Refeição Cultural
"As mercadorias só encarnam valor, na medida em que são expressão de uma mesma substância social, o trabalho humano." (Karl Marx, O Capital)
A) A FORMA SIMPLES, SINGULAR OU FORTUITA DO VALOR
x da mercadoria A = y da mercadoria B, ou
x da mercadoria A vale y da mercadoria B
20 metros de linho = 1 casaco, ou
20 metros de linho valem 1 casaco
B) FORMA TOTAL OU EXTENSIVA DO VALOR
z da mercadoria A = u da mercadoria B, ou = v da mercadoria C, ou = w da mercadoria D, ou = x da mercadoria E, ou = etc.
(20 metros de linho = 1 casaco, ou = 10 quilos de chá, ou = 40 quilos de café, ou = 1 quarta de trigo, ou = 2 onças de ouro, ou = 1/2 tonelada de ferro, ou = etc.)
A forma extensiva do valor relativo
"O valor de uma mercadoria, do linho, por exemplo, está agora expresso em inúmeros outros elementos do mundo das mercadorias. O corpo de qualquer outra mercadoria torna-se o espelho onde se reflete o valor do linho."
Marx nos explica que desse modo se revela a massa de trabalho humano homogêneo e que por isso não importa a forma corpórea assumida pelo trabalho, seja ela qual for, casaco, trigo, ferro, ouro etc.
E completa dizendo que "ao valor não importa a forma específica do valor de uso em que se manifesta".
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"Não é a troca que regula a magnitude do valor da mercadoria, mas, ao contrário, é a magnitude do valor da mercadoria que regula as relações de troca."
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A forma de equivalente particular
Cada mercadoria, casaco, chá, trigo, ferro etc, é considerada equivalente na expressão do valor do linho e, portanto, encarnação de valor, afirma Marx.
Além disso, as variadas espécies de trabalho contidas nas mercadorias são trabalho humano em geral.
Defeitos da forma total ou extensiva do valor
A cadeia de equivalência não terminaria nunca porque sempre vai haver uma nova mercadoria. Falta uma forma unitária de manifestação do trabalho humano. Marx cita outros defeitos dessa forma.
A forma geral do valor
1 casaco = |
10 quilos de chá = |
40 quilos de café = |
1 quarta de trigo = |
2 onças de ouro = | 20 metros de linho
1/2 tonelada de ferro = |
x de mercadoria A = |
etc. mercadoria = |
Mudança do caráter da forma do valor na expressão acima:
Marx nos explica que diferente das formas anteriores, as mercadorias expressam, agora, seus valores (1) de maneira simples, isto é, numa única mercadoria e (2) de igual modo, isto é, na mesma mercadoria. É uma forma de valor simples, comum a todas as mercadorias, portanto, geral.
VALORES DE TROCA
"(...) o valor de cada mercadoria, igualado ao linho, se distingue não só do valor de uso dela mas de qualquer valor de uso, e justamente por isso se exprime de maneira comum a todas as mercadorias. Daí ser esta a forma que primeiro relaciona as mercadorias como valores, umas com as outras, fazendo-as revelarem-se, reciprocamente, valores de troca."
O filósofo nos mostra que "a realidade do valor das mercadorias só pode ser expressa pela totalidade de suas relações sociais, pois essa realidade nada mais é que a 'existência social' delas, tendo a forma do valor, portanto, de possuir validade social reconhecida".
EQUIVALÊNCIA GERAL
A forma geral do valor relativo do mundo das mercadorias imprime à mercadoria eleita equivalente, o linho, o caráter de equivalente geral. No exemplo que Marx nos dá fica bem claro isso.
10 quilos de chá = 20 metros de linho
40 quilos de café = 20 metros de linho
logo
10 quilos de chá = 40 quilos de café
1 quilo de café = 1/4 da substância do valor, o trabalho, contida em 1 quilo de chá
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"Considera-se sua forma corpórea (o linho) a encarnação visível, a imagem comum, social, de todo trabalho humano. O trabalho têxtil, o trabalho privado que produz linho, ostenta, simultaneamente, forma social, a forma de igualdade com todos os outros trabalhos. As inumeráveis equações em que consiste a forma geral de valor equiparam, sucessivamente, ao trabalho contido no linho qualquer trabalho encerrado em outra mercadoria e convertem, portanto, esse trabalho têxtil em forma geral de manifestação do trabalho humano sem mais qualificações."
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Para finalizar essa parte da explicação acima, vem o complemento da lição de Marx em suas palavras:
"Assim, o trabalho objetivado no valor da mercadoria é representado não só sob o aspecto negativo em que se põem de lado todas as formas concretas e propriedades úteis dos trabalhos reais; ressalta-se, agora, sua própria natureza positiva. Ele é, agora, a redução de todos os trabalhos reais a sua condição comum de trabalho humano, de dispêndio de força humana de trabalho."
A conclusão deste ponto é que a forma geral do valor, que torna os produtos do trabalho mera massa de trabalho humano sem diferenciações, mostra, através de sua própria estrutura, que é a expressão social do mundo das mercadorias.
Desenvolvimento mútuo da forma relativa do valor e da forma de equivalente
Marx explica cada uma das formas acima e as limitações delas. A terceira forma, proporciona ao mundo das mercadorias forma relativa generalizada e social do valor, por estarem e enquanto estiverem excluídas todas as mercadorias, com exceção de uma única, da forma equivalente geral.
Transição da forma geral do valor para a forma dinheiro
Estando uma mercadoria na forma de equivalente geral (forma C acima, o linho) ela pode ser considerada como mercadoria-dinheiro.
"Então, mercadoria determinada, com cuja forma natural se identifica socialmente a forma equivalente, torna-se mercadoria-dinheiro, funciona como dinheiro. Desempenhar o papel de equivalente universal torna-se sua função social específica, seu monopólio social, no mundo das mercadorias."
Terminando essa parte C da forma geral do valor das mercadorias, Marx vai entrar na próxima parte D, na forma dinheiro de valor, que fica para a próxima postagem.
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COMENTÁRIO FINAL
Estou terminando a parte I que trata da "Mercadoria" para entrar em seguida da parte II que trata de "O processo de troca".
Aos poucos, estamos vencendo a primeira centena de páginas dos estudos de Marx sobre O Capital.
Volto a dizer que estou postando literalmente trechos da obra de Marx para não incorrer em interpretações equivocadas de seus ensinamentos. Não sou marxista, não sou estudioso de Marx, no momento sou leitor da obra O Capital.
Mergulhar em leituras e estudos tem sido uma forma de buscar manter a sanidade num mundo de trumps e bolsonaros. Não podemos deixar a perplexidade e a tristeza nos levar para o buraco. Temos que resistir, e estudar é uma forma de resistência.
Leitura é uma forma de resistência! Por isso passei horas deste domingo 31 de março com a atenção nos ensinamentos de Marx.
É isso.
William
Um leitor
Post Scriptum:
A postagem anterior está AQUI e dela se vai para as anteriores.