domingo, 31 de janeiro de 2021

310121 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

O que está acontecendo com o tempo? Ou seria melhor perguntarmos por que estamos com a impressão de que o tempo está passando rápido demais? O que está acontecendo com a passagem do tempo? Ou o que estaria acontecendo conosco?

Neste domingo se encerra o mês de janeiro. Já se foi o mês de janeiro. A pandemia continua. O regime neofascista continua. Não tomei vacina e nem previsão existe para tal. As mortes e contaminações não diminuíram, elas aumentaram (mais de mil por dia). Tá mais fácil pegar Covid-19 e morrer ou ficar com sequelas. É mais provável o regime genocida avançar do que ser interrompido. Tá foda!

Janeiro já foi. Faz tanto tempo que visitei meus familiares em Uberlândia! Saudades de abraços! E sei que não poderei ir lá tão cedo. A pandemia tá foda! A cada dia, estamos mais velhos e o corpo muda, desgasta, deteriora por dentro. Não li os livros que já poderiam ter sido lidos. O mundo piorou, não melhorou e as pessoas estão cada vez mais abandonadas à própria sorte. E sofrem. E morrem. E não precisaria ser assim com o conhecimento humano acumulado até hoje.

No entanto, como diz meu poeta preferido, Drummond, a vida é uma ordem, a vida apenas, sem mistificações. Então, é sobreviver da melhor forma possível, com ética, caráter, com atitudes e sem prejudicar ninguém, e, ao mesmo tempo, pensando formas de contribuir para mudar essa realidade desgraçada que os golpistas criaram em nosso mundo. Não podemos deixar que eles sigam. Mas temos que ter inteligência, estratégia e senso de oportunidade para derrotar esses fascistas de merda.

Por fim, devo registrar aqui a minha gratidão. Gratidão pela vida de meus entes queridos. Gratidão por ter chegado até aqui na condição em que estou. Gratidão pelas oportunidades que a vida colocou no meu caminho. Gratidão pelo amor e amizade que já recebi nestes 51 anos de existência. Gratidão é um sentimento que as pessoas poderiam ter de vez em quando. 

Sou grato por tudo. Não somos nada sozinhos. O que somos é o acúmulo dos eventos que a vida nos disponibilizou.

------------

O SONHO DE CORRER UMA MARATONA

O tempo corre, o tempo voa, o tempo escoa... o tempo!

Se o meu tempo de vida permitir, quem sabe um dia eu corra uma maratona. É um longo percurso para preparar o corpo para suportar correr 42 Km. Mas a única opção para sair da condição atual e buscar a nova condição... é sair e treinar.

Neste mês que se encerra corri 9 vezes, caminhei algumas vezes e hoje pedalei uma hora. Como sigo perdendo massa muscular, fiz exercícios físicos para ver se interrompo o processo de desfazimento de mim mesmo. Fiz flexões, abdominais e exercícios com algumas anilhas que tenho em casa.

(Posso morrer a qualquer instante, é da condição humana, mas eu me esforço para viver porque entendo que vale a pena, por meus entes queridos e porque acho que posso contribuir de alguma forma para um mundo melhor do que esse que nos colocaram com o golpe de Estado no Brasil e com a hegemonia do capitalismo)

Percurso de janeiro:

Dia 01 - corri 63' (10K)
Dia 03 - corri 32' (5K)
Dia 08 - corri 44' (7K)
Dia 09 - caminhei 60'
Dia 10 - caminhei 70'
Dia 11 - corri 77' (12K)
Dia 14 - corri 42' (6,5K)
Dia 16 - caminhei 45'
Dia 17 - corri 50' (7,5K)
Dia 20 - corri 43' (6,5K)
Dia 24 - corri 100' (15K)
Dia 27 - caminhei 45'
Dia 29 - corri 41' (6,5K)
Dia 30 - caminhei 45'
Dia 31 - pedalei 60'

Percorri correndo 76 Km. Está muito bom para as minhas possibilidades. Não me contundi, lidei com as dores, fiz muito alongamento. 

Seguimos vivos. Um beijo pro filhão, pra esposa, pra meus pais, pra minha irmã e sobrinhos. Um beijo para familiares, amig@s e companheir@s que gostam da gente.

Se cuidem. Se puderem e quiserem, evitem aglomeração e exposição desnecessária ao vírus. 

Sobrevivam e nos encontramos após essa merda toda causada pela pandemia e por esse regime genocida que tem a pandemia como estratégia para se manter no poder.

William


sábado, 30 de janeiro de 2021

300121 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Ao ver a imagem de uma matéria no site da revista Carta Capital, fiquei parado, triste, sem esperança no futuro, na vida. A foto é uma foto normal. Nela, uma garota, adolescente de menos de vinte anos, faz uma self com o genocida líder do regime neofascista no Brasil. Uma jovem linda como é linda a adolescência. Ela faz o "V" com os dedos e bate sua self com aquele ser repugnante. Ao redor, uma aglomeração de gente, todos sem máscara contra Covid-19, idolatram o "mito".

O significado daquele instante captado pelo fotógrafo - da menina com o "mito" - e do que estamos vivendo em todos os instantes de nossa vida neste momento é o significado de nossa derrota, sim, perdemos! Nossa derrota foi enorme, gigante, catastrófica. Perdemos. (e muitos não conseguem entender como o povo alemão apoiou Adolf Hitler e toda a barbárie que ele e o regime nazista fizeram através da guerra total e do assassinato de milhões de pessoas em fornos, fuzilados, de fome etc)

O sujeito admirado e tratado como ídolo pela jovem da self é o sujeito que defende e enaltece um dos maiores torturadores da história do Brasil. Um torturador que é acusado por suas vítimas de colocar ratos em vaginas de mulheres torturadas. O sujeito admirado pela moça passou décadas na vida pública desvalorizando as mulheres, disse até que a única filha foi fruto de uma "fraquejada". Ver aquela menina na self com esse ser (it) me derrubou, me deixou destruído.

Nós perdemos. Perdemos de forma acachapante, nós fomos engolidos por um tsunami, por um desmoronamento de barro e pedras de morro em dia de fortes chuvas. Essa é a verdade nua e crua. O mal venceu de forma consistente neste terra desgraçada chamada Brasil, nome que nos lembra da primeira exploração, o pau-brasil. 

Nesses 520 anos de ocupação para exploração, tudo segue na mesma. Índios sendo assassinados. A terra sendo destruída. Os brancos machos soberanos. Os pretos pardos marrons mestiços se matando a serviço dos brancos da casa-grande e pela sobrevivência de si mesmos. A casa-grande ri, ri, ri, goza, comemora, fode com todos. E tudo em nome de deus... após cada riso, gozo e nova maldade eles dizem "Amém...".

A foto na postagem é mais um símbolo de que perdemos. Aquela massa aglomerada na piscina está cumprindo aquilo que o "mito" manda, que saiam de casa e aglomerem, porque medo do vírus é coisa de maricas e o brasileiro que é bom mesmo é um forte, não tem medo de nada. O desgraçado ganhou. Nós perdemos.

O tempo é senhor de si. Esse genocida e seu clã vão passar porque são mortais, vão virar terra, pó, barro, merda. Mas nós perdemos. Antes do tempo cuidar deles, eles estão cuidando de destruir tudo, de matar muito, e isso é uma derrota acachapante para nós. Ainda mais quando sabemos que alguém apoia isso. Mesmo que fosse uma pessoa, já seria dura derrota. Que dirá quando os apoiadores são milhões de pessoas como a menina jovem da matéria que vi na internet.

Perdemos. Estou muito desolado neste instante. Mas isso é um instante. Sou um sobrevivente como qualquer outro brasileiro. Somos feitos dessa merda toda. Como diz Saramago no Ensaio sobre a cegueira:

--------------------

"- É desta massa que somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade."

--------------------

Tem hora que eu gostaria de deixar que a ruindade me dominasse totalmente, e que com isso eu fizesse toda a ruindade possível antes do fim. Mas não é fácil ser mau, do mal, não é fácil. Tem que ser psicopata, tem que ter ausência de moral, de ética, de caráter, e parte de nós ainda tem essas coisas.

Perdemos! Mas amanhã é outro dia.

Neste momento, temos 222.666 vítimas fatais da "gripezinha", gente "marica" ou não, mas gente morta (assim são chamadas pelo "mito" a Covid-19 e quem segue as recomendações das autoridades de saúde). 

No mundo são 2.212.694 vítimas fatais. Deve ser gente fracote, como insinua o genocida admirado por milhões nesta terra jabuticaba. (informações sobre os números da pandemia: Johns Hopkins University)

Enfim, pelo menos tiraram o PT e acabou a corrupção...

William


quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Tempo (XXII)



Refeição Cultural

Faltam poucos dias para o prazo final da entrega de um trabalho de conclusão de disciplina de meu curso de Letras. O tema que estamos estudando é sobre as diversas configurações do tempo nas formas narrativas e poéticas.

Os autores e obras que estudamos e os textos críticos que lemos, juntamente com as aulas da professora Viviana Bosi, nos fizeram pensar muito. Posso dizer por mim, que estou há meses com a cabeça nesta questão do tempo.

Acabei escolhendo para desenvolver meu trabalho um autor que não compôs o corpus estudado, escolhi Drummond. Já fiz parte do trabalho desde dezembro. Mas para retomar e concluir é necessário entrar novamente na matéria, no tema, de modo que terei que ler ou tudo ou parte dos textos críticos. É o jeito.

------------

MITO DO ETERNO RETORNO - Mircea Eliade

Já reli a introdução e o capítulo do livro disponibilizado para nós. O capítulo 2 - "A regeneração do tempo". O texto é muito interessante.

O autor analisa sociedades tradicionais, dos mais diversos pontos da Terra e em diversos momentos da história, em relação à forma como elas contam o tempo, como lidam com a passagem do tempo em relação aos fenômenos naturais como as estações do ano, épocas de cheias e de secas, o dia e a noite, o movimento da Terra e da Lua etc.

Ao longo da história humana, as sociedades criaram diversas formas de ritos e crenças em relação à passagem do tempo. Essas visões de mundo impactaram de formas variadas a forma como se vê a história e a vida, o passado, o presente e o futuro.

O poema que escolhi de Drummond - "Passagem da Noite" - é muito interessante porque através de sua leitura é possível ver um pouco dessa questão da regeneração abordada por Eliade sobre as sociedades e crenças das pessoas. 

Na primeira metade do poema é noite e o Eu lírico está pusilânime e com total desânimo em relação a tudo. Na segunda metade é dia e tudo se inverte, os sentimentos são de alegria, gozo, senso de oportunidades e a vida é reafirmada como algo que vale a pena.

Essa é a referência que mais identifico no poema em relação ao texto de Eliade.

------------

HISTÓRIA DO FUTURO - George Minois

Reli a introdução do livro. O autor nos apresenta a ideia central de suas argumentações. Se o futuro não pode ser previsto - ele contesta o determinismo -, o que as sociedades humanas fazem é inventar o futuro até onde isso é possível, inclusive com as predições. Mas o acaso e os fenômenos da natureza estão aí, inclusive em relação à vida humana, para nos lembrar da realidade objetiva.

O capítulo disponibilizado para leitura é da primeira parte do livro, "A era dos oráculos - A adivinhação primitiva, bíblica e greco-romana a serviço do destino individual e da política". O nome desta parte do livro já diz tudo que vamos estudar. Vamos à leitura:

ANTIGO TESTAMENTO: "o verdadeiro objetivo da profecia bíblica não é predizer o futuro, mas conseguir a conversão; ela é uma arma moral, não um meio de adivinhação." (p. 30)

MESSIANISMO: "De todo modo, eles são sempre úteis para as autoridades, desde que estas saibam monopolizá-los e domesticá-los. Foi o que trataram de fazer a monarquia e, em seguida, a casta sacerdotal, porque, se um profeta livre pode ser perigoso, um profeta de aluguel, que prediz o que é desejável, pode servir aos objetivos dos governantes, orientando a energia popular no sentido desejado." (p. 37)

No final do capítulo, Minois acaba citando a obra de Eliade, sobre a questão do mito do eterno retorno. A vida, nesta concepção, seria uma eterna repetição. Conhecer o passado seria prever o presente e o futuro.

E mais: "A essa concepção sobrepõe-se a do retorno periódico da humanidade, na escala de ciclos gigantescos de criação, corrupção, cataclismo, restauração." (p. 42)

Minois afirma ser uma concepção bastante determinista, sem saída alguma: "Concepção fatalista, que não é nem otimista nem pessimista, já que nada é definitivo, nem a catástrofe, nem a restauração. Os pré-socráticos, como Empédocles, Heráclito, Anaximandro, e os primeiros estoicos, como Zenão, adotaram essa visão grandiosa, vertiginosa e, apesar de tudo, como tudo que diz respeito à eternidade, desesperadora." (p. 43)

DETERMINISMO - Outra questão que Minois pontua é a do determinismo. Com os profetas, se substitui o determinismo mecânico das leis da natureza pelo determinismo divino. 

"O determinismo da vontade divina substitui o determinismo cósmico. A noção de profeta está ligada à de sentido determinado, de orientação, de finalidade, de inteligibilidade do real. A profecia é na verdade tanto uma tentativa de explicação do presente pelo futuro quanto uma revelação do futuro." (p. 43)

Nos profetas do judaísmo é o futuro que determina o presente, por causa das promessas de salvação anunciadas...

As predições teriam forte caráter psicológico e sociológico para as pessoas e para as sociedades tradicionais. O futuro estaria inexoravelmente ligado à vontade de seres superiores, divindades e espíritos.

--------------------

A IGNORÂNCIA É A FORÇA DO SISTEMA DE CRENÇAS: "A falta de conhecimentos científicos, no sentido moderno do termo, é a força desse sistema: já que não depende de uma verdade demonstrável, ele é inatacável. Quanto menos o homem sabe, mais acredita saber, o fato é notório; não há nada mais simples do que o universo para um ignorante; não há nada mais complexo e misterioso para um sábio." (p. 45)

--------------------

Por fim, o texto de Minois é muito bom, mas não vejo referências nele para serem utilizadas no poema "Passagem da Noite", que estou analisando para o trabalho final da disciplina Literatura Comparada II.

Vou seguir com as releituras dos textos críticos.

------------

FUTURO PASSADO - REINHART KOSELLECK

Terceiro texto crítico em leitura. Vejamos o que Koselleck nos explica a respeito de prognóstico e profecia, suas diferenças e usos ao longo da história das sociedades. 

Ele nos diz que: "Como conceito antagônico às antigas profecias aparece a previsão racional, o prognóstico." (p. 31) 

"Enquanto a profecia ultrapassa o horizonte da experiência calculável, o prognóstico, por sua vez, está associado à situação política. Essa associação se deu de forma tão íntima, que fazer um prognóstico já significa alterar uma determinada situação. O prognóstico é um momento consciente de ação política. Ele está relacionado a eventos cujo ineditismo ele próprio libera. O tempo passa a derivar, então, do próprio prognóstico, de uma maneira continuada e imprevisivelmente previsível." (p. 32)

O prognóstico constrói seu próprio tempo, a profecia apocalíptica destrói o tempo.

"O prognóstico produz o tempo que o engendra e em direção ao qual ele se projeta, ao passo que a profecia apocalíptica destrói o tempo, de cujo fim ela se alimenta. Os eventos, vistos da perspectiva da profecia, são apenas símbolos daquilo que já é conhecido. Se os vaticínios de um profeta não foram cumpridos, isso não significa que ele tenha se enganado. Por seu caráter variável, as profecias podem ser prolongadas a qualquer momento. Mais ainda: a cada previsão falhada, aumenta a certeza de sua realização vindoura. Um prognóstico falho, por outro lado, não pode ser repetido nem mesmo como erro, pois permanece preso a seus pressupostos iniciais." (p. 32)

------------

Como é possível que acreditemos nessas invenções humanas?! Que absurdo isso! E eu me lembro de passar a metade da minha vida acreditando em tudo tudo quanto é invenção narrativa dessas.

E hoje, século XXI, com séculos de ciência acumulada, as pessoas ao meu redor e os povos do mundo continuam pensando exatamente como as sociedades arcaicas e tradicionais que Eliade estudou e descreveu no Mito do eterno retorno

Qual a diferença dos bolsonaristas terraplanistas e negacionistas em relação aos sumérios, caldeus, hititas, e vou mais longe, aos homens de 50 mil anos antes? Pra que valeu toda a ciência conhecida hoje para essa gente que habita ao nosso redor?

Que merda tudo isso!

William


Bibliografia:

MINOIS, G. História do futuro. Dos profetas à prospectiva. Trad. Mariana Echalar. São Paulo: Unesp, 2015.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado. Contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto PUC Rio, 2006.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

À la Benjamin Button... (13)



Refeição Cultural

Olhar para trás...

O presente é duro, trágico: temos no mundo 100 (cem) milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus hoje, dia 26 de janeiro de 2021. 
100.000.000 de infectados. São 2.151.248 mortes por Covid-19. 

A ex e eterna colônia de exploração Brasil aparece de forma destacada no panorama mundial da pandemia: são 8,87 milhões de infectados e 217.644 pessoas mortas (oficialmente, mas a subnotificação e a atuação do regime bolsonarista para esconder os números é absurda). Os dados são da Johns Hopkins University.

Estou fazendo o exercício de olhar para trás em meus escritos, reflexões e ações para tentar compreender o presente pessoal e coletivo. Não é fácil. 

O personagem Benjamin Button se tornou uma referência nesta categoria de postagem porque achei muito interessante a ideia de o tempo andar para trás. Como não estamos nesta condição de influência sobre o tempo físico e cósmico, vamos ao menos olhar para trás.

Em maio do ano passado, 2020, estávamos ainda no início da pandemia mundial. Ninguém imaginaria que chegaríamos aos números que apontei acima. 

As melhores perspectivas de enfrentamento ao vírus eram isolamento social, uso de máscara e higienização, fechamentos de fronteiras e bloqueios na circulação dos povos nas cidades do mundo. Quase todos os governos do planeta fizeram isso. Era a forma de não colapsar os seus sistemas de saúde. Não havia remédio nem vacina contra o vírus.

Alguns países, infelizmente, fizeram o contrário das recomendações da ciência e das autoridades de saúde. Estados Unidos de Trump e o Brasil de Bolsonaro fizeram o contrário. Deu no que deu. Os dois países juntos somam mais de 640 mil mortos. Trump já caiu. Bolsonaro segue com seu regime.

Em maio do ano passado, eu estava lendo uma narrativa por dia do clássico de Boccaccio, Decameron, e torcia diariamente para não pegar Covid-19 e sobreviver à peste. Seriam 100 dias de leitura. Naqueles dias, eu estava na 4a jornada das narrativas. 

Sobrevivi até aqui, mas muitos amig@s, companheir@s e familiares del@s faleceram por causa do vírus. Muita gente teve a vida abreviada por responsabilidade do regime neofascista no poder.

Como estamos neste momento?

O mundo produziu algumas vacinas contra o vírus. Em muitos países a vacinação já é uma realidade. Existe todo um regramento sobre os segmentos populacionais prioritários para tomarem a vacina. Muitos países já compraram vacinas para o conjunto da população. Já na ex e eterna colônia de exploração, o país jabuticaba... (aqui é Bolsonaro!)

Aqui o regime neofascista é exceção no mundo em relação ao comportamento do Estado no combate à pandemia. O governo, seus ministros e seus apoiadores, um bando de gente má e psicopata, defendem aglomerações, o não uso de máscara e incentivam a população a não tomar vacina. 

No entanto, os canalhas da casa-grande e os vigaristas de todo tipo arrotam ética e combate à corrupção, mas a prática de furar fila para tomar vacina virou um escândalo nacional e mundial. É o que temos aqui nesta terra de gente miserável.

CARTÃO CORPORATIVO: os inumanos no poder cometem crimes de responsabilidade o tempo todo, segundo renomados juristas e intelectuais. Mas não caem, não são impedidos. O escândalo do dia, de hoje, são os gastos do regime de milhões e milhões e milhões de reais com chicletes (2 mi), leite condensado (15 mi), pizza e refri (32 mi), alfafa (1 mi)... 

No passado recente (2008), a imprensa dos golpistas fez um inferno na pauta nacional, criou-se até a CPI dos cartões corporativos, por causa de uma tapioca de R$ 8,30 comprada no cartão corporativo de um ministro do governo do Partido dos Trabalhadores, o partido que mais fez pelo povo brasileiro na história. 

IMPRECAÇÃO: o tempo é implacável com o mundo e com os seres vivos. Essa gente lixo que se apossou do Brasil por golpe e por manipulação das pessoas vai cair. Vai ser presa, julgada e condenada. Aqui ou nos tribunais penais internacionais. Esses desgraçados vão acabar na merda, presos ou justiçados pelo povo. Quem estiver vivo, verá.

Seguem abaixo alguns registros e reflexões que fiz meses atrás, já sob o regime de destruição do país e sob a pandemia.

------------

08/05/20

37a decamerada

Simona e Pasquino, dois jovens humildes se amam, se encontram em uma praça para namorar, e uma tragédia acaba com o romance. O rapaz morreu envenenado e depois a moça. No final, se descobre que um sapo teve relação com o caso, pois estava na planta que matou o casal. 

Coitado, a população queimou o agente do veneno responsável pela tragédia. 

Pergunto: será que no país jabuticaba, um dia, o povo vai perceber os agentes envenenadores que causaram nossa destruição e vai tacar fogo nessas pestes venenosas? (difícil... aqui somos todos presas, gados, semoventes da casa-grande)

------------

07/05/20

36 novelas do Decameron

Andreuola ama o jovem humilde Gabriotto, que morre em seus braços de algum mal súbito. Após uns percalços por ela ser mulher num mundo de merda como esse nosso, machista e bárbaro, ela termina num convento. A vida seguiu... 

E a nossa vida, segue, sem morte súbita?

------------

06/05/20

Decameron, 35, 35

A estória de hoje foi da jovem Lisabetta e Lourenço, rapaz humilde assassinado pelos 3 irmãos da moça. Ela morre de tristeza no fim.

Faltam 65 dias e estórias. Tem hora que fico em dúvida se chegarei até lá. Está tudo muito incerto, muito ruim. Que sensação ruim da peste!

------------

05/05/20

34° dia, 34a novela do Decameron

Estou na 4a jornada de narrativas, só tragédias e finais infelizes de histórias de amor.

Rei Guilherme manda decapitar neto, após este desonrá-lo tentando raptar filha de outro rei, prometida a outro. Ela morre, ele morre. Rei é impiedoso para manter sua palavra... (os jovens se amavam)

No país jabuticaba, o rei está nu, não tem palavra, não tem honra, mas manda todo mundo calar a boca, vocifera mentiras (fake news diárias) e alguns súditos em ladainha: aleluia, mito, mito!! (Boccaccio, me ajuda!)

------------

04/05/20

Decameron 33° dia

Depois de um dia de limpezas domésticas, banho tomado, cansaço e bocejos, peguei meu compromisso de uma novela de Boccaccio por dia e li a estória trágica das 3 irmãs de Marselha, na Provença: Ninetta, Madalena e Bertinha. Dos vícios humanos, a ira foi a desgraça delas. A ira cega e tira a razão...

Não é à toa que a ira foi o instrumento usado pelos golpistas da casa-grande no país jabuticaba para transformar seres humanos quase normais num bando de zumbis bolsonaristas e em fanáticos fascistas amorais!

A Ira sempre funciona, ela transforma você num escravo. Assim já nos explicava o jagunço Riobaldo Tatarana...

------------

03/05/20

Leitura: "Borges y los cuervos"

Terminei o livro El gaucho insufrible, de Bolaño. É muito reflexivo. Acho que vou ler alguns textos críticos sobre autor e obra.

------------

Ainda 02/05/20

Decameron, começa a 4a jornada de novelas. Nesta série, os jovens vão narrar casos de amores infelizes ou com finais tristes.

31a estória - pai que dizia amar a filha mais que qualquer coisa no mundo, se mostra cruel e impiedoso ao não aceitar o amor dela por um rapaz humilde. Dá merda no fim...

MULHERES, FRUTOS DE FRAQUEJADAS

De novo, o que vemos é a forma como são tratadas as mulheres pelos bolsonaristas da antiguidade e da atualidade. A espécie humana, recente na Terra, não vai longe não. Vai não. Cada vez que vejo 1 (uma) mulher apoiadora dessa desgraça que colocaram no poder, eu desisto dos humanos.

------------

02/05/20 (foi um dia de muitas postagens na rede social - a quarentena nos fazia pensar sobre o que fazer fechados em casa)

Meta literária diária ainda não foi cumprida... falta ler a novela do dia do Decameron... e bateu aquela moleza agora... aff, lá vai eu ler em pé de novo...

(antes)

BOLAÑO - O conto "El policía de las ratas" é muito simbólico. Quando li a 1a vez, ano passado, já havia ficado impactado. Neste momento de caos e do mal, o conto de Bolaño é um dos melhores que já li.

(antes, sobre uma postagem minha a respeito de uma corrida anos atrás: ler aqui)

Há onze anos, no dia 3 de maio, corri uma prova de 8K na cidade de Osasco (SP), prova que contou com a parceria do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. Foi um dia legal na semana dos trabalhadores.

Onze anos depois (2020), muita coisa mudou. Muita coisa. Vivemos o caos e a destruição do país e dos direitos dos trabalhadores, que estão em um dos piores momentos de sua história. Mas as lutas seguem, enquanto estamos vivos.

Para tentar manter-me vivo, saí para correr aqui em Osasco e quase fiz os 8K... acabei fazendo 7,5K, mas tá bom demais para o contexto atual de pandemias de Covid-19 e a pior talvez, a pandemia do bolsonarismo, que causa morte cerebral e suas vítimas seguem andando por aí e barbarizando os outros... os zumbis são realidade...

Post Scriptum: a noção do tempo tá tão estranha que eu achei que hoje era dia 3 e só forcei correr quase 8K por causa disso (rsrs). Valeu o engano ao menos como incentivo de corrida (kkk).

(antes)

Corrida, garapa, banana... 7,5K percorridos.

Post Scriptum:

E caqui...

Meu, tenho que baixar essa merda de pressão arterial. A vida real não é bela. A vida é foda!

Corri desviando de tudo quanto é vírus... corona... fdp com camisa da CBF e outras pestes...

(antes)

Preguiça de pôr roupa e lembrar que sair é voltar e voltar é toda aquela merda de higienização... preguiça e, no entanto, se eu não correr, não terei feito a minha parte em tentar sobreviver um pouco mais por aqueles que consideramos. Se essa merda de corpo colapsar, que não tenha sido culpa minha... já fui suicida por muito tempo de meus anos, hoje não morro nem me deixo matar. - Vai correr, então, infeliz!

(antes)

El gaucho insufrible, Roberto Bolaño... Desde o ano passado, quando comecei a ler Bolaño, percebo o quanto seus textos me fazem pensar... talvez pelo seu destino trágico, talvez pela falta de respostas em relação à vida. Pensativo... talvez por saber o que ele afirmava sobre a brevidade das coisas, das obras, dos atos, da história... quem vai saber de Bolaño daqui a 200 anos? Quem vai saber de mim amanhã? Quanto tempo algo dura?

------------

01/05/20

A DOR DA PERDA, A MORTE.

Ao ouvir Mino Carta falar das perdas de seu filho e do amigo PHA em 2019 e agora o jornalista Nirlando Beirão, apertou-me o peito já dolorido por tudo que temos visto. Senti uma tristeza angustiante. Minha solidariedade ao Mino e às pessoas que estão sofrendo com todo o mal que assaltou o nosso mundo. (ver vídeo do Mino aqui)

(antes)

30. Ao decamerar a 30a novela do Decameron, de Boccaccio, de novo pensei na ousadia do escritor em publicar em 1353 a referida obra. Essa 3a jornada terminada contou estórias com muito sexo, luxúria, traição, estupro (monge abusar de uma jovem de 14 anos é estupro) e por aí vai. Vamos para as 10 novelas da quarta jornada... (se os vírus ao redor não me matarem nos próximos 10 dias)

------------

Fim do olhar para trás. Por mais que a gente olhe os fatos e sentimentos do ontem, a gente tem dificuldades para compreender como pudemos descer tão fundo no esgoto, na merda em que nos colocaram no Brasil após a destruição da sociabilidade mínima que havia no país e envenenamento do povo por um ódio e uma ignorância nunca vistos em lugar algum. A grande imprensa da casa-grande e os tucanos acabaram com o Brasil. Bolsonaro é só um aspecto disso tudo, é um produto.


William

domingo, 24 de janeiro de 2021

Maratona - Feliz ao correr 15K (um dia, serão 42K)



Domingo acabando. Noite fresquinha em Osasco.

Após uma cochilada, o ácido lático e o corpo dolorido me lembram que estou vivo, como diz o velho Santiago no clássico de Hemingway. Dor para lembrar que estamos vivos.

Fiz uma corrida que me proporcionou alegria e felicidade porque percorri o percurso que pensei e porque consegui aguentar. Foram 100 minutos de corrida pelas ruas da Vila São Francisco e de Osasco, Zona Oeste da Grande São Paulo.

Tomei todos os cuidados devidos para não passar perto de ninguém durante os 15K que corri. Os tempos são de pandemia de Covid-19. A morte espreita por aí. E corro para sobreviver e não para morrer. Então me cuido da melhor forma possível.

Comecei a corrida com uma subida de 1K, a Franz Voegeli. Passei pela Vila Iara e desci a Av. Corifeu de Azevedo Marques. Nova subida pela Av. Dr. Candido Motta Filho, passei em frente da pequena Capela São Francisco de Assis e do Pq. Colina de São Francisco. Primeira meia hora.

Desci a Dr. Martin Luther King sentindo o cheiro bom da vegetação. Segui correndo e atravessando a região do campo de golfe, passei em frente ao Centro de Gerenciamento da Caixa (me lembrei dos tempos do Sindicato, quando fazia reuniões e paralisações lá). Trote leve e ritmado. Segui para a Padre Vicente Melillo.

Na Av. Padre Vicente Melillo, segui para a Rua Aurora Soares Barbosa, contornando a Cidade de Deus, do Bradesco. Na rua do rio, fui embora passando em frente ao portão do banco, onde atuei muitas vezes com os diretores do Sindicato. Corri até a PMO, quase completando a 2ª meia hora. Tomei um sachê de carboidratos e segui correndo.

Passei por baixo da Ponte Metálica, e segui meu trote pela Av. Domingo Odália filho, ainda a do riozinho. Passei pelo Super Shopping e corri pela lateral do Viaduto Guerino Spitaleti até os muros da CPTM. Contornei a área do Cyttiplex Osasco e segui pela R. Gen. Manoel de A. Brilhante. Fiz a rotatória e segui correndo pela Av. Hilário Pereira de Souza. Estava bem fisicamente.

Para completar o percurso que mentalizei, no final da Hilário, subi de novo a Franz Voegeli até um dos contornos, desci, retomei a Hilário, fui até o final e voltei correndo até a estação Presidente Altino, completando mais 40 minutos. 

Ufa! Foi uma corrida que me deixou realizado. Consegui. Ainda posso alguma coisa! Corri o equivalente a uma São Silvestre. E teve boas subidas também.

É isso. Para correr um dia 42 Km, terei que seguir adaptando meu corpo para correr 20K, depois 25 a 30K, até chegar aos 40K. Correr 2 horas, depois 3 horas, depois 4 horas e por aí vai.

Fim do registro de um dia de corrida feliz.

William


sábado, 23 de janeiro de 2021

Tempo (XXI)



Refeição Cultural

"Portanto, anunciar o futuro somente tem sentido se ele não é determinado, isto é, se é imprevisível. Nesse caso, a 'previsão' se torna uma atividade de caráter mágico, que se destina a produzir o futuro desejado. É entre esses dois extremos contraditórios que a atividade de previsão se move há séculos: ler sem nenhum proveito um futuro inevitável, ou prever um futuro que não existe e ainda deve ser inventado. Tanto num caso como noutro, predizer é uma ilusão." (MINOIS, p. 02)


Sábado, Osasco, Brasil. Tempos de crises. Bolsonarismo. Pandemia mundial de Covid-19. O presente é esse. O futuro? 

Não posso dizer que estou na mesma que antes em relação a buscar um sentido na vida, em relação ao que acredito ou não acredito, em relação a dar um sentido à vida neste tempo que me resta de existência, que pode ser de segundos ou de décadas.

Fui crente em tudo quanto foi crença inventada pela mente humana ao longo de décadas de vida. A começar pela base de formação cultural do homem ocidental ao longo de séculos, a crença no cristianismo, em Deus, na igreja católica apostólica romana. E a partir daí, ao espiritismo, ao candomblé. Em vida depois da morte, em espírito, anjos, demônios, seres extraterrestres, mundos paralelos e por aí afora.

O que sou é fruto do que já fui, não tem jeito. Antonio Candido nos fala sobre isso, é um conceito muito bonito e tolerante, que nos dá algum conforto, mesmo quando sabemos que tivemos um passado cheio de momentos ruins e difíceis, quando fizemos coisas que não faríamos no presente.

"O que somos é feito do que fomos, de modo que convém aceitar com serenidade o peso negativo das etapas vencidas." (CANDIDO, 1981)

Por décadas, refleti cheio de dúvidas se a história do mundo, das sociedades ou dos humanos, ou um misto disso talvez, enfim, se a história seria linear, cíclica, pendular e concepções do tipo. Se o futuro era ou não uma repetição do passado. E com isso, se a vida humana vinha pré-determinada, se havia destino, se nós carregávamos carmas de outras vidas ou não.

Não estou no mesmo ponto de partida, realmente. Cinco décadas depois de caminhar por essa vida única não tenho mais ilusões em relação a maioria dessas coisas. Não tenho.

O texto de George Minois - História do futuro - nos faz refletir muito a respeito dessas coisas. Se o acaso me permitir, eu seguirei vivendo por um tempo. O acaso é tudo e qualquer coisa: se meu corpo permitir, se eu não pegar Covid-19 ou se pegar e ela não me vencer, se um tiro ou uma pancada não me matar, se o prédio que moro não desabar, se um meteoro não cair na minha cabeça.

Se seguir caminhando por aí, que fazer para mim e para meu entorno para que valha a pena estar vivo? Isso é dar sentido para alguma coisa, porque as coisas em si não têm sentido, não têm que ter sentido. Uma pedra é uma pedra. Um pássaro é um pássaro. Um humano é um humano. Essas coisas são até o momento em que não são mais.

Minha vida teve sentido durante o tempo em que fui um representante da classe trabalhadora e militante das causas sociais. Foi um dos períodos de maior sentido de minha existência. Na verdade, foi o que fiz de melhor e mais útil nessa vida.

Não estou no mesmo ponto de partida dessa vida. A passagem do tempo e a caminhada pela vida serviu para esclarecer algumas coisas para mim. Não tenho ilusões. Estou ciente de minha vida, de minha morte um dia, do que fiz no passado.

William


Bibliografia:

MELLO E SOUZA, Antonio Candido. in: "Prefácio" da 6a edição (1981) de Formação da Literatura Brasileira - Momentos Decisivos de 1957.

MINOIS, George. História do futuro. Dos profetas à prospectiva. Trad. Mariana Bachalar. São Paulo: Unesp, 2015.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

180121 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Segunda-feira, um dia igual aos outros da semana, semanas iguais, meses iguais, anos iguais no país destruído pelo golpe de 2016 e pelo bolsonarismo. Cenário de miséria, povo sem direitos, mortes e mortes, morridas e matadas, mortes por balas vindas de todos os lados, das forças policiais que matam o povo pobre e preto e dos civis armados com incentivos do regime neofascista. Mortes de mulheres. Mortes por vírus. Mortes severinas.

As pessoas estão morrendo vítimas do vírus Covid-19. Mais de mil pessoas morrem diariamente pela infecção do novo coronavírus no Brasil. As cenas das mortes por falta de respiradores e oxigênio em Manaus foram chocantes. Dezenas de pessoas morreram por causa da irresponsabilidade dos políticos no poder. Desde março, 209.847 pessoas perderam a vida aqui nesta colônia de exploração, terra sem patriotismo, terra sem nação. 

No mundo, já temos mais de 2 milhões de mortos e 95 milhões de infectados. Nos Estados Unidos, do trumpismo, 398 mil pessoas já morreram de Covid-19. E metade do povo lá é trumpista. A outra metade é bidenista. Tudo a mesma coisa, vamos ser sinceros! Eles, o grande império do Norte, querem nos manter colonizados, amestrados, domesticados, subservientes e permitindo que eles explorem nossos recursos materiais a preço menor que bananas, porque já existem outras republiquetas que lhes fornecem bananas baratas.

Muitos países do mundo começaram a vacinar em massa suas populações, mas o Brasil é exceção. O regime neofascista tem a pandemia do vírus como estratégia de manutenção do poder, é um regime de morte, de tortura e de psicopatas genocidas. Ontem, numa guerra entre dois políticos canalhas, ambos com objetivos espúrios e pessoais, começou-se a vacinar pessoas contra a Covid-19. Mas temos aqui 210 milhões de pessoas. Farão muita disputa política por zero vírgula alguma coisa por cento de população vacinada.

O genocida no poder é contra a vacina, e atua diariamente para boicotar a vacinação do povo. Faltam insumos e faltam volumes de vacinas para todos. Ele faz campanha para que os idiotizados não tomem a vacina. Está no poder há dois anos por cumplicidade das autoridades do país; são todos cúmplices dos crimes e do genocídio em andamento. Os meios de manipulação de massa nos fazem de idiota, escondem pautas e criam pautas para nos direcionar, essa grande imprensa dos empresários bilionários é a principal responsável pela destruição e morte do país e dos brasileiros.

O outro político, usa a vacina para fazer campanha para o ano que vem, está pouco se lixando para a população. Privatiza tudo e não tem a menor vergonha na cara de cortar os recursos da ciência e da educação das universidades. É muita palhaçada! 

Quadro animador esse, heim?

---------------

Reli 175 páginas da autobiografia de Nelson Mandela, Longa caminhada até a liberdade. Foram 3 capítulos. Havia lido esses capítulos em 2014 e em 2018. As experiências de Mandela são muito inspiradoras para se buscar a liberdade. 

Pessoalmente, não acho que o povo brasileiro queira se libertar do jugo da casa-grande, dos coronéis, dos empresários, dos banqueiros, dos ruralistas, dos rentistas, dos militares, dos donos das igrejas-empresas, dos capitães do mato antigos e atuais, aquela burocracia enfiada na máquina pública que atua para o 1%. 

Não consigo ver desejo de liberdade no povo brasileiro após cinco décadas de vida e quase quatro como adulto que luta pela liberdade e pelos direitos dos povos. Aqui, os pobres e miseráveis oriundos dos quase 4 séculos de escravidão - filhos mestiços do branco com as negras, índias e mestiças - só querem virar exploradores e não acabar com a exploração. Que merda isso!

Será longa, muito longa, a nossa caminhada até a liberdade...

William


domingo, 17 de janeiro de 2021

Brasil, "Aquele mundo de Vasabarros"...



Refeição Cultural

"A vida em Vasabarros tinha mudado muito desde a assunção do atual Simpatia. Antes ainda havia um pouco de claridade, havia uma relativa alegria nas pessoas, e um certo entusiasmo pelo que elas faziam, apesar da preocupação doentia com os regulamentos, esse um mal de todos os tempos. Mas com o novo Simpatia o arrocho aumentou, as pessoas foram perdendo os restos de alegria, de cordialidade, de confiança em si mesmas; instalou-se um regime de meticulosa vigilância, o povo se fechou em seus cubículos amedrontado, desconfiado, desinteressado (...) Que diferença do tempo em que viajantes famosos de outras terras se entusiasmaram com o clima humano de Vasabarros e profetizaram um futuro luminoso para ele. Vasabarros agora era uma lembrança dolente e uma realidade acabrunhante." (VEIGA, 1982, p. 13-14)


Reli o romance "Aquele mundo de Vasabarros" (1982), de José J. Veiga, escritor goiano com uma obra impressionante e atemporal. Minha primeira leitura deste romance foi em janeiro de 2018, momento muito ímpar de minha vida e da vida do país. Ler aqui a postagem sobre aquela leitura.

Eu estava em férias e no final de um mandato representativo na área de saúde e iria viajar o país para dialogar com os trabalhadores e aposentados para apresentar nossas propostas de luta. O país estava sob estado de exceção, após o golpe de Estado de 2016 e o fim da democracia (a destruição do Brasil estava em andamento). Tudo lembrava os cenários dos romances e contos de José J. Veiga. Tudo. 

Além do clima de ódio e fascismo no país, eu enfrentava um processo vil e canalha montado contra mim nas vésperas da eleição da entidade de saúde para me destruir psicologicamente com forte assédio moral e humilhações e para ser usado como fake news nas eleições que ocorreriam. As lideranças dos trabalhadores já estavam lidando com os processos de lawfare construídos por burocracias estatais e de empresas, eu era só mais uma vítima daquilo.

Se Saramago é nosso escritor português dos romances em forma de ensaios com estruturas do tipo "e se acontecesse tal coisa...", Veiga é o nosso escritor das situações fantásticas e atípicas nos enredos das estórias, dos contextos estranhos e cotidianos alterados por algum evento que de repente acontece e muda tudo na vida das pessoas e das coletividades. Leitores amig@s, José J. Veiga é um dos melhores escritores brasileiros!

Imaginem vocês um lugar onde a autoridade máxima é um sujeito autoritário, impiedoso e que não pestaneja em mandar aplicar a lei máxima, a morte, contra seus governados, por menor que tenha sido o erro, um deslize qualquer. Imaginem que no privado, lá no seu momento sem a capa da autoridade, o sujeito não passe de um mijão, fedido que ninguém aguenta, meio abobado, marionete do sistema de leis e regras seculares.

Imaginem um lugar onde agora é só escuridão, onde o povo está nos porões, calabouços, na miséria, na merda, em meio a aranhas, baratas e ratos, onde a desesperança e a apatia são gerais, onde é proibido ser feliz, trabalhar descentemente, cantar, rir, viver a vida em paz... pois é, não estou falando do Brasil do Temer e do Bolsonaro não, é o mundo de Vasabarros.

As autoridades e os poderes de repressão são os senescas, os merdecas, os mijocas etc. Não, não é o Brasil após o golpe, é o mundo de Vasabarros.

Aff, acho que o Brasil é "Aquele mundo de Vasabarros".

William


Bibliografia:

VEIGA, José J. Aquele mundo de Vasabarros. São Paulo: DIFEL, 1982.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

As intermitências da morte - Frases selecionadas



Refeição Cultural

Como era de se esperar, As intermitências da morte (2005), de José Saramago, superou minhas expectativas de leitor. Poucos escritores têm a capacidade que ele tem de nos surpreender com suas narrativas e estórias. Poucos escritores me fazem rir e chorar, poucos. Saramago é um deles.

As intermitências da morte é um livro que deve ser lido por nós, que deve ser discutido por nós, quer dizer, deveria, porque os tempos são outros, são tempos distópicos e as discussões filosóficas e os exercícios de pensamento já não encantam nem prendem a atenção de ninguém, talvez estejamos na última fase da hegemonia humana na Terra.

Agora é tempo de lacração, de cancelamento, de memes, de rapidez na mensagem com imagem, de desenhinhos que substituem qualquer pensamento e linguagem mais elaborados e complexos. Um emoji e pronto, tá dito o que o enunciador acha que disse e o recebedor que entenda o que o enunciador acha que foi dito.

Uma cena que me impactou:

A morte está à espreita, está presente no ambiente, e ela observa encantada o violoncelista executando a Suíte nº 6, opus 1012, em ré maior, de Johann Sebastian Bach...

Enfim, seguem algumas frases e momentos de reflexão n'As intermitências da morte.

----------

O QUE OS OLHOS NÃO VEEM...

"Deitado no chão, à espera de um sinal que não vinha, o cão olhava-o. Talvez a causa do abatimento do dono fosse a mulher que apareceu no parque, pensou, afinal não era certo aquele provérbio que dizia que o que os olhos não veem, não o sente o coração. Os provérbios estão constantemente a enganar-nos, concluiu o cão" (p. 206)

----------

ESPERANÇA

"E como as esperanças têm esse fado que cumprir, nascer umas das outras, por isso é que, apesar de tantas decepções, ainda não se acabaram no mundo" (p. 202)

----------

HIERARQUIA DAS PALAVRAS

"Acabou de comer e voltou à sala de música, ou do piano, as duas maneiras por que a temos designado até agora quando teria sido muito mais lógico chamar-lhe sala do violoncelo, uma vez que é este instrumento o ganha-pão do músico, em todo o caso há que reconhecer que não soaria bem, seria como se o lugar se degradasse, como se perdesse uma parte da sua dignidade, bastará seguir a escala descendente para compreender o nosso raciocínio, sala de música, sala do piano, sala do violoncelo, até aqui ainda seria aceitável, mas imagine-se aonde iríamos parar se começássemos a dizer sala do clarinete, sala do pífaro, sala do bombo, sala dos ferrinhos. As palavras também têm a sua hierarquia, o seu protocolo, os seus títulos de nobreza, os seus estigmas de plebeu." (p. 196)

----------

A MORTE CONHECE A VIZINHANÇA

"A morte desce a rua até onde os muros terminam e os primeiros prédios se levantam. A partir daí encontra-se em terreno conhecido, não há uma só casa destas e de todas quantas se estendem diante dos seus olhos até os limites da cidade e do país em que não tenha estado alguma vez, e até mesmo naquela obra em construção terá de entrar daqui a duas semanas para empurrar de um andaime um pedreiro distraído que não reparará onde vai pôr o pé." (p. 183)

----------

OS ENVELOPES DAS CARTAS DA MORTE NÃO LEVAM CUSPE NA COLA

"Escreveu, escreveu, passaram as horas e ela a escrever, e eram as cartas, e eram os sobrescritos, e era dobrá-las, e era fechá-los, perguntar-se-á como o conseguia se não tem língua nem de onde lhe venha a saliva, isso, meus caros senhores, foi nos felizes tempos do artesanato, quando ainda vivíamos nas cavernas de uma modernidade que mal começava a despontar, agora os sobrescritos são dos chamados autocolantes, retira-se-lhes a tirinha de papel, e já está, dos múltiplos empregos que a língua tinha, pode dizer-se que este passou à história." (p. 179)

----------

Amig@s leitores, seriam necessárias várias postagens para separar as frases e reflexões que me encantaram n'As intermitências da morte. Pode ser que eu registre mais algumas depois aqui no blog.

Fiz essa postagem ouvindo Bach, inclusive a Suíte nº 6, opus 1012, citada no romance de Saramago.

William


Bibliografia:

SARAMAGO, José. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

À la Benjamin Button... (12)



Refeição Cultural

Olhar para trás...


Estamos regredindo no tempo ao olhar para trás em nossos perfis de redes sociais, ao escarafunchar nossos pertences nos armários e guardados. Não rejuvenescemos fisicamente como o personagem Benjamin Button, pelo contrário, envelhecemos rapidamente nestes dias. Mas pelo menos buscamos nos conhecer melhor e quem sabe não encontremos explicações para o momento em que nos encontramos, momento trágico e de destruição de nosso mundo sob o domínio do mal na forma de governo em nosso país bolsonarista e, pra piorar, sob uma pandemia mortal de um dos coronavírus que existem por aí. 

São 205.964 mortos e 8,25 milhões de infectados no Brasil, onde o regime neofascista é contra qualquer medida que salve a vida das pessoas, contra vacina, contra isolamento social, contra uso de máscara, e a favor da morte. 

Segue abaixo, para registro, alguns sentimentos e comentários que fiz em rede social meses atrás.

William

----------------

29/11/20

SEM DESTINO, SEM DETERMINISMO

Instantes (4h50)

Mais um alvorecer em Osasco, São Paulo, no Brasil. A vida é um instante. Um sopro. O presente e o futuro são resultados das ações dos animais humanos, dos eventos da natureza e só. Não há nada determinado. As coisas são consequências das realidades. Algumas coisas e situações podem mudar, outras não. A sabedoria pode identificar quais coisas e situações mudam e quais não; as que mudam precisam de nossas ações e atitudes pra mudar; as que não mudam, precisam de nossas ações e atitudes para lidar com elas. É isso.


25/11/20

MORTE DE MARADONA

Faleceu Diego Maradona aos 60 anos, ídolo do futebol argentino e mundial. Maradona foi um craque dentro de campo. E diferente da maioria dos jogadores de futebol famosos, Maradona sempre demonstrou apoio e esteve ao lado de grandes líderes políticos do campo democrático e popular, e isso é um grande feito em se tratando de um cidadão do mundo das personalidades, na minha opinião.

A existência humana tem dessas coisas: Maradona faleceu no mesmo dia em que faleceu Fidel Castro (25/11/16), liderança histórica do povo cubano e da esquerda mundial. Dia 25 de novembro é uma data importante para o povo cubano porque também foi o dia que os revolucionários cubanos saíram do México (25/11/56) a bordo do pequeno Granma com destino a Cuba, para libertar o povo e o país da ditadura de Batista.

Dia triste esse dia 25 de novembro. Dezenas de trabalhadores perderam a vida num trágico acidente de ônibus em rodovias paulistas. Neste mesmo dia 25, temos pessoas queridas passando por dificuldades por causa da Covid-19, por depressão, por males diversos de saúde, por causa de acidentes, por causas diversas.

Minha solidariedade a todas as pessoas que sofrem e que perderam entes querid@s. O mundo precisa de mais amor, amizade, fraternidade e distribuição de riquezas. Minha torcida pela saúde e recuperação das pessoas queridas que estão num momento difícil.

Meu total apoio às candidaturas do campo democrático e popular para as eleições do próximo domingo 29. A vida humana pode ser melhor para todos e todas porque a inteligência humana permite isso, mas para a vida ser melhor coletivamente precisamos mudar o mundo.


20/11/20

CONSCIÊNCIA NEGRA

Compartilho artigo de Victor Hugo (meu sobrinho) sobre a data em que se lembra a questão da consciência negra. Não compartilho o vídeo do assassinato no dia de ontem 19 de João Alberto Silveira Freitas, em Porto Alegre, dentro do estabelecimento do Carrefour. Não gosto desses tipos de vídeos.

Nelson Mandela, no livro autobiográfico LONGA CAMINHADA ATÉ A LIBERDADE, em certo momento de sua vida de lutas pela igualdade racial na África do Sul, chegou à mesma conclusão que o jovem filósofo Victor Hugo no artigo anexo, ou seja, que quem define as formas de luta são os inimigos (já passou muito a época dos "adversários", isso era quando havia política), não adianta se combater com greves, passeatas, paz e amor, dando o outro lado do rosto etc quando o inimigo está armado e mata sem piedade aqueles que discrimina e quer extinguir ou explorar.

-----------

CONSCIÊNCIA NEGRA -- mas consciência em direção a quê?

Hoje, dia da consciência negra, acordei vendo dois vídeos. O primeiro, de uma homenagem que os trabalhadores de uma loja do Ponto Frio fizeram ao seu gerente no dia 15/11, um dia após ele ter sofrido racismo de dois clientes idosos que acharam um absurdo ter de resolver um problema com um gerente negro. Essa homenagem foi compartilhada num post q vinha com a mensagem central "O amor vencendo o ódio". O segundo vídeo que vi foi esse q compartilho agora. Quase o compartilhei errado, pois no YouTube havia mais vídeos de seguranças de supermercados matando homens negros; e outros de seguranças -- tbm do Carrefour -- matando um cachorro, animal q talvez seja mais socialmente valorizado e desperte mais comoção social que um animal humano negro. Mas enfim... 

São dois vídeos importantes para se refletir sobre a consciência negra.

O primeiro vídeo representa uma anticonsciência negra. Não q a atitude dos trabalhadores da loja para com seu gerente não tenha sido linda. Mas isso do ponto de vista exclusivamente individual, tanto individualmente para o gerente homenageado quanto individualmente para akeles q promoveram a homenagem. Como pessoas, ambos saíram melhores fazendo e recebendo tal homenagem. Mas do ponto de vista da constituição de uma consciência negra, i.e., de uma consciência coletiva que ultrapasse o nível da simples individualidade, esse fato é EXTREMAMENTE DANOSO E DESPOLITIZANTE. Isso porque incute nas consciências a falsa ideia de que podemos, concretamente, "vencer o ódio com o amor", com belas homenagens no dia seguinte e cartazes com frases de consolação. Isso me remete à querela de Kwame Ture com Martin Luther King, a qual convém citar ipsis litteris:

“A política do Dr. [Martin Luther] King era a de que, se você for não-violento e sofrer, seu oponente verá seu sofrimento e será estimulado a mudar a posição dele. Está ótimo, mas ele só partiu de um pressuposto falacioso: para que a não-violência funcione, seu oponente precisa ter uma consciência. E os Estados Unidos não têm nenhuma.”

Isso se aplica inteiramente à sociedade brasileira, que mata negros tão indiscriminadamente quanto os EUA: contra o racismo concreto, que mata concretamente pessoas negras todos os dias, não adianta recorrer a abstrações. E a mais insidiosa dessas abstrações, que impede a constituição de uma efetiva consciência negra, é a de que "venceremos o ódio com o amor"; ou, noutras palavras, que venceremos a violência historicamente naturalizada contra os negros com a não-violência, com homenagens emocionantes, datas comemorativas e outras inutilidades do tipo... Essas práticas supõem, como dizia Ture, uma premissa falaciosa: a de que, no fundo, podemos contar com a consciência dos policiais, dos seguranças, dos juízes, dos políticos da direita e de seus patrões, i.e., da burguesia nacional, como se eles pudessem se sentir magicamente tocados pelas nossas formas não-violentas de protesto e abraçarem, como que por encanto, a luta antirracista. Ledo engano...

O grosso dessa gente -- admitamos -- se condói mais pelo sofrimento de um cachorro que de uma pessoa negra e não consegue ver o assassinato gratuito de um negro sem um alto grau de naturalidade. Aliás, é dessas pessoas que partem ABSOLUTAMENTE TODAS as formas de racismo que encontramos na sociedade brasileira. Se você duvida, faça o teste: pense em algum caso de racismo que você conheça e veja se ele não pode ser reconduzido à ação ou à conivência direta de um membro daqueles estratos sociais. E é, precisamente, essa gente que detém o poder social efetivo, já que neles se concentram o poder físico, econômico e político. Assim, esperar que formas não-violentas de oposição funcionem numa sociedade dominada, de jure et de facto, por essas pessoas é confiar na consciência daqueles que não têm nenhuma consciência e que, na prática, são os maiores perpetradores da violência racista existente no Brasil.

Por isso, só faz sentido falar em consciência negra neste dia 20/11, se estivermos dispostos a tematizar, sem moralismos, a dificílima questão da necessidade política da violência na luta contra o racismo. Nada contra as belas homenagens, mas é preciso ter a CONSCIÊNCIA NEGRA de que a violência naturalizada contra a população negra só acabará no dia que ela for respondida não com homenagens, mas com uma violência proporcional. E isso não é um fetiche pela violência, mas uma necessidade imposta pela própria realidade de uma sociedade que mata negros indiscriminadamente todos os dias. Talvez, o símbolo mais eloquente deste uso necessário da violência esteja na figura da pantera, utilizada pelos Black Panthers: a pantera não ataca, mas reage violentamente quando atacada. E esse foi, essencialmente, o espírito dos Black Panthers: "jamais pegaremos em armas para te matar, mas estaremos armados e prontos para fazê-lo, caso você queira nos atacar simplesmente pela cor da nossa pele!".

Isso é consciência negra!

- "Quer nos matar pela cor de nossa pele? Ok, então prepare-se para morrer";

- "Seu estabelecimento foi palco da humilhação gratuita de um negro por racismo puro e simples? Ok, então prepare-se para tê-lo inteiramente incendiado no dia seguinte";

Numa sociedade em que negros são submetidos à violência real todos os dias pela simples cor da sua pele, qualquer celebração do dia 20/11 que não tematize abertamente a necessidade da violência na luta antirracista como uma questão -- LITERALMENTE -- de vida ou morte para a população negra deve ser rechaçada como uma celebração impostora, que promove não a consciência, mas uma anticonsciência negra. (Victor Hugo)


06/05/20

SER ACABATIVO NAS LEITURAS

Instantes de leituras

Preciso ler mais, ter mais persistência e resistência para as leituras. Está tudo muito esquisito na vida. As perspectivas se alteraram drasticamente após o golpe de Estado, a ascensão do mal, e a pandemia do vírus Covid-19. Preciso ser mais acabativo nas leituras. A sensação é de incertezas pro amanhã. Vou acabar de vez cada um dos montes de livros que inicio e não termino. Esse que tentei acabar as 100 páginas nesta terça-feira, acabo amanhã: As Sandálias do Pescador, Morris West. (Cada dia é mais um e pode ser o último)


05/05/20

SETOR DE SAÚDE PRIVADA É UM AMBIENTE MERCENÁRIO

Tive a oportunidade de conhecer por dentro essa "indústria" que fecha leitos de maternidade para ampliar os leitos para câncer porque dão mais lucro, entre outras dessas que nos dão ânsia de vômito.

Por essas e outras sempre afirmei que o "mercado" não deveria ser referência para a Cassi dos trabalhadores do BB.

Mas parece que prevaleceu a tese liberal de a Cassi ser igual ao mercado... é uma pena, mas é uma escolha de seus associados. NÃO há inocência nisso, nem santinhos. Só gente esperta nessa comunidade. Seguimos vivos...

(O comentário era a respeito de uma matéria que informava que os planos de saúde privados recusaram ajuda de 15 bilhões do governo para que atendessem aos inadimplentes durante a pandemia de Covid-19. Os planos entenderam que era melhor recusar atendimento a inadimplentes do que atender às vítimas do vírus e só 9 empresas de 695 aderiram ao acordo.)


---------------

Fim do olhar para trás, por enquanto.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Sair do país ou ir para a "ponta da praia"?



Opinião:

Só não vê quem não quer ou prefere fazer de conta que não vê, ou ainda faz de conta que não é consigo (os tais isentões). Estamos caminhando para um regime totalitário e ditatorial, violento, fanático e irracional, de persecução, mortes e desaparecimentos como normalidade cotidiana. E o líder desse regime está dizendo que vai fazer isso desde o início e não está sendo impedido por ninguém nem por instituição ou força social alguma.

Ao ver todas as etapas já cumpridas da construção desse regime de terror no Brasil a gente alterna momentos ora de desespero, de sentimento de impotência, de adoecimento físico e mental (e por que não dizer de medo?), e ora momentos com vontade de lutar, de chamar a parte contrária a esse regime neofascista para se unir, reagir e derrubar essa legião do mal que se apossou de nossa terra, de nossas instituições, de nossas vidas.

Os responsáveis diretos por toda a tragédia brasileira estão felizes, estão cada dia mais ricos e poderosos, não querem mudar os rumos do processo neofascista em andamento. A destruição do Brasil e o genocídio do povo é consequência do golpe de Estado de 2016, planejado e executado pela elite escravagista, racista, corrupta e inculta que existe neste país desde a colonização para fins exclusivos de exploração e não de construção de uma nação. 

Deu certo o projeto de manipulação do povo através da comunicação de guerra dos barões da mídia golpista para interromper os governos do Partido dos Trabalhadores (Lula e Dilma 2003-2015), um dos melhores momentos econômicos, políticos e sociais já vividos pelo povo brasileiro. O que veio no lugar do crescimento do país, do respeito do Brasil no cenário mundial e do momento de maior felicidade do povo sob os governos do PT foi a desgraça que aí está, foi o mal e a banalidade do mal como poder estatal.

Nunca foi tão real aquela história, se não me engano da mitologia grega, que a gente ouve desde pequeno que não se deveria abrir uma tal "Caixa de Pandora" porque nela estariam todos os males do mundo e ao abrir aquela coisa mitológica não se conseguiria voltar atrás e capturar os males de volta. Ou seja, que seria difícil voltar atrás depois de se fazer uma merda dessas de se liberar todos os demônios, monstros e maldades para barbarizarem o nosso mundo! 

Os golpistas da elite desgraçada deste país - elite lesa-pátria e que nunca foi patriota e nacionalista - não tinham mais projetos e estratégias que os levassem ao poder pelo voto popular. Os tucanos e seus manipuladores eternos (empresários da mídia concentrada do país) já não enganavam mais ninguém em nível nacional (só os bolsões tucanistões como SP). 

O PT já havia vencido 4 eleições presidenciais seguidas e com a chance de Lula se candidatar após Dilma e fazer mais 8 anos de mandato. Com esse cenário, só um novo golpe da casa-grande brasileira poderia levar a elite do atraso de volta ao poder. E foi isso que fizeram os desgraçados, através de figuras abjetas como o mineirinho, o rei dos sociólogos, aquele vice vampiro, aquele juiz canalha e seus procuradores de merda e toda a lista de corruptos de colarinho branco que conhecemos.

É foda! Toda vez que quero falar sobre a nossa realidade, acabo me alongando e descrevendo minimamente o histórico que entendo ser responsável pela situação que vivemos. Mas a questão colocada agora é sobre o hoje e o amanhã. E é um treco muito sério!

O celerado que chegou ao poder depois disso que descrevi acima é um perigo real e imediato para a vida do povo brasileiro e para a continuidade do país que sonhamos em construir. E nada parece conter o projeto de terror que ele afirma há anos que vai implementar em nosso país. Ditadores como Franco e Salazar ficaram dezenas de anos no poder porque dominaram as estruturas do Estado como esse sujeito está fazendo.

Se essa trupe golpista que descrevi acima quisesse já teria impedido que esse regime do mal continuasse. Mas os que planejaram e executaram o golpe que causou a destruição do Brasil e a miséria e morte de seu povo são os que estão sendo favorecidos e não vão fazer nada para barrar o mal em andamento.

Das dezenas de ameaças e propostas do neofascista no poder, várias delas estão gravadas, escritas, publicadas, e seguem sendo repetidas ad nauseam e pautam as 24 horas diárias de todos nós no país. 

PONTA DA PRAIA - E uma das ameaças a opositores é a que ele afirma que se chegasse ao poder, que as pessoas que não estivessem com ele deveriam ou sair do país ou poderiam ir parar na "ponta da praia". Já no poder, ele repetiu no início de nov/2019, em uma live, a ameaça da "ponta da praia" ao se referir a servidores públicos que "atrapalham o progresso". Matéria do jornal O Globo do dia 01/11/19 explica que "ponta da praia" era uma gíria da ditadura militar para um local de execução de presos políticos no Rio de Janeiro.

Cara, somos milhões de pessoas que não pactuam com esse mal e essa desgraça criminosa que tomou conta do país. Pergunto: nossas opções de futuro são essas que o sujeito no poder nos ameaça neste regime do mal?

Difícil! A grande maioria de nós não gostaria de abandonar ou desistir de nosso país ou não teria condições de simplesmente ir embora daqui. Muito menos gostaria de ir parar na "ponta da praia".

William


sábado, 9 de janeiro de 2021

Ainda as veias abertas...



Refeição Cultural

"No asistimos en estas tierras a la infancia salvaje del capitalismo, sino a su cruenta decrepitud. El subdesarrollo no es una etapa del desarrollo. Es su consecuencia. El subdesarrollo de América Latina proviene del desarrollo ajeno y continúa alimentándolo." (GALEANO, 2014, p. 363)


Sábado, 9 de janeiro do ano 02 do Covid-19. Osasco, cidade da região metropolitana da grande São Paulo. Brasil, o país transformado em pária do mundo após o suicídio coletivo cometido pelo povo ao colocar no poder um fascista genocida envolvido com milicianos. O único lugar do planeta no qual o governo tem como estratégia de manutenção do poder estimular o avanço da pandemia mundial do novo coronavírus que já matou 1.924.004 pessoas, tendo contaminado até agora 89.516.439 vítimas (dados da Johns Hopkins University).

Meses atrás, terminei a leitura do clássico do escritor Eduardo Galeano, As veias abertas da América Latina, publicado pelo pensador em 1970. Hoje li um anexo ao livro escrito por ele em 1978, "Siete años después". Os acréscimos feitos por Galeano na forma de itens enumerados nos contam, dentre outras coisas, dos golpes de Estado no Chile, na Argentina, no Uruguai, todos eles organizados pelos Estados Unidos da América. Mais ditadores passaram a somar crimes contra os países latino-americanos e seus povos, como já ocorria com o Brasil dos ditadores desde 1964 e diversos outros em Nuestra América.

A leitura do livro de Galeano se deu num dos momentos mais trágicos da história do povo brasileiro. Li a primeira metade de As veias abertas durante o processo de golpe de Estado no Brasil em 2016. A outra metade li em 2020, já com o Brasil sendo desfeito pelo criminoso colocado no poder por fraudes diversas e com o patrocínio da burguesia mais abjeta e lesa-pátria do planeta, a brasileira.

Séculos se passam e os povos latino-americanos não conseguem se libertar da exploração e destruição causadas pelos países imperialistas. Décadas se passam desde que Galeano nos mostrou As veias abertas da América Latina e a gente continua sem conseguir se libertar tanto da elite canalha e vil dos países de Nuestra América quanto do jugo dos países do Norte. 

Cinquenta anos se passaram de minha vida, e neste curto tempo de uma vida humana, vi e vivi a miséria e a violência contra o povo durante a ditadura nos anos 70 e 80, a miséria e a violência da destruição econômica e antinacional do neoliberalismo dos anos 90, disfarçada sob a forma de democracia liberal burguesa e tive um gostinho de viver os anos Lula e Dilma (PT), governos cuja prioridade era o povo trabalhador, incluído no orçamento do Estado, com mais oportunidades para todos os povos excluídos por séculos. Depois tudo voltou ao que era antes: novos golpes de Estado patrocinados pelos EUA, golpes no Brasil e outros países, entrega de patrimônio nacional, povo na miséria sem direito a nada etc.

Como vamos mudar essa história de exploração e expropriação dos povos latino-americanos? 

Uma coisa é certa: 1% dos humanos detém praticamente todos os meios de produção através da ideologia e da força. Os outros 99% chafurdam na lama e disputam entre si os restos dos meios na tentativa de sobreviver, e vivem adormecidos e não têm consciência da realidade. Se tivessem e se organizassem eliminavam o 1% capitalista e mudavam a história dos humanos e da vida na Terra, que caminha para o fim sob a destruição irracional do modo de produção capitalista.

Como vamos interromper esse processo rumo ao fim da humanidade e dos seres vivos? O que eu posso fazer neste momento? O que podemos fazer, pergunto a vocês que leem minhas postagens?

William


Post Scriptum:

É tão revoltante e humilhante a impotência que sentimos ao ver as injustiças cotidianas no Brasil. Mortes e mais mortes, miséria e mais miséria e tudo responsabilidade do regime fascista no poder... 202.631 pessoas mortas pelo Covid-19 e 8.075.998 infectadas com risco de morte ou com sequelas causadas pelo vírus. E o genocida no poder com apoio da elite vil e canalha atuando para que não haja vacina, para que as pessoas não usem máscara e não respeitem as orientações de saúde dos órgãos científicos. 


Bibliografia:

GALEANO, Eduardo. Las venas abiertas de América Latina. 1ª ed. 14ª reimpr. Buenos Aires: Siglo Veintiuno editores, 2014.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

14. Las armas secretas - Julio Cortázar



Refeição Cultural - Cem clássicos

Completei a leitura do primeiro de meus livros do escritor argentino Julio Cortázar, Las armas secretas (1959). Algumas narrativas do livro são consideradas verdadeiros clássicos do autor e da literatura hispano-americana do século XX como os contos "Las babas del diablo" e "El perseguidor".

Neste livro temos reunidos os contos: "Cartas de mamá", "Los buenos servicios", "Las babas del diablo", "El perseguidor" e "Las armas secretas". Todos muito bons!

Cortázar é um autor de leitura exigente, pelo menos na minha opinião. O escritor nos coloca a pensar durante a leitura de seus textos. Ele é um dos principais autores do Boom latino-americano dos anos sessenta e setenta.

Ao ouvir um trecho de uma entrevista com Cortázar fiquei encantado com ele. Ao falar sobre o período (Boom), os autores e as obras da época, ele diz ser mentira a tese de que as editoras que teriam sido responsáveis por darem a linha editorial para os contos e romances do Boom

Cortázar explica que o que contribuiu para os argumentos e enredos das narrativas latino-americanas nos anos sessenta foram as consequências da exploração imperialista aos países e povos da região. Alguns bons autores passaram a ser lidos e editados por grandes editores após o público reconhecer suas obras. E não o inverso.

Ele Cortázar disse que produziu suas narrativas na solidão e na miséria e só depois do público leitor reconhecer seu valor foi que as editoras passaram a recepcioná-lo como grande escritor. 

Minha estreia na leitura de Cortázar foi no início do curso de Letras, quando fiz uma disciplina das mais interessantes: vimos como autores latino-americanos abordavam a questão da morte e as diversas crenças no pós morte em seus textos literários. Dele, lemos "Cartas de mamá", o primeiro conto deste livro.

O conto "Las babas del diablo" foi inspiração para o filme Blow-up (1966), do diretor Michelangelo Antonione. O final da estória é aberto e nos coloca a refletir sobre a narrativa. Os textos de Cortázar trabalham muito com o estranho, com situações que sejam incomuns, que chamem a atenção ou que de alguma forma incomodem o leitor. Este conto não é diferente.

O conto "O perseguidor" é muito bom. Traz como pano de fundo o mundo do jazz e o personagem principal, Johnny Carter, é inspirado em Charlie Parker (1920-1955). Bird, como era conhecido, foi um fenômeno incompreendido em seu tempo, que buscou (ou perseguiu) quase o impossível através de suas improvisações musicais.

O último conto do livro, "Las armas secretas" é bem difícil. Li duas vezes, uma após a outra, para compreender melhor a narrativa. Novamente, a estória trabalha com o estranho. 

Enfim, mais um clássico da literatura mundial.

William