domingo, 27 de abril de 2014

Lula, o filho do Brasil - Fazer política aberta e com a massa





Capítulo: "E Luiz Inácio tornou-se Lula" parte II

Aqui vou destacar as inovações que Lula trouxe para o Sindicato dos Metalúrgicos quando lá chegou nos anos 70. Primeiro Lula entrou no sindicato e depois virou presidente em 1975 e foi reeleito em 1978.

O contexto da época era de Ditadura Civil-Militar desde 1964. Recessão pesada para a classe trabalhadora. Salários de miséria que não davam sequer para alimentar a família. Frei Chico era do Partidão e Lula não tinha envolvimento com correntes políticas.

Se, por um lado, há um exagero do Lula em falar pra fazer tudo aberto e público quando os milicos e DOI-CODI e DOPS estavam de olho, por outro lado, a crítica que o Lula faz é ao modo dos comunistas e classistas de fazer tudo em cúpula ao invés de fazer o diálogo aberto e franco com a massa.


"E aí na minha cabeça começou a vir a seguinte questão: qual era a lógica de prender um cara como o Frei Chico? Qual era a lógica de prender um trabalhador pelo simples fato de ele ser contra as injustiças sociais do país? E aí, quando eu fiquei sabendo que o Frei Chico tinha sido torturado, tinha sido massacrado, aí deu até uma revolta por dentro! Um pai de família, um cara que trabalhou desde os 10 anos de idade, se ferrou a vida inteira, um cara que não tinha nada a não ser a família dele e as ideias dele, de repente chega um troglodita de um milico qualquer e manda prender esse cara? E tortura esse cara? Em nome do quê? Em nome de que ordem? Isso me criou uma revolta interior!"


"Aí eu passei a não ter medo mais. Porque se eu tivesse que ser preso pelo que eu pensava, então que eu fosse!"



DAR PUBLICIDADE, CONVERSAR COM A MASSA

"Denise: Você soube de detalhes da tortura sofrida pelo Frei Chico?

Lula: Ele me contou. Agora eu também fiquei puto com o Frei Chico. Porque o cara era vice-presidente de um sindicato, tudo o que eu fazia em São Bernardo ele poderia fazer em São Caetano. Faz uma assembleia e fala as coisas na frente de 500 pessoas, na frente de mil pessoas, na frente de 2.000! Ele não, ele preferia fazer reuniãozinha no fundo do quintal, com duas pessoas e de preferência numa sala escura para ninguém ver. Sabe aquela mania de perseguição política? Eu falava: 'Faz as coisas abertas, Frei Chico! Faz a coisa aberta: abre o salão do sindicato, convoca mil trabalhadores e esculhamba com quem tiver que esculhambar! Pelo menos, se der alguma coisa, todo mundo está vendo por que você está sendo preso'. Eu tinha divergência com ele por isso. Eles gostavam de uma reunião escondida. Eu não gostava."


FAZER AS COISAS ABERTAMENTE AJUDOU FORMAÇÃO DE LULA

"Um dia, o pessoal da oposição lá de São Bernardo me convidou para uma reunião na casa de um companheiro. Era a casa do Mário Ladeia, que depois foi vice-prefeito de São Bernardo. A gente estava reunido de noite, todo mundo assustado. Aí de repente vem um carro e pára perto do portão. Aí tem sempre alguns doentes mentais e começam: 'É a polícia! Não sei o quê, não sei o que lá...'. Todo mundo ficou deitado no chão... e nem respirava! Sabe, diziam que era a polícia... E o táxi estava descarregando passageiro e não desligava o motor do carro, obviamente. Aí, a partir daquele dia eu falei: 'O que é que eu estou fazendo para me submeter a isso? Vou ficar com essa psicose, esse medo? Assim ninguém consegue viver, me desculpem!'. Nego andava assustado na rua. Eu falava: 'Não, se eu tiver que ser preso eu vou ser preso pelo o que eu faço publicamente, abertamente. Os negos me pegam logo no sindicato'. Essas coisas ajudaram muito na minha formação."


FAZER POLÍTICA NO SINDICATO E COM OS TRABALHADORES

"O Frei Chico já me convidava para ir em reunião. Ele dizia: 'Vamos lá num apartamento em São Paulo, vai vir um companheiro do Rio de Janeiro fazer uma palestra para nós... Vamos em tal lugar...'. E eu respondia: 'Frei Chico, eu vou fazer reunião em um apartamento escondido? Para ser preso sem saber por quê? Não, Frei Chico! Se seu amigo quer conversar comigo, manda ele vir no sindicato. Eu sou o presidente do sindicato e eu atendo quem quiser falar comigo, não tem nenhum segredo'."


CHEGA DE REUNIÃO DISFARÇADA COM JORNAL EM BANCO DE PRAÇA

"Uma vez, em 1974, eu fui na praça da Matriz encontrar com um cara chamado Emílio Bonfante, ele tinha o codinome de Ivo. Era o momento das eleições de 1974. Aí eu chego na praça e sento de um lado do banco, o cara senta do outro. Cada um com um jornal na cara... [ri]. Aí o cara perguntava: 'Como é que você está vendo a situação do país?'. Eu respondia: 'Estou vendo assim, assim e assado.'. E ele: 'O que é que você acha do Marcelo Gato?'. E eu: 'Eu acho que o Marcelo Gato é um cara legal.'. E aí ficava naquela conversa, e eu dizia que também achava o outro legal. Aí, passada uma meia hora, o cara foi embora eu esperei um pouco e depois fui embora. Então eu falei para o Frei Chico: 'Frei Chico, eu não tenho a minha mãe na zona! Nem meu pai é corno!... Eu vou ficar fazendo essas reuniões assim? Não tem essa, não, Frei Chico, a partir de agora em diante quem quiser fazer reunião comigo é pública e não tem segredo'."


LULA AFIRMA QUE EXPERIÊNCIAS COM O PARTIDÃO MUDARAM SUA CABEÇA

"Tudo isso mudou a minha vida. Essas coisas e a prisão do Frei Chico para mim mudaram a minha cabeça para melhor. Até porque alguns companheiros que foram presos eu conhecia. E, do ponto de vista da agitação, eles não faziam muita coisa. Talvez tivessem feito no passado, mas não faziam nada naquele instante. Então eu ficava pensando: 'O que estas pessoas fizeram para serem presas?'. Sabe, então isso para mim foi muito bom, foi muito bom isso."


COMENTÁRIO

Este capítulo é muito interessante porque enquanto vemos Lula falar em 1993 retrospectivamente aos anos 70/80, ele está descrevendo e fazendo uma espécie de referência ao que seria a gênese de concepção e prática do movimento sindical organizado a partir da criação da Central Única dos Trabalhadores (1983), que seria criada após a Conclat (1981) como um Novo Sindicalismo de massa, classista, democrático, autônomo e organizado a partir da base.

Fazer um sindicalismo mais no dia a dia nos locais de trabalho, falando abertamente com os trabalhadores em assembleias e na porta das fábricas, é a melhor opção para politizá-los sobre todos os temas do mundo do trabalho e da vida política e cidadã como um todo.

Eu acredito muito nisso enquanto dirigente sindical e secretário de formação. Busquei fazer isso até de forma intuitiva desde que cheguei ao Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região em 2002. Se o sindicalista está constantemente em diálogo com os trabalhadores, ele tem respaldo e representatividade para organizar, para concordar e até para discordar da posição dos seus representados.

Pra ver como são as coisas e os contextos históricos... Hoje, 2014, temos uma democracia em construção no Brasil. Temos as mesmas conversas pequenas aqui a ali. Uma central sindical buscando tomar espaço de outra. Uma corrente tentando derrubar a outra. Grupos rivais se organizando uns contra os outros dentro das centrais e sindicatos... gente que se diz de "esquerda" aliada a grupos ultraconservadores e reacionários. Gente que se diz "combativa" e que faz cada coisa pelega que assustaria os antigos pelegos. E La Nave Va...

E também temos gente defendendo que deveria voltar a ditadura... é mole? Assisti ao depoimento do coronel reformado Malhães, que confessou para a Comissão da Verdade que eles matavam e torturavam mesmo. É chocante vê-lo falando. Ele apareceu morto nesta semana após as confissões que fez...

É isso. Na próxima postagem sobre este capítulo, irei abordar as mudanças na comunicação com os trabalhadores feita por Lula no Sindicato dos Metalúrgicos após virar presidente entre 1975 e 1981.

Tchau!

William


Bibliografia:


PARANÁ, Denise. Lula, o filho do Brasil. Apresentação de Antonio Candido. Editora Fundação Perseu Abramo. 1ª edição: dezembro de 2002. 3ª edição, 3ª reimpressão: julho de 2009.


Post Scriptum (21/10/17):

Oh vida dura! Ao reler esta postagem do primeiro semestre de 2014, o mundo desabou, virou do avesso. O país sofreu um golpe de Estado, os golpistas tomaram praticamente os 3 poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário. Os empresários mandam no país, a começar pelos da comunicação como os Marinho, Frias, Civita, Mesquita e gente do tipo. Os direitos em geral do povo já foram eliminados. O patrimônio público está sendo extinto e doado para corporações estrangeiras de países que apoiaram o golpe como, por exemplo, os Estados Unidos. Que coisa, heim!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Lula, o filho do Brasil - "E Luiz Inácio tornou-se Lula" (I)



Lula é uma referência importante para a
Concepção e Prática Sindical da CUT.

Este capítulo do livro de Denise Paraná, com uma entrevista do Lula em dezembro de 1993, é para mim um capítulo muito especial. Desde que o li pela primeira vez, pensei nele como um texto teórico para debater formação sindical com dirigentes e trabalhadores sobre ser um militante CUTista e também da Articulação Sindical.

O ideal é ler o capítulo todo. Aqui na postagem tenho que escolher frases e algumas partes e nunca é a mesma coisa. Apesar do trabalho que dá, quero deixar registrado no Blog alguns excertos desta entrevista do presidente Lula da Silva e alguns comentários meus.


QUE TIPO DE SINDICATO?

Lula: "Há uma dinâmica na categoria. À medida que a categoria ia exigindo, você ia... Na medida em que nós fizemos uma opção de que o sindicato não seria o tutor da categoria, mas seria uma espécie de caixa de ressonância da categoria, cada vez que os trabalhadores exigiam, ao invés da gente represá-los, a gente soltava. Então eles queriam mais boletim; era mais boletim, mais atividade, era mais atividade, mais curso de formação política, era mais curso de formação política. Eles queriam que a gente radicalizasse mais, a gente radicalizava mais. A gente passou a viver muito por conta do próprio crescimento da própria categoria. Por isso que eu digo sempre que eu sou o fiel resultado do crescimento da minha categoria. Nem mais nem menos. À medida que ela avançava, eu avançava, na medida em que ela não avançava, eu não avançava. Eu não era representante de mim mesmo, era representante deles. No mínimo eu teria que ser fiel àquilo que eles queriam..."


PRIMEIRO DE MAIO

Lula: "A gente fez um grande Primeiro de Maio. Em 1976 a gente já começou a fazer os primeiros Primeiros de Maio de protesto. Porque antes os Primeiros de Maio eram quase que festa. Em 1977 o pessoal trotskista ligado à Libelu, ou sei lá se a própria Convergência, chamava a gente de 'neopelego'. Esse termo 'neopelego' queria dizer que a gente era um tipo de pelego novo, que era pelego, só que não era o tradicional. Mas com este tipo de comportamento a gente nunca se preocupou..."


OPOSIÇÕES E CORRENTES POLÍTICAS NO SINDICATO

Lula: "A gente tinha oposição dentro das fábricas. Nesta época, em 1976, 1977, começaram a vir grupos de esquerda para dentro da categoria: eram estudantes que se disfarçavam de trabalhadores e vinham para dentro da categoria. Era da Universidade de São Carlos, gente que vinha da Universidade do Paraná... Foi um momento em que os estudantes começaram a imaginar que poderiam, entrando numa categoria importante como a nossa, que eles poderiam liderar a classe operária brasileira.

E os estudantes encontraram uma categoria disposta a brigar inclusive com eles..."

(Lula fala de um militante da Convergência preso ao fazer atividade para a corrente e não para o sindicato):

Lula: "Mas aí o pessoal da Convergência vinha conversar comigo para fazer uma nota de solidariedade. Eu falava: 'Olha, a gente faz a nota de solidariedade. Agora, é importante a gente frisar na nota que ele não estava cumprindo a atividade sindical. É importante para não confundir. Eu não vou passar por mentiroso'...

(...) E naquela época a Convergência começou a aparecer muito fortemente na categoria, empregando gente em várias empresas para tentar ter uma atuação no sindicato. O pessoal do MR-8, o pessoal do 'Partidão' começou a levar gente para São Bernardo. E outras organizaçõezinhas de esquerda, a Ala Vermelha, estava todo mundo lá. Virou uma 'federaçãozinha de esquerda'.


E é engraçado porque a diretoria nunca perdeu o controle. A gente se relacionava bem com todos eles, mas nunca perdemos o controle, todos eles acatavam as decisões da categoria, da diretoria. A gente às vezes ia para o enfrentamento com eles nas assembleias porque eles radicalizavam e sectarizavam e a gente ia duro para cima deles. Mas a gente sempre manteve uma relação política respeitosa."


APRENDIZADO NA CONVIVÊNCIA COM AS CORRENTES POLÍTICAS

Lula: "Aí eles tiveram um papel importante nesse processo todo. Eu acho que a gente não pode dizer que não tiveram. Tiveram um papel importante no aumento do nível de consciência desse pessoal, dos operários. Acho que várias pessoas da Convergência tiveram essa participação. Tudo isso foi evoluindo para aprimorar a minha cabeça política..."


FALHAS NA QUESTÃO DA IGUALDADE DE GÊNERO

Lula: (falando dos problemas ocorridos no Congresso da Mulher Metalúrgica e das feministas):

"O pessoal era muito radical, muito radical. E esse foi um congresso muito importante. É uma pena que a gente não deu sequência ao trabalho na questão da mulher como merecia. Às vezes a gente relaxava e não compreendia as dificuldades [da mulher]. Não basta aprovar num documento que a mulher é igual e não sei o quê... É preciso saber se a gente cria condições para que a diversidade do mundo da mulher possa ser assimilada. Quando você fala: 'Tem que participar de uma assembleia homem e mulher...', se é um casal que tem três ou quatro filhos e alguém tem que fazer a janta para as crianças e [o casal] não pode ter empregada, alguém vai ter que ficar em casa. Então os dois não podem ir. É preciso saber como é que compatibiliza isso. No PT, por exemplo, eu tenho dito: 'Não adianta dizer que a mulher tem que participar. Quando a gente faz um encontro e passa o domingo inteiro juntos, a gente estabeleceu condições de ter creche para os casais deixarem as crianças? Alguém vai cuidar de fazer almoço para estas crianças? Porque é assim que a gente vai dar condições'.

Então, eu acho que a gente falhou. Essa é uma das coisas em que nós falhamos: não dar sequência a esse trabalho com as companheiras mulheres, que na época chegavam a ser 20 e poucos por cento da categoria. A gente não soube trabalhar corretamente isso. É um dado concreto, eu assumo a responsabilidade. Apesar desse congresso ter sido um grande sucesso, a gente não deu uma sequência do ponto de vista de trazer a mulher para dentro do sindicato mesmo. Agora, obviamente que melhorou muito a participação [das mulheres] nas assembleias. Mas a gente não conseguiu o grau de militância que a gente imaginava que poderia conseguir."


COMENTÁRIO RÁPIDO


O capítulo é longo e tem muitos ensinamentos. De maneira geral, nascia ali no período em que Lula está falando (entre anos 70 e 80), nossas concepções e práticas da Central Única dos Trabalhadores.

Alguns trechos que sublinhei considero importantes. Nós não somos representantes de nós mesmos quando estamos em um sindicato de trabalhadores. O sindicato não é prestador de serviço, é local de organização e ressonância dos trabalhadores.

Na medida do possível, um dirigente e uma categoria têm que evoluir juntos, ou então partilharem e viverem juntos os mesmos dramas. O dirigente deve estar ao lado de seus representados.

Ter uma convivência respeitosa com as correntes políticas que militam no movimento é importante e traz crescimento político para todo mundo.

Não adianta falar de igualdade de oportunidades sem criar as oportunidades para a igualdade.

É isso. Seguimos depois com o capítulo.

William Mendes
Secretário de Formação da Contraf-CUT


Bibliografia:


PARANÁ, Denise. Lula, o filho do Brasil. Apresentação de Antonio Candido. Editora Fundação Perseu Abramo. 1ª edição: dezembro de 2002. 3ª edição, 3ª reimpressão: julho de 2009.

Pensando a CUT a partir do filme "ABC da Greve" - Leon Hirszman




A fonte do vídeo é um canal 
no youtube chamado caovidaloca.

O FILME É UMA LIÇÃO PARA SINDICALISTAS CUTISTAS

Lendo o capítulo "E Luiz Inácio tornou-se Lula", do livro de Denise Paraná - Lula, o filho do Brasil, acabei por buscar o filme de Leon Hirszman porque ele aborda o mesmo período que o capítulo do livro aborda. O filme nos apresenta cenas e momentos da greve de 1979 dos metalúrgicos do ABC Paulista.

A leitura do capítulo do livro, seguida do filme, é uma aula emocionante e contextualizada do que são as dificuldades enfrentadas pelas lideranças sindicais em momentos cruciais do embate entre o capital e os trabalhadores. Aqui estava nascendo o que seria a concepção e prática sindical da Central Única dos Trabalhadores (CUT) - ser classista, de massas e democrática. Principalmente no que balizou a forma de atuação da Articulação Sindical.

Aqui nascia a característica de um sindicato cutista que é pensar a categoria acima de tudo porque fazer greve pela própria greve e não pensar a consequência dela para os trabalhadores não é papel de um dirigente sindical cutista.

Eu me emocionei muito com as imagens do filme. Muitos de nós que nos tornamos sindicalistas cutistas temos momentos em nossa vida militante e de liderança que nos deixaram em situações como essa de avaliar se devemos continuar na greve ou se devemos proteger os trabalhadores e encerrar o movimento sob risco de derrota.

O contexto do que vocês vão ver no filme é que Lula e a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos precisaram defender o fim da greve por ter a real noção de que seguir naquela greve a partir da segunda-feira seria uma derrota fragorosa para a categoria.


LEMBREI-ME DO CONTEXTO DA GREVE 2003 NO BB

É evidente que nada é comparado ao que foi o movimento de massas e o nascimento do Novo Sindicalismo surgido no ABC Paulista entre os anos 70 e 80. Mas a nossa geração viveu um momento de ressurgimento do movimento de massas no início dos anos dois mil, após a eleição de Lula da Silva e após uma década de massacre neoliberal aos trabalhadores e aos seus sindicatos.

Eu vivi um contexto parecido ao ter que falar com os trabalhadores em assembleia que precisávamos aceitar a proposta e finalizar a greve do Banco do Brasil em 2003, após conquistar várias propostas com a primeira greve forte em mais de uma década.

Era meu primeiro ano liderando os bancários em uma greve e eu estava aprendendo a ser um dirigente sindical e após uma forte mobilização em 3 dias de greve, com crescimento diário do movimento e conquista de vários direitos em nova proposta patronal após esses dias de greve, tivemos que ir para uma assembleia lotada na quadra dos bancários e dizer a eles que era a hora de encerrar a greve porque havíamos conquistado muitas das reivindicações que nos levaram à greve e que continuar nela poderia nos levar à derrota com consequências para as próximas lutas.

Uma das pessoas que seria grande referência para mim naquele início de vida sindical foi Deli Soares. Naquele dia, ele me disse que começar greve era fácil, o difícil era liderar os trabalhadores e lhes dizer quando era a hora de parar. Ali comecei meus onze anos liderando as assembleias do Banco do Brasil no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região entre 2003 e 2013.

A proposta foi aprovada pela massa e após a assembleia caí em choro pela emoção que acabava de viver naquele momento. Muitos bancários que estiveram comigo naqueles dias de greve não compreenderam na hora e ficaram chateados com a minha posição de direção do movimento e após o calor daquele momento me procuraram e elogiaram a minha postura no diálogo travado na assembleia.

A proposta conquistada no BB naquele ano era a seguinte, se não me falha a memória:

- o cumprimento da proposta de índice conquistada pelos bancários em geral (Fenaban) porque o governo tinha proposto menos;
- um acordo de PLR nos moldes do da categoria (não havia no BB);
- a conquista do abono de 5 dias para os colegas que entraram no BB a partir de 1998 (isonomia);
- aumento na cesta alimentação, vale refeição e auxílio creche, igualando com os da categoria (isonomia, pois eram menores);
- a volta do direito de eleger delegados sindicais (perdido desde o governo do PSDB), e
- anistia dos dias parados.

O filme é emocionante e nós não podemos nunca perder as nossas referências e princípios, estejamos onde estivermos fazendo a luta.

É isso!

Feriado de corridas, filmes e leituras


Refeição Cultural


Neste feriado de Páscoa, de Dia do Índio, de Tiradentes, aproveitei para descansar, refletir, e curtir coisas que gosto como correr, ler e ver alguns filmes. Joguei videogame com o filho e fiquei com a família.

Estou relendo a parte que já havia lido do livro sobre a história de vida de Lula. Li cento e poucas páginas em 2011 e estou relendo agora no feriado. 

Minha esposa tem um pouco de razão quando diz que eu deveria ter lido outra coisa que não fosse política. Mas fazer o que, né? Estou vivendo o fim de semana que antecede o resultado das eleições da Cassi e, após o ano tumultuado que tive, nada mais será o mesmo. Vou pra Cassi ou vou fazer outra coisa da vida porque não tenho mais mandato no meu Sindicato de base.

É um fim de semana diferente neste sentido da política, da minha vida política.

Em relação às corridas, corri e caminhei todos os dias do feriado, a começar pela quinta-feira. Corri na quinta uns 2k, corri na sexta 3k, andei no sábado uns 6k e no domingo, fiz um longão muito importante para restabelecer limites ao meu corpo. Corri mais de uma hora. Fiz 72' de corrida em trote, com muitas subidas e administrando as dores que sinto faz tempo em meus tendões de Aquiles. Fiquei muito feliz de ultrapassar meus limites atuais em corrida. Isso dá uma energia de poder pessoal interessante!

Assisti filmes também. Dois do Hitchcock, ontem, que foram fantásticos: Os pássaros (1963) e Janela indiscreta (1954). Os filmes do cara são diferentes do que estamos acostumados. Também assisti ao filme Amigo Oculto (2005). O filme aborda questões de psicologia. Os filmes foram muito bons.

É isso. Estou com vontade de escrever sobre um capítulo inteiro do livro sobre o Lula, abordando o quanto se é possível tirar lições de um bom sindicalismo daquele capítulo, principalmente em relação à forma CUTista de ser e da Articulação Sindical. Mas fico pensando também em pra que escrever? Pra quem? De certa forma, acho que seriam palavras ao vento, como o que estou fazendo agora.

Escrever no Blog ou no meu diário dá quase que no mesmo. É lógico que no Blog é confissão pública e no diário é coisa só minha.

Sei lá, quando vejo política e quando vejo sindicalismo e lembro do quanto vivi nele estes 12 anos, dá uma gana tão grande de continuar... Mas em momentos seguintes, dá vontade de ir fazer outra coisa. Vamos ver o que me reserva a vida a partir de quarta-feira (23), após o resultado das eleições da nossa Caixa de Assistência dos Funcionários do BB.

William

domingo, 20 de abril de 2014

Fotografias: Estação de trem de Toledo - Espanha


Quando: setembro de 2009

Estive na Espanha naquele ano a trabalho. Fui a um curso internacional promovido pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) com sede em Turim, Itália. O curso levou representantes de entidades sindicais de vários países da América Latina e região do Caribe para avaliar os impactos da crise mundial, iniciada entre 2007/2008 nos Estados Unidos. Fui representando a Contraf-CUT e a nossa Central Única dos Trabalhadores.


Estación Ferrocarril de Toledo - España.
Fotos de William Mendes.

Estivemos por duas semanas em Turim, Itália, e uma terceira semana em Madri, Espanha. A experiência foi muito enriquecedora.

Aqui, apresento algumas fotos que fiz em um rápido passeio de ida e volta no mesmo dia a Toledo, Espanha. A cidade é milenar e maravilhosa e nesta postagem destaco a Estação Ferroviária de Toledo (Estación de Ferrocarril).

Fomos eu e uma companheira do Chile a Toledo
em um trem de alta velocidade.

A ida para Toledo foi em um trem de alta velocidade, chamado AVE (línea de Alta VElocidad). Saímos de Madri no horário que vocês veem acima. Chegamos em pouco mais de meia-hora.

Olha o trem que nos levou a Toledo. O conforto nele
 é muito grande.

Passamos pela região que já é considerada como pertencente às planícies de La Mancha. O trem passa ao lado de uma estrada que nos dias úteis tem um tráfego intenso, pelo que pude pesquisar no endereço que fala sobre a Estação de Trem de Toledo.

Veja a primeira visão que temos 
da Estação quando chegamos.

A Estação foi inaugurada em 1919, segundo o site da própria Estação (ou 1920, segundo o livro que adquiri sobre a cidade de Toledo). Ela foi construída em estilo mudéjar ou neomudéjar, que conjuga arquitetura e arte dos muçulmanos que viveram por séculos na Espanha. O estilo arquitetônico é conjugado com o dos cristãos espanhóis.

Plataforma de chegada dos trens de alta velocidade a Toledo.

O estilo de arte mudéjar é encontrado por toda a cidade, que é uma espécie de cidade fortaleza rodeada pelo Rio Tajo por leste, oeste e sul e com o norte ligando a cidade pela planície. Veja abaixo um dos estilos de arco de ferradura que há na arquitetura mudéjar.

Belíssimo estilo mudéjar de arco em ferradura.

A torre do relógio é uma exceção em estações de trens na Espanha. Ela é mais comum nas construções de igrejas em estilo mudéjar. Mas é muito bonita!

Torre do relógio da 
Estação de Trem de Toledo - ESP.

Abaixo, vemos a parede da Estação com a torre do relógio. O sortudo aqui pegou um belo dia de céu azul na bela região de La Mancha.

Vista lateral da Estação de Trem de Toledo, a partir
do lado externo da plataforma de trem.

Agora, vemos a outra metade da Estação de Trem. Quando vi esta estação, me lembrei na hora da Estação da Luz em nosso país, em São Paulo. A nossa foi projetada lá na metade do século XIX. Esta também teve seu primeiro projeto mais funcional no mesmo período (1858).

As obras desta construção se iniciaram em 1917, sob ordem
 do arquiteto Narciso Clavería, que foi um incentivador do
renascimento mudéjar na Espanha.

Janelas em arco de ferradura com vitrais. A construção é feita em tijolos, cimento, pedra e ferro.

Sem dúvida, o estilo na Estação 
nos lembra um palácio árabe.

Agora, vemos abaixo, a parte interna da Estação de Trem de Toledo.

Parte interna da Estação de Trem de Toledo - Espanha.

Olha que lindo teto da Estação. Todo trabalhado.

Teto da Estação em estilo mudéjar.

Detalhe interno dos vitrais nas janelas em arcos.

Belíssimos arcos de ferradura com vitrais.

Mais um destaque para o arco e o vitral.

Janela em arco e vitrais da 
Estação de Trem de Toledo - Espanha. 

O piso é todo desenhado, também, além dos belos acabamentos em madeira nas bilheterias da Estação.

Acabamentos em madeira nas bilheterias.

Um close, uma aproximação maior de um arco com os vitrais.

Um close do arco com vitrais.

E, por fim, uma foto do livro que adquiri lá, contendo a história de Toledo, mostrando a Estação de Trem, em vista aérea, do lado de fora da estação.

Foto do livro "Todo Toledo", coleção 
produzida por Escudo de Oro.
Foto de Joan Oliva.

Neste rápido passeio que fiz à cidade de Toledo, fui a alguns dos principais pontos como El Alcázar e La Catedral. Voltei para a Estação para pegar o trem de volta a Madri ainda de dia (17:30h).


Fim da caminhada pela cidade de Toledo e volta
à estação às 17:30h.

Seria muito bom poder visitar com mais calma a cidade e ir aos museus como o de El Greco. Mas a caminhada pela cidade milenar já valeu muito a pena.

É isso!


Fonte de informações:

http://www.laestaciondetren.net/

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Lula, o filho do Brasil - "Eu tenho consciência do que eu represento"



Lula em 1948, aos 3 anos, com a
irmã Maria.
"Há uma coisa que não me deixa inseguro nunca, que é o seguinte: há essas bobagens que o Maluf fala, 'Eu vou tirar proveito porque o Lula não tem curso superior, eu vou tirar proveito porque o Lula não fala inglês!'. Essas bobagens não me abalam. Eu acho que cada um de nós representa alguma coisa. Eu tenho consciência do que eu represento. eu tenho consciência de para quem que eu devo fazer o governo. Eu tenho consciência de qual é o setor que eu quero privilegiar.

Eu tenho consciência de que o Maluf, o Collor e outros são inimigos dessas ideias. O que menos me importa é saber se um dia eu vou ter o mesmo grau intelectual que eles têm. Eu quero saber se um dia eles vão ter o mesmo grau de compromisso que eu tenho nos chamados 'setores mais pobres'.


(...) Meu povo não quer que eu seja professor de economia, meu povo não quer que eu seja professor de literatura. O meu povo quer que eu seja o que eu sou, e é isso o que eu tenho que ser..." (página 63)


O PRINCIPAL COMPROMISSO É O IDEOLÓGICO

"É muito melhor você ser espontâneo e falar o que você pensa. E o cara perguntava (Collor no debate): 'Lula, você sabe o que é não sei o quê, não sei o que lá?'. O que adiantava eu responder aquilo? Eu não tenho que responder a cada bobagem. Eu gostaria de ter podido fazer um curso superior. Eu gostaria de ser economista, mas não foi possível. Não fico me lamentando. O essencial eu tenho, que é o compromisso ideológico" (página 64)


COMENTÁRIO

Estou em minha casa, em um feriado prolongado de páscoa, descansando após um longo período de viagens e de campanha pelo Brasil afora disputando as eleições da Cassi - Caixa de Assistência dos funcionários do BB. O resultado sai após o feriado.

Este ano para mim foi muito intenso desde o seu início. Passei por um processo muito duro de formação de chapa de meu sindicato. Não sou mais dirigente da entidade. Rompi com pessoas que convivi politicamente por muitos anos. Aceitei participar do importante processo eleitoral da nossa Cassi, em uma chapa com pessoas muito sérias e um projeto plural e de unidade de nossas entidades do funcionalismo. Eu espero que dê tudo certo porque estamos todos imbuídos de fazer uma representação coerente com o que nos propusemos.

Muitas vezes neste ano busquei minhas energias profundamente para seguir lutando e representando a classe trabalhadora. Felizmente, toda vez que me procuro, me encontro. Eu tenho lado, tenho energia e sei o que represento.

Lendo a história do presidente Lula, revendo a construção da CUT lá no início dos anos 80 depois da Conclat, conversando com milhares de bancários e bancárias como fiz nestas últimas semanas, olhando a simplicidade de minha casa e de minha família mais próxima, conversando com companheiros que viraram amigos... Tudo isso me dá uma tranquilidade que não tem preço, pois nunca me desviei de meus princípios.

É legal ver as falas de Lula lá no ano de 1993 e ver que ele nunca se desviou do seu propósito de ajudar e mudar a vida do povo mais simples do país - a classe trabalhadora e os milhões de excluídos seculares.

Esteja onde eu estiver a partir das próximas semanas, nunca vou me desviar porque meus valores não são os do dinheiro, da acumulação, do poder a qualquer custo. Nunca foram, mesmo quando eu ainda não tinha a consciência de classe e formação política que tenho hoje.

Se eu não estiver mais representando os trabalhadores num futuro próximo, seguirei buscando melhorar o mundo ao meu redor, o nosso mundo, de alguma forma. Sem perceber, militantes como nós fazem isso desde que nasceram e se pegaram no meio social.

É isso!

William


Bibliografia:


PARANÁ, Denise. Lula, o filho do Brasil. Apresentação de Antonio Candido. Editora Fundação Perseu Abramo. 1ª edição: dezembro de 2002. 3ª edição, 3ª reimpressão: julho de 2009.

Lula, o filho do Brasil - "Com um povo deste se muda o país"



Foi só acreditar no povo, investir no povo
 que o país avançou!

Cito nesta postagem, outro trecho do livro que achei bem legal (abaixo) e vimos acontecer neste começo de século XXI.

Lula está falando lá em 1993 após as Caravanas da Cidadania. Após viajar pelo Nordeste brasileiro, ele se encanta com o vigor e com a esperança do povo humilde e sofrido daquela região do País, porque o povo tem altivez e desejo de um amanhã melhor, sem ficar chorando pelos cantos.

Me lembrei da frase de Euclides da Cunha nos Sertões - O nordestino é sobretudo um forte...


"Força e fé na vida: com um povo deste se muda um país

Eu compreendi agora, nesta viagem pelo Nordeste [Caravana da Cidadania], o otimismo da minha mãe e de outras pessoas, que é diferente do da classe média urbana. A classe média urbana é muito borocoxô. Ela está sempre se achando infeliz, reclamando. O sujeito está sentado em um bar tomando cerveja, todo mundo com os ombros caídos, dizendo que nada tem jeito, que está tudo desgraçado, que o governo não presta. Você conversa com o sertanejo, ele está passando fome, está sem comer há três dias, mas ele está com a cabeça erguida, achando que tem jeito! É um negócio assim, quase que uma profissão de fé. Tem jeito! Eu vou melhorar, vai chover, vai acontecer alguma coisa na minha vida. Ele tem isso, a classe média urbana está sempre: 'Ah, a inflação...'. Ela está sempre para baixo. Eu acho que isso é assim porque a classe média ganha as coisas muito facilmente. É uma coisa meio hereditária. O pai era classe média, o filho é classe média, o neto vai ser classe média. São pessoas que não conhecem o sofrimento. Não conhecem o ter que comer o pão que o diabo amassou, como a mãe do Ricardo Kotscho, que passou pela Segunda Guerra Mundial.


Você pega um cara pobre, eu não sei se ele tem mais fé, se ele acredita mais em Deus, eu sei que ele está mais otimista. Ele anda de cabeça erguida, não está arriado. No Nordeste o sertanejo está encostado na enxada, não tem o que fazer, e aí você pergunta: 'Como é que é companheiro, vamos melhorar?'. E ele responde: 'Se Deus quiser, vamos melhorar! Tenho fé que vai melhorar!'. É um negócio muito positivo. Com um povo desse dá para fazer uma revolução. Dá para salvar este país! Esse país tem jeito, isso é um negócio fantástico. Eu tenho certeza, estou convencido que com esse povo vai dar para mudar o Brasil." (página 62)


COMENTÁRIO

É impressionante! Porque o que vimos durante os governos de Lula e do PT foi exatamente isso! Acreditou-se no povo e o Brasil teve outra cara neste século XXI após os mandatos de Lula e com mais distribuição de renda, mais investimento na educação e com a redução do desemprego ao menor nível histórico do país.

E o mundo virou uma crise só após o crash do subprime em 2008... mas o Brasil seguiu gerando emprego e renda do trabalho.

O povo tem altivez, perdeu o espírito de vira-latas e quer mais...

William


Bibliografia:


PARANÁ, Denise. Lula, o filho do Brasil. Apresentação de Antonio Candido. Editora Fundação Perseu Abramo. 1ª edição: dezembro de 2002. 3ª edição, 3ª reimpressão: julho de 2009.



Post Scriptum (31/1/17):

É muito triste relembrar que o Brasil estava num patamar melhor que os demais países do mundo até o primeiro semestre de 2014 e que a construção do golpe de Estado perpetrado no País para não deixar o PT governar por mais 4 anos quebrou tudo, tudo, a partir de uma operação de desmonte dos avanços para o povo brasileiro. E não vi o povo retomar o poder até agora...

Lula, o filho do Brasil - Lembranças duras da infância



Vendo a história de vida e de família deste homem, 
vemos a história de vida de nossas famílias brasileiras.

A leitura do livro de Denise Paraná é uma delícia, é esclarecedora e nos faz sentir algo de nostalgia, e também nos traz recordações de um contexto histórico coletivo. 

Ela faz a história de Lula e sua família ser algo comum a todos nós que temos família da mesma geração do Presidente. Lula nasceu em 1945. Meu pai nasceu em 1942 e minha mãe em 1946. Vemos a história da família de Lula assim como vemos a história de nossa família, ainda mais quando temos a mesma origem humilde que eles tiveram.


Pai de Lula tratava melhor os cachorros e preferia eles em relação aos filhos

"A coisa mais marcante naquela época era que a gente tinha um cachorro chamado Lobo. Era um cachorro que inclusive foi a razão de uma briga do meu pai e da minha mãe em São Paulo. Quando nós chegamos em Santos, o meu pai, ao invés de ficar preocupado por que nós tínhamos chegado sem avisar ele, a primeira pergunta que ele fez foi: 'Cadê o cachorro?'.

Meu pai ficou nervoso porque minha mãe não trouxe o cachorro. Imagina trazer um cachorro num pau-de-arara durante 13 dias... Esse cachorro - o nome dele era Lobo -, a coisa mais marcante é que ele ficou chorando em volta do lugar que nós estávamos. E minha mãe não abria a porta que era para ele não ver a gente. Então ele ficou chorando até que a gente saiu e veio embora. Meu tio que ficou lá pegou o cachorro e levou para a casa dele. Então esse cachorro morreu poucos dias depois, parou de comer, ficou triste... Ele morreu. Meu pai ficou muito nervoso porque achou que minha mãe deveria ter trazido o cachorro para São Paulo. Não deveria ser um cachorro de raça, acho que era um cachorro qualquer." (página 48)


"Uma outra coisa que me marcou muito no meu pai é que um dia - em 1952, a minha irmã tinha uns 3 anos - eu via meu pai comendo pão e a minha irmã pedindo um pedacinho. Meu pai pegava os pedacinhos de pão e ia jogando para os cachorros. Ele não dava para ela. Eu não tenho certeza se ele estava ouvindo ela pedir, mas eu sei que isso me marcou muito. Na época eu tinha uns 8 ou 9 anos. Aquilo me marcou muito: como é que o cara via uma criança pequena de 3 anos ali pedindo um pedaço de pão e ele... Meu pai tinha muitos cachorros. Cuidava dos cachorros. Acho que ele cuidava mais dos cachorros do que dos filhos. Ele adorava os animais que ele tinha em casa." (página 50)


COMENTÁRIO

É impressionante! Ao ver o Lula falar de seu passado, podemos ver nossos pais e tios falando do passado deles. É algo muito brasileiro. Algo muito daquela época e dos costumes.

Quando eu era pequeno ficava ouvido meus vários tios por parte de pai e por parte de mãe contarem as mesmas coisas. 

Ainda nos anos oitenta eu via meus primos apanhando violentamente... os pais e mães daquele tempo, muitas vezes, não tinham limites em bater nos filhos. Não que isso não ocorra hoje e que o inverso não ocorresse também à época - não se pode mais bater - mas era pavoroso ver como os pais eram violentos com os filhos.

Eu tive o privilégio de ter sido criado por pais que adotavam outras estratégias educacionais, não fui educado na base da porrada, da surra. O método de meus pais foi o castigo.

William


Bibliografia:


PARANÁ, Denise. Lula, o filho do Brasil. Apresentação de Antonio Candido. Editora Fundação Perseu Abramo. 1ª edição: dezembro de 2002. 3ª edição, 3ª reimpressão: julho de 2009.

domingo, 13 de abril de 2014

Corrida de superação, leituras e estudos



Este militante da CUT tem aberto diálogos interessantes
com os trabalhadores na rua...

Refeição Cultural


Noite paulistana de sábado de chuva mansa e necessária.

Apesar de dormir de madrugada, acordei bem cedo. 

De cara, li sobre Toledo, a bela cidade da Espanha com séculos de história e convivência entre cristãos, judeus e muçulmanos. A cidade fortaleza, cercada ao leste, sul e oeste pelo Rio Tajo e ao norte por uma planície. Estava lendo o livro que lá comprei quando estive em 2009. Ler postagem AQUI.


CORRENDO COM A MARCA CUT NO PEITO!

Saí para correr numa bela e fresca manhã de domingo. Logo na saída, uma cena gostosa e reconfortante: 

Assim que passei em um dos faróis perto de casa, uma senhora que estava trabalhando na distribuição de um folder de empreendimento imobiliário me viu com a camiseta da CUT e falou a si mesma e depois gritou pra mim: 

- Olha, é a CUT! Vai com Deus meu filho!

E eu lhe respondi, todo contente:

- Amém e bom trabalho pra senhora!

Nesta semana é a segunda vez que minha vestimenta tradicional com a marca CUT chama a atenção da classe trabalhadora. Na sexta-feira, ao entrar em uma drogaria em Osasco, a menina que me atendeu já foi logo puxando conversa e falando o quanto minha camiseta era bonita e que a CUT era forte e conquistava muito pros seus trabalhadores... 

Esta é uma situação comum pra mim que uso a marca da Central Única dos Trabalhadores praticamente a semana toda. Não tenho vergonha de usá-la e não é uma "obrigação" como ocorre quando a militância "veste CUT" porque está em algum fórum fechado ou em atividade convocada nas ruas. 

As pessoas deveriam usar com frequência a MARCA CUT porque tudo na vida social é disputa de imagem e hegemonia. Sempre falei isso para o pessoal do movimento. Mas o ataque da direita e da oposição ao governo Lula, ao PT e à CUT desde a crise do "mensalão" produziu um efeito certeiro e negativo - as pessoas não andam mais com nossas bandeiras no peito em todos os locais da sociedade. EU SOU CUT E TODOS SABEM!

VOLTANDO À CORRIDA

Bom, saí para me superar e correr uma distância longa para poder estabelecer novos limites físicos pra mim neste momento de minha vida, porque me arrebentei trabalhando nos últimos tempos e preciso recuperar minha condição física.

Corri 65' (minutos) com grandes subidas e fiquei muito feliz por conseguir. É a sensação de que ainda estamos vivos e podemos muito. Nas semanas anteriores já fui correndo mais de 40', depois 50' e na semana passada cheguei aos 60'. Ainda na quinta-feira última, fiz uma corrida de 4 km.

Que bom é correr! Viver é bom!


LEITURAS E ESTUDOS

Além de ler sobre a cidade de Toledo, na Espanha, ontem assisti a um documentário antigo, dos anos 70, baseado no livro de Erich Von Däniken, "Eram os Deuses astronautas?". Eu acreditei muito nessas coisas até vinte e poucos anos.

Também trabalhei um pouco neste meu Blog de cultura e fiz uma postagem sobre a Estação da Luz em SP (ler postagem AQUI) e revi e melhorei postagens antigas.

É isso! E hoje ainda é domingo e tenho o restante do dia pra curtir minha casa e família... Que bão, sô!!!

William