Esta terça-feira, 29 de janeiro, foi um dia muito triste pra mim. Morreu meu peixe pangasius, carinhosamente chamado de Dógão por nós em casa.
Estou na faixa dos quarenta anos de idade e tive na minha vida dois animais de estimação. O cachorro pequinês Leique me acompanhou por uns treze anos, ou seja, toda a minha infância. Meu peixe pangasius esteve comigo uns treze anos também, desde o início dos anos dois mil.
Sempre gostei de aquarismo. Eu tenho aquários desde os vinte anos de idade.
Ao fundo, vemos meu pangasius em dezembro de 2012. |
A famosa frase de O pequeno príncipe - "você é responsável por aquilo que cativa" - talvez esteja intimamente ligada ao fato de eu ter passado toda a vida adulta curtindo peixes e aquários, pois ter aquário requer uma certa rotina e disciplina para manter os aquários em boas condições para se ter peixes saudáveis e longevos.
Ou seja, ter e cuidar de peixes ornamentais é ir no sentido contrário à velocidade do mundo contemporâneo. Vou sentir muito a falta do meu Dógão. Sou dirigente sindical e militante político há uns dez anos e a nossa vida é uma coisa completamente extenuante e sem rotina.
Olha lá meu pangasius com casa cheia. Meu filho tinha uns 7 anos. Ele, uns 3 anos. |
Nos primeiros anos de movimento sindical, eu pelo menos atuava sempre na mesma região e não viajava. Depois de 2006, quando entrei para a Contraf-CUT, passei a viajar com frequência e nos últimos anos quase não sobrava tempo para estar em casa. Acabei jogando parte da responsabilidade de cuidar dos aquários para minha esposa.
Mas uma coisa tive que fazer religiosamente ao longo da vida adulta: fazer manutenção em aquário aos finais de semana, pelo menos a cada quinze dias. Além do prazer de ficar ali lidando com água e peixes e o gostoso que é vê-los saudáveis, também existe a obrigação de "cuidar daquilo que eu cativo" e isso me fazia dar um tempo na mente e no corpo.
Conforme os anos foram passando, eu já me perguntava quem de nós dois iria primeiro, porque nunca poderia imaginar um peixe ornamental durar tanto tempo.
Até março de 2009, o Dógão tinha companhia. Depois disso, deu alguma doença na água e os balasharks morreram e o pangasius albino também. |
Meu peixe sobreviveu a todos os peixes que chegaram e morreram no aquário. Sobreviveu várias vezes às doenças que pegou. Sobreviveu às pancadas nos vidros que esta espécie normalmente dá.
Incrivelmente, sobreviveu a um tombo de um metro e meio de altura quando pulou do aquário em 2011 e fez a minha esposa superar o maior pavor doméstico que tinha na vida (medo dele) e ela teve a coragem de pegá-lo sozinha no chão e salvá-lo.
Sério, cheguei a pensar que esse peixe não morreria antes de mim! Pesquisei algumas vezes para saber quanto tempo viveria um peixe pangasius de aquário ornamental, mas não achei resposta. Normalmente, eles morrem quando crescem por se baterem no aquário.
Vou sentir muita falta dele. Da rotina de cuidar do aquário e dele nos finais de semana.
Nos últimos meses, eu ficava muito tempo curtindo ele nos poucos momentos em que estava em casa. Estava muito legal vê-lo comer de noite. Era uma festa suas manobras embaixo da cachoeirinha pegando comida.
As leituras na minha cadeira de praia na sala era uma rotina: ler e olhar pro meu aquário...
O Dógão tinha uma rotina para cada hora do dia. Tinha a hora em que ele relaxava e ficava quietinho num canto... tinha a hora em que ele nadava de um lado para o outro, ia no rumo da bombinha, nadava contra as bolhinhas e voltava. Tinha os momentos de ficar embaixo da cachoeira do filtro externo. À tarde, ele gostava de dar voltas no aquário e subir, encher a boca de ar e afundar soltando bolhas pelas guelras...
A coisa mais impressionante do mundo, era ver o pangasius se recuperar fisicamente dos machucados e feridas. O bicho parecia imortal. Sempre sarava e se recuperava de cortes, feridas e doenças comuns em peixes ornamentais.
Vou sentir falta do meu peixe. A sala está um silêncio insuportável. Vazio. O barulho do aquário às vezes incomodava, mas estava no script.
Já se percebe que a gente chamava ele de Dógão porque viveu tanto quanto nossos cachorros de estimação, não era um peixinho comum que vem, fica um tempinho e quando morre no meio dos outros, é só mais um peixinho pra pegar com a redinha e jogar fora.
Ele não foi pra redinha nem pro lixo.
O pequeno príncipe explica isso. Uma flor em meio a várias, é uma flor. Quando você a cativa, ela passa a ser a SUA flor.
O Dógão não era um pangasius. Era o MEU pangasius. Foram muitos e muitos anos.
Nós lhe demos o tratamento respeitoso que merecia.
Estou triste. Mudar a minha rotina de não ter mais a minha rotina com ele vai ser estranho.
Tem uma coisa nas perdas que impactam muito na vida das pessoas, seja a perda de uma pessoa amada, de um animal de estimação, de um trabalho ou uma rotina de vida. Essas perdas quebram a sensação de estabilidade, de vínculo com algo, um voltar, um ter que fazer, que cuidar.
Sinto hoje um grande vazio na minha sala, na minha casa, nas minhas obrigações. No meu voltar, no que cuidar. Vou sentir falta do Dógão.
Sério, cheguei a pensar que esse peixe não morreria antes de mim! Pesquisei algumas vezes para saber quanto tempo viveria um peixe pangasius de aquário ornamental, mas não achei resposta. Normalmente, eles morrem quando crescem por se baterem no aquário.
Meu pangasius em julho de 2010. Eu viajo muito, mas era muito legal ver os hábitos do Dógão conforme o horário do dia, quando em casa. |
Vou sentir muita falta dele. Da rotina de cuidar do aquário e dele nos finais de semana.
Nos últimos meses, eu ficava muito tempo curtindo ele nos poucos momentos em que estava em casa. Estava muito legal vê-lo comer de noite. Era uma festa suas manobras embaixo da cachoeirinha pegando comida.
As leituras na minha cadeira de praia na sala era uma rotina: ler e olhar pro meu aquário...
O Dógão tinha uma rotina para cada hora do dia. Tinha a hora em que ele relaxava e ficava quietinho num canto... tinha a hora em que ele nadava de um lado para o outro, ia no rumo da bombinha, nadava contra as bolhinhas e voltava. Tinha os momentos de ficar embaixo da cachoeira do filtro externo. À tarde, ele gostava de dar voltas no aquário e subir, encher a boca de ar e afundar soltando bolhas pelas guelras...
A coisa mais impressionante do mundo, era ver o pangasius se recuperar fisicamente dos machucados e feridas. O bicho parecia imortal. Sempre sarava e se recuperava de cortes, feridas e doenças comuns em peixes ornamentais.
Vou sentir falta do meu peixe. A sala está um silêncio insuportável. Vazio. O barulho do aquário às vezes incomodava, mas estava no script.
Já se percebe que a gente chamava ele de Dógão porque viveu tanto quanto nossos cachorros de estimação, não era um peixinho comum que vem, fica um tempinho e quando morre no meio dos outros, é só mais um peixinho pra pegar com a redinha e jogar fora.
Ele não foi pra redinha nem pro lixo.
O pequeno príncipe explica isso. Uma flor em meio a várias, é uma flor. Quando você a cativa, ela passa a ser a SUA flor.
O Dógão não era um pangasius. Era o MEU pangasius. Foram muitos e muitos anos.
Nós lhe demos o tratamento respeitoso que merecia.
Estou triste. Mudar a minha rotina de não ter mais a minha rotina com ele vai ser estranho.
Tem uma coisa nas perdas que impactam muito na vida das pessoas, seja a perda de uma pessoa amada, de um animal de estimação, de um trabalho ou uma rotina de vida. Essas perdas quebram a sensação de estabilidade, de vínculo com algo, um voltar, um ter que fazer, que cuidar.
Sinto hoje um grande vazio na minha sala, na minha casa, nas minhas obrigações. No meu voltar, no que cuidar. Vou sentir falta do Dógão.
William
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Post Scriptum (14/11/13):
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Post Scriptum (14/11/13):
O BLOG E A RELAÇÃO COM AS PESSOAS DO MUNDO: A sensação de pertencer a uma rede mundial de comunicação é algo muito legal. Meu blog não é nenhum desses grandes blogs com milhares de acessos e pessoas responsáveis por cuidar dele. Eu o alimento com coisas que eu acho úteis para partilhar e conversar com as pessoas do mundo. Normalmente, esse blog tem uma centena de acessos por dia e isso é gratificante pra quem quer conversar com as pessoas e partilhar ideias e ideologias de uma forma propositiva e pacífica.
A minha postagem sobre meu pangasius que morreu no início deste ano já teve cerca de 500 acessos e, às vezes, tem comentários nas postagens pra liberar. Hoje liberei uma de alguém que chegou em casa e encontrou seu peixe querido morto... Isso torna o nosso diálogo com o mundo uma coisa tão humana e tão rica! Ao mesmo tempo é comovente e nos conforta porque acho que estamos fazendo algo legal... é isso!