Refeição Cultural
Olhar para trás...
Estamos regredindo no tempo ao olhar para trás em nossos perfis de redes sociais, ao escarafunchar nossos pertences nos armários e guardados. Não rejuvenescemos fisicamente como o personagem Benjamin Button, pelo contrário, envelhecemos rapidamente nestes dias. Mas pelo menos buscamos nos conhecer melhor e quem sabe não encontremos explicações para o momento em que nos encontramos, momento trágico e de destruição de nosso mundo sob o domínio do mal na forma de governo em nosso país bolsonarista e, pra piorar, sob uma pandemia mortal de um dos coronavírus que existem por aí.
São 205.964 mortos e 8,25 milhões de infectados no Brasil, onde o regime neofascista é contra qualquer medida que salve a vida das pessoas, contra vacina, contra isolamento social, contra uso de máscara, e a favor da morte.
Segue abaixo, para registro, alguns sentimentos e comentários que fiz em rede social meses atrás.
William
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29/11/20
SEM DESTINO, SEM DETERMINISMO
Instantes (4h50)
Mais um alvorecer em Osasco, São Paulo, no Brasil. A vida é um instante. Um sopro. O presente e o futuro são resultados das ações dos animais humanos, dos eventos da natureza e só. Não há nada determinado. As coisas são consequências das realidades. Algumas coisas e situações podem mudar, outras não. A sabedoria pode identificar quais coisas e situações mudam e quais não; as que mudam precisam de nossas ações e atitudes pra mudar; as que não mudam, precisam de nossas ações e atitudes para lidar com elas. É isso.
25/11/20
MORTE DE MARADONA
Faleceu Diego Maradona aos 60 anos, ídolo do futebol argentino e mundial. Maradona foi um craque dentro de campo. E diferente da maioria dos jogadores de futebol famosos, Maradona sempre demonstrou apoio e esteve ao lado de grandes líderes políticos do campo democrático e popular, e isso é um grande feito em se tratando de um cidadão do mundo das personalidades, na minha opinião.
A existência humana tem dessas coisas: Maradona faleceu no mesmo dia em que faleceu Fidel Castro (25/11/16), liderança histórica do povo cubano e da esquerda mundial. Dia 25 de novembro é uma data importante para o povo cubano porque também foi o dia que os revolucionários cubanos saíram do México (25/11/56) a bordo do pequeno Granma com destino a Cuba, para libertar o povo e o país da ditadura de Batista.
Dia triste esse dia 25 de novembro. Dezenas de trabalhadores perderam a vida num trágico acidente de ônibus em rodovias paulistas. Neste mesmo dia 25, temos pessoas queridas passando por dificuldades por causa da Covid-19, por depressão, por males diversos de saúde, por causa de acidentes, por causas diversas.
Minha solidariedade a todas as pessoas que sofrem e que perderam entes querid@s. O mundo precisa de mais amor, amizade, fraternidade e distribuição de riquezas. Minha torcida pela saúde e recuperação das pessoas queridas que estão num momento difícil.
Meu total apoio às candidaturas do campo democrático e popular para as eleições do próximo domingo 29. A vida humana pode ser melhor para todos e todas porque a inteligência humana permite isso, mas para a vida ser melhor coletivamente precisamos mudar o mundo.
20/11/20
CONSCIÊNCIA NEGRA
Compartilho artigo de Victor Hugo (meu sobrinho) sobre a data em que se lembra a questão da consciência negra. Não compartilho o vídeo do assassinato no dia de ontem 19 de João Alberto Silveira Freitas, em Porto Alegre, dentro do estabelecimento do Carrefour. Não gosto desses tipos de vídeos.
Nelson Mandela, no livro autobiográfico LONGA CAMINHADA ATÉ A LIBERDADE, em certo momento de sua vida de lutas pela igualdade racial na África do Sul, chegou à mesma conclusão que o jovem filósofo Victor Hugo no artigo anexo, ou seja, que quem define as formas de luta são os inimigos (já passou muito a época dos "adversários", isso era quando havia política), não adianta se combater com greves, passeatas, paz e amor, dando o outro lado do rosto etc quando o inimigo está armado e mata sem piedade aqueles que discrimina e quer extinguir ou explorar.
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CONSCIÊNCIA NEGRA -- mas consciência em direção a quê?
Hoje, dia da consciência negra, acordei vendo dois vídeos. O primeiro, de uma homenagem que os trabalhadores de uma loja do Ponto Frio fizeram ao seu gerente no dia 15/11, um dia após ele ter sofrido racismo de dois clientes idosos que acharam um absurdo ter de resolver um problema com um gerente negro. Essa homenagem foi compartilhada num post q vinha com a mensagem central "O amor vencendo o ódio". O segundo vídeo que vi foi esse q compartilho agora. Quase o compartilhei errado, pois no YouTube havia mais vídeos de seguranças de supermercados matando homens negros; e outros de seguranças -- tbm do Carrefour -- matando um cachorro, animal q talvez seja mais socialmente valorizado e desperte mais comoção social que um animal humano negro. Mas enfim...
São dois vídeos importantes para se refletir sobre a consciência negra.
O primeiro vídeo representa uma anticonsciência negra. Não q a atitude dos trabalhadores da loja para com seu gerente não tenha sido linda. Mas isso do ponto de vista exclusivamente individual, tanto individualmente para o gerente homenageado quanto individualmente para akeles q promoveram a homenagem. Como pessoas, ambos saíram melhores fazendo e recebendo tal homenagem. Mas do ponto de vista da constituição de uma consciência negra, i.e., de uma consciência coletiva que ultrapasse o nível da simples individualidade, esse fato é EXTREMAMENTE DANOSO E DESPOLITIZANTE. Isso porque incute nas consciências a falsa ideia de que podemos, concretamente, "vencer o ódio com o amor", com belas homenagens no dia seguinte e cartazes com frases de consolação. Isso me remete à querela de Kwame Ture com Martin Luther King, a qual convém citar ipsis litteris:
“A política do Dr. [Martin Luther] King era a de que, se você for não-violento e sofrer, seu oponente verá seu sofrimento e será estimulado a mudar a posição dele. Está ótimo, mas ele só partiu de um pressuposto falacioso: para que a não-violência funcione, seu oponente precisa ter uma consciência. E os Estados Unidos não têm nenhuma.”
Isso se aplica inteiramente à sociedade brasileira, que mata negros tão indiscriminadamente quanto os EUA: contra o racismo concreto, que mata concretamente pessoas negras todos os dias, não adianta recorrer a abstrações. E a mais insidiosa dessas abstrações, que impede a constituição de uma efetiva consciência negra, é a de que "venceremos o ódio com o amor"; ou, noutras palavras, que venceremos a violência historicamente naturalizada contra os negros com a não-violência, com homenagens emocionantes, datas comemorativas e outras inutilidades do tipo... Essas práticas supõem, como dizia Ture, uma premissa falaciosa: a de que, no fundo, podemos contar com a consciência dos policiais, dos seguranças, dos juízes, dos políticos da direita e de seus patrões, i.e., da burguesia nacional, como se eles pudessem se sentir magicamente tocados pelas nossas formas não-violentas de protesto e abraçarem, como que por encanto, a luta antirracista. Ledo engano...
O grosso dessa gente -- admitamos -- se condói mais pelo sofrimento de um cachorro que de uma pessoa negra e não consegue ver o assassinato gratuito de um negro sem um alto grau de naturalidade. Aliás, é dessas pessoas que partem ABSOLUTAMENTE TODAS as formas de racismo que encontramos na sociedade brasileira. Se você duvida, faça o teste: pense em algum caso de racismo que você conheça e veja se ele não pode ser reconduzido à ação ou à conivência direta de um membro daqueles estratos sociais. E é, precisamente, essa gente que detém o poder social efetivo, já que neles se concentram o poder físico, econômico e político. Assim, esperar que formas não-violentas de oposição funcionem numa sociedade dominada, de jure et de facto, por essas pessoas é confiar na consciência daqueles que não têm nenhuma consciência e que, na prática, são os maiores perpetradores da violência racista existente no Brasil.
Por isso, só faz sentido falar em consciência negra neste dia 20/11, se estivermos dispostos a tematizar, sem moralismos, a dificílima questão da necessidade política da violência na luta contra o racismo. Nada contra as belas homenagens, mas é preciso ter a CONSCIÊNCIA NEGRA de que a violência naturalizada contra a população negra só acabará no dia que ela for respondida não com homenagens, mas com uma violência proporcional. E isso não é um fetiche pela violência, mas uma necessidade imposta pela própria realidade de uma sociedade que mata negros indiscriminadamente todos os dias. Talvez, o símbolo mais eloquente deste uso necessário da violência esteja na figura da pantera, utilizada pelos Black Panthers: a pantera não ataca, mas reage violentamente quando atacada. E esse foi, essencialmente, o espírito dos Black Panthers: "jamais pegaremos em armas para te matar, mas estaremos armados e prontos para fazê-lo, caso você queira nos atacar simplesmente pela cor da nossa pele!".
Isso é consciência negra!
- "Quer nos matar pela cor de nossa pele? Ok, então prepare-se para morrer";
- "Seu estabelecimento foi palco da humilhação gratuita de um negro por racismo puro e simples? Ok, então prepare-se para tê-lo inteiramente incendiado no dia seguinte";
Numa sociedade em que negros são submetidos à violência real todos os dias pela simples cor da sua pele, qualquer celebração do dia 20/11 que não tematize abertamente a necessidade da violência na luta antirracista como uma questão -- LITERALMENTE -- de vida ou morte para a população negra deve ser rechaçada como uma celebração impostora, que promove não a consciência, mas uma anticonsciência negra. (Victor Hugo)
06/05/20
SER ACABATIVO NAS LEITURAS
Instantes de leituras
Preciso ler mais, ter mais persistência e resistência para as leituras. Está tudo muito esquisito na vida. As perspectivas se alteraram drasticamente após o golpe de Estado, a ascensão do mal, e a pandemia do vírus Covid-19. Preciso ser mais acabativo nas leituras. A sensação é de incertezas pro amanhã. Vou acabar de vez cada um dos montes de livros que inicio e não termino. Esse que tentei acabar as 100 páginas nesta terça-feira, acabo amanhã: As Sandálias do Pescador, Morris West. (Cada dia é mais um e pode ser o último)
05/05/20
SETOR DE SAÚDE PRIVADA É UM AMBIENTE MERCENÁRIO
Tive a oportunidade de conhecer por dentro essa "indústria" que fecha leitos de maternidade para ampliar os leitos para câncer porque dão mais lucro, entre outras dessas que nos dão ânsia de vômito.
Por essas e outras sempre afirmei que o "mercado" não deveria ser referência para a Cassi dos trabalhadores do BB.
Mas parece que prevaleceu a tese liberal de a Cassi ser igual ao mercado... é uma pena, mas é uma escolha de seus associados. NÃO há inocência nisso, nem santinhos. Só gente esperta nessa comunidade. Seguimos vivos...
(O comentário era a respeito de uma matéria que informava que os planos de saúde privados recusaram ajuda de 15 bilhões do governo para que atendessem aos inadimplentes durante a pandemia de Covid-19. Os planos entenderam que era melhor recusar atendimento a inadimplentes do que atender às vítimas do vírus e só 9 empresas de 695 aderiram ao acordo.)
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Fim do olhar para trás, por enquanto.