Apresentação do blog:
Olá amig@s leitores. Nestes tempos sombrios de baixa empatia pela tolerância e diálogo entre os diferentes na sociedade, tenho evitado escrever como fiz ao longo de minha vida de representação da classe trabalhadora.
A tragédia do fascismo ronda nossa sociedade e a cada dia fica mais claro que é preciso que cada pessoa saia de seu automatismo diário para se posicionar em relação às eleições majoritárias no Brasil no próximo dia 7 de outubro.
Pela primeira vez no país há risco de um candidato fascista, racista, misógino, defensor da violência (que ele mesmo foi vítima) chegar à presidência via eleições, após impedirem a participação do favorito Lula da Silva. Setores conservadores da elite ("mercado") podem optar pela candidatura fascista para impedir a vitória de uma candidatura do campo democrático-popular, criando possibilidades reais de reversão da retirada de direitos sociais (exemplo: Reforma trabalhista) e desfazendo a entrega do patrimônio público como, por exemplo, as reservas do Pré-sal.
Eu cidadão brasileiro golpeado pelo impedimento ilegítimo da presidenta Dilma Rousseff (2015/16) e todas as consequências malévolas advindas com o golpe e também golpeado pela prisão sem crime do ex-presidente Lula da Silva, maior líder do povo brasileiro e candidato preferido de quase metade dos eleitores, impedido de concorrer pelo consórcio golpista, avalio que essas eleições são uma fraude ("Eleição sem Lula é fraude"), pois o povo não pode votar em quem deseja. Mas elas vão acontecer e podem legitimar os representantes do golpe que destrói o país desde 2016.
Cada um de nós cidadãos brasileiros temos um compromisso no dia 7 de outubro com a vida em sociedade, com a construção de um mundo melhor, mais justo e igualitário, mais coletivo e menos individualista, com mais solidariedade na partição dos bens humanos, que hoje se concentram nas mãos de 1% da população, enquanto 99% mal conseguem sobreviver com as mazelas sociais da falta de recursos de toda ordem. Temos um compromisso de não permitir que a sociedade humana vire uma selva onde quase todos nós somos caça e aquele 1% siga sendo nosso predador, no Brasil cerca de 860 mil senhores da casa-grande, donos de nosso destino.
A eleição no Brasil é acompanhada pelo mundo progressista, que sabe que se o fascismo vencer no Brasil, um gigante que é referência para mais de uma centena de países menores na América Latina e demais continentes pobres e em desenvolvimento, o mundo todo sofrerá as consequências dessa fase capitalista de financeirização, onde poucos humanos e suas corporações destroem democracias, direitos sociais, Estados e culturas, patrimônios diversos e bilhões de seres humanos, tudo em benefício de poucos. E contam com sistemas nunca vistos de dominação e manipulação de massas, com sistemas legislativos, judiciários e de comunicação totalmente à serviço desses magnatas.
Leiam abaixo o pequeno artigo de Paulo Nogueira Batista Jr. e reflitam a respeito. Conversem com toda a família e grupos sociais que estão em seus convívios. Se posicionem. Votem no dia 7 de outubro. Não deixem que outros decidam sua vida, nossa vida. Só a política substitui a guerra, evita a eliminação do outro, e dá oportunidades às pessoas de melhorarem suas vidas com o Estado a serviço do povo. Diga não ao fascismo!
Abraços e boa leitura,
William
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Opinião
Civilização ou barbárie?
Por: Paulo Nogueira Batista Jr. — Publicado em Carta Capital, 17/09/2018.
É provável que o eleitor se defronte com a incômoda pergunta no segundo turno das eleições
Nós, economistas, somos extraordinários profetas – mas do passado, só do passado. E temos dificuldades até com o passado, pois no Brasil também o passado é muito difícil de prever.
Há exceções, porém. Em artigo publicado nesta coluna em junho, há três meses, arrisquei algumas previsões eleitorais. Escrevi o seguinte:
“Nenhum candidato remotamente associado a Temer e ao golpe de 2016 tem chances de vencer a eleição de outubro. (...) O favoritismo parece ser de candidatos de esquerda/centro-esquerda. Bolsonaro, único candidato competitivo pela direita, pode chegar ao segundo turno, mas dificilmente vencerá a eleição. (...)"
"Tudo indica que a candidatura de Lula não será permitida. Um candidato indicado por ele, porém, tende a ser forte (...) Ciro Gomes também é um candidato forte de oposição, tem vasta experiência, está com discurso afiado e evolui favoravelmente nas pesquisas de intenção de voto”. (O Brasil não quebrou, 13 de junho de 2018)
Essas previsões sobreviveram bem até agora. Talvez parecessem otimistas na época, mas hoje são amplamente compartilhadas. Com Haddad indicado para cabeça de chapa pelo PT, completa-se o rol dos candidatos à Presidência. Ele entra tarde, mas com a força de quem representa Lula. Ciro também vem crescendo. Um dos dois enfrentará Bolsonaro no segundo turno.
Assim, é muito provável que o eleitor brasileiro se defronte com uma disjuntiva dramática: civilização ou barbárie? E é por isso que a eleição de outubro está sendo vista por muitos como a mais importante desde a redemocratização.
Antigamente, a esquerda, mais confiante, ousava proclamar em situações semelhantes: socialismo ou barbárie? Foi-se o tempo. O horizonte dos adversários da barbárie estreitou-se consideravelmente. As ambições são mais modestas. Civilização, não mais socialismo.
Quando alguém no Ocidente fala em “civilização”, subentende-se, de alguma forma, o conceito iluminista de civilização e organização da sociedade. A concepção moderna de civilização tem suas raízes principalmente nos filósofos franceses do século XVIII e na Revolução de 1789.
O que impressiona, leitor, é a resiliência do iluminismo. Desde o século XIX, forças tremendas ergueram-se contra ele, com a pretensão de fazê-lo recuar, de restaurar o passado, ou – os mais ambiciosos – de ultrapassá-lo.
Todo o romantismo foi, na essência, uma apaixonada rebelião contra o iluminismo. Marx pretendia superar o iluminismo burguês. Nietzsche desconstruiu, de forma brilhante, muitas das ilusões e simplificações iluministas.
E, no entanto, a verdade é que os diferentes adversários do iluminismo tiveram, digamos, algumas dificuldades históricas. Marx, os românticos e Nietzsche não têm muita culpa pelo que fizeram em seus nomes.
Mas o marxismo desembocou em Stalin e, mais tarde, no colapso do socialismo real. Nietzsche e os românticos acabaram associados ao nazismo. Por mais brilhantes e fascinantes que as diferentes alternativas ao iluminismo tenham sido, os seus resultados foram bem problemáticos, para dizer o mínimo. De todas essas aspirações nascemos órfãos.
Há 60 anos, Sartre ainda se sentia em condições de declarar, taxativamente: “O marxismo é a filosofia insuperável do nosso tempo”. Hoje, com muito mais razão, poderíamos parafraseá-lo e dizer: “O iluminismo é a filosofia insuperável do nosso tempo”, com tudo que ele inclui ou lhe foi acrescentado nos últimos dois séculos: democracia representativa, sufrágio universal, separação dos poderes, Estado de Direito, garantias individuais e direitos sociais básicos.
Digo isso com uma ponta de tristeza. Afinal, é lamentável que, depois de dois séculos de reflexão, experiência e aventuras, o iluminismo, mesmo aperfeiçoado e desenvolvido, ainda tenha o papel que tem. Sabemos das suas limitações, da sua estreiteza, conhecemos os seus pontos cegos, as suas lacunas. Ele promete pouco e entrega pouco.
Mas é o que temos. Um iluminismo tardio, maduro, desencantado é o anteparo contra as hordas bárbaras – não só no Brasil, mas em grande parte do mundo ocidental, acossado pela degeneração da democracia, pelo populismo de direita, pela xenofobia e pela regressão cultural.
Paro e releio o que escrevi. Acho que viajei. Não era para falar tanto e nem ir tão longe. Eis, em resumo, o que é preciso dizer agora: Fora Bolsonaro!
Fonte: Carta Capital