerdas e, acima disso, prejudicar a democracia, o pluralismo político e a cidadania.

Portanto faz-se necessário repensar a falta de consciência das redes e a instrumentalização das mesmas para fins político-partidários através da disseminação de difamações coletivas quase que instantâneas. Bauman [8] já apontava para tal perigo das redes de inibirem o medo dos chamados “caçadores” da sociedade de partirem para o ataque raivoso sobre os indivíduos a quem nutrem ódio. O império das mentiras e manipulação das massas não pode voltar a vigorar.

Concluímos com uma famigerada frase tão concernente e atual que relaciona-se com o fenômenos das fake news e seu uso político, proferida pelo pai da propaganda nazista:

"Uma mentira dita mil vezes torna-se uma verdade" – Joseph Goebbels



Ian Martin Vargas é graduando em Direito pelo Centro Universitário Dinâmica Cataratas. Ativista sindical e dos direitos humanos.

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[2] LÉVY, P. A mutação inacabada da esfera pública. In: LEMOS, A.; LÉVY, P. O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária. São Paulo: Paulus, 2010.

[3] HABERMAS, J. Mudança estrutural na esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003

[4] LUHMANN, Niklas. Introdução à teoria dos sistemas. tradução de Ana Cristina Arantes Nasser – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

[5] ECO, Umberto. Número Zero. 1. ed. Record, 2015.

[6] ORWELL, George. 1984. Companhia das Letras: São Paulo, 2009.

[7] CHOMSKY, Noam. Mídia. Propaganda política e manipulação. Tradução: Fernando Santos. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013.

[8] BAUMAN, Zymunt. Medo líquido. Rio de Janeiro, Zahar, 2008.


domingo, 7 de janeiro de 2018

Leitura: Aquele mundo de Vasabarros (1982) - José J. Veiga



Primeira leitura literária do ano: José J. Veiga.

Refeitório Cultural

"Se houve algum dia quem desejasse conhecer Vasabarros por dentro, esse desejo se desvanecera há muito tempo. Vasabarros agora era um lugar situado fora dos caminhos e das cogitações do mundo..."


Nesta primeira postagem do ano aqui no blog, busquei no autor goiano José J. Veiga a já conhecida surpresa do fantástico, do estranho, do incomum ao adentrar em suas estórias. Queria uma espécie de distância dos sentimentos tristes que tomam conta de mim e do mundo que habito, o Brasil, o maior país sul-americano, que enfrenta uma virada política espantosa após golpe de Estado em 2016.

Conheci o autor goiano naquele ano do Golpe. Li os sete primeiros livros dele em ordem cronológica, e posso dizer que sei que sua obra não é leve no sentido de ser descontraída, porque todas elas nos põem a pensar muito. Mas é literatura da melhor qualidade! Já li Os cavalinhos de Platiplanto (1959), A hora dos ruminantes (1966), A estranha máquina extraviada (1967), Sombras de reis barbudos (1972), Os pecados da tribo (1976), O professor Burrim e as quatro calamidades (1978), De jogos e festas (1980).

Quando falo que optei por começar o ano com Veiga pensando em afastar a tristeza, é porque em dezembro comecei a ler um romance que havia lido na adolescência e que senti necessidade de rever: Nada de novo no Front (1928), do alemão Erich M. Remarque, a respeito da 1ª Guerra Mundial. Pesado! E quis lê-lo novamente porque tenho leitura que o crescimento do fascismo, do ódio e da intolerância vai nos levar para a guerra. Não terminei ainda. Não quis começar o ano comentando este romance.

Peguei o livro de Veiga no sábado achando que era leitura rápida. Era nada! Acabei lendo o romance nos dois dias, intercalando a ficção com outras coisas a fazer com a família (ver animes com o filho e esposa, correr e pedalar e amenidades). Também intercalei o lazer com o trabalho exaustivo que estou fazendo de releituras e pesquisas em relação ao balanço de meu mandato na Cassi.

Amig@s leitores, Aquele mundo de Vasabarros é o nosso mundo hoje. Incrível! Pode ser o Brasil. Pode ser o Rio de Janeiro e sua grave crise institucional. Pode ser os Estados Unidos e seu presidente impensável. Pode ser qualquer lugar, qualquer empresa. Que metáfora!

Os governantes de Vasabarros são o Simpatia e a Simpateca. Os conselheiros do lugar são os senescas; temos os órgãos de investigação e repressão - os merdecas e os mijocas. Uns poucos privilegiados vivem nas partes altas das grandes construções. Nos calabouços e entranhas do lugar, além dos ratos e bichos, vivem todas as pessoas, sem direito a rir, reclamar, cantar... sem direito a qualquer coisa. Por qualquer erro ou por se pegar envolvida em algo, até sem ter culpa, a pessoa era condenada à morte sendo enfiada dentro de uma barrica.

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"A vida em Vasabarros tinha mudado muito desde a assunção do atual Simpatia. Antes ainda havia um pouco de claridade, havia uma relativa alegria nas pessoas, e um certo entusiasmo pelo que elas faziam, apesar da preocupação doentia com os regulamentos, esse um mal de todos os tempos. Mas com o novo Simpatia o arrocho aumentou, as pessoas foram perdendo os restos de alegria, de cordialidade, de confiança em si mesmas..."

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Os filhos do senhor Simpatia e da senhora Simpateca - Andreu e Mognólia, ambos no início da adolescência - começam a questionar a si mesmos e aos pais e conselheiros porque as coisas são como são, tristes, com tanta miséria para todo mundo com exceção deles da família do governante etc.

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"- Por que tem que ser assim, seu Zinibaldo? - perguntou Mognólia de repente.
- Assim como?
- Esses meninos, gente igual a mim e Andreu, viverem vigiados, castigados por qualquer brincadeira que fazem, não poderem ter um cachorrinho, um gato, um passarinho para distraí-los. Só trabalho e obediência o tempo todo. Acha direito, seu Zinibaldo?
- É a lei - disse o senesca evasivamente.
- O senhor não acha que essa lei devia cair? - perguntou Mognólia.
- Cair? Lei não cai. Está aí para ser aplicada.
- Está vendo, Mogui? Está tudo errado, mas não pode ser discutido. É a lei. A nossa lei - disse Andreu..."

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Ao correr da estória, fui vendo situações as mais absurdas possíveis e fui percebendo o quanto a ficção se mistura com a realidade. Esse diálogo acima é básico.

Eu fico me perguntando até quando o povo brasileiro vai aceitar cumprir as "leis" que os golpistas que assaltaram o poder nos impuseram - os três órgãos do poder da república sul-americana chamada Brasil (agora brazil?). A cada mês desde que o Golpe foi perpetrado a partir de abril de 2016 nos são retirados direitos, nosso patrimônio público é dilapidado e doado, nossa moral e nossa soberania são achincalhadas pela camarilha de ladrões que ocupou setores do executivo, legislativo e judiciário.

O final do romance traz mensagens interessantes para reflexão.

Ainda durante os desfechos finais, outro diálogo me chamou a atenção, porque sempre disse isso para as pessoas com quem convivo e para aquelas que represento, os trabalhadores.

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"- É. Está parecendo tapera.
- E vai ficar cada vez pior, se você não se compenetrar. Você agora é o dono. Tem que se compenetrar.
Outro silêncio longo. O céu lá em cima havia mudado de azul claro em azul escuro. Alguns pássaros já voltavam para seus ninhos na jaqueira e nos furos das paredes.
- E se a gente fugisse? Eu e você?
- Fugisse pra onde?
- Sei lá. Pra outras terras. O resto do mundo não pode ser triste como isso aqui.
- Sei não. Não conheço o resto do mundo. Mas se for melhor, não será porque os que vivem lá fizeram ele melhor?"

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Amig@s leitores, eu vejo o mundo assim. Acho que temos que fazer o que deve ser feito para mudar as coisas para melhor. A nossa vida, o nosso trabalho, a nossa comunidade, os nossos direitos, o nosso comportamento. Tudo.

Abraços a tod@s. O livro é fácil de encontrar em sebos e sites de vendas virtuais. Eu comprei assim por dez reais.

William