O texto a seguir é uma reflexão que tem como base duas referências:
1. O capítulo "O século: vista aérea" do livro Era dos Extremos, de Eric Hobsbawm.
2. O vídeo II da Coleção Campo de Batalha, uma produção portuguesa. Neste volume aborda-se os seguintes temas:
-Churchill, a razão da força
-A batalha do Atlântico
-O Mediterrâneo: a invasão da Grécia
-O Mediterrâneo: Malta
-O Mediterrâneo: a queda de Creta
O presente texto busca fazer algumas reflexões sobre as duas guerras mundiais pensando a "aldeia global" do século XXI.
Estamos melhor* preparados hoje para evitarmos catástrofes humanas como aquelas? Será que aprendemos com o passado? Ou não existe o passado para essa sociedade contemporânea que vive em um eterno presente contínuo como diz Hobsbawm?
Ao vermos os resultados trágicos da primeira guerra mundial, que dizimou milhões de jovens - principalmente do continente europeu -, que destruiu centenas de cidades e que influenciou o aparecimento dos regimes totalitários, não acreditaríamos que os mesmos povos repetiriam o cenário alguns anos depois.
A humilhação imposta a um dos lados - a Alemanha derrotada -humilhação representada através da assinatura do Tratado de Versalhes, nos alerta para uma sabedoria popular que diz que não devemos agir com escárnio e tripudiar sobre o adversário derrotado.
Sobre isso, é melhor sermos magnânimos com a desgraça dos inimigos. O Tratado de Versalhes fez o oposto: foi um tratado de rancor e de revanchismo. Mariátegui o chamou de "Tratado de Guerra".
Eu, particularmente, creio que o mundo é impulsionado por duas forças poderosíssimas e antagônicas: o amor e o ódio. Alimente os sobreviventes e/ou oponentes derrotados com ódio e espere a força do revide.
Veio a 2a guerra mundial e com ela, além dos milhões de jovens mortos e mundos destruídos, os extermínios em massa e a tecnologia criada para destruir em volumes exponenciais. O mundo capitalista e comunista se uniram paradoxalmente para derrotar o fascismo e o nazismo, porque aqueles se diziam defensores do humanismo e do racionalismo iluministas.
Finda a 2a catástrofe humana, tivemos umas décadas de mundo bipolar em regimes - capitalistas de um lado e comunistas de outro.
Mas, a divisão do mundo real era em três porções: os capitalistas ricos, os comunistas e uma enorme porção de mundos de miseráveis e semi-miseráveis chamados de 3º mundo.
E hoje? Aprendemos com toda essa história recente?
Se analisarmos as guerras de separação ou de invasão das décadas de 1990 e 2000 veremos que os mesmos métodos do passado permanecem inalterados. As guerras nos Bálcãs e nos países africanos tiveram de tudo, inclusive genocídio.
Os Estados Unidos da América, lado que sobrou do antigo regime bipolar - findo em 1989 com a queda do Muro de Berlim -, invadiram e massacraram países como Iraque e Afeganistão. Todos nós sabemos que as invasões nada tiveram que ver com princípios humanitários ou contra terroristas com armas de destruição em massa.
Há um ano, Israel destruiu o Líbano matando indistintamente jovens, mulheres e crianças - árabes ou não - em nome de retaliações a alguns mísseis árabes. Coincidentemente, todos sabiam que era período de eleições internas israelenses e era preciso fazer algo para esquentar a campanha a favor da situação no poder.
O mundo e suas organizações diversas chiaram com o massacre. E só! Pergunte se algum dos grandes países cortou relações comerciais com Israel depois da chacina?
A resposta mais condizente com os fatos mundiais recentes citados acima é a triste constatação de que os avanços tecnológicos como, por exemplo, na área de comunicação, interligaram o mundo, porém, desligaram as relações de causas e consequências entre o passado e o presente.
Também constatamos que os avanços tecnológicos desligaram a atenção dos jovens que vivem o presente em seus jogos e mundos virtuais on line, mas, esse mesmos jovens não atentam sequer para a educação formal e a política, principais instrumentos de mudanças em regimes democráticos e sem a necessidade de guerras ou revoluções.
A todos os progressistas resta insistir na educação de qualidade para a independência libertadora e para a reflexão de melhorar o mundo evitando os erros do passado, passado que pode parecer tão longe e estar tão perto.
Gramática:
*Eu não acho que estamos nem [bem preparados], então eu jamais diria, neste caso, mais [bem preparados]. Por isso o uso de [melhor preparados] na comparação entre o ontem e o hoje.
Ver texto do professor Sírio Possenti que postei aqui na categoria "Sintaxe" sobre o tema.