sábado, 19 de julho de 2014

Vivendo os dias que correm... e uma reflexão sobre idosos!





Refeição Cultural

Tirei a semana que passou para ficar com a família. Era para ser uma semana de descanso tradicional, daquelas a qual chamamos de "férias". Eu devo confessar que apesar de não estar fisicamente na Caixa de Assistência dos Funcionários do BB - Cassi, onde sou diretor eleito de saúde, passei a semana toda administrando questões importantes da nova gestão, na qual estamos inseridos. Mas tive a compreensão de minha esposa e isso foi importante.

Nós fomos para um lugar que adoramos porque é perto de SP e é bastante simples e confortável. Estivemos na Colônia de Férias do Sinpro SP na Praia Grande. Pude levar meus sobrinhos de Uberlândia (MG) conosco e proporcionar a eles uma semana agradável com o primo deles e na praia. Foi muito legal e até o tempo ajudou, pois apesar do inverno fez sol todos os dias.

Em um dos dias, subi para São Paulo para participar de um debate no movimento sindical. Nos outros, apesar de ficar resolvendo questões do trabalho, pude ficar com a família, fomos andar na praia, almoçamos e jantamos juntos por uma semana. Não tenho o que reclamar, como disse.


Filhão, Victor Hugo, Noni e Stefani.

Em breve, farei minha romaria anual

Aproveitei para correr quase todos os dias. Tenho menos de um mês para voltar um pouco à forma física porque no mês de agosto farei a minha romaria anual de 75 km lá em Minas Gerais. É um momento importante pra mim, de introspecção e de testes de autocontrole e resistência física, mental e para as dificuldades. A caminhada é sempre muito dolorosa, mas após a chegada estamos prontos para mais um ano de luta pelo que acreditamos. Vou fazer uma boa caminhada neste ano, acredito nisto.


Leitura agora precisa ser mais focada

Em relação ao meu desejo de leitura na área da literatura, mais uma vez eu me convenci de que devo me conformar em não ler literatura e cultura nos próximos anos. Todas as vezes que tentei ler contos ou textos de cultura, me peguei com remorso porque tenho que estudar temas da área onde estou militando agora. Não dá mais e eu estou me adaptando a isso para não sofrer sem necessidade. É a vida!


Reflexão sobre os idosos e o movimento de esquerda

Que mais refleti nessa semana de refeição cultural?

Durante algumas corridas na praia, uma coisa me veio à cabeça. Lá no litoral paulista, na Praia Grande ao menos, não é um lugar de badalação de jovens. Tem muitos idosos.

Fiquei pensando na questão política que vigora atualmente. Existe uma construção da direita liberal de influenciar fortemente os idosos contra os sindicatos e contra os partidos de esquerda. É algo extremamente lesivo. O pior é que tem dado certo.

A separação política entre os idosos e o movimento sindical é ruim para os dois lados. É preciso que ambos vejam isso e se aproximem e se unifiquem contra o verdadeiro inimigo: os capitalistas e liberais de direita. 

Os idosos e o movimento sindical têm algo em comum: a necessidade de atuar no campo da solidariedade. O capitalismo não é solidário. O sistema busca conquistar os jovens para pensar neles mesmos e que se dane o resto. É a lógica do individualismo. Se os idosos e suas entidades de classe passarem a defender essa ideia de pensar só neles mesmos, eles afastarão os jovens de si e estarão ferrados no futuro.

Recentemente, a questão do ódio contra o movimento sindical e a esquerda foi utilizado na campanha das eleições da Previ e da Funcef. Além de outros fatores comuns nas eleições, este foi um dos que levaram à derrota das chapas vinculadas às entidades dos trabalhadores.

Novamente, acho preocupante os idosos se oporem aos movimentos sociais organizados, principalmente o sindical.

Ao longo da história do mundo capitalista, todas as vezes que há fortes crises do capital, os primeiros a se ferrarem e terem seus direitos cortados são os trabalhadores e os idosos porque os liberais capitalistas os consideram estorvos ao sistema porque eles não estão mais vendendo sua força de trabalho a preço baixo para alimentarem a máquina da mais valia do capitalismo. Pelo contrário, dizem que eles dão gastos para o Estado com os benefícios sociais dantes conquistados.

Na década de noventa, os governos liberais nas Américas destruíram os sistemas previdenciários nacionais. Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ficou famoso por chamar os aposentados de vagabundos. Eles ficaram todo aquele período sem reajustes sequer da inflação em suas aposentadorias. Agora no pós crise de 2008 os estados europeus estão atacando e reduzindo os direitos dos aposentados na Europa.

Mesmo assim, a direita brasileira tem conseguido convencer grande segmento de aposentados e idosos de que o Partido dos Trabalhadores e os sindicatos são ruins para eles. E olha que durante os 12 anos de governos do PT eles voltaram a ter reajustes nas aposentadorias e houve inclusive ganho real para milhões de aposentados que ganham o salário mínimo. Que triste ver esse segmento se voltando contra as esquerdas...

O prejuízo para eles será imenso ali na frente. Também o é para as entidades sindicais e dos partidos de esquerda que precisam do apoio e do voto dos idosos e aposentados.

É preciso alertar nossos queridos idosos para não caírem no conto do vigário das TVs, jornais, rádios e revistas de direita, dos capitalistas, que querem mais é que os idosos não estorvem o pagamento de juros da dívida pública (o famoso rentismo de 5% da elite que suga o Estado).

É essa minha reflexão cultural da semana para os poucos e nobres que me leem. Abraços

William Mendes

domingo, 6 de julho de 2014

A gravidade da tolerância às iniquidades



Em reunião com participantes da 
Caixa de Assistência (Cassi).
Foto: Guina, em 11.6.14.

Refeição Cultural



Iniquidade - É o ato de transgredir a lei ou os bons costumes, ato de mau caratismo, sacanagem, ação que desagrade alguém ou a muitas pessoas, ato malvado, transgressão às leis. A iniquidade vem sempre associada ao cinismo, ou seja, é a prática do mau ato sem que a pessoa que o comete assuma ou reconheça aquela ação como ato errado ou cruel. Iniquidade é o reconhecimento de normalidade em uma ação que é descabida e agressiva. (Fonte: dicionário informal - Franzé Lage)


Minha reflexão deste fim de semana é sobre a questão da permissividade às iniquidades diárias, do papel social de cada pessoa em processos que envolvem questões de intolerância, ódio, discriminação, falta de democracia e iniquidades várias.

Nesta semana fiz uma boa conversa com uma companheira dirigente sindical da base de São Paulo sobre a importância do papel do representante dos trabalhadores, do militante social, de não pactuar e não ser tolerante com os vícios e pequenos desvios diários no seio de qualquer espaço social, inclusive do próprio movimento.

A famosa assertiva da prática como critério da verdade deve ser perseguida diuturnamente por um militante de esquerda, sob risco de sua representação ser uma verdadeira fraude se ele pactuar com as iniquidades ou fazer de conta que não é com ele as coisas erradas e injustas que fazem com as pessoas ao redor dele.

Os textos que descrevem o papel dos estudiosos e intelectuais também falam muito sobre essa temática - gosto muito de Edward Said, por exemplo. 

À medida que a pessoa vai tomando consciência do que é certo e do que é errado, maior será a sua responsabilidade de tomar posição e não se esconder atrás de "neutralidades", "imparcialidades" ou dizer que ele ou o grupo dele não vai tomar "partido" em uma polêmica ou situação porque o lado de maior poder, o grandão, é quem está praticando a iniquidade etc.

Peguemos o exemplo da escravidão, prática social formal e "legal" que prevaleceu por séculos nas sociedades humanas. Poderíamos aceitar um militante dos direitos humanos, um dirigente de entidade da classe trabalhadora, um intelectual no sentido verdadeiro da palavra, concordar com a escravidão como algo correto, aceitável e que já que fazia parte da cultura ou do sistema era melhor deixar quieto e não tomar partido das vítimas - as pessoas privadas do direito à liberdade e tidas como gado e propriedade?




Assisti novamente ao filme Amistad (1997) nesta madrugada e fiquei pensando muito sobre a questão da posição das pessoas nos contextos sociais que preferem não tomar partido algum para não terem problemas e ficarem ali nas suas vidinhas cotidianas.

O filme é baseado em um fato real ocorrido entre 1839 e 1842 nos Estados Unidos da América. Um grupo de africanos de Serra Leoa é sequestrado, traficado como escravos e conseguem tomar o navio Amistad sob a liderança de um homem comum em seu país, pai de família, Sengbe Pieh (nominado Cinqué pelos traficantes de humanos). Eles acabam recapturados pela marinha americana e daí começa o julgamento com vários envolvidos reivindicando a posse do grupo, reivindicando a condenação do grupo por assassinar seus algozes no navio e para decidir o que fazer com aquelas pessoas (tratadas como mercadorias).

Após eles conseguirem vencer duas etapas jurídicas, o caso vira um problema político nacional porque os EUA aceitam a escravidão como sistema social necessário para a economia do país. A decisão de libertá-los pode iniciar o processo abolicionista e contrariar os interesses dos sulistas, inclusive levando o país para uma guerra civil. E aí, vocês acham que o ex-presidente John Quincy Adams, chamado para intervir no caso na última instância, tomou qual posição na Corte? Deixa o grupo de escravos à própria sorte e evita-se o conflito político de repercussões gigantes para os EUA ou não?

Fiquei pensando aqui no meu mundo onde temos divergências internas nos movimentos sociais e muitas vezes acaba-se permitindo iniquidades e vícios a troco de não se posicionar e tomar "partido" do lado que pode ser o correto, apesar de minoritário...




Assisti a outro filme nestes dias que também vai no mesmo sentido - 12 anos de escravidão. O caso de um homem livre enganado (negro), sequestrado e vendido como escravo nos Estados Unidos. Novamente, a mesma questão de tomar ou não tomar partido como cidadão e levar a vidinha tranquila de sempre, ou se meter naquilo que é errado e assumir a responsabilidade de lutar pelo que é justo e contra a iniquidade.

O filme é baseado na autobiografia (de 1853) do violinista Solomon Northup. 

Novamente, terminada a história fiquei pensando no papel de cada pessoa entre fazer de conta que não é com ela e interceder de alguma forma para mudar a situação de iniquidade que está ocorrendo ali naquele contexto.


É importante tomar partido nas coisas da vida, ter lado

Certa vez, logo que cheguei ao movimento sindical, vi uma situação que me pareceu errada, injusta e que era fruto de certa burocracia comum nas grandes estruturas. Um grupo de trabalhadores estava reunido em um espaço social e não tinha permissão para usar a máquina do cafezinho porque na requisição do espaço ela não havia sido descrita para uso. Eu não aceitei a proibição e fui na hora buscar solução com a dirigente responsável pela estrutura, a que estava na posição de liberar ou não as coisas naquele espaço social. Era o mínimo que minha consciência cobrava que eu fizesse. Aquela posição que tomei (partido) marcou minha chegada e assim fiz durante todos os anos de representação dos trabalhadores.

Um representante da classe trabalhadora, uma pessoa que se diz humanista, um estudioso que tem a informação do que é certo ou errado em relação às questões de igualdade, liberdade, democracia, cidadania, direitos humanos, jamais poderá fazer de conta que uma situação iníqua não é com ele e que o melhor é deixar como está. E não estou dizendo aqui que a pessoa também tenha que intervir em tudo que está errado ao seu redor porque senão ela não conseguiria fazer sua representação bem feita.

É importante que as pessoas fiquem alertas para a tomada de posição nas questões de iniquidade porque isso é o que diferencia o pequeno grupo das pessoas que lutam para construir um mundo mais justo e igualitário da grande massa de pessoas que ainda não se libertou da ideologia da classe dominante e que vive no entorpecimento das pequenas guloseimas e migalhas cedidas pelo status quo.

William