Refeição Cultural
"É incrível ver como o povo, quando é submetido, cai de repente num esquecimento tão profundo de sua liberdade, que não consegue despertar para reconquistá-la. Serve tão bem e de tão bom grado que se diria, ao vê-lo, que não só perdeu a liberdade, mas ganhou a servidão.
É verdade que no início serve-se obrigado e vencido pela força. Mas os que vêm depois servem sem relutância e fazem voluntariamente o que seus antepassados fizeram por imposição. Os homens nascidos sob o jugo, depois alimentados e educados na servidão, sem olhar mais à frente, contentam-se em viverem como nasceram e não pensam que têm outros bens e outros direitos a não ser os que encontraram. Chegam finalmente a persuadir-se de que a condição de seu nascimento é a natural..."
(Discurso da servidão voluntária, de Étienne de La Boétie, século XVI)
Pois é, se a gente não coloca a referência na descrição acima, poderíamos concluir que a afirmação teria sido proferida por algum analista político hoje, no século XXI.
Ao pensar a respeito do pensamento de La Boétie e olhar ao redor de meu mundo, o Brasil e o povo brasileiro em 13 de dezembro de 2018, chego a conclusão que ele estava certo.
- Que povo miserável!; que povo acostumado à servidão!; que povo que serve à casa-grande a partir de suas senzalas!
Que povo habituado a servir sob chicotes, sob ordens superiores, sob manipulações grotescas que funcionam em gente imbecilizada; que povo habituado a querer pouco, achando que é muito ser alguma coisa ao invés de ser grande, simplesmente porque olha para o lado (para baixo) e vê gente pior que si.
Sobre o hábito, nos diz também La Boétie, que ele é mais forte que a natureza:
"Todavia, não existe herdeiro tão pródigo ou negligente que não examine um dia os registros de seu pai para ver se desfruta de todos os direitos de sua sucessão e se não usurparam os seus ou os de seu antecessor. Mas o hábito, que exerce em todas as coisas um poder irresistível sobre nós, não tem em lugar nenhum força tão grande quanto a de nos ensinar a servir. E como dizem de Mitrídates, que foi se acostumando aos poucos ao veneno, aprendemos a engolir sem achar amargo o veneno. Não se pode negar que a natureza nos dirige para onde quer, bem-nascidos ou malnascidos, mas é preciso confessar que ela tem menos poder sobre nós que o hábito. Um bem natural, por melhor que seja, perde-se quando não é cultivado, e o hábito nos conforma sempre à sua maneira, apesar da natureza."
Enfim, vejo que o hábito dessa massa humana chamada povo brasileiro é o hábito de servir nas senzalas e acatar os mandos e desmandos dos espertalhões da casa-grande e dos impérios (e as subdivisões dos espertalhões aqui seriam fartas: banqueiros, donos de igrejas, donos de meios de comunicação de massa, donos dos cargos nos poderes do Estado etc).
Cheguei a pensar que o povo pobre e trabalhador brasileiro tinha pego gosto (hábito) por uma vida melhor com emprego e direitos durante os mandatos do presidente Lula, após cinco séculos sob jugo miserável da casa-grande. Me enganei. O povo mostrou que prefere a servidão miserável. Nem rebelião houve quando puseram numa masmorra aquele que lhes deu o gosto de provar uma perspectiva de futuro com soberania e liberdade.
Como diz La Boétie, o hábito é mais forte que a natureza e prevaleceu entre o povo brasileiro o hábito de ser miserável, de ser colonizado, de ser manipulado por espertalhões. Miséria de nossa vida!
Vamos parar de escrever porque não é mais hábito das pessoas ler mais que algumas frases ou grupos de palavras com algum significado simples e direto (memes e manchetes), sem essa chatice de ter que pensar e refletir a respeito.
Abraços aos preciosos amig@s leitores do blog. Sigam no esforço de salvar o cérebro humano e o que conquistamos em milhões de anos de evolução para nos diferenciar dos demais animais mamíferos e ou bípedes como, por exemplo, as vacas e as galinhas, hoje criadas em cativeiro para servir aos humanos.
William