terça-feira, 31 de dezembro de 2019

95ª São Silvestre: deu tudo certo pra mim!



Pensa o trabalho que dá pra percorrer
o caminho que leva a essa medalha...

Refeição Cultural

Correu tudo bem na minha 10ª participação na corrida de São Silvestre, que este ano completou 95 edições. Poderia dizer que as ondas de arrepio que percorrem nosso corpo nos quilômetros finais traduzem a sensação gostosa de vencer o desafio de correr 15 Km num dia de quase 30º de calor na cidade concreto São Paulo.

Eu estava muito ansioso em relação à minha participação e sequer consegui dormir à noite. Uma mescla de receio de me contundir no meio da prova e não completá-la e a expectativa de voltar à prova mais charmosa do calendário anual, com uma multidão de cerca de 35 mil inscritos se apertando pelas ruas e pontos históricos de São Paulo; isso fez com que eu ficasse bem tenso nos últimos dias.

Ao reler a postagem que fiz em 2016, me despedindo da prova por causa das péssimas condições da organização do evento, desrespeitando os participantes que não tiveram sequer água para se hidratarem direito (ler aqui), posso dizer que neste ano a organização se saiu melhor. Não faltou água em nenhum dos 7 postos programados, a entrega da medalha foi bem tranquila e, antes da prova, a retirada do kit também foi eficiente, não houve filas gigantes.


Pensa uma multidão...

Na questão de avaliação pessoal, completar a prova e no tempo médio que sempre fiz foi algo que me deixou feliz. Completei a prova em 1h55. 

O ano em que completei 50 anos trouxe-me surpresas desagradáveis em relação à saúde. Foi um ano de dores no quadril, na coluna e de mudanças físicas. De uma hora para outra, o corpo já não responde como era até ontem. E a gente tem que aprender a lidar com isso. Somos hoje o que sobrou de ontem. Essa é uma frase que conheço desde muito jovem.

Em relação ao futuro, a fazer planos e planejar metas esportivas e desafios corporais, as coisas estão muito estranhas em minha cabeça. Da mesma forma que senti algo estranho ao fazer pela enésima vez a Romaria em agosto, senti hoje a mesma coisa. Não sei se farei de novo a Romaria, não sei se correrei de novo a São Silvestre. Não sei se vou seguir correndo provas no próximo ano ou se vou fazer caminhadas introspectivas.

Meu ser está todo contaminado pela destruição de nosso mundo a partir do golpe de Estado em 2016, a partir da descoberta que parte de nosso povo é má, sempre foi, e agora está claro isso. Quando olho para trás, através dos ensaios literários, antropológicos e filosóficos sobre o Brasil, e também refletindo sobre a maldade nas pessoas da família, nos vizinhos, nos colegas de trabalho, nas pessoas comuns do cotidiano, fica evidente que nos enganávamos. O bolsonarismo é o espelho de parte de nosso povo. Não sei como aceitar isso e ser feliz.

Bem, deu tudo certo na São Silvestre. Não me contundi. Conversei muito com meu corpo. Nunca me concentrei tanto. Neste ano, sequer vi as coisas engraçadas ao redor, de tanto que estava focado em mim, na minha energia, na minha corrida. No entanto, passada a emoção, o prazer do objetivo alcançado, as coisas voltam ao normal, estão sem sentido.

Não desisti de nada. Quero encontrar sentidos. Só que o país, o povo, o contexto, o momento mundial não ajudam. Sigo procurando mesmo assim.

I still haven't found what I'm looking for...

William

Post Scriptum:

Decidi correr a São Silvestre no início de novembro, justamente para buscar sentidos. Durante os dois meses, fiz um treinamento monitorado por mim mesmo. Foram 18 treinos e percorri cerca de 90 Km durante o período. Isso foi fundamental para a realização da corrida hoje. Ver aqui a postagem sobre o treinamento.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Leitura: Cacau (1933) - Jorge Amado




Refeição Cultural

"Tentei contar neste livro, com um mínimo de literatura para um máximo de honestidade, a vida dos trabalhadores das fazendas de cacau do sul da Bahia.
     Será um romance proletário?" (Nota no início do romance de J. Amado. Rio, 1933)


A leitura deste romance de Jorge Amado, cuja estória se passa no início dos anos trinta, se deu num contexto de muita identificação da realidade brasileira atual com o enredo retratado no livro. A condição de miséria absoluta dos trabalhadores nas plantações de cacau volta a ser um retrato do país após o golpe de Estado de 2016.

Enormes contingentes de homens e mulheres trabalhando no eito em condições insalubres, recebendo soldos que não são suficientes sequer para pagarem a conta de suas próprias alimentações, adquiridas nas fazendas mesmo, e quanto mais tempo ficam trabalhando para os fazendeiros, mas ficam devendo. 

É um regime de escravidão, ontem e hoje. O que era a prática dos anos trinta volta a se repetir com mais intensidade no século 21, sob novo regime político, posterior ao golpe de Estado; regime que passou a vigorar a favor de banqueiros, empresários e ruralistas e totalmente subserviente aos Estados Unidos; trata-se dos governos de Temer e do clã Bolsonaro.

A realidade dos pobres no Brasil só foi diferente em séculos durante um curto intervalo de tempo: os governos do Partido dos Trabalhadores, em três mandatos presidenciais - com Lula e Dilma -, quando os pobres foram incluídos no orçamento do Estado, com políticas definidas e voltadas para melhorar a vida do povo. Isso acabou quando corruptos de colarinho branco, ocupando cargos nos 3 poderes, cassaram o mandato do PT e então voltamos à barbárie.

PARA POBRES, ANOS 80 ERAM COMO OS ANOS 30: O VIVER DAS GENTES É QUASE NA CONDIÇÃO DE BICHO

"Nove horas da noite o silêncio enchia tudo e a gente se estirava nas tábuas que serviam de cama e dormíamos um sono só, sem sonhos e sem esperança. Sabíamos que no outro dia continuaríamos a colher cacau para ganhar três mil e quinhentos que a despensa nos levaria. Aos sábados íamos a Pirangi por o sexo em dia. Alguns levavam meses sem sair da fazenda e se satisfaziam nas éguas da tropa. Mineira, a madrinha da tropa, era viciada e disputada. Os meninos desde garotos se exercitavam nas cabras e ovelhas." (AMADO, 1981, p. 47)

Eu cresci em Minas Gerais, já nos anos oitenta, e me lembro de toda essa miséria quando convivia com primos e conhecidos no Triângulo Mineiro. Apesar de vivermos em região urbana, tinha familiares que trabalhavam em fazendas e roças. Não era a minha rotina, mas cheguei a ir com eles capinar e fazer serviços por empreitada. Duríssimo o trabalho de sol a sol na roça, no mato, sem protetor solar e coisas do tipo.

Ao vivermos na cidade, os trabalhos disponíveis eram duros, porém acho que eram menos pesados ou insalubres que os das fazendas. Era o trabalho em construções, de servente ou de ajudante geral. Eu fui ajudante de encanador, quebrava concreto e paredes. Era ruim o serviço: me marcou bastante lidar com marreta, ponteiro e talhadeira, bolhas nas mãos e cheiro de merda dos outros.

"Nós ríamos. E não sei por que a riqueza não nos tentava muito. Nós queríamos um pouco mais de conforto para a nossa bem grande miséria. Mais animais do que homens, tínhamos um vocabulário reduzidíssimo onde os palavrões imperavam. Eu, naquele tempo, com os outros trabalhadores, nada sabia das lutas de classes. Mas adivinhávamos qualquer coisa." (AMADO, 1981, p. 48)

VIOLÊNCIA CONTRA OS DESPOSSUÍDOS DE RECURSOS

"Foi numa dessas carreiras que um garoto bateu num cacaueiro e derrubou um fruto verde. O coronel, que olhava da varanda, voou em cima do menino, que ante o tamanho do seu crime parara boquiaberto. Mané Frajelo suspendeu o criminoso pelas orelhas:
     - Você pensa que isso aqui é de seu pai, seu corneta? Comem e só fazem destruir as plantações, gente desgraçada.
     Uma tábua de caixão, abandonada perto, serviu de chicote. O garoto berrava. Depois, dois pontapés.
     Colodino fechava os olhos e cerrava os punhos. Mas ficávamos todos parados, sem um gesto. Era o coronel quem batia e demais o castigado derrubara um coco de cacau. De cacau... Maldito cacau..." (AMADO, 1981, p. 87)

CONSCIÊNCIA DE CLASSE

"- Por que você não matou Colodino? Porque queria bem a ele?
     - Eu gostava de Colodino... Mas eu não queimei o bruto porque ele era alugado como a gente. Matá coroné é bom, mas trabaiadô não mato. Não sou traidô...
     Só muito tempo depois soube que o gesto de Honório não se chamava generosidade. Tinha um nome mais bonito: Consciência de Classe." (AMADO, 1981, p. 121)

ESPERANÇA

O final da estória é um sinal de esperança, da ação de esperançar, haja vista que entre o amor carnal e o amor pelo próximo, pela causa dos companheiros de labuta e de destino, as personagens do eito optam pela luta, pelo amor aos seus pares. Nem tudo está perdido.

Estamos precisando muito desses gestos e desse despertar nos milhões de trabalhadores do novo eito, as pessoas invisíveis dos call center e dos aplicativos que se arriscam por aí em bicicletas, em velhas motos e em seus próprios carros ou alugados servindo como motoristas, os novos escravos sem direito a nada, que seguem gastando pra comer mais do que ganham pra trabalhar.

Cacau é ontem, Cacau é hoje.

William

Bibliografia:

AMADO, Jorge. Cacau. 37ª edição. Editora Record: Rio de Janeiro, 1981.

sábado, 28 de dezembro de 2019

281219 - Diário e reflexões


Veredas da vida.

Refeição Cultural

Sono. Muito sono. E um cansaço incrível. Pode ser alguma doença, é verdade. Mas talvez não seja nada, além de cansaço mesmo, de tudo.

Me sinto um derrotado. Acho que não sou só eu. Creio que muitos de nós nos sentimos derrotados. Passado o processo de impeachment da presidenta brasileira em 2016 e viver tudo o que vivemos e vimos acontecer nesses anos, culminando com o fascismo do novo regime em 2019, podemos dizer que sofremos uma derrota acachapante, histórica, que afetou qualquer cidadão progressista daqui e de qualquer lugar do mundo.

Sono. Muito sono. E um cansaço incrível. Não tenho conseguido ler romance, ler poesia, ler textos críticos ou reflexivos, nem textos de política. Não venho encontrando sentido em nada. Pode ser algo comigo, com minha psique, ou pode ser a onda que nos varreu e que fez com que as coisas perdessem mesmo o sentido.

É duro confessar que reconhecemos que a ignorância, o obscurantismo, o ódio e a verborragia religiosa e cínica venceram não só uma batalha, mas venceram uma guerra. 

Nem vontade de escrever tenho mais. Olho para o lado e não encontro pessoas progressistas, pessoas simples do dia a dia que me faziam ter garra e tesão de lutar por um mundo melhor. As pessoas ao nosso redor só arrotam ódio, maledicência, falam mal de todo mundo.

Quando encontro humanos que valham a tentativa de iniciar algum diálogo, muitas vezes ainda me sugerem que não escreva nada longo porque ninguém lê. Alguns ainda sugerem que eu entre na onda e comece a me adaptar à linguagem dos tempos (não linguagem).

Se eu quiser me comunicar, que o faça em algumas linhas, desenho, imagem, meme, uma carinha. Vídeos de um minuto... 

Talvez um grunhido para falar de Cassi, de Previ, de banco público, de solidariedade, de cooperativismo, de sindicalismo, de organização de base da classe trabalhadora. 

Um nenhénhé rápido para alguém notar que você quer compartilhar experiência e conhecimento adquirido na vida prática do mundo do trabalho.

Pra fazer nenhénhé acho que é melhor fazer sssssssssssshhhh.

Esquisito esse momento da existência humana. Devemos estar perto do Apocalipse.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

161219 - Diário e reflexões




Refeição Cultural

Acordei nesta manhã de segunda-feira pensativo e buscando sentidos. Um turbilhão de coisas indo e vindo através das sinapses do cérebro, que afinal de contas é o que somos, esses impulsos e movimentações químicas e elétricas nos neurônios cerebrais. E que podem cessar a qualquer instante, qualquer.

Neste dia, neste instante da vida, neste contexto pessoal e coletivo, que fazer com o tempo que passa? Fiquei procurando respostas e sentidos ao longo de milhares de instantes, de milhares de quilômetros percorridos por esse corpo humano com um cérebro e com denominações impostas e auto-infringidas. Toda essa caminhada para chegar nesta manhã sem resposta alguma e sem perceber sentido algum nas coisas.

Passei a vida me cobrando ler os clássicos da literatura mundial. Neste momento poderia abrir qualquer dos clássicos que tenho e começar a ler. Mas estou indeciso, estou me perguntando o porquê de sentar e ler qualquer um deles. Eu buscava respostas na vida aos vinte, aos trinta, aos quarenta. Ainda busco aos cinquenta. Já não sei onde procurar com alguma perspectiva de encontrar. Suspeito não haver respostas e sentidos. Daí serem em vão as buscas.

Quis ler os clássicos da literatura mundial. Se clássicos é porque sobreviveram, ficaram para a posteridade. Se ficaram é porque algo de notável devem ter. Mas já não estou otimista de encontrar o que procuro nos clássicos. E sei que algumas das ofertas dos clássicos são distração, reflexão e conhecimentos, prazer puro e simples, despertar de ideias e utopias.

Cheguei a pegar e deixar alguns dias em cima do móvel da sala Moby Dick, de Melville. Agora me pergunto pra que ler Moby Dick. Só o fato de pensar isso já é algo muito triste. Um sinal ruim em minha vida. Peguei na biblioteca um livro sobre a história da Revolução Francesa. Li algumas dezenas de páginas e achei muito interessante. Mas já me pergunto que diferença faz isso pra mim aqui e agora.

Recebo as revistas Carta Capital e guardo cada edição que chega no armário, ainda com o plástico. Não vejo sentido em ler o excelente e honesto conteúdo que a revista semanal nos oferece. A mais leal de todas com o leitor brasileiro. Ao menos contribuo com a existência da revista, objetivo principal.

Não está fácil me reinventar como fiz algumas vezes na vida. Me reinventei ao sair criança de São Paulo. Me reinventei ao sair adolescente de Uberlândia. Me reinventei ao entrar num banco público. Me reinventei ao estudar Educação Física. Me reinventei ao deixar a Educação Física por falta de condições de pagar as mensalidades. 

Me reinventei ao me envolver com o movimento sindical antes da USP. Me reinventei ao entrar na Letras da USP, quando não deu certo entrar na chapa do Sindicato no ano 2000. Me reinventei quando entrei no sindicato em 2002. Me reinventei quando coloquei em segundo plano a Letras, minha ética colocou a representação sindical acima de tudo: meu sonho das letras já era. 

Me reinventei cada vez que as lideranças do Sindicato me destacavam para novas tarefas, algumas que eu nem queria, mas ia por dever de ofício e militância. Me reinventei a cada frustração e decepção com as pessoas com as quais convivia na militância. 

Me reinventei quando me pediram para ir para a Cassi. Me reinventei na Cassi cada vez que tinha decepções internas e externas, inclusive com decisões daqueles que me colocaram naquela tarefa e que sequer me consultavam sobre questões relativas ao que eu fazia e era responsável.

Fui me reinventando cada vez que me decepcionei com meus antigos companheiros do movimento. 

Impressionante como as decepções não cessam quando penso o movimento sindical e social ao qual pertenci e ajudei a construir. Impressionante a minha insistência em acreditar que o movimento que conheci tem jeito. Sinceramente, acho que não tem.

As coisas estão sem sentido. Mas este corpo tem um cérebro ainda: existo. Se não é nos clássicos, se não é nas leituras, se não é mais no movimento social, se não é mais nos estudos acadêmicos, se não é nas corridas e nos esportes porque o corpo bichou, se não é nas viagens, se não é em nada disso, cabe a mim procurar ainda um sentido, ou ao menos um porquê.

Vou seguir procurando o que eu ainda não encontrei. I still haven't found what I'm looking for.

sábado, 14 de dezembro de 2019

141219 - Diário e reflexões



Tempos de tempestades, na vida e na política.

Refeição Cultural

Sábado, cidade de Osasco.

Recebi em casa a visita de meu pai, que ficou conosco entre segunda e quarta-feira. Ele conseguiu realizar os compromissos que havia planejado em São Paulo. Para não fechar a viagem com chave de ouro, o idoso de 77 anos passou por um problemão na hora de retornar a sua cidade em Minas Gerais. O que seria um voo de uma hora se transformou em uma novela de 24h para sair de SP e chegar a sua casa. Foi horrível e por pouco meu pai não teve outro AVC ou outro infarto, de tanto estresse que viveu entre atrasos, voos cancelados, insistências para que respeitassem seus direitos etc. Nós cidadãos somos absolutamente impotentes diante das falhas do sistema social em que vivemos. Somos coisas num mundo coisificado pelo capital.

Nesta semana aconteceram discussões políticas nas entidades sindicais que ajudei a construir e fortalecer por décadas. Não pude participar das discussões por causa dos compromissos com meu pai, prioridade evidente sendo eu a única pessoa que poderia cuidar dele durante os três dias. No entanto, caso houvesse interesse em nos ouvir, existem meios tecnológicos para isso. Uma coisa eu aprendi ao longo de nossa história com o movimento de lutas dos trabalhadores: a gente não pode perder a capacidade de se surpreender com as coisas que os seres humanos podem fazer. Eu fiquei bastante surpreso com as informações que recebi a respeito dos debates feitos. Efetivamente, me parece que todas as concepções, princípios e práticas sindicais que aprendi e exerci ao longo de décadas de formação política não existem mais, foram esquecidas ou simplesmente descartadas. Acho que todos nós da classe trabalhadora estamos perdidos e não conseguimos nos encontrar ainda. Perdemos todos com isso. A unidade parece estar cada vez mais distante no campo dos trabalhadores. Uma pena para nós! Uma ótima notícia para os inimigos!

CULTURAS

Falando de coisas boas, acontecimentos culturais. Nesta semana, reli o livro de contos Olhos d'água (2014), da escritora mineira Conceição Evaristo. Muito atual, muito reflexivo. Caso queiram ouvir o comentário que fiz em vídeo, está disponível aqui. Se tiverem interesse em ler os dois comentários que fiz a respeito de livros que li dela, ler aqui.

Em relação ao esporte e saúde, não consegui dedicar a semana aos treinos para a corrida de São Silvestre porque a prioridade foi dedicar o tempo e as energias para o exame de faixa que faremos neste domingo. Treinei quase todos os dias da semana as sequências de movimentos que já aprendemos na arte marcial que estudamos, o Kung Fu.

É isso! Vamos dormir para acordarmos com disposição e memória boa para este domingo.

William


sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

São Silvestre 2019 - Aos 50 a 10ª participação



(atualizado 31/12/19, às 20h10)

Corrida de 10k

Osasco, sexta-feira. Nove horas da noite. Saí para correr sem compromisso, mais para desestressar. Não foi possível ler nesses dias. A semana foi de limpeza de casa e outros afazeres. Enquanto não leio, estou vendo filmes neste mês. Já vi alguns bem interessantes.

Como disse em outra postagem, decidi voltar a correr a São Silvestre depois de três anos afastado da prova. "Foi decisão baseada na busca de algum sentido pessoal neste instante da vida. Tudo mudou muito e a vida que levei se esvaziou abruptamente". (ler aqui)

Vejamos como são as coisas. A corrida para mim é uma necessidade vital. Ela abaixa minha pressão arterial. Me dá prazer, apesar das dores do corpo. Me faz refletir. Me traz lembranças diversas da vida. Correr é uma necessidade.

Não tem como não lembrar de meus dias em Brasília quando corro. Foi lá que voltei a correr com regularidade no final de 2014 porque estava morrendo de trabalhar na Cassi e por estresse devido ao que enfrentava diariamente na gestão. Passei a correr nas quadras da 110 Sul e isso salvou minha vida na época. 

Depois conheci o que é correr no Eixão aos domingos e feriados. Só de lembrar da sensação e prazer o corpo se arrepia, como agora que escrevo. Enfim, ao correr aqui em São Paulo é como se meu corpo estivesse correndo nas quadras arborizadas de Brasília ou no Eixão. Nosso corpo é assim.

Vejamos como são as coisas ainda. O prazer da corrida pode ser um risco de vida. Eu gosto de correr na rua, não gosto de esteira. Durante os 4 anos de Brasília, corria nas noites candangas, 21h, 22h, corri até mais tarde, o corpo pedia um respiro ao chegar da Cassi estressado. Nunca senti receio por parecer perigoso correr na 110 Sul.

Agora na minha terra de sempre, Osasco e São Paulo, nos tempos que correm, pode ser perigoso correr às 22h. Não sei se é mais perigoso por causa de bandidos ou por causa da polícia. Seria uma merda tomar um tiro nas costas por qualquer desses segmentos, bandidos ou polícias mal treinadas.

Enfim, vamos comer, relaxar e dormir. Meu corpo não é mais o mesmo. Tenho consciência corporal do quanto estou mudado. Corro com o maior cuidado do mundo, sentindo pés, dedos, panturrilha, tendões, joelhos, coxas e principalmente o quadril, todo fodido. Mas o coração e a mente ainda têm aquela chama que queima forte. Não posso parar de correr.

William

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Dezembro

Dia 31 - 95ª São Silvestre - Ufa! Completei a prova de 15k com o tempo de 115', num calor de 30º. Deu tudo certo! Sem contusão, sem dores!


Percurso no mês, antes da prova: 49k

18º treino - dia 29 - Caminhada de 4k para relaxar. Estou bem ansioso para a prova. Meu corpo está pedrado, pescoço duro, pernas doloridas. O calor está muito forte esses dias. Será um momento de busca interior...

17º treino - dia 28 - Corri 4k em 25'36", com subida, no Pq. Continental. Dia com muito calor, quase 30º.

16º treino - dia 24 - Corri 5k em 35' no Pq. do Sabiá. Por causa do cansaço, foi um trote bem leve. Está chegando o dia da prova e eu ainda não corri mais que 10k, mas não vai dar pra fazer isso pelo cansaço, porque poderia me contundir.

15º treino - dia 22 - Corri 7,7k em 53'20" no Parque do Sabiá, Uberlândia (MG), num dia quente e úmido 24º. Meu corpo está cansado e sensível. Iria correr mais, mas meu corpo pediu que parasse porque meus músculos posteriores da perna esquerda estavam apitando. E assim vamos vendo o que é possível para a preparação.

14º treino - dia 19 - Corri 4k em circuito no Parque. Fiz em 25'20". Estou muito cansado, com dores no corpo todo, principalmente nos quadris e nos pés. Não sei o que está ocorrendo. Pode ser a tristeza do Brasil que me destruiu. Vai ser difícil percorrer os 15k da prova...

13º treino - dia 17 - Após uma semana só dedicado ao treinamento para o exame de faixa de Kung Fu (deu tudo certo), voltei a correr. Fiz um trote de 2,5k em 15' com calor de 30º.

12º treino - dia 8 - Domingão de preguiça e corpo cansado. Deixei pra dar um trote no final do dia. Saí e comecei de pouquinho e acabei correndo 7k em 46', forçando subidas de novo. Foi bom.

11º treino - Dia 6 - Que corrida! 10k em 65' com duas subidas (1k +1k). Noite fresca, 18º.

10º treino - Dia 1º - Queria correr um longão, mas o cansaço ainda me impediu. Fiz 4,5k em 28'40" 28º. Estou mal fisicamente. Devo encontrar um equilíbrio interior. Tenho exame de faixa na academia daqui a duas semanas e não vou às aulas faz dias. Novembro foi dureza pra mim. Quase desisti de entregar os trabalhos de faculdade. Tenho dores em várias partes do corpo. O dedo do pé que machuquei no kung fu faz tempo não sarou. As dores do desgaste dos ossos do quadril estão fortes... mas não quero desistir de nada. Vou insistir...

Novembro

Percurso no mês: 45k

9º treino - Dia 29 - 4k 24' 24º. Corri após uma semana muito difícil de prova e trabalhos na faculdade. Dormi pouco. Muito estresse. Muito quebrado. Foi só para não dizer que não corri.

8º treino - Dia 24 - 9k 60' 19º. Saí para correr a esmo. Duas subidas grandes (2k). Estou deprimido. Foi muito importante correr hoje. O treinamento me salvou o dia!

7º treino - Dia 21 - 5k 32' 29º. Corrida com muita subida (15' subindo). Não adianta se preparar para a São Silvestre sem treinar subidas puxadas. Tenho que ter atenção com o corpo, ando cansado, física e psicologicamente...

6º treino - Dia 15 - 6k 36' 21º. Corrida foi prazerosa, com subidas/descidas. Precisei descansar bastante, entre uma corrida e outra e uma aula de kung fu. São atividades diferentes e ando cansado. Estou indo bem.

5º treino - Dia 10 - 7,5k 48' 23º. O longão foi em trote leve, com subidas/descidas.

4º treino - Dia 08 - 6,2k 39' (6'20"/Km). Feliz! Fiz 2k de subida. Feliz! #LulaLivre! Alumbramento: ipê amarelo florido em pleno mês de novembro!

3º treino - Dia 04 - 2,5k 14'30" (5'48"/Km). Legal correr abaixo de 6', calor 35º.

2º treino - Dia 02 - 5,0k 32'30" (6'30"/Km) com subida (1k) e descida, calor 32º.

Outubro

1º treino - Dia 31 - 3,5k 21'25" (6'08"/Km) em circuito, calor 27º.


domingo, 1 de dezembro de 2019

011219 - Diário e reflexões




Refeição Cultural

E, então, entramos em dezembro. 

Novembro foi um mês estressante. No entanto, fizemos o que tinha que ser feito, como procurei fazer durante o longo tempo em que fui pessoa pública e era movido pela ética e pelo compromisso dos mandatos de representação. Percebi que a motivação para superar as dificuldades e as tristezas é outra quando é só para si mesmo, no âmbito pessoal. No meu caso, a energia da representação era nitroglicerina pura em meu corpo. Ainda estou buscando um novo equilíbrio existencial.

Mesmo não fazendo os trabalhos de faculdade da forma como gostaria, pois queria ter lido mais textos críticos sugeridos, entreguei os trabalhos confeccionados com o que apreendi dos conteúdos, não inventei palavras, fiz de forma simples o que pensava sobre cada autor e disciplina. O mesmo em relação à prova em outra disciplina. Como já refleti comigo mesmo, não estou fazendo planos mirabolantes para o caso de completar minhas duas habilitações em Letras. Só achei um desperdício estudar tanto tempo e não concluir o que fiz.

Nós brasileiros que temos consciência política, ética, vergonha na cara, que acreditamos em solidariedade e num mundo melhor para todos os seres vivos, que defendemos a tolerância e o respeito para com o diferente e a política como solução das controvérsias e não a violência e a morte, a guerra e a destruição dos outros, estamos sofrendo como nunca. Estamos adoecendo ao ver diariamente o mal, o gozo do mal, a falta de resistência ao mal. Essa vitória da barbárie está nos matando. E não podemos morrer, nem desistir. Mas não está fácil achar equilíbrio físico e mental e depois organizativo para a resistência.

Precisamos apostar na inteligência, no amor, na leitura e na imaginação para em algum instante acharmos a fórmula para unir pessoas, instituições que representem possibilidade de democracia e, então, reagirmos à barbárie instalada no país. De alguma forma, temos que achar um jeito de sermos úteis para a coletividade, mas primeiro tendo um equilíbrio interno. Estou procurando um caminho.

Continuo acreditando na literatura como uma ferramenta de saber, de prazer e de descoberta para algo novo na vida. Quero mergulhar e me perder e quem sabe me encontrar na literatura, como já escreveram sobre isso grandes escritores como Kafka e Bolaño. Eu tenho tantas lacunas, tanta coisa pra ler e descobrir, talvez até escrever, contar, partilhar...

I still haven't found what I'm looking for...

William