sábado, 29 de setembro de 2018

#EleNão - O dia que as mulheres salvaram o Brasil


(De nosso querido e saudoso Henfil)

Diário e reflexões - 290918

Um dia feliz e histórico este sábado, 29 de setembro de 2018. 

Hoje, centenas de milhares de pessoas foram às ruas do Brasil e de diversos países do mundo para darem um contundente #ELENÃO ao candidato da extrema direita e o que ele e seu vice representam para o mundo, para nosso país e para o povo brasileiro: o atraso civilizatório e a barbárie.

O movimento organizado e liderado pelas mulheres uniu os mais diversos segmentos progressistas da sociedade brasileira, grupos das mais diversas preferências partidárias e visões de mundo, todos unidos para darem um basta à pregação de violência contra mulheres, contra pessoas com identidades de gênero distintas da heterossexual, um basta contra toda forma de racismo, intolerância e ódio. Um dia para dar um basta às ameaças aos direitos sociais, políticos; aos direitos humanos.

Um dia importante e que nos enche de esperança para acreditar que o golpe à democracia brasileira pode encontrar resistência nas ruas e no povo. Um dia daqueles que podemos considerar que "o imponderável" veio meio que de surpresa e pode mudar a tendência de algo na luta de classes e na disputa de hegemonia nos rumos de uma sociedade, via de regra dominada por uma pequena casta detentora de todos os meios e que subjuga a quase totalidade de seres humanos.

Vai que amanhã e nos próximos dias o povo continue despertando do automatismo cotidiano, se ligue um pouco mais nos efeitos de deixar a política de lado (hegemonizada pelo 1% e seus ideólogos manipuladores). Vai que as pessoas comecem a ter menos ódio, mais tolerância, mais solidariedade, mais amor...

Vai que a democracia volte em nosso país, e a justiça comece a funcionar, vai que...

Foi um bom dia este do #ELENÃO

Viva as mulheres e tudo o que a luta das mulheres e das minorias e da classe trabalhadora significa.

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Post Scriptum: é sabido que o esforço das mulheres e dos movimentos sociais foi válido, mas foi em vão. As máquinas de fake news bancadas com muito dinheiro ilegal de empresários e capitalistas fizeram prevalecer a pós-verdade da extrema direita e o verme fascista ganhou a eleição, inclusive levando consigo bancadas enormes de parlamentares da mesma laia dele. As manifestações do #ELENÃO foram convertidas em mentiras montadas com mulheres nuas e cenas absurdas inventadas para manipular setores da sociedade como mulheres e grupos conservadores e religiosos para votarem contra Haddad e candidatos do campo progressista...

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Civilização ou barbárie? Paulo Nogueira Batista Jr.


Apresentação do blog:


Olá amig@s leitores. Nestes tempos sombrios de baixa empatia pela tolerância e diálogo entre os diferentes na sociedade, tenho evitado escrever como fiz ao longo de minha vida de representação da classe trabalhadora.

A tragédia do fascismo ronda nossa sociedade e a cada dia fica mais claro que é preciso que cada pessoa saia de seu automatismo diário para se posicionar em relação às eleições majoritárias no Brasil no próximo dia 7 de outubro. 

Pela primeira vez no país há risco de um candidato fascista, racista, misógino, defensor da violência (que ele mesmo foi vítima) chegar à presidência via eleições, após impedirem a participação do favorito Lula da Silva. Setores conservadores da elite ("mercado") podem optar pela candidatura fascista para impedir a vitória de uma candidatura do campo democrático-popular, criando possibilidades reais de reversão da retirada de direitos sociais (exemplo: Reforma trabalhista) e desfazendo a entrega do patrimônio público como, por exemplo, as reservas do Pré-sal.

Eu cidadão brasileiro golpeado pelo impedimento ilegítimo da presidenta Dilma Rousseff (2015/16) e todas as consequências malévolas advindas com o golpe e também golpeado pela prisão sem crime do ex-presidente Lula da Silva, maior líder do povo brasileiro e candidato preferido de quase metade dos eleitores, impedido de concorrer pelo consórcio golpista, avalio que essas eleições são uma fraude ("Eleição sem Lula é fraude"), pois o povo não pode votar em quem deseja. Mas elas vão acontecer e podem legitimar os representantes do golpe que destrói o país desde 2016.

Cada um de nós cidadãos brasileiros temos um compromisso no dia 7 de outubro com a vida em sociedade, com a construção de um mundo melhor, mais justo e igualitário, mais coletivo e menos individualista, com mais solidariedade na partição dos bens humanos, que hoje se concentram nas mãos de 1% da população, enquanto 99% mal conseguem sobreviver com as mazelas sociais da falta de recursos de toda ordem. Temos um compromisso de não permitir que a sociedade humana vire uma selva onde quase todos nós somos caça e aquele 1% siga sendo nosso predador, no Brasil cerca de 860 mil senhores da casa-grande, donos de nosso destino.

A eleição no Brasil é acompanhada pelo mundo progressista, que sabe que se o fascismo vencer no Brasil, um gigante que é referência para mais de uma centena de países menores na América Latina e demais continentes pobres e em desenvolvimento, o mundo todo sofrerá as consequências dessa fase capitalista de financeirização, onde poucos humanos e suas corporações destroem democracias, direitos sociais, Estados e culturas, patrimônios diversos e bilhões de seres humanos, tudo em benefício de poucos. E contam com sistemas nunca vistos de dominação e manipulação de massas, com sistemas legislativos, judiciários e de comunicação totalmente à serviço desses magnatas.

Leiam abaixo o pequeno artigo de Paulo Nogueira Batista Jr. e reflitam a respeito. Conversem com toda a família e grupos sociais que estão em seus convívios. Se posicionem. Votem no dia 7 de outubro. Não deixem que outros decidam sua vida, nossa vida. Só a política substitui a guerra, evita a eliminação do outro, e dá oportunidades às pessoas de melhorarem suas vidas com o Estado a serviço do povo. Diga não ao fascismo!

Abraços e boa leitura,

William

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Opinião


Civilização ou barbárie?


Por: Paulo Nogueira Batista Jr. — Publicado em Carta Capital, 17/09/2018.

É provável que o eleitor se defronte com a incômoda pergunta no segundo turno das eleições

Nós, economistas, somos extraordinários profetas – mas do passado, só do passado. E temos dificuldades até com o passado, pois no Brasil também o passado é muito difícil de prever.

Há exceções, porém. Em artigo publicado nesta coluna em junho, há três meses, arrisquei algumas previsões eleitorais. Escrevi o seguinte: 

Nenhum candidato remotamente associado a Temer e ao golpe de 2016 tem chances de vencer a eleição de outubro. (...) O favoritismo parece ser de candidatos de esquerda/centro-esquerda. Bolsonaro, único candidato competitivo pela direita, pode chegar ao segundo turno, mas dificilmente vencerá a eleição. (...)"

"Tudo indica que a candidatura de Lula não será permitida. Um candidato indicado por ele, porém, tende a ser forte (...) Ciro Gomes também é um candidato forte de oposição, tem vasta experiência, está com discurso afiado e evolui favoravelmente nas pesquisas de intenção de voto
”. (O Brasil não quebrou, 13 de junho de 2018)

Essas previsões sobreviveram bem até agora. Talvez parecessem otimistas na época, mas hoje são amplamente compartilhadas. Com Haddad indicado para cabeça de chapa pelo PT, completa-se o rol dos candidatos à Presidência. Ele entra tarde, mas com a força de quem representa Lula. Ciro também vem crescendo. Um dos dois enfrentará Bolsonaro no segundo turno.

Assim, é muito provável que o eleitor brasileiro se defronte com uma disjuntiva dramática: civilização ou barbárie? E é por isso que a eleição de outubro está sendo vista por muitos como a mais importante desde a redemocratização.

Antigamente, a esquerda, mais confiante, ousava proclamar em situações semelhantes: socialismo ou barbárie? Foi-se o tempo. O horizonte dos adversários da barbárie estreitou-se consideravelmente. As ambições são mais modestas. Civilização, não mais socialismo.

Quando alguém no Ocidente fala em “civilização”, subentende-se, de alguma forma, o conceito iluminista de civilização e organização da sociedade. A concepção moderna de civilização tem suas raízes principalmente nos filósofos franceses do século XVIII e na Revolução de 1789.

O que impressiona, leitor, é a resiliência do iluminismo. Desde o século XIX, forças tremendas ergueram-se contra ele, com a pretensão de fazê-lo recuar, de restaurar o passado, ou – os mais ambiciosos – de ultrapassá-lo.

Todo o romantismo foi, na essência, uma apaixonada rebelião contra o iluminismo. Marx pretendia superar o iluminismo burguês. Nietzsche desconstruiu, de forma brilhante, muitas das ilusões e simplificações iluministas.

E, no entanto, a verdade é que os diferentes adversários do iluminismo tiveram, digamos, algumas dificuldades históricas. Marx, os românticos e Nietzsche não têm muita culpa pelo que fizeram em seus nomes.

Mas o marxismo desembocou em Stalin e, mais tarde, no colapso do socialismo real. Nietzsche e os românticos acabaram associados ao nazismo. Por mais brilhantes e fascinantes que as diferentes alternativas ao iluminismo tenham sido, os seus resultados foram bem problemáticos, para dizer o mínimo. De todas essas aspirações nascemos órfãos.

Há 60 anos, Sartre ainda se sentia em condições de declarar, taxativamente: “O marxismo é a filosofia insuperável do nosso tempo”. Hoje, com muito mais razão, poderíamos parafraseá-lo e dizer: “O iluminismo é a filosofia insuperável do nosso tempo”, com tudo que ele inclui ou lhe foi acrescentado nos últimos dois séculos: democracia representativa, sufrágio universal, separação dos poderes, Estado de Direito, garantias individuais e direitos sociais básicos.

Digo isso com uma ponta de tristeza. Afinal, é lamentável que, depois de dois séculos de reflexão, experiência e aventuras, o iluminismo, mesmo aperfeiçoado e desenvolvido, ainda tenha o papel que tem. Sabemos das suas limitações, da sua estreiteza, conhecemos os seus pontos cegos, as suas lacunas. Ele promete pouco e entrega pouco.

Mas é o que temos. Um iluminismo tardio, maduro, desencantado é o anteparo contra as hordas bárbaras – não só no Brasil, mas em grande parte do mundo ocidental, acossado pela degeneração da democracia, pelo populismo de direita, pela xenofobia e pela regressão cultural.

Paro e releio o que escrevi. Acho que viajei. Não era para falar tanto e nem ir tão longe. Eis, em resumo, o que é preciso dizer agora: Fora Bolsonaro!

Fonte: Carta Capital

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Eleições 2018 - Carta de Lula ao povo brasileiro


“Nosso nome agora é Haddad”: em carta, Lula e PT indicam candidato

Anúncio foi feito nesta terça (11), em um ato emocionante em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba com a presença de líderes e militantes



Carta de Lula ao Povo Brasileiro

“Por isso, quero pedir, de coração, a todos que votariam em mim, que votem no companheiro Fernando Haddad para Presidente da República”


Meus amigos e minhas amigas,

Vocês já devem saber que os tribunais proibiram minha candidatura a presidente da República. Na verdade, proibiram o povo brasileiro de votar livremente para mudar a triste realidade do país.

Nunca aceitei a injustiça nem vou aceitar. Há mais de 40 anos ando junto com o povo, defendendo a igualdade e a transformação do Brasil num país melhor e mais justo. E foi andando pelo nosso país que vi de perto o sofrimento queimando na alma e a esperança brilhando de novo nos olhos da nossa gente. Vi a indignação com as coisas muito erradas que estão acontecendo e a vontade de melhorar de vida outra vez.

Foi para corrigir tantos erros e renovar a esperança no futuro que decidi ser candidato a presidente. E apesar das mentiras e da perseguição, o povo nos abraçou nas ruas e nos levou à liderança disparada em todas as pesquisas.

Há mais de cinco meses estou preso injustamente. Não cometi nenhum crime e fui condenado pela imprensa muito antes de ser julgado. Continuo desafiando os procuradores da Lava Jato, o juiz Sérgio Moro e o TRF-4 a apresentarem uma única prova contra mim, pois não se pode condenar ninguém por crimes que não praticou, por dinheiro que não desviou, por atos indeterminados.

Minha condenação é uma farsa judicial, uma vingança política, sempre usando medidas de exceção contra mim. Eles não querem prender e interditar apenas o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. Querem prender e interditar o projeto de Brasil que a maioria aprovou em quatro eleições consecutivas, e que só foi interrompido por um golpe contra uma presidenta legitimamente eleita, que não cometeu crime de responsabilidade, jogando o país no caos.

Vocês me conhecem e sabem que eu jamais desistiria de lutar. Perdi minha companheira Marisa, amargurada com tudo o que aconteceu a nossa família, mas não desisti, até em homenagem a sua memória. Enfrentei as acusações com base na lei e no direito. Denunciei as mentiras e os abusos de autoridade em todos os tribunais, inclusive no Comitê de Direitos Humanos da ONU, que reconheceu meu direito de ser candidato.

A comunidade jurídica, dentro e fora do país, indignou-se com as aberrações cometidas por Sérgio Moro e pelo Tribunal de Porto Alegre. Lideranças de todo o mundo denunciaram o atentado à democracia em que meu processo se transformou. A imprensa internacional mostrou ao mundo o que a Globo tentou esconder.

E mesmo assim os tribunais brasileiros me negaram o direito que é garantido pela Constituição a qualquer cidadão, desde que não se chame Luiz Inácio Lula da Silva. Negaram a decisão da ONU, desrespeitando o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos que o Brasil assinou soberanamente.

Por ação, omissão e protelação, o Judiciário brasileiro privou o país de um processo eleitoral com a presença de todas as forças políticas. Cassaram o direito do povo de votar livremente. Agora querem me proibir de falar ao povo e até de aparecer na televisão. Me censuram, como na época da ditadura.

Talvez nada disso tivesse acontecido se eu não liderasse todas as pesquisas de intenção de votos. Talvez eu não estivesse preso se aceitasse abrir mão da minha candidatura. Mas eu jamais trocaria a minha dignidade pela minha liberdade, pelo compromisso que tenho com o povo brasileiro.

Fui incluído artificialmente na Lei da Ficha Limpa para ser arbitrariamente arrancado da disputa eleitoral, mas não deixarei que façam disto pretexto para aprisionar o futuro do Brasil.

É diante dessas circunstâncias que tenho de tomar uma decisão, no prazo que foi imposto de forma arbitrária. Estou indicando ao PT e à Coligação “O Povo Feliz de Novo” a substituição da minha candidatura pela do companheiro Fernando Haddad, que até este momento desempenhou com extrema lealdade a posição de candidato a vice-presidente.

Haddad e Lula. Foto: Ricardo Stuckert.

Fernando Haddad, ministro da Educação em meu governo, foi responsável por uma das mais importantes transformações em nosso país. Juntos, abrimos as portas da Universidade para quase 4 milhões de alunos de escolas públicas, negros, indígenas, filhos de trabalhadores que nunca tiveram antes esta oportunidade. Juntos criamos o Prouni, o novo Fies, as cotas, o Fundeb, o Enem, o Plano Nacional de Educação, o Pronatec e fizemos quatro vezes mais escolas técnicas do que fizeram antes em cem anos. Criamos o futuro.

Haddad é o coordenador do nosso Plano de Governo para tirar o país da crise, recebendo contribuições de milhares de pessoas e discutindo cada ponto comigo. Ele será meu representante nessa batalha para retomarmos o rumo do desenvolvimento e da justiça social.

Se querem calar nossa voz e derrotar nosso projeto para o País, estão muito enganados. Nós continuamos vivos, no coração e na memória do povo. E o nosso nome agora é Haddad.

Ao lado dele, como candidata a vice-presidente, teremos a companheira Manuela D’Ávila, confirmando nossa aliança histórica com o PCdoB, e que também conta com outras forças, como o PROS, setores do PSB, lideranças de outros partidos e, principalmente, com os movimentos sociais, trabalhadores da cidade e do campo, expoentes das forças democráticas e populares.

A nossa lealdade, minha, do Haddad e da Manuela, é com o povo em primeiro lugar. É com os sonhos de quem quer viver outra vez num país em que todos tenham comida na mesa, em que haja emprego, salário digno e proteção da lei para quem trabalha; em que as crianças tenham escola e os jovens tenham futuro; em que as famílias possam comprar o carro, a casa e continuar sonhando e realizando cada vez mais. Um país em que todos tenham oportunidades e ninguém tenha privilégios.

Eu sei que um dia a verdadeira Justiça será feita e será reconhecida minha inocência. E nesse dia eu estarei junto com o Haddad para fazer o governo do povo e da esperança. Nós todos estaremos lá, juntos, para fazer o Brasil feliz de novo.

Quero agradecer a solidariedade dos que me enviam mensagens e cartas, fazem orações e atos públicos pela minha liberdade, que protestam no mundo inteiro contra a perseguição e pela democracia, e especialmente aos que me acompanham diariamente na vigília em frente ao lugar onde estou.

Um homem pode ser injustamente preso, mas as suas ideias, não. Nenhum opressor pode ser maior que o povo. Por isso, nossas ideias vão chegar a todo mundo pela voz do povo, mais alta e mais forte que as mentiras da Globo.

Por isso, quero pedir, de coração, a todos que votariam em mim, que votem no companheiro Fernando Haddad para Presidente da República. E peço que votem nos nossos candidatos a governador, deputado e senador para construirmos um país mais democrático, com soberania, sem a privatização das empresas públicas, com mais justiça social, mais educação, cultura, ciência e tecnologia, com mais segurança, moradia e saúde, com mais emprego, salário digno e reforma agrária.

Nós já somos milhões de Lulas e, de hoje em diante, Fernando Haddad será Lula para milhões de brasileiros.

Até breve, meus amigos e minhas amigas. Até a vitória!

Um abraço do companheiro de sempre,

Luiz Inácio Lula da Silva


Fonte: site do PT

sábado, 1 de setembro de 2018

A indescritível sensação de impotência ao viver ou presenciar a injustiça





Quando me pego pensando na amarga e dolorosa impotência que sentimos ao viver ou presenciar a injustiça, tento abstrair do fato e desviar os pensamentos para seguir respirando e buscando motivos que façam valer a pena estarmos vivos. Quase sempre temos alguém ou algo que nos vincule à vida. Falo em tentar abstrair ou desviar o pensamento da injustiça quando não vemos possibilidade de corrigi-la ou interrompê-la na hora, no instante em que ela ocorre.

A impotência causada pela injustiça que amargura meu ser neste momento é em relação ao que estão fazendo com o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva e com o povo brasileiro. Falo dos 208,5 milhões de brasileiros (estimativa do IBGE) que estão sofrendo as consequências do golpe de Estado aplicado em nosso país por uma pequena casta que detém os poderes e as ferramentas do mundo capitalista. Obviamente excluo do sofrimento da injustiça as 860 mil pessoas citadas recentemente pela revista CartaCapital (edição 1009), cuja capa falava sobre "A turma do 1%". Ler matéria AQUI.

Quem nunca sentiu a dor, a humilhação, o sentimento de impotência do não se ter o que fazer quando se é assaltado ou furtado, ou agredido fisicamente, ou assediado e torturado das mais diversas formas físicas e psicológicas, ou quando se é injustiçado por alguém ou algo mais potente que si? De algum abuso de poder do ente estatal ou de uma empresa ou de uma pessoa em posição de poder? Quase todo mundo já passou por isso na atualidade, independente de sua crença, origem, característica ou posição social, de seus valores éticos ou morais. 

Me lembro de várias passagens em minha vida de brasileiro nascido fora da casa-grande que me fizeram viver a dor da injustiça e a impotência. Eu tinha bem uns 12 anos quando coloquei pra secar no varal o primeiro tênis um pouco melhor que tive, depois das congas e kichutes de toda a vida infantil, e o tênis foi roubado. Tive que ficar vendo ele no pé de um sujeito maior e mal encarado do bairro porque as coisas eram assim onde morava em Uberlândia (MG). Eu criança senti uma impotência cruel... sentimento de criança que foi sacaneada. Ainda em Uberlândia, tive bicicleta furtada e para todo mundo a bicicleta era o meio de transporte para trabalhar e estudar. E eu já trabalhava desde os onze anos.

Já em São Paulo e Osasco, após os 17 anos, foram tantas as vezes que experimentei a sensação de impotência ao ser roubado ou furtado, que foi preciso ter uma cabeça boa para não fazer uma besteira pela revolta. Já trabalhava no Unibanco aos 20 anos quando arrombaram a casa de fundo que morava de aluguel e me roubaram as coisas que ainda estava pagando. Depois fui assaltado a mão armada com arma na cara para me roubarem a bicicleta. Depois me deram de presente de aniversário, dia 3 de abril, o furto de uma CB 400 TR, branquinha, linda, que eu tinha acabado de pagar. Não estava segurada. Eu só me sentei na rua às 3 horas da manhã e chorei. A impotência que a gente sente é indescritível!

Anos noventa, já trabalhando no Banco do Brasil, tive mais experiências de assaltos ou tentativas de assaltos. O cotidiano nos impõe a sensação de impotência pelo medo e pela violência contra as pessoas comuns que somos. Na agência da Rua Clélia (uma das centenas fechadas após o golpe de 2016) vivenciamos um assalto com um bando de brutamontes com metralhadoras dizendo que matariam todos se alguém reagisse. Tudo correu bem (quis dizer sem tiros). 

Tivemos arma na cabeça eu e minha companheira em tentativa de assalto ao nosso carro, um carro velho. Reagimos estupidamente, sem explicação, e não atiraram em nós. Fiquei gritando com os bandidos enquanto o carro descia a ladeira no ponto morto e por algum motivo saímos ilesos.

No último assalto que sofri, alguns anos atrás, voltava de uma atividade do movimento dos sem-mídia, realizada no vão do Masp na Avenida Paulista, numa tarde de sábado, quando um bando assaltou um monte de gente na passarela da CPTM da estação Presidente Altino, onde moro em Osasco, e eu fiquei por segundos negociando com os bandidos. Entreguei relógio e celular; não entreguei carteira e máquina fotográfica com as fotos da atividade. Coisa de maluco! Mas a sensação de humilhação e impotência em não poder fazer nada nessas horas é difícil de descrever.

Ainda sobre injustiça e sensação de impotência ao lidar com poderes desproporcionais e coisas do estado de exceção em que nos pegamos no país após 2016, sofri forte assédio moral no último período e isso me sensibiliza muito mais ao ver qualquer pessoa sendo injustiçada ou sofrendo processos violentos de exceção aos seus direitos como cidadão e ser humano. E eu já lutava contra injustiças desde muito jovem, seja individualmente de forma espontânea, seja coletivamente de forma organizada em movimentos sociais.

Por que citei essas passagens de um único cidadão, coisas que acontecem todo dia, toda hora, com gente como a gente? E que os meios midiáticos comerciais têm preferência em noticiar para alimentar o medo e gerar o ódio, e a sede de vingança tanto cidadã quanto estatal? 

Citei essas passagens porque lembrei que mesmo sendo mais um que viveu esse cotidiano de violências e injustiças, desde a tenra infância e adolescência, depois na vida adulta, acabei me pegando sempre envolvido em alguma causa ou mobilização que tivesse como origem a injustiça, a indignação, alguma situação que deixasse claro que algo ou alguém mais poderoso estava prejudicando algo ou alguém mais fraco, mais vulnerável. E assim me peguei organizando estudantes no ensino fundamental, no ensino médio, nas faculdades que frequentei. Assim me vi fazendo algo contra a injustiça, contra a impotência individual que sentimos com o que fazem conosco. Assim virei dirigente sindical bancário por vários anos de minha vida e representante de trabalhadores até bem recentemente.

Cara, o que estão fazendo com o presidente Lula é algo que me dilacera todos os dias. Estabeleci uma quarentena de silêncio em tempos em que as palavras e o debate de ideias foram superados pela intolerância, mas é muito difícil ficar calado diante de tanta injustiça. Minha leitura política me dava a certeza há dois anos, desde o golpe contra os 54,5 milhões de brasileiros que votaram em Dilma Rousseff, que aquele processo de impor ao Brasil a agenda que o povo não elegeu - de entregar o patrimônio brasileiro e acabar com os direitos sociais - não seria para tudo voltar ao normal em 2018. Eu não tinha ilusão alguma que o povo poderia reverter o golpe e as consequências do golpe logo depois de abril e agosto de 2016 pelas vias "institucionais". Ora, as "instituições" participaram do golpe.

É absurdamente escandaloso o processo parcial contra Lula e o Partido dos Trabalhadores para excluir o candidato da preferência do povo das eleições presidenciais, processo feito por uma casta que perdeu a vergonha de sua imoralidade (na verdade, são sujeitos amorais os privilegiados do 1%). Fico estupefato ao ver que pessoas que a gente conhece da família, colegas de trabalho e de convivência consigam lidar com todos os abusos contra Lula com naturalidade, endossando ou fazendo de conta que não é com eles, por mais que não gostem ou odeiem Lula, o PT, a luta dos movimentos sociais etc. Como pode cada qual levar sua vida como se nada estivesse acontecendo de injusto no mundo onde vivemos?

O que estão fazendo com o povo e a classe trabalhadora brasileira é algo que esmaga meu coração diariamente. Eu passei quase vinte anos de minha vida participando das lutas coletivas da classe trabalhadora de nosso país como dirigente eleito por meus colegas trabalhadores. Conheci profundamente o processo democrático e de lutas de classe e os sistemas que temos que enfrentar de manipulação e alienação de meus pares. Mesmo assim, é impressionante ver em menos de dois anos a destruição de um século de direitos políticos, sociais e humanos no Brasil, conquistados com muita luta, suor, sangue e lágrimas de um povo sofrido contra os abusos da casa-grande.

Esse assalto ao meu direito político de votar no homem que mais fez pelo nosso povo na história do Brasil supera a sensação de impotência que senti todas as vezes que fui violado em meus direitos e pertences materiais e imateriais ao longo desta vida de quase meio século. 

Eu tenho um misto de raiva, de tristeza, de perplexidade ao sair à rua, ir ao shopping, e ver as pessoas andando como se nada estivesse acontecendo. São 208,5 milhões de pessoas... como é que não temos 10% nas ruas do país indignadas com esse processo injusto contra Lula e contra a classe trabalhadora neste momento? Após a entrega do patrimônio nacional, após a terceirização total, após o fim dos direitos do trabalho, após a lei de destruição do SUS, após a impunidade contra tucanos e membros com mau caráter dos órgãos da justiça, enfim, toda a destruição do país feita ou endossada a toque de caixa por um pequeno grupo de 860 mil privilegiados?

Como pode tudo isso? Como andar na rua e ver tudo "normal" para as pessoas ao meu redor? Como suportar essa realidade com a consciência política que a vida de proletário me deu?

Difícil! Que sentimento de impotência!

William

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Post Scriptum:

Segue a nota do Partido dos Trabalhadores sobre a cassação da candidatura de Lula à Presidência da República nesta sexta, 31 de agosto.


Contra a cassação política, com Lula até o fim: Nota da Comissão Executiva Nacional do PT


Diante da violência cometida hoje (31) pelo Tribunal Superior Eleitoral contra os direitos de Lula e do povo que quer elegê-lo presidente da República, o PARTIDO DOS TRABALHADORES afirma que continuará lutando por todos os meios para garantir sua candidatura nas eleições de 7 de outubro.

Vamos apresentar todos os recursos aos tribunais para que sejam reconhecidos os direitos políticos de Lula, previstos na lei e nos tratados internacionais ratificados pelo Brasil. Vamos defender Lula nas ruas, junto com o povo, porque ele é o candidato da esperança.

É mentira que a Lei da Ficha Limpa impediria a candidatura de quem foi condenado em segunda instância, como é a situação injusta de Lula. O artigo 26-C desta Lei diz que a inelegibilidade pode ser suspensa quando houver recurso plausível a ser julgado. E Lula tem recursos tramitando no STJ e no STF contra a sentença arbitrária.

É mentira que Lula não poderia participar da eleição porque está preso. O artigo 16-A da Lei Eleitoral prevê que um candidato sub judice (em fase de julgamento) pode “efetuar todos os atos relativos à campanha eleitoral, inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão e ter seu nome mantido na urna eletrônica”.

A Justiça Eleitoral reconheceu os direitos previstos nestas duas leis a dezenas de candidatos em eleições recentes. Em 2016, 145 candidatos a prefeito disputaram a eleição sub judice, com registro indeferido, e 98 foram eleitos e governam suas cidades. É só para Lula que a lei não vale?

O Comitê de Direitos Humanos da ONU determinou ao Brasil garantir os direitos políticos de Lula, inclusive o de ser candidato. E o Brasil tem obrigação de cumprir, porque assinou o Protocolo Facultativo do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. E o Congresso Nacional aprovou o Decreto Legislativo 311 que reconhece a autoridade do Comitê. O TSE não tem autoridade para negar o que diz um tratado internacional que o Brasil assinou soberanamente.

É falso o argumento de que o TSE teria de decidir sobre o registro de Lula antes do horário eleitoral, como alegou o ministro Barroso. Os prazos foram atropelados com o objetivo de excluir Lula. São arbitrariedades assim que geram insegurança jurídica. Há um sistema legal para os poderosos e um sistema de exceção para o cidadão Lula.

Em uma semana que envergonhará o Judiciário para sempre, a cúpula desse Poder negociou aumento de 16,4% nos salários já indecentes de ministros e juízes, sancionou a criminosa terceirização dos contratos de trabalho e, agora, atacou frontalmente a democracia, os direitos dos eleitores e os direitos do maior líder político do país. É uma cassação política, baseada na mentira e no arbítrio, como se fazia no tempo da ditadura.

A violência praticada hoje expõe o Brasil diante do mundo como um país que não respeita suas próprias leis, que não cumpre seus compromissos internacionais, que manipula o sistema judicial, em cumplicidade com a mídia, para fazer perseguição política. Este sistema de poder, fortemente sustentado pela Rede Globo, levou o país ao atraso e o povo ao sofrimento e trouxe a fome de volta.

A candidatura do companheiro Lula é a resposta do povo brasileiro aos poderosos que usurparam o poder. Lula, e tudo o que ele representa, está acima dos casuísmos, das manobras judiciais, da perseguição dos poderosos.

É com o povo e com Lula que vamos lutar até o fim.

Lula Livre!

Lula Candidato!

Lula Presidente!

COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL DO PARTIDO DOS TRABALHADORES