sábado, 29 de janeiro de 2022

290122 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Sábado, 29 de janeiro de 2022. Manhã quente e chuvosa em Osasco.


"Nenhum homem é uma Ilha, um ser inteiro, em si mesmo; todo homem é uma partícula do Continente, uma parte da Terra. Se um Pequeno Torrão carregado pelo Mar deixa menor a Europa, como se todo um Promontório fosse, ou a Herdade de um amigo seu, ou até mesmo a sua própria, também a morte de um único homem me diminui, porque eu pertenço à Humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti." (John Donne. In: HEMINGWAY, 2014, p. 6)


Que tenho para registrar nesse diário virtual, que não deixa de ser um livro de memórias? Registrar coisas é importante. Eu mesmo ao reler postagens antigas me surpreendo com as anotações de eventos, pensamentos e épocas que vivemos. O animal humano evoluiu em relação aos outros animais após expandir suas abstrações mentais para fora de si mesmo, registrando coisas fora de seu corpo mortal e deixando culturas para os que viessem depois de si.

COMENTÁRIO SOBRE A MORTE DO CHARLATÃO OLAVO DE CARVALHO

Ao avaliar o comportamento de parte das pessoas dos movimentos sociais aos quais militei por décadas me dei conta que tive muita sorte de ter tido minha formação política décadas antes dos dias atuais. 

Lideranças políticas do movimento sindical comemoraram de forma pública a morte de uma pessoa... (Isso seria impensável na época em que fui formado politicamente por lideranças políticas de esquerda)

Ao ouvir o filósofo youtuber Henry Bugalho falar a respeito do tema, gostei muito das explicações que ele dá em relação à diferença entre compaixão/empatia e ética. 

Não é ético comemorar a morte de ninguém. Essa é uma questão básica para os seres humanos que pretendem evoluir e alcançar um estágio acima dos instintos animais que todos nós temos. 

Quando entrei para o movimento sindical eu era muito impulsivo, agressivo, cheio de ódio e com altos e baixos nos momentos de tristeza e depressão. Era a favor da pena de morte, por exemplo. Não entendia políticas afirmativas. Tinha preconceito em relação a orientação sexual não heterossexual. Por ter passado em concurso público, talvez caísse facilmente na lábia da "meritocracia".

Ao conhecer a ideologia da esquerda na qual militei precisei de muito estudo e debates e reflexões pessoais para entender que não devemos ser a favor do Estado matar pessoas. O Estado deveria ser o ponto da convivência social que ultrapassa nossos instintos animais. 

Eu posso matar pessoas, e se fizer isso devo arcar com as consequências determinadas pelo Estado. Usam muito o exemplo de um estuprador pego em flagrante delito para justificar matar as pessoas. Olho por olho, dente por dente. Código de Hamurabi.

O Estado não deve matar pessoas. O sistema de justiça não funciona. A justiça não é imparcial, ela é falha, ela julga de forma parcial. Julga de forma política, de acordo com os preconceitos de classe e de acordo com as ideologias vigentes. No caso da pena de morte, ao matar pessoas não há volta. 

Para ver como opera a "justiça" burguesa, basta ver a operação Lava Jato, montada no imperialismo para destruir o Brasil. Eu escrevi contra a tal ficha limpa assim que o PT caiu nessa lábia em 2010. Deu a merda que deu! Ser de esquerda já é ser "ficha suja" para a burguesia, o que inclui as instituições do Estado burguês. 

Moro, o juiz suspeito segundo o STF, além de não estar preso, anda por aí querendo ser candidato a presidente. Dallagnol é dono de apartamentos de luxo. Esses canalhas são "ficha limpa". Até o acusado de operador das rachadinhas, o tal Queiroz, é "ficha limpa". 

Enfim, tenho compreendido um pouco melhor a questão do materialismo histórico. As pessoas que estão por aí, hoje, são fruto deste momento da história e do acúmulo histórico até aqui. Os tempos são de ódio, de intolerância, de pós-verdade, de mentiras em massa. 

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É quase impossível não agirmos como nossos inimigos, os extremistas de direita. Mas temos que resistir, temos que agir com a ética da esquerda.

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Tenho a impressão que se tivesse chegado ao movimento sindical nesse momento eu não teria mudado tanto quanto mudei ao chegar ao movimento e ali aprender política entre os anos oitenta e meados da década que terminou.

Já me alonguei e deixo pra depois outros registros que faria. O mundo dos animais humanos tem um pouquinho mais de chances de ser melhor quando morrem pessoas como esse Olavo de Carvalho, que passou décadas influenciando pessoas a transformarem o mundo num lugar pior para se viver. 

No dia que ouvi o Henry Bugalho falando a respeito de uns conceitos filosóficos sobre a questão da morte do sujeito acima, me lembrei do pensamento que Ernest Hemingway escolheu para abrir seu grande clássico Por quem os sinos dobram. E olha que fiquei impactado com a leitura dessa obra. Violência extrema nas cenas de guerra entre nazifascistas e o pessoal das esquerdas; esquerdas divididas, é bom lembrar.

Não se deve comemorar a dor das pessoas que perdem alguém (por empatia, por compaixão), não se deve comemorar a morte da esposa ou do neto de Lula, nem a de Olavo de Carvalho ou da mãe do Bolsonaro. E isso não quer dizer que eu não ache que o mundo seria melhor sem esses inimigos de classe, esses fascistas, nazistas e extremistas de direita. Mas deveria haver algum tipo de ética até na guerra. Afinal, o que nos faz diferentes dessa gente odiosa como os bolsonários?

Essa é minha opinião, opinião que provavelmente tenho porque convivi com o movimento sindical durante os trinta anos nos quais fui bancário sindicalizado e dirigente. Sem o contato e a convivência com a esquerda organizada provavelmente eu fosse hoje um sujeito conservador ou até de direita como a maioria dos meus familiares e vizinhos. O materialismo histórico explica muita coisa.

William


Bibliografia:

HEMINGWAY, Ernest. Por quem os sinos dobram. Tradução: Luiz Peazê. 13ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

44. Razão e sensibilidade - Jane Austen



Refeição Cultural - Cem clássicos

Terminei a leitura do 4º livro do ano. Após ler um autor afegão, um autor russo, um autor indiano, agora li uma autora inglesa, Jane Austen, escritora que viveu entre o final do século XVIII e o início do XIX, falecendo relativamente jovem, aos 41 anos de idade.

Peguei o romance Razão e sensibilidade para ler no início de 2019 e após ler mais da metade do livro parti para outras leituras sem finalizar a obra. O romance é dividido em três partes e eu estava terminando a parte dois. Neste início de ano decidi pegar alguns livros de leitura inacabada e finalizá-los. O livro de Austen foi um deles.

Achei uma anotação interessante nas páginas do livro. Disse que era importante ler Jane Austen dentro de meus objetivos de ler os clássicos, mas que sentia uma necessidade grande de ler Moby Dick, Gulliver e Robinson Crusoé. Não larguei Austen no meio para lê-los em 2019, mas ano passado li dois deles. Agora falta Gulliver.

RAZÃO E SENSIBILIDADE

O romance narra a estória da família Dashwood, mãe e três filhas, tendo como protagonistas Elinor e Marianne. Além da sra. Dashwood e da filha Margaret, as irmãs têm um meio irmão, John Dashwood, do primeiro casamento do pai delas. Quando o pai das meninas morre, a propriedade e as rendas dele ficam para o filho homem e as quatro mulheres têm que deixar a casa da família e mudar o estilo de vida.

Austen, que assina seus romances com o pseudônimo de "By a Lady", descreve como é a vida das mulheres naquela sociedade inglesa. As mulheres são coisas, são mercadorias para arranjos entre famílias para manutenção e ampliação de propriedades e rendas através de casamentos. 

Pela literatura podemos conhecer um pouco das características das sociedades. Foi essa a impressão que tive através deste clássico inglês e das leituras anteriores, quando mergulhei no Afeganistão da 2ª metade do século XX (Khaled Hosseini), na Rússia do final do século XIX (Anton Tchekhov) e na Índia atual (Aravind Adiga).

A Razão

"Elinor, a filha mais velha cujo conselho fora tão acertado, tinha um poder de compreensão e uma firmeza de julgamento que a haviam tornado, apesar de ter apenas dezenove anos, conselheira da mãe e a qualificavam para contrabalançar, em proveito das quatro, a ligeireza de raciocínio da sra. Dashwood, que comumente a levava a cometer imprudências. A srta. Dashwood tinha excelente coração - era afetuosa e de sentimentos fortes, mas sabia como controlá-los. Esta era uma sabedoria que a mãe dela ainda estava por adquirir e que nenhuma de suas duas irmãs se mostrava interessada em aprender." (p. 12)

A Sensibilidade

"As habilidades de Marianne eram, em alguns aspectos, quase iguais às de Elinor. Era sensível e inteligente, mas descontrolada: suas tristezas e suas alegrias eram intensas e sem a menor moderação; generosa, amável e atenciosa, ela era tudo, menos prudente. A semelhança física entre Marianne e a irmã impressionava.

Elinor via com grande consternação o excesso de sensibilidade da irmã, porém a sra. Dashwood valorizava e estimulava esse traço de caráter..." (p. 12/13)

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Curiosidades e costumes

PALITEIRO DE DENTES

"No entanto, a correção dos olhos e a delicadeza do gosto desse senhor situavam-se muito aquém do cavalheirismo. Ele queria adquirir alguns estojos para palitos de dentes com determinados tamanhos, formas e ornamentos...

(...)

Afinal, a decisão foi tomada. O marfim, o ouro, e a madrepérola foram os escolhidos e o cavalheiro informou qual seria o dia máximo até o qual sua existência poderia continuar sem os estojos de palitos de dentes." (p. 210/211)

Perceberam a ironia de Austen?

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MULHER MERCADORIA

"(...) Acredito que ele deve encontrar-se indeciso até o presente momento; a pequena fortuna que você tem como dote deve estar fazendo com que ele hesite; os amigos devem tê-lo advertido a respeito. Mas algumas daquelas simples atenções e encorajamento em que as mulheres são tão hábeis irão fisgá-lo, apesar de ele mesmo." (p. 213/14)

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UMA SOCIEDADE DE GENTE DESQUALIFICADA

"(...) Contudo, não existia uma desgraça particular nisso, uma vez que era esse o caso da maioria dos convidados; quase todos deixavam de ser agradáveis por apresentar uma dessas desqualificações: falta de razão, natural ou adquirida, falta de elegância, falta de espírito e falta de caráter." (p. 223)

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FAMÍLIA, PROPRIEDADE E ESTADO (COMO JÁ DIZIA ENGELS)

"(...) A mãe explicou-lhe suas generosas intenções, se ele se casasse com lady Morton; disse-lhe que, quando casados, se instalarão na propriedade de Norfolk que, livre de impostos territoriais, rende bem umas mil libras por ano; quando o caso tornou-se desesperado, ofereceu-lhe uma pensão de mil e duzentas libras. Em oposição a tanta generosidade, caso ele persistir naquele relacionamento inferior, a penúria irá esperar pelo casal. Suas próprias duas mil libras é tudo que ele terá; a mãe nunca mais quererá vê-lo e, além de não lhe oferecer a menor assistência, caso ele venha a dedicar-se a qualquer profissão, a sra. Ferrars fará o que puder para impedir que ele progrida no trabalho." (p. 257)

Entenderam como vive essa burguesia nojenta, ontem e hoje? De rendas, de propriedades, do Estado e da exploração daqueles que produzem essas riquezas todas.

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BIBLIOTECAS, LEITORAS E LEITURAS

"(...) e Marianne, que sempre tinha o dom de descobrir a biblioteca em qualquer casa que se encontrasse, mesmo que não costumasse ser utilizada pela família, não demorou a estar com um livro nas mãos." (p. 293)

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VOU SEGUIR LENDO OS CLÁSSICOS

Enfim, mais uma lacuna cultural preenchida. Agora já conheço pelo menos uma obra de Jane Austen. Espero conhecer ao menos uns 20 autores e autoras e obras clássicas neste ano de leituras.

William


Bibliografia:

AUSTEN, Jane. Razão e sensibilidade. Tradução: Therezinha Monteiro Deutsch. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2002.


terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Leitura: O amanhã não está à venda - Ailton Krenak



Refeição Cultural

"Há muito tempo não programo atividades para 'depois'. Temos que parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de parar de vender o amanhã." (Krenak)


Reli as reflexões de Ailton Krenak compartilhadas conosco no início da pandemia mundial do novo coronavírus, Covid-19. Quanta sabedoria esse homem nos transmite em seu breve texto O amanhã não está à venda (2020).

Com os índios e povos originários aprendemos uma lição importante: não somos proprietários da Terra, somos parte dela, somos só um dos bichos que vive nela. E durante a pandemia o bicho homem poderia ter aprendido muita coisa, mas parece que não aprendeu nada!

KRENAK: "Como posso explicar a uma pessoa que está fechada há um mês num apartamento numa grande metrópole o que é o meu isolamento? Desculpem dizer isso, mas hoje já plantei milho, já plantei uma árvore..."

Por que se passaram mais de três anos com o clã de milicianos no poder em plena liberdade de destruição da natureza, dos direitos sociais do povo e da vida das pessoas? Por que não foram investigados, julgados, condenados e presos pela imensidão de coisas irregulares que o Brasil inteiro sabe que eles estão envolvidos? 

Na minha opinião porque a casa-grande dessa eterna colônia de exploração tem interesses na manutenção dos bolsonaros no poder. Os dados econômicos demonstram que os donos do poder, os bilionários, os capitalistas, ganharam muito com essa milícia no poder... são apenas business, negócios, já que tudo é mercadoria à venda no capitalismo.

KRENAK: "Temos que abandonar o antropocentrismo; há muita vida além da gente, não fazemos falta na biodiversidade. Pelo contrário. Desde pequenos aprendemos que há listas de espécies em extinção. Enquanto essas listas aumentam, os humanos proliferam, destruindo florestas, rios e animais. Somos piores que a Covid-19. Esse pacote chamado de humanidade vai sendo descolado de maneira absoluta desse organismo que é a Terra, vivendo numa abstração civilizatória que suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos."

Pensando no que Krenak nos expõe sobre o amanhã e a ideia de que para a sociedade humana atual tudo é mercadoria, fica mais fácil entender os efeitos das fortes chuvas em Minas Gerais e na Bahia neste ano. A alienação das pessoas, o não relacionar causas e consequências de atos e decisões humanas na exploração da natureza faz com que as pessoas atribuam às chuvas em excesso e não à destruição da natureza pela mineração todos os danos econômicos e sociais das últimas semanas. A destruição seria coisa de Deus e não coisa dos homens.

Quando Krenak nos fala sobre a pandemia e sobre o vírus vemos um ponto de vista muito mais sistêmico na abordagem do que os pontos de vista de várias pessoas chamadas de "especialistas". Nos acostumamos tanto ao mundo artificial que criamos que nos esquecemos que "tudo é natureza".

KRENAK: "A nossa mãe, a Terra, nos dá de graça o oxigênio, nos põe para dormir, nos desperta de manhã com o sol, deixa os pássaros cantar, as correntezas e as brisas se moverem, cria esse mundo maravilhoso para compartilhar, e o que a gente faz com ele?"

O líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor Ailton Krenak não tem medo de dizer o que pensa em relação à política e à economia. No mundo em que vivemos, as decisões políticas são decisões que definem se as pessoas vão viver ou morrer, não só uma pessoa, talvez milhares, milhões, bilhões de pessoas.

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KRENAK: "Michel Foucault tem uma obra fantástica, Vigiar e punir, na qual afirma que essa sociedade de mercado em que vivemos só considera o ser humano útil quando está produzindo. Com o avanço do capitalismo, foram criados os instrumentos de deixar viver e de fazer morrer: quando o indivíduo para de produzir, passa a ser uma despesa. Ou você produz as condições para se manter vivo ou produz as condições para morrer. O que conhecemos como Previdência, que existe em todos os países com economia de mercado, tem um custo. Os governos estão achando que, se morressem todas as pessoas que representam gastos, seria ótimo. Isso significa dizer: pode deixar morrer os que integram os grupos de risco. Não é ato falho de quem fala; a pessoa não é doida, é lúcida, sabe o que está falando."

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O texto de Krenak termina profundo em reflexões assim como começou. A ideia de querer voltar à "normalidade" anterior à pandemia seria o mesmo que não termos aprendido nada com a experiência da pandemia. O mundo já vinha doente e continua.

"Quem está apenas adiando compromissos, como se tudo fosse voltar ao normal, está vivendo do passado. O futuro é aqui e agora, pode não haver o ano que vem." (Krenak)

Os ensinamentos desse sábio indígena servem para todos nós. Quando vejo as coisas na minha modesta dimensão pessoal, a vida de meus entes queridos, a Cassi, o mundo do trabalho e o sindicalismo, as empresas públicas como o Banco do Brasil onde passei boa parte de minha vida, as questões do mundo das letras etc, vejo muita incerteza em relação ao amanhã. 

CONCLUO - Pelo andar da carruagem na política brasileira para 2022 e adiante, me parece que talvez só queiramos voltar à "normalidade" quando vejo a ligação de Lula com Alckmin, apoiada por boa parte do movimento de "esquerda". Essa insistência numa suposta conciliação de classes (para mim rompida após 2016) demonstra que NÃO queremos mudar nada! Não queremos avançar rumo a outra forma de vida social, não queremos abandonar o capitalismo, que segue inviabilizando a vida na Terra. Só queremos continuar a destruição do mundo pelo capitalismo... Isso é foda!

Obrigado, Ailton Krenak, por compartilhar um pouco de sua sabedoria conosco.

William


Bibliografia:

KRENAK, Ailton. O amanhã não está à venda. São Paulo. Companhia das Letras, 2020.


sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Leitura: O tigre branco (2008) - Aravind Adiga



Refeição Cultural

Opinião política e crítica literária

Terminei a leitura do 3º livro do ano, um livro de autor indiano. A leitura de O tigre branco, de Aravind Adiga, é a minha primeira obra de literatura indiana. O livro foi presente de um grande amigo, Linares, e iniciei a leitura na hora que ele chegou, li na frente dos livros que estavam na fila pra janeiro.

Para não receber nenhum spoiler, li o livro sem ler sequer as abas da edição, da editora Agir, na tradução de Maria Helena Rouanet, edição de 2015. Li o romance todo recebendo as surpresas conforme o autor as desenvolveu. Após o término, li a aba do livro e continha spoiler nela.

O livro não me surpreendeu em relação ao que imagino ser a Índia. Um país e um povo presos em uma "gaiola de galos", como nos explica Aravind Adiga. A alegoria do autor traz um pouco da alegoria que encontrei na crônica de Rubem Alves, "O nome". Inclusive o texto cita nossa prisão em gaiolas. Um texto profundo e que nos põe a pensar sobre o que somos, o que poderíamos ser e o que esperam que sejamos. Ler texto de Rubem Alves aqui.

A Índia é um país com regime de castas. O pai do personagem principal era condutor de riquixá, de família de doceiros, então a única opção para a vida de Balram Halwai era seguir nesta profissão. Mas Balram se torna motorista de uma família de endinheirados. Qual o preço que o jovem Balram está disposto a pagar para se libertar de sua gaiola, de seu destino traçado e se tornar um vencedor na vida?

Como nos diz Rubem Alves "Ninguém vai imaginar que uma galinha vai cantar como pintassilgo, nem que vai botar ovos azuis, nem que vai fazer ninhos parecidos com os dos beija-flores. Galinha é galinha, para todo o sempre. Está dito no nome.". Essa é a tradição naquele país de certa forma exótico para nós ocidentais e com mais de um bilhão de pessoas.

Um momento marca a vida do personagem ainda criança, em meio a tanta miséria em sua vila: numa visita escolar, alguém importante do governo faz perguntas aos alunos e somente Balram consegue respondê-las. A autoridade diz ser ele como um tigre branco, uma raridade que nasce a cada número de gerações de tigres.

E assim a história se desenvolve. Ao longo do romance, tomamos contato com aquilo que imaginamos ser a realidade cotidiana da classe trabalhadora indiana. É um livro com uma história dura! Fui vendo no romance a vida do povo trabalhador e miserável de nossas colônias aqui das Américas. E ainda tem a questão dos mitos e religiões, a cultura da tradição ideológica de enganar as massas com a religião, ópio do povo, como nos explica Karl Marx.

Uma questão abordada no romance é sobre a Índia ser um dos países com a maior quantidade de empresas no mundo que prestam serviços terceirizados para as grandes empresas capitalistas americanas e de outros gigantes do comércio mundial de mercadorias.

O golpe no Brasil em 2016, promovido pela casa-grande, foi para nos colocar abaixo do que é hoje a Índia para um bilhão de indianos. Descemos fundo na miséria social implementada pelos tucanos e pelos golpistas escolhidos para destruir um século de avanços sociais, Temer e o clã Bolsonaro. 

Talvez nunca tenhamos nos parecido tanto com a Índia do romance de Aravind Adiga. A corrupção é a base dessa sociedade brasileira pós-golpe. A canalhice tomou conta do cotidiano, as mentiras não são mais algo imperdoável, agora mentira e ignorância são estimuladas, o uso das religiões para roubar roubar e roubar o povo e abusar de suas fés e crenças se tornou ferramenta de política de Estado, Estado fascista e corrupto.

Fico vendo absurdos do dia a dia de meu entorno como cidadão brasileiro e me esforço para superar tanta merda sem adoecer, desmandos sem nada que os interrompa e a total destruição das coisas de nosso antigo mundo social até 2016. 

A autogestão em saúde na qual sou associado e dependo da assistência médica faz atos de gestão inacreditáveis e prejudiciais à existência do modelo assistencial de estratégia de saúde da família (ESF) da associação e nada acontece aos gestores. 

Uma chuva forte, comum nesta época do ano, já fez o condomínio onde resido há décadas ficar três dias sem luz, água, elevador. Incrível! Nada acontece com os capitalistas que enchem o bolso com o dinheiro da antiga empresa pública de distribuição de energia, privatizada pelos tucanos. É a Índia que vi no romance, um acerto político aqui, outro ali e tudo segue na normalidade: o caos e cada um por sua conta e risco. 

Imaginem se os governantes de Osasco e São Paulo fossem do PT como a imprensa golpista e canalha se comportaria na cobrança de soluções pelas enchentes e falta de luz por dias...

(que dizer do maior líder político do país, Lula, se juntar a essa gente desgraçada e destrutiva da casa-grande paulista para compor uma chapa eleitoral em 2022... Inacreditável! Lula não é imortal! Lula é homem e os homens são mortais. Francamente! Não dou conta de apoiar uma temeridade dessas)

Enfim, se ao menos tivéssemos milhões de Balrams para fazer o que Balram fez com seu patrão, isso não mudaria a miséria geral da população, mas talvez uma sombra assustasse um pouco esses desgraçados capitalistas e da casa-grande brasileira. Não seria a sombra do comunismo, mas seria a sombra da violência contra os exploradores e bilionários do capitalismo.

Gostaria de ver o povo se rebelando contra essa casa-grande desgraçada.

William

Post Scriptum: será que o Brasil terceirizado e uberizado com um quarto do povo bolsonarista já não é a Índia do romance?


sábado, 15 de janeiro de 2022

43. As três irmãs / Contos - Anton Tchekhov



Refeição Cultural - Cem clássicos

Finalizei a leitura do livro de Anton Tchekhov (1860-1904) que tenho em casa. Considero que o escritor russo é um autor clássico e com isso contabilizo a leitura do livro dentro de minhas leituras de clássicos da literatura mundial. Foi o 2º livro do ano.

Entre leitura atual e leituras anteriores, praticamente li o livro duas vezes. A primeira leitura do drama As três irmãs (1901) foi em novembro de 2006. Eu era estudante de Letras na USP. Refiz a leitura nesta semana. 

AS TRÊS IRMÃS

Achei a postura daquelas personagens da família Prosorov uma boa alegoria de parte do povo brasileiro situado nas chamadas classes médias, um povo sem ação, crédulo em soluções miraculosas para problemas reais, uma gente que espera que as coisas aconteçam independente de ações pessoais e que as mudanças esperadas lhe caiam do céu. Fiz uma postagem dias atrás na qual falo um pouco sobre o drama (ler aqui).

Os contos são muito bons apesar de ter achado alguns longos demais e cansativos para o leitor. Mas a qualidade de Tchekhov na forma de narrar é inegável.

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O BEIJO

O conto "O beijo" é muito interessante! É um conto de 1887. Um batalhão do exército acampa próximo a um daqueles casarões da fidalguia russa durante exercícios militares e alguns líderes são convidados a tomar chá no casarão.

Tchekhov trabalha a hipocrisia e os jogos de cenas e aparências da burguesia russa. Ao mesmo tempo mostra o povão levando a vida, no caso deste conto os soldados, que sonham com prazeres e com uma vida melhor alcançando a posição daqueles sujeitos da burguesia. 

Ler aqui comentário que fiz da leitura anterior.

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KASCHTANKA (RELATO)

Uma graça esse conto cuja personagem principal é uma cadelinha com cara de raposinha. Adorei a narrativa. O conto de 1887 tem momentos dramáticos e momentos leves. 

A personagem principal se perde de seu dono e leva uma vida em outro ambiente, onde vai viver aventuras estranhas em sua vida de cachorra.

Para leitura de comentário que fiz sobre o conto, ler aqui.

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VIÉROTCHKA

Esse conto de 1887 traz uma história de amor não correspondido. Para ler o comentário que fiz na leitura anterior, clique aqui.

Em quase todas as narrativas, Tchekhov descreve cenas ou ações de leitores e leitoras e leituras. No drama As três irmãs, o escritor faz críticas severas aos autores russos de seu tempo, depõe contra as obras deles.

Neste conto vemos a descrição de uma personagem leitora. Tchekhov é duro com a personagem.

"Diante de Ogniov, estava a filha de Kuznietzov, Viera, moça de vinte e um anos, geralmente triste, descuidada no trajar e interessante. As moças que devaneiam muito e passam dias inteiros deitadas, lendo tudo o que lhes vêm às mãos, que se enfadam e entristecem, vestem-se geralmente com desleixo..." (p. 151)

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UMA CRISE

Neste conto de 1888, um jovem sai com outros dois amigos e vão para a zona do meretrício, o bordel. A noitada leva o rapaz a ter sentimentos de culpa e o desejo de salvar todas as mulheres naquela condição de prostituição. A partir daí vemos tudo o que acontece na narrativa. O ponto de vista do narrador aborda questões religiosas e posturas bem machistas, condizentes com a época.

"'Como tudo é pobre e estúpido!', pensou Vassíliev. 'Em toda esta miuçalha que vejo agora, o que pode tentar um homem normal, incitá-lo a cometer o terrível pecado de comprar por um rublo uma pessoa viva? Eu compreendo qualquer pecado cometido por causa de brilho, beleza, graça, paixão, gosto, mas o que existe aqui? Em prol do que se cometeu aqui pecados? Aliás... não se deve pensar!'" (p. 165)

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UMA HISTÓRIA ENFADONHA DAS MEMÓRIAS DE UM HOMEM IDOSO

Outra narrativa grande, cinquenta páginas. Boa estória. O enredo lembra um pouco o clássico de Tolstói, A morte de Ivan Ilitch (1886). A narrativa de Tchekhov é de 1889. Ler comentários sobre o conto aqui.

O personagem é um professor, um homem de ciências, e a narrativa tem bons momentos filosóficos. Bem atual para os tempos de negacionismo que vivemos no século XXI. O enredo mostra também as hipocrisias das classes médias e burguesas e o mundo das aparências. A família deve 5 meses de salários ao funcionário da casa e manda rios de dinheiro para complementar renda do filho que está no exterior. A família está quebrada, mas a filha faz aulas de piano etc.

Teria muitas citações interessantes pra fazer, mas daria muito trabalho para concluir a postagem.

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ENFERMARIA Nº 6

Ao ler "Enfermaria nº 6", de Tchekhov, é inevitável a lembrança da complexa questão dos manicômios e casas de repouso para pessoas indesejáveis nas famílias e nas sociedades humanas. O conto é de 1892. Para ler comentários sobre o conto clicar aqui.

Um pouco antes, em 1881, o nosso Mestre do Cosme Velho, Machado de Assis, publicava no Brasil o conto O alienista, nos contando sobre os residentes ou pacientes da Casa Verde, governada pelo doutor Simão Bacamarte. 

O tom irônico no estilo de Machado não tem relação com a narrativa dramática de Tchekhov sobre os residentes do pavilhão nos fundos do hospital local deste conto, mas o tema tem semelhanças. 

Como lidar com doentes, com pessoas que não se enquadram nos padrões determinados pelos pensamentos hegemônicos nos meios sociais existentes? Quem é louco e quem não é? Quem define quem é louco?

Outra boa referência sobre essas casas de reclusão é o filme brasileiro Bicho de Sete Cabeças (2000), filme estrelado por Rodrigo Santoro e dirigido por Laís Bodanzky. O tema é duro, duríssimo!

O final do conto, uma novela eu diria, é surpreendente!

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Enfim, lidos 7 textos de Tchekhov! Vamos ver quantos autores vou ler neste ano que começa. Alguns autores e autoras serão leituras de primeira vez.

William


Bibliografia:

TCHEKHOV, Anton. As três irmãs e contos. Coleção Imortais da Literatura Universal. Nova Cultural, 1995.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

140122 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 14 de janeiro de 2022.


IGNORÂNCIA NEM SEMPRE É POR QUERER

Ao me conectar às redes sociais minutos atrás, vi várias postagens de companheir@s do movimento sindical expressando os pesares pela morte do poeta Thiago de Mello, poeta amazonense de 95 anos. Meus pêsames aos familiares, amig@s e companheir@s de Thiago de Mello. Eu não conhecia o poeta. E isso acontece comigo há décadas! Essa ignorância, esse não saber, não é porque eu quero, não é porque eu quis. Mesmo assim, isso me comprime ao chão, me sufoca, me tira o ar dos pulmões. Ano passado li 52 livros, li vários autores pela primeira vez, conheci poéticas novas, novas ideias e histórias, e mesmo assim sigo mais ignorante que nunca! Que coisa esquisita isso! Difícil, viu! Dá até vontade de desistir de ser menos ignorante. Mas passado o sentimento de nada, preciso retomar o caminho da leitura e dos estudos e seguir tentando ser menos ignorante. Não sou ignorante porque quero, nunca quis ser ignorante, desde muito novo chorava porque queria ler e estudar e o corpo exaurido pelo trabalho não contribuía para ficar acordado e isso me agoniava. Não quis ser ignorante desde que me entendo por gente, desde que saía pra trabalhar com meus onze ou doze anos. E chegamos ao início da 3ª década do século XXI com o elogio à ignorância prevalecendo em parte dos homo sapiens do mundo... difícil! Não quero morrer ignorante, seguirei lendo e estudando e tentando saber hoje algo a mais em relação ao que sabia ontem. (vou incluir o falecido poeta Thiago de Mello em minhas listas infindáveis de autores a ler e conhecer ao menos uma obra)

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E POR FALAR EM MORTES E IGNORÂNCIA

E por falar em morte e ignorância, o regime dos bolsonaros não caiu. A casa-grande não quis interromper o mandato da máfia colocada no poder em 2018 porque a máfia no poder representa a casa-grande que a colocou lá. Não teve quebra de decoro parlamentar, nem CPI da Covid, nem contravenções penais, nem nada que tirasse do poder o ser mais abjeto que o Brasil já viu no poder. Bolsonaro pode tudo. E como pode tudo, a morte é a marca do período do regime implantado pela casa-grande em 2018; em 2016 na verdade, com o golpe de Estado. 

GENOCÍDIO? - Quantas das 620.830 mortes por Covid-19 no Brasil seriam evitadas caso o regime dos bolsonaros tivesse procedido como o restante dos governos do mundo chamados de civilizados? Meio milhão de brasileiras e brasileiros talvez ainda estivesse entre nós. (vocês, eleitores e eleitoras de Bolsonaro estão com as mãos cheias de sangue e não há álcool gel que desinfete essas mãos de vocês! Não há!)

Viva a ignorância! O regime atuou e atua contra a ciência, contra as vacinas, contra as instituições construídas há décadas para a produção de dados e conhecimentos úteis ao Estado e à cidadania. Neste momento em que registro palavras, a Covid-19 se espalha como as mentiras dos bolsonaros e bolsonários. A cada hora, mais conhecidos testam positivo para Covid. As contabilizações de contaminações e mortes já nem se computam mais porque um vírus estranho invadiu os sistemas do Ministério da Saúde do país espelho do país ficcional do George Orwell (1984) e nunca mais tivemos dados confiáveis sobre a pandemia. Nosso ministério da saúde é o ministério da não-saúde. O da educação é o da não-educação. É a novilíngua dos bolsonários.

Os regimes de Temer, Bolsonaro e da casa-grande destruíram a saúde, a educação, os direitos sociais, políticos e civis do povo deste país jabuticaba. Assassina-se quem quer no país, só se investiga e pune culpados se for de interesse da casa-grande. A casa-grande não gosta de pobres, pretos, mestiços, trabalhadores, sindicalistas, esquerdistas, artistas, povo, gente. É isso! Meus pêsames aos familiares, amig@s e companheir@s de Zé do Lago, sua esposa Márcia e sua filha Joene, família de ambientalistas da região de "Mucura", nas proximidades do Rio Xingu, Pará, assassinados barbaramente nesta semana. 

Meus conhecidos acreditam que as mudanças se darão por processos de paz e conciliação pelas vias das instituições burguesas corrompidas pelo golpe promovido pela casa-grande em 2016. Eu não acredito! Pelas regras das instituições corrompidas da casa-grande Moro não é ficha-suja, Dallagnol não é ficha-suja, Queiroz não é ficha-suja, os bolsonaros não são fichas-sujas. Mas tá cheio de preto pobre trabalhador esquerdista gente boa ficha-suja por aí. O povo do meu lado da classe é quase tudo ficha-suja. Quem do meu lado for ficha-limpa vai ser ficha-suja a qualquer momento, antes ou depois de querer ser candidato ou eleito. E os meus conhecidos acreditam nesse processo de conciliação etc e tal.

William


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

130122 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Quinta-feira, 13 de janeiro. 7º ano após o golpe de Estado que destruiu o Brasil. 4º ano sob o regime genocida do crime organizado instalado no Brasil pela casa-grande. 3º ano da pandemia mundial do novo coronavírus, a Covid-19 (li um artigo explicando que tanto pode ser "o" Covid quanto "a" Covid: "o" lembra o agente patológico, o vírus, e "a" lembra a doença do coronavírus).


O cabeçalho deste diário aponta fatos da vida material que influenciam aquilo que somos, aquilo que fazemos, aquilo que pensamos, aquilo que desejamos. Materialismo histórico. O mundo material molda as ideias e as atitudes dos seres humanos.

O animal humano que ocupa a cadeira da presidência do país sugeriu que a nova cepa da Covid-19, a Ômicron, seria bem-vinda ao Brasil. O sujeito ocupa o cargo público mais importante do país e atua diariamente para desestimular as campanhas de vacinação causando um retrocesso histórico no combate a doenças controláveis e endêmicas. Ele comete contravenções penais por onde anda, é suspeito de crimes graves, pratica quebra de decoro parlamentar diariamente. É um mentiroso cínico. Nada acontece a ele.

O animal humano que destruiu a economia do país causando o desemprego de milhões de pessoas, que prendeu pessoas sem provas e sem crimes corrompendo todo o sistema jurídico brasileiro, que enriqueceu fazendo política numa função pública onde jamais poderia fazer isso, que demonstra ser um dos maiores lesas-pátrias que o Brasil já viu, enfim, o ex-juiz tem a cara de pau de querer ser candidato à presidência da república. Esse escroto deveria no mínimo estar preso. Isso porque o povo não tem vergonha na cara, caso contrário esse sujeito não andaria pelas ruas do país sem o risco de ser justiçado.

O animal humano suspeito de ser o operador da corrupção de embolsar os salários dos assessores de mandatos parlamentares da famiglia no poder central (corrupção apelidada de "rachadinhas"), suspeito de envolvimento com o escritório do crime, enfim, o operador das rachadinhas pretende ser candidato nas eleições deste ano no Brasil. Sério. Sério mesmo.

Essas descrições acima das movimentações políticas neste lugar do mundo, o Brasil, são possíveis por causa de nossa história. Materialismo histórico.

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LEITURAS

Intercalei nas leituras dos 4 romances inacabados que decidi ler e finalizar em janeiro (acho que não vou dar conta da leitura dentro do mês) a leitura de um livro que ganhei de um grande amigo. Estou lendo o livro sem ler nada a respeito do autor e do livro, sequer li a aba e os comentários a respeito da obra. Vamos ver o que o livro me reserva.

Sigo lendo também a biografia de Karl Marx feita por José Paulo Netto. Essa leitura é sem pressa.

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COISAS

Sigo relendo e corrigindo as postagens do blog em 2021 e imprimindo para encadernar o material. Escrevi muita coisa ano passado. Li mais de 50 livros. Eu levo o blog a sério porque tenho cerca de 40 mil acessos aos textos dele durante o ano.

Tenho estado às voltas com episódios dos 9 anos da antiga série Arquivo X. Estou acabando de rever o terceiro ano. Os episódios dos três primeiros anos foram transmitidos entre os anos de 1993 e 1996. Eu era uma pessoa absolutamente diferente da que sou hoje. Por alguns motivos gostei de coisas assim nos anos oitenta e noventa. Especulações a respeito de coisas inexplicáveis, fenômenos estranhos, teorias conspiratórias etc. 

Não evoluí ainda para solucionar a procrastinação que tenho em relação a coisas que já deveriam ter sido feitas por mim e não foram feitas ainda. Seria muito bom se neste momento eu estivesse me desfazendo de coisas que tenho que me desfazer, virando páginas. No entanto, amanhece um novo dia e eu escolho pegar algo pra ler ou estudar e essas pendências irresponsáveis seguem como estão. Preciso resolver isso, de verdade!

Essa procrastinação em resolver alguns assuntos pendentes deve ser alguma coisa psicológica que carrego faz tempo. Como não pude ler e estudar o que gostaria na época que queria, acho que devo fazer isso primeiro em relação a outras obrigações.

Feito o registro pessoal neste diário. É um registro praticamente inútil para qualquer leitor do blog. Mas quando eu mesmo olhar para trás no amanhã, talvez os registros me façam lembrar de algo ou refletir sobre algo.

As postagens que releio me mostram o quanto algumas leituras me fizeram pensar de forma diferente questões da vida. Espero que as leituras atuais me façam mudar também. Ler sobre Marx e o marxismo é uma esperança. Espero não largar a leitura pelo caminho.

William


domingo, 9 de janeiro de 2022

090122 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Dias atrás, ao pensar no que leria pela manhã, decidindo entre a revista Carta Capital que acabava de chegar e um dos 4 livros que apartei para ler em janeiro, livros iniciados e não finalizados, optei pelo livro da vez: As três irmãs / contos, de Tchekhov. 

A revista de Mino Carta é excelente, mas não ando a fim de me atualizar sobre os acontecimentos da política. De certa forma, não preciso ler a revista para saber o que anda acontecendo na política, no Brasil e no mundo. Eu sei. Mesmo sem esforço, sei mais que boa parte das pessoas ao meu redor. Acho que o povo nunca foi tão alienado na história humana como neste momento de redes sociais idiotizadoras de quase a totalidade da massa humana.

O SILÊNCIO DE SOHRAB

Tenho pensado no silêncio de Sohrab, o garoto afegão do romance de Khaled Hosseini, O caçador de pipas, que li na semana passada. Quase que gostaria de calar, de nunca mais falar, de nunca mais escrever. Óbvio que ando cansado de tudo. Não sou alienado e a realidade desestimula um pouco o desejo de seguir vivendo. E nossas opiniões e experiências NÃO valem nada para as pessoas que amamos, que dirá para os meios aos quais vivemos na política.

Se ainda interajo, ajo de alguma forma - escrevendo no blog, por exemplo -, deve ser porque sou um homem de meu tempo, desse mundo real, material, e com o acúmulo que a própria existência me moldou - inclusive com a responsabilidade de existir, porque não sou só eu no mundo, pessoas de minha relação devem pesar na reflexão sobre meu esforço de permanecer vivo.

Assim como Sohrab, durante um tempo de minha vida havia cansado de viver e mesmo assim fui vivendo e cheguei até aqui. Avalio que valeu a pena seguir vivo. Coisas boas aconteceram para mim e eu participei da criação de coisas boas para a classe a qual pertenço, a classe trabalhadora. As ações positivas que fiz suplantam as ações ruins que fiz, imagino eu.

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ANTON TCHEKHOV

Após ler o 1º dos 4 livros que apartei para finalizar neste mês de janeiro, li o drama As três irmãs (1901), de Tchekhov. O livro que tenho contém essa peça e mais 6 contos do escritor russo. Já havia lido tanto a peça, em 2006, quanto os contos, a maioria no ano passado. De forma que estou basicamente relendo e não lendo pela primeira vez o livro. No entanto, como sou outro, o tempo é outro, a leitura é de novidade, como usa acontecer na releitura de livros e romances.

Li As três irmãs num desses dias em que estava bem azedo, sem graça com as coisas. A leitura foi truncada. Feita a leitura da peça, fui ver alguma coisa a respeito dela na internet. Vi o vídeo de dois jovens leitores, uma menina e um menino, com canais pequenos de resenhas de livros. Achei muito interessante ouvi-los. Como a cultura é algo maravilhoso! Dois jovens me fizeram avaliar minha releitura de As três irmãs.

Minha avaliação de leitor do drama tinha sido fria, automática. Já sabia que Tchekhov criticava a sociedade burguesa russa, o conformismo e a inação de setores das classes médias. Mas ouvir dois jovens aparentemente periféricos falarem do jeito deles sobre o romance, fez-me ver a alegoria do drama de forma clara como a água de Bonito (água clara acabando por causa da soja e do "agro pop").

Aquele núcleo familiar, os Prosorov, e os demais personagens no enredo da estória somos nós no Brasil de Temer, Bolsonaro, Moro e os idiotizados pela grande mídia; somos nós da comunidade de funcionários do Banco do Brasil; aquele núcleo familiar no drama de Tchekhov somos nós da minha "família": essa gente de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, gente de onde vim. Aqueles personagens somos nós que colocamos na Cassi aqueles gestores que estão lá.

Três irmãs - Olga, Maria e Irina - e um irmão, Andrei, que vão dar em nada. As irmãs sonham voltar para a cidade grande, Moscou, porque acham que são infelizes por estarem no interior. Aqui no Brasil dos bolsonários as pessoas querem ir para a Moscou idealizada do romance, ir pra outro país, porque aqui é o atraso bolsonarista e qualquer outro lugar do mundo seria melhor (como se aqui não fosse o tucanistão e o bolsonaroquistão por causa delas mesmas). Nós somos o enredo do drama de Tchekhov. A inação das irmãs é a nossa inação. Natália, a ex-caipira que ascende ao poder ao casar-se com Andrei e agora é a empoderada que manda e humilha etc tem aos quilos ao nosso redor. Parece a massa que aderiu ao bolsonarismo.

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Enfim, vamos reler os contos. Já reli "O beijo" e agora estou no conto cuja personagem principal é a cachorrinha que parece uma raposinha, Kaschtanka.

Na releitura e impressão das 275 postagens de 2021, estou terminando de rever o mês de junho, os textos deste mês são muito pautados pela leitura reflexiva da autobiografia de Nelson Mandela. (ahh... Mandela... que pena que não somos como você e seus companheiros e companheiras do Congresso Nacional Africano - CNA! Que pena!)

(com o comentário sobre Mandela comprovo que não somos nada diferentes de As três irmãs... sou igualzinho a elas, eu, os meus, as pessoas ao meu redor, os companheir@s do movimento sindical e partidário que se diz de esquerda... somos As três irmãs)

Ixi, alguém vai dizer "fale por você e não por mim, por nós". Tá certo. Sou As três irmãs. O pessoal da esquerda que conheço são pessoas de ação. Tá certo.

William


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Leitura: O caçador de pipas (2003) - Khaled Hosseini



Refeição Cultural

"SERIA UM ERRO DIZER QUE SOHRAB era quieto. Quieto significa em paz. Tranquilidade. Estar quieto é baixar o botão do VOLUME da vida.
     O silêncio é pressionar o botão para desligar. Desligar tudo.
     O silêncio de Sohrab era o silêncio auto-imposto daqueles que têm convicções, daqueles que protestam, que tentam defender a sua causa recusando-se a falar. Era o silêncio de quem se escondeu no escuro, dobrou todas as bordas e as prendeu, bem enfiadas nos cantos, como se faz com um lençol.
" (HOSSEINI, 2005, P. 355-6)


Aos prantos terminei a leitura do romance de Khaled Hosseini - O caçador de pipas. Aos prantos. 

Enquanto lia o romance com as histórias de vida de Amir, Hassan, Sohrab e os demais personagens fiquei olhando para trás nas lentes da memória e vendo instantes da vida de personagens de nossa própria existência nesse palco da vida.

Anos setenta. Na ficção, garotos soltando pipas em Cabul, Afeganistão. Na vida real, garotos soltando pipas no Rio Pequeno, Butantã, São Paulo. O cerol que corta os dedos lá, corta cá. Corta pescoços também... mas quem ligava pra isso ou tinha noção disso?

Anos oitenta. Na ficção no Afeganistão o mundo de Amir e Hassan não existia mais. Mudanças políticas. Guerras. Regimes truculentos. Na vida real da minha infância, mudanças. Meu mundo não existia mais. O Rio Pequeno deu lugar ao Marta Helena, Uberlândia. Pobreza, ruas violentas, garotos que tinham que se tornar duros mesmo sem o serem. Riobaldos tataranas. O diabo na rua, no meio do redemoinho.

O romance de Khaled Hosseini mexeu comigo. Foi o primeiro livro de ficção em 2021. Apartei quatro livros começados e não concluídos para ler em janeiro. Muito bom esse livro! Muito bom!

NARRAR E CONTAR HISTÓRIAS - UMA HABILIDADE HUMANA

A literatura tem o importante papel de nos fazer viajar pelo mundo, pelas vidas de personagens ficcionais e ou reais, de nos colocar no meio de histórias que nos fazem pensar, que nos emocionam, que podem ser referências para o viver dali adiante. Literatura é fundamental para a evolução humana.

Tive a oportunidade recente de voltar aos ambientes escolares aos 50 anos de idade, para completar algumas matérias na graduação em Letras. Foi muito interessante. Meu entendimento foi bem diferente que antes, quando estudei mais jovem.

Me lembro de uma aula e um texto de uma disciplina de língua espanhola que nos trazia conceitos modernos sobre a linguagem humana, sobre as possibilidades de narrar e de reproduzir a realidade. Não me esqueço do meu espanto ao compreender que a linguagem jamais reproduz a realidade. Tudo que se descreve, narra, enumera é um recorte arbitrário de quem fala. Demais isso, né?

Realismo? Naturalismo? Imparcialidade ao narrar ou descrever algo? isso não condiz com a condição da comunicação humana. No segundo no qual alguma coisa aconteceu e alguém é chamado a dizer o que houve, aconteceram coisas inumeráveis. A linguagem humana é linear, encadeada. E o ambiente ao redor não é.

Narrar algo é sempre uma escolha de gênero discursivo, forma, conteúdo, ritmo, e outras estratégias mais desenvolvidas pelo emissor daquilo que se narra.

Gostei do livro de Hosseini. Já havia lido outro livro dele, totalmente por acaso. Minha esposa havia levado A cidade do sol (2007) em uma viagem para ler nas férias e eu que acabei lendo o livro. Ver comentário aqui.

O autor afegão e norte-americano sabe contar histórias. O cara é muito bom. Vou até pôr na fila o terceiro livro dele que temos aqui em casa - O silêncio das montanhas (2013).

Sigamos lendo textos que nos fazem refletir.

William


Bibliografia:

HOSSEINI, Khaled. O caçador de pipas. Tradução: Maria Helena Rouanet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. 117º impressão.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Leitura: Marx até 1843



Refeição Cultural

"Hegel (2010, p. 264) escreve que 'o povo, tomado sem o seu monarca e sem a articulação do todo que se conecta [...], é a massa informe que não é mais nenhum Estado'. Marx exclama: 'Como se o povo não fosse o Estado real!' e argumenta: 'O Estado é um abstractum. Somente o povo é o concretum'. E prossegue: 'A democracia é conteúdo e forma. A monarquia deve ser apenas forma, mas ela falsifica o conteúdo. Na monarquia, o todo, o povo, é subsumido a um de seus modos de existência, a constituição política; na democracia, a constituição mesma aparece somente como uma determinação e, de fato, como autodeterminação do povo. Na monarquia, temos o povo da constituição; na democracia, a constituição do povo'. (NETTO, 2020, p. 544-5, nota 95)


Estou lendo sobre Karl Marx. Conhecendo um pouco a respeito dessa figura humana histórica. Escolhi a obra de José Paulo Netto - Karl Marx: uma biografia (2020) para saber quem foi esse homem marcante para a história recente da humanidade.

Terminei a leitura do 1º capítulo "ADEUS À MISÉRIA ALEMÃ (1818-1843)". Estou lendo seguindo as sugestões do autor, ou seja, lendo os textos dos capítulos e todas as notas ao final do livro. São 200 páginas de notas, acrescentadas às mais de 500 páginas de textos nos capítulos. Sem pressa, como nos alerta Netto, porque o livro não é para gente apressada.

"Bem sei que a leitura de muitas notas ao fim de um livro (no caso deste, em torno de um milhar) não é algo cômodo para o leitor apressado - mas já adverti que este não é um Marx para apressados (...) e lhes peço a pachorra de ler as centenas de notas apostas ao fim desta biografia. Boa parte delas tem um objetivo central: deixar bem claro que as ideias marxianas são objeto de problematização e polêmica, que o seu legado intelectual estimula debates calorosos e que a sua exploração diferenciada demonstra que Marx não foi, como o qualificou certo biógrafo acadêmico, uma 'vida do século XIX': antes, é um autor que atravessou todo o século XX e entra no século XXI mais vivo que nunca." (NETTO, 2020, p. 34)

Na primeira parte do livro, que abrange o período de vida de Marx entre seu nascimento em 1818 até 1843, quando o filósofo sai da Alemanha e vai para Paris, já tomei contato com algumas questões importantes em sua vida presente e futura.

Aos 25 anos de idade, Marx já estuda e comenta a obra de Hegel, de Feuerbach e Bauer, já está casado com Jenny, e produz textos complexos a respeito de tudo que estuda. 

É impressionante como o jovem alemão estuda dezenas de livros e obras para adquirir conteúdo sobre determinado tema que quer criticar ou comentar. É demais essa honestidade intelectual de não sair falando ou escrevendo qualquer coisa de sua cabeça sem ter conhecimento e referência a respeito. 

Pensa, leitor, nos dias de hoje como as coisas se dão... com a mania de todo mundo achar que pode falar e escrever sobre qualquer coisa com seu achismo... todo mundo tem liberdade de opinião, é verdade, mas uma coisa é ser livre pra opinar, outra é se colocar como um falante que sabe sobre o tema sem saber por conhecimento através de estudos.

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CRISTIANISMO, JUDAÍSMO, RELIGIÃO E ESTADO

Um tema que achei interessante nesta parte do livro foi a respeito de religião e Estado, religião e política, religião e direitos das pessoas.

Uma coisa que lembrei na hora foi de nossa lei maior, a Constituição Federal de 1988 e o seu preâmbulo que cita "Deus" no corpo do texto da lei... e depois a gente fica ouvindo de tudo quanto é gente e instituição que o Brasil é um país "laico". Como laico se a CF enfiou determinada visão de mundo, a de um determinado deus no corpo do texto!? Como assim, laico?

Assim como fiquei puto ao ler As aventuras de Robinson Crusoé, de Defoe, um livro de ficção inglesa do início do século XVIII só porque o personagem inglês ficava o tempo todo me lembrando das desgraceiras que os europeus fizeram com os povos do mundo por causa de suas religiões "melhores que a dos outros", sejam elas católicas, protestantes ou outra vertente qualquer, fico danado da vida ao ver a mistura de política e Estado com religiões e fé das pessoas - que devem ser respeitadas, mas em seus espaços pessoais e privados. 

Talvez nunca vamos deixar de queimar e matar em nome das abstrações religiosas criadas pelos homo sapiens.

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"Kreuznach: de maio a outubro-novembro de 1843"

Nessa parte do 1º capítulo, Netto nos põe em contato com algumas temáticas que já aparecem na vida do jovem Marx.

Vemos reflexões interessantes de Marx a respeito de monarquia, república, democracia, cristianismo e judaísmo, história, quem é sujeito e quem é produto/predicado em relação ao rei e ao povo. O que gera o que, as ideias geram as coisas ou as coisas geram as ideias? Marx reflete sobre isso. O Estado gera as famílias ou as famílias geram os estados? Estamos falando aqui de conceitos de materialismo histórico.

"[...] O fato é que o Estado se produz a partir da multidão, tal como ela existe na forma dos membros da família e dos membros da sociedade civil. A especulação [Hegel] enuncia esse fato como um ato da Ideia." (um trecho de citação de Netto sobre texto de Marx, na página 68)

A nota 95 deste capítulo vale a pena (reproduzida acima como epigrama). Ela é muito boa a respeito da diferença entre monarquia e democracia, quem é sujeito e o que é produto.

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JUDAÍSMO E CRISTIANISMO

Marx se contrapõe a Bauer em relação ao tema religioso, ao abordar a questão da emancipação (extensão de direitos cívico-políticos) e a igualdade civil.

"Fiel à concepção hegeliana, Bauer considera o cristianismo uma religião de caráter universal, a que se contrapõe expressamente o caráter particular do judaísmo, colado à lei mosaica; o universalismo cristão seria potencialmente muito mais apto que o judaísmo para acessar a emancipação. Resumindo: em função do seu particularismo religioso, o judeu está menos habilitado à emancipação que o cristão" (NETTO, 2020, p. 71)

Dessas leituras e reflexões foi que lembrei p. da vida do preâmbulo de nossa CF 1988. Já falei aqui no blog sobre isso. Humanos tratarem o cristianismo como religião maior, melhor, universal etc em relação ao judaísmo, paganismo, ateísmo, islamismo etc tende a acabar mal para algum lado minoritário. Achar o cristianismo melhor ou achar uma religião melhor que outra nunca vai acabar bem! É de uma arrogância absurda isso!

Com todo o respeito à fé e à religião de cada brasileira e brasileiro, é um absurdo colocar na lei maior do país essa questão de "Deus" assim como seria colocar "Alá", "Maomé", "Ogum", ou qualquer outra divindade ou referência mística ou mitológica. A lei maior de um Estado laico não pode em hipótese alguma citar ou privilegiar algum tipo de religião e suas divindades!

Estou lendo um romance a respeito de personagens do Afeganistão - O caçador de pipas (2003), de Khaled Hosseini, e o que vemos naquele país é exatamente essa questão da mistura de religião e Estado. Isso nunca acaba bem!

Quando misturadas com política de Estado, as questões de diferenças religiosas entre cristianismo, judaísmo, islamismo e outras religiões diversas tendem a terminar da mesma forma: intolerância à alteridade e consequências drásticas para os segmentos que não compartilham do tipo de crença predominante nos grupos dominantes.

Enfim, sigamos lendo e estudando.

William


Bibliografia:

NETTO, José Paulo. Karl Marx: uma biografia. 1ª ed. - São Paulo: Boitempo, 2020.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

030122 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

O tempo. A vida. Existência. Memória. Esquecimento. Resistência. Mudança. Substâncias que pautam meu viver neste momento. 

Pelo calendário ocidental no qual vivo acabou-se mais um ano e outro começou. Os pássaros, os animais diversos, os insetos e a natureza não sabem dessa abstração humana: o tempo. O nosso Sol, a Lua do planeta Terra e as coisas da natureza continuam suas existências, suas mudanças. "Nosso Sol"... Que arrogância humana! Nós é que pertencemos ao Sol e seu sistema de planetas.

Mudança é uma das certezas da existência das coisas. Estamos mudando o tempo todo. O sistema solar está mudando. Meu corpo está mudando. O relevo ao redor de onde vivo há mais de vinte anos mudou e segue mudando. 

As pessoas que conheço há décadas mudaram, mudaram pra cacete! Parte delas simplesmente está irreconhecível! Como pessoas que considerava tanto viraram bolsonaristas? Imaginem se eu vivesse um século atrás e muitas pessoas amadas virassem nazistas... foi isso que aconteceu no meu mundo!

Vou terminar a leitura de quatro livros que comecei e não consegui ler até o fim. Durante minha vida de leitor foram dezenas de livros começados e não finalizados. Ano passado terminei a leitura de vários livros inacabados. Vou fazer o mesmo agora. Desta vez serão dois autores russos, um afegão e uma inglesa: As três irmãs e contos, Crime e castigo, O caçador de pipas, Razão e sensibilidade.

E também vou seguir com os diversos livros que pretendo ler e estudar.

O CAÇADOR DE PIPAS

Entre ontem e hoje li mais de 200 páginas do livro de Khaled Hosseini, O caçados de pipas (2003). Tentei ler o romance anos atrás. Por incrível que pareça havia lido mais da metade do livro e não havia terminado. E a narrativa é muito boa. Agora que reli os 16 capítulos que já conhecia vou para a metade final do romance. 

A ficção nos apresenta personagens afegãos e a leitura nos coloca em contato com a cultura e a história do Afeganistão e seu povo.

Depois vou terminar o livro que tenho de Tchecov, depois um dos romances iniciados de Jane Austen e, por fim, o clássico de Dostoiévski que não terminei após ler mais de 150 páginas.

DIÁRIOS E REFLEXÕES

Estou relendo e preparando a encadernação de minhas postagens do ano de 2021. Escrevi bastante. Foram 275 textos: diários, reflexões, memórias, experiências de leituras, opiniões, sentimentos, crônicas, narrativas.

Já reli os primeiros quatro meses de postagens no blog. Achei alguns registros interessantes. Eles marcam um tempo de nossa vida nacional, além dos momentos pessoais. Entre janeiro e abril do ano passado li 17 livros. Terminei romances que ficaram inacabados por muitos anos, décadas. Li clássicos que sempre quis ler e nunca deu certo. Amiga leitora, amigo leitor, foram mais de 50 livros lidos em 2021.

Ao reler todas as postagens relativas à experiência de leitura de Moby Dick (1851) percebi que gostei bastante do clássico de Herman Melville. Ao finalizar o ano lendo o clássico de Daniel Defoe, As aventuras de Robinson Crusoé (1719), percebi que gostei bem menos deste do que daquele romance. No mínimo posso dizer que aprendi mais com Moby Dick.

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Sigamos lendo, escrevendo, vivendo, resistindo, buscando respostas e mudando com as mudanças.

William


domingo, 2 de janeiro de 2022

Conhecendo Karl Marx - É preciso estudar!



Refeição Cultural

Estou lendo Karl Marx: uma biografia (2020), de José Paulo Netto. Já descobri muita coisa interessante a respeito dessa figura humana de grande influência na história dos povos do mundo após sua passagem por esse mundo mundo vasto mundo, como dizia Drummond.

Estou no 1º capítulo do livro: "ADEUS À MISÉRIA ALEMÃ (1818-1843)". No tempo cronológico, Marx está com 25 anos. Acabei de ler a respeito de sua experiência como editor responsável pelo jornal Gazeta Renana, de oposição ao governo prussiano de Frederico Guilherme IV. O governo se encheu das críticas do jornal e mandou fechá-lo. O capítulo termina com Marx pedindo demissão. 

"Vê-se: a experiência na Gazeta Renana não colocou Marx apenas diante das 'questões econômicas', frente às quais ele se encontrou desarmado teoricamente. Demonstrou-lhe na prática que ele (...) teria de estudar intensivamente..." (p. 65)

E tira uma lição importante da experiência: o peso da questão econômica nas questões sociais.

"Da sua experiência na Gazeta Renana, Marx tirou depressa, quase de imediato, uma lição fundamental: a necessidade urgente de qualificar-se teoricamente para compreender a vida social, sem o que qualquer projeto de mudança sociopolítica careceria de eficácia." (p. 65)

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É isso, Marx! Temos que estudar, pesquisar, ler, conhecer a realidade e desenvolver as estratégias de mudança a partir da realidade material.

William


Bibliografia:

NETTO, José Paulo. Karl Marx: uma biografia. 1ª ed. - São Paulo: Boitempo, 2020.