segunda-feira, 30 de março de 2009

Aula - Literatura Española Medieval (I)


FFLCH-USP

Comentário:

A postagem é uma síntese, um fichamento de uma aula na Universidade. Os erros de linguagem e interpretação são de responsabilidade do blog.

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1. Sociedad y cultura del castellano y evolución.

2. La épica medieval castellana. El Mester de juglaría. Lectura y comentario del Poema de Mío Cid (anónimo).

Clase de 19/marzo/09

Introducción a el cantar de Mío Cid.

- Son pocos los versos que no se perdieron de la épica castellana

- Cronistas a servicio de los reyes. Ellos iban a las poesías épicas para escribir sus crónicas.

“La crónica de Veinte Reyes”, siglo XIV.

Características: hay un traspase de un cronista a el otro. Es una épica verosímil (posible aunque no fuera verdadera).

La presencia de las mujeres es muy fuerte en la épica española.

Las plazas, el juglar, transmisión de los poemas, modo circense, función teatral.

Contexto: la guerra de reconquista.

Función propagandista: los reyes les pagaban a los poetas e a los juglares.

Abreviaciones de la obra: Mío Cid, PMC, CMC, CC etc.

3730 versos

“las mocedades de Rodrigo” 1170 versos – XIV
“Roncesvalles” 100 versos – XIII

Son cerca de 5 mil versos de la épica española.

La más cercana es la épica francesa (s. XIV).

Española……………………………Francesa
3 poemas……………………………120 poemas
3 manuscritos………………300 manuscritos
5000 versos……………………alrededor de 1 millón de versos

Se perdieron muchos versos por la guerra de reconquista.

El Cíd Campeador = historia de España.

Guerra entre moros y cristianos...

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Post Scriptum: a aula posterior pode ser lida aqui.


Fim de semana



FDS em casa, sem celular, sem computador, sem DVD e sem saúde 100% (resfriado).

Não corri nem andei. BUT... muita leitura sobre vários temas.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Artigo: Lutar pela valorização do Trabalho e por um Banco para o Brasil



Opinião

Lutar pela volta do pagamento da substituição de função e pela volta do caixa executivo efetivo nomeado nas agências são 2 batalhas importantes para vencer a guerra contra as piores condições de trabalho no Banco do Brasil das últimas décadas.

E por que essas duas lutas são importantes?

A substituição de função e o caixa executivo fazem parte de uma estrutura funcional, uma lógica de carreira, que os tecnocratas do banco sempre combateram e tentaram extinguir. Nunca tiveram êxito porque focavam muito mais nos caixas, mas erravam em suas estratégias e tinham que voltar atrás.

Vejamos alguns porquês e pensemos na importância de focar nesses dois pontos em uma campanha específica no BB neste 1º semestre.

Em vários momentos na última década o banco perseguiu, difamou, humilhou e tentou extinguir os caixas executivos. A função de bancário caixa vai contra a lógica de precarização da mão de obra bancária.

O BB passou a copiar a banca privada ainda na década de 90, quando tentou centralizar os serviços dos envelopes de autoatendimento e os malotes de clientes preferenciais e teve que voltar atrás porque a tentativa foi um fiasco.

Lógica da reestruturação bancária

A lógica das reestruturações bancárias contêm alguns pressupostos: terceirização dos processamentos; fim da jornada bancária de 6 horas; mudança da função ontológica do trabalho bancário (fazer banking, core business) e mudança na remuneração: redução de salários fixos, modelo tradicional de compra da força de trabalho (por jornada e função) e aumento da remuneração variável centrada na “partilha” de resultados calcados em metas impossíveis (expectativa incerta de renda/venda sem jornada alguma).

O Banco do Brasil fez 3 movimentos fundamentais nos últimos anos para entrar nesta lógica do mercado bancário privado:

1. Terceirizou os envelopes de autoatendimento (as terceirizadas pagam cerca de R$ 500 por jornadas enormes e sem os demais direitos);
2. Está tirando os caixas executivos das dotações das agências para as plataformas Uso (caixa volante) e tudo indica que o faz para futura terceirização; e
3. Deixou de pagar a substituição de função (lateralidade) gastando parte da economia gerada na criação de milhares de vagas de escriturários com jornada de 8 h (9h, 10h...) – vulgos “assistentes de negócios”. É ou não é isso?

A luta por melhores condições de trabalho passa por reverter esta lógica privada que não é a melhor forma de um banco atuar, principalmente um público, para atingir os objetivos esperados. Como também não é a forma de atender aqueles objetivos tirados pelos burocratas gestores e anunciados em todos os locais onde o banco está presente.

Missão do Banco do Brasil: falsas promessas...

“ Ser a solução em serviços e intermediação financeira, atender às expectativas de clientes e acionistas, fortalecer o compromisso entre os funcionários e a Empresa e contribuir para o desenvolvimento do País.”

Como está hoje, reestruturado desde 2007 para não atender ao povo brasileiro e com um quadro funcional adoecido, mal remunerado e assediado, o BB não está sendo solução em intermediação financeira, faz o inverso de fortalecer o compromisso entre os funcionários e a empresa e tem contribuído muito aquém do possível para ajudar o Brasil a sair da crise.

A Terceirização do processamento de envelopes é ilegal, pois o serviço é tipificado como trabalho bancário. As empresas prestadoras de serviços bancários – terceirizadas – estão com trabalho semiescravo onde os trabalhadores ganham menos que a comissão de caixa do BB (R$ 531) para jornadas de até 12 horas ininterruptas.

Alguns colegas dentro do BB dão “Graças a Deus” pelo banco ter terceirizado parte do serviço deles mesmos. Os funcionários do BB não fazem por mal. Como estão inseridos em um processo massacrante de sobrecarga e más condições de trabalho, por falta de funcionário e assédio moral, falta-lhes a percepção do todo. Fica mais fácil vincular causa e efeito depois que vão parar em Plataformas da Uso. Percebe-se mais claramente o objetivo do BB e por que está acabando a única função de 6 horas que paga cerca de R$ 2 mil ao bancário.

O não-pagamento da substituição (lateralidade) também é ilegal porque é desvio de função e na maioria dos casos essas funções também são de 6 horas e não de 8h (9h, 10h...). O que o BB está fazendo é copiar de forma equivocada o que ele pensa que seria o mercado bancário concorrente. Mas até nisso o BB tem sido incompetente. Os concorrentes privados como Bradesco, Itaú-Unibanco e Santander-Real atuam enquanto Holding, ou seja, as empresas e seus produtos financeiros vendidos nas agências são do mesmo dono.

O BB desvia seus funcionários de sua principal função bancária para a venda de produtos financeiros dos outros. Deveria focar em atender bem os clientes e usuários (prospecção de novos clientes) e fazer banking, ajudando os clientes com funcionários bem treinados e remunerados para propor soluções e crédito para indústria, comércio, agricultura, novos empreendedores, DRS etc. Ao invés de ser líder por atuar como banco balizador do mercado em menores taxas de juros, spreads e tarifas, e maiores prazos, o BB insiste em atuar como lojinha de produtos financeiros de capitalização, previdência e seguros.

A ideia do BB é muito clara em sua proposta de estrutura e cabe aos funcionários, força social da empresa, e também à população, opinar se aceitam a forma privada de atuar imposta pela diretoria sem diálogo ou se devem propor alterações daqui adiante, com mobilização e pressão.

Se fizermos uma forte campanha exigindo a manutenção dos caixas executivos nas agências com dotação adequada à demanda para processar todo o trabalho local, o que inclui os serviços de bancários dos terminais e exigirmos que toda substituição seja paga corretamente, estaremos dialogando com a empresa e com a sociedade, e dizendo que não concordamos com a lógica atual do BB e da banca privada que expulsa os cidadãos das agências bancárias e só atuam para espoliar a população brasileira.

Os funcionários do Banco do Brasil devem lutar junto com os seus sindicatos e buscar soluções coletivas, pois são ilusórias supostas melhorias individuais, como promessas de promoções hoje que podem significar pesadelos amanhã (como está ocorrendo com muitos comissionados que querem sair das agências e serem escriturários em departamentos pelas más condições de trabalho e assédio moral – que também existem fora da rede).

Os funcionários do Banco do Brasil lutarão por um banco que valorize o Trabalho, em todos os sentidos, ou seja, valorizar tanto os bancários que prestam serviço à sociedade quanto valorizar o crédito produtivo, que gera renda e crescimento com distribuição de renda no País. É para isso que queremos um banco público, queremos um BANCO PARA O BRASIL.

William Mendes
Contraf-CUT

Vendo as pessoas se persignarem


Igreja de Santo Antônio, na
Praça do Patriarca. F. Dornicke.

Acho sempre interessante observar as pessoas se persignarem.

Fiz isso a maior parte da minha vida. Até vinte e poucos anos.

Que pena! Não creio mais nisso. Acho uma pena. Os povos do mundo buscam organizar a existência da vida e buscar razões que expliquem as tragédias inexplicáveis.

Acho bonito ver gente comendo em restaurante e depois agradecendo a algo ou alguém com o sinal da cruz. Ou andando pela Praça do Patriarca e se persignando frente à pequena igreja que ali existe. (até pouco tempo eu nem sabia, pois não tinha visto)

É isso.

Caminhada antiestresse


Eu e Miguel no FSM. Foto: Paulo de Tarso.


Olha, ando um prego só!

Revoltei e saí pra dar uma caminhada hoje, após rascunhar um artigo sobre o Banco do Brasil, publicado agora à noite na Contraf-CUT.

O artigo sobre as condições de trabalho no BB pode ser lido aqui.

Andei cerca de 60' com um sol muito confortante.

terça-feira, 24 de março de 2009

O não emprego do hífen - Evanildo Bechara



Refeição Cultural

(os sublinhados são para meu estudo pessoal)


Publicado originalmente em: O Estado de S. Paulo (SP) 8/3/2009

Dirige-se a esta seção o leitor a quem começamos a responder no último artigo, preocupado em saber por que colocar hífen em pé-de-moleque e não colocá-lo em pai dos burros, expressão popular referida a "dicionário".

O acordo ortográfico ensina-nos que as locuções de qualquer natureza devem ser usadas sem hífen, incluindo as duas locuções lembradas: pé de moleque e pai dos burros. A lição vem pôr ordem em matéria que corria indisciplinada em sistemas ortográficos oficiais anteriores, já que as locuções pronominais (cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja, etc.), as prepositivas (abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, a partir de, apesar de, aquando de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de, quanto à, etc.), as conjuncionais (a fim de que, ao passo que, contanto que, logo que, visto que, etc.) eram usadas normalmente sem hífen, as demais locuções pareciam pertencer a terra de ninguém. Se fim-de-safra e fim-de-século eram contempladas com hífen, fim do mundo e fim de semana, também locuções, não gozaram do privilégio de ostentar o hífen.

Ainda neste terreno, tínhamos de exigir de quem escrevia saber distinguir um à-toa hifenado, se era locução adjetiva (Trata-se de um problema à-toa) de um à toa, não hifenado, se locução adverbial (Este trabalhou à toa). Ou ainda um dia-a-dia, locução substantiva com o sentido de "cotidiano" (Meu dia-a-dia é agradável), de dia a dia, locução adverbial, valendo por "diariamente" (A criança cresce dia a dia).

Com a lição do acordo de 1990 desaparecem tais incoerências, e todas as locuções passam a não precisar desse sinal diacrítico. Quando escrevemos, nosso texto não representa diretamente ideias, senão palavras, e estas é que representam ideias num segundo momento dessa operação lógico-simbólica, auxiliada pelos saberes de que dispomos todos os falantes de uma língua. Nós não falamos só com o conhecimento das regras elementares do pensar e do conhecimento de mundo (saber elocutivo); usamos do conhecimento da construção do texto, por isso que quando de manhã auguramos a alguém Bom dia!, não aludimos a condições atmosféricas (pode até estar chovendo a cântaros!), mas sabemos que estamos usando um texto de saudação matinal (saber expressivo). Também contamos com a situação e o contexto em que se desenvolve nossa fala. Por tudo isso e por mais alguns fatores é que nem o freguês nem o doceiro irão ter dúvida diante do pedido de um pé de moleque, sem hífen.

Retornando à pergunta do consulente, pai dos burros, locução substantiva para aludir familiarmente a "dicionário", não terá hífen. Levando em conta uma tradição ortográfica refletida nos dicionários, o acordo abriu exceção a um pequeno grupo de locuções que, fugindo à nova orientação, ainda serão hifenados: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa.

Pelo que se vê, não estão arroladas nas exceções explicitamente indicadas no acordo as locuções substantivas pé de moleque e pai dos burros. O Dicionário Escolar da ABL registra as locuções sem hífen pé de atleta, pé de boi, pé de cabra, pé de chinelo, pé de galinha, pé de moleque, pé de pato, pé de vento. Respeitando a exceção do acordo, acolhe pé-de-meia, com hífen.

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segunda-feira, 23 de março de 2009

Caminhadas




Em meio a muito trabalho e muitas viagens, consegui caminhar no domingo 6 Km e hoje andei e corri um pouco pela manhã, cerca de 4,5 Km.


Era dos Extremos: A era da guerra total - Eric Hobsbawm



Refeição Cultural

1- A era da guerra total

Alguns excertos interessantes deste capítulo do livro.

A 2ª Guerra Mundial:

"Todo partido na Alemanha, dos comunistas na extrema esquerda aos nacional-socialistas de Hitler na extrema direita, combinavam-se na condenação do Tratado de Versalhes como injusto e inaceitável."

Japão e Itália, embora do lado vencedor da 1ª Guerra Mundial, também se sentiam insatisfeitos (por motivos distintos, eu diria por problemas de divisão do butim de guerra dos derrotados).

Motivos da 2ª Guerra Mundial:

"Os marcos miliários na estrada para a guerra foram a invasão da Manchúria pelo Japão em 1931; a invasão da Etiópia pelos italianos em 1935; a intervenção alemã e italiana na Guerra Civil Espanhola em 1936-9; a invasão alemã da Áustria no início de 1938; o estropiamento posterior da Tchecoslováquia pela Alemanha no mesmo ano; a ocupação alemã do que restava da Tchecoslováquia em março de 1939 (seguida pela ocupação italiana da Albânia); e as exigências alemãs à Polônia que levaram de fato ao início da guerra."

e

"A guerra portanto começou em 1939 como um conflito puramente europeu e, de fato, depois que a Alemanha entrou na Polônia, que foi derrotada e dividida em 3 semanas com a agora neutra URSS (pacto Hitler-Stalin ago/39), como uma guerra puramente europeia ocidental de Alemanha contra Grã-Bretanha e França. Na primavera de 1940, a Alemanha levou de roldão a Noruega, Dinamarca, Países Baixos, Bélgica e França com ridícula facilidade."

Até 1941 a Alemanha/Eixo praticamente havia ganho a guerra.

A burrice de Hitler (megalomania): romper acordo com Stalin e invadir a URSS em junho de 1941.

Sem ter como avançar, aliados iniciam matança de civis (subtítulo acusativo meu)

Entre 1942 e 1944, os aliados não tinham a menor chance de ataques terrestres (tudo estava sob dominação alemã).

"Nesse meio tempo, a única grande arma dos aliados ocidentais contra a Alemanha era o poder aéreo, e este, como demonstram pesquisadores posteriores, se mostrava espetacularmente ineficaz, exceto para matar civis e destruir cidades."


COMENTÁRIO: 


É interessante a intertextualidade: estou lendo agora (jun/jul 2009) O diário de Anne Frank, escrito por uma adolescente judia-holandesa, entre 1942-1944, e ela cita várias vezes as notícias ouvidas pelo rádio, em seu refúgio, dos ataques aéreos dos aliados contra as ocupações alemãs.

Ao contrário da 1ª Guerra Mundial, não houve sinais de revolução alemã como na Rússia e o povo dava apoio incondicional a Hitler. Eles iriam até o fim com as pretensões nazistas. No Japão também.


COMENTÁRIO: 

Aliás, nos filmes recentes que assisti (assisti em 2009) - "A queda, as últimas horas de Hitler" e "O leitor" - trazem um pouco dessa ideia da relação entre o povo alemão e o Nazismo.

"No leste houve ainda menos sinais de racha na determinação do Japão de lutar até o fim, motivo pelo qual se lançaram armas nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki, para assegurar uma rápida rendição japonesa. A vitória em 1945 foi total, a rendição incondicional."

e

"Ao contrário da 1ª Guerra Mundial, essa mútua intransigência não exige explicação especial. Era, de ambos os lados, uma guerra de religião, ou, em termos modernos, de ideologias. Foi também, e demonstravelmente, uma luta de vida ou morte para a maioria dos países envolvidos. O preço da derrota frente ao regime nacional-socialista alemão, como foi demonstrado na Polônia e nas partes ocupadas da URSS, e pelo destino dos judeus, cujo extermínio sistemático foi se tornando aos poucos conhecido de um mundo incrédulo, era e escravização e a morte. Daí a guerra ser travada sem limites. A 2ª Guerra Mundial ampliou a guerra maciça em guerra total."


Bibliografia:

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos - O breve século XX, 1914-1991. Companhia das Letras. Tradução de Marcos Santarrita, 2ª edição, 33ª reimpressão.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Livro: Fragmentos Contemporâneos da História dos Bancários (Cap.4, final)



Capítulo 4 - Final

Panorama histórico em relação aos bancários do Banco do Brasil após eleição de Lula/PT


Consolidação da Unidade da categoria 2003-2008: avanços e desafios

2003 – Bancos públicos debatem em seus congressos que querem o cumprimento da CCT da categoria, notadamente melhor em vários quesitos como reajustes anuais que repercutem para todos os funcionários, tíquetes e cesta-alimentação melhores, direitos sociais melhores como, por exemplo, ausências legais, desconto de vale transporte menor e direito a receber PLR (participação nos lucros e resultados) desde 1995, acordado com a CNB-CUT.

Finalizada a campanha da Fenaban e mediante o não cumprimento por parte do BB e da CEF, estes bancos entram em greve e têm seu objetivo alcançado, se não totalmente, ao menos de forma bem satisfatória.

BB aceita pagar o índice de 12,6% para todos, inclusive os comissionados que nunca recebiam reajuste (verbas AFR, VR, DM etc). Também aceita pagar pela 1ª vez uma PLR acordada com a CNB-CUT, distribuindo praticamente o dobro do percentual permitido pelo DEST (órgão de controle de estatais) e não deixando mais ninguém de fora - antes cerca de 7 mil bancários não recebiam nada e os valores eram irrisórios para a base da pirâmide.

Além disso, as reivindicações de ISONOMIA começaram a ser alcançadas, pois os novos funcionários conseguiram os 5 DIAS DE ABONO anuais.

A Caixa Federal também consegue avanços importantes, apesar do reajuste de 12,6% não ser estendido a todos e da cesta-alimentação não alcançar o valor da Fenaban de uma vez (a proposta foi de atingir o valor da categoria em 3 campanhas salariais 2003, 2004 e 2005).

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2004 – Desde os congressos de bancos e na Conferência Nacional dos Bancários, os delegados e delegadas debateram e aprovaram a estratégia da Campanha Unificada da Categoria, com entrega da minuta geral na Fenaban e documentos com reivindicações específicas entregues nos bancos públicos dizendo que as questões gerais estavam na mesa única.

BB e Caixa Federal assinam pré-acordo se comprometendo a cumprir aquilo que a categoria conseguir na Fenaban. (este compromisso foi fruto de reivindicação da categoria que teve que ir à greve em 2003 pelos bancos públicos não cumprirem as conquistas da CCT).

Ao final das negociações, tínhamos proposta da Fenaban que atingia premissas reivindicatórias como inflação reposta, aumento real, conquista nova (13ª cesta-alimentação), PLR e tínhamos também avanços importantes nas questões específicas nos bancos públicos – por exemplo, redução da Parcela Previ e reajuste de 11,77% na curva do PCS do BB - para serem apresentadas de forma conjunta para aceitação final, ou não, pela categoria em assembleias gerais.

A categoria rejeitou a proposta devido, na minha opinião, a uma grande soma de fatores externos à campanha salarial (eleições gerais, debate da reforma sindical e trabalhista, eleições sindicais etc) e erros de encaminhamento do movimento sindical e após 30 dias de greve, houve julgamento de dissídio coletivo para os bancos públicos no TST, impetrado pela Contec (confederação oficial, única na época, que representa cerca de 10% da categoria).

No entanto, o TST, diferentemente dos julgamentos que fez por mais de 10 anos, ao invés de julgar reajuste zero – como fez em 1999 e 1997 (referente a 96), manteve o formato da proposta que havia sido arrancada em mesa de negociação com a Fenaban, ou seja, manteve o reajuste de 8,5% mais um aumento de R$ 30,00 para quem ganhava até R$ 1500,00.

Porém, os trabalhadores perderam alguns avanços negociados pela Executiva Nacional dos Bancários em mesa negocial como, por exemplo, o reajuste na curva do PCS no BB e a cesta-alimentação extra (todos perderam, pois a Fenaban retirou a proposta). Ao invés de o banco corrigir o PCS, o banco criou uma verba de caráter pessoal VCP para pagar os R$ 30,00. Isso durou alguns anos.

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2005 – Novamente, a categoria decidiu na Conferência Nacional dos Bancários pela campanha unificada, apesar das dúvidas e incertezas deixadas na campanha de 2004, que trouxe ganhos econômicos, foi o primeiro ano de aumento real para todos, mas contou com uma longa e exaustiva greve geral.

Em linhas gerais, em 2005, a CNB-CUT conseguiu levar de forma mais coesa e tranquila a condução da campanha.

Democratizamos a Executiva Nacional criando o Comando Nacional dos Bancários, que passou a ter 21 cadeiras e não 11 como era até 2004 (além das 10 federações e CNB-CUT, os 10 maiores sindicatos do país).

Os bancários conseguiram atingir a política salarial de aumento real e receberam abono como abono mesmo [6% de reajuste (ante uma inflação de 5%) + abono de R$ 1700], ou seja, o abono não foi usado como complemento ao índice, como ocorria nos anos 90.

No caso da proposta inovadora de PLR com distribuição de parte linear do lucro, debatida e aprovada na Conferência Nacional dos Bancários, o banco que topou atender em parte a reivindicação foi o BB, pagando 4% de distribuição linear além do valor fixo + porcentagem do salário.

Depois conseguimos também, no embate banco a banco, melhorar um pouco a PLR como ocorreu no Itaú e demais bancos no mês de dezembro.

O Banco do Brasil assinou pela primeira vez a Convenção Coletiva de Trabalho CCT da CNB/CUT com a Fenaban, uma antiga reivindicação da categoria.

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2006 – A Conferência Nacional dos Bancários define pela manutenção da estratégia que vem sendo vitoriosa da mesa única com a pauta geral da categoria, intercalada com as mesas específicas concomitantes para as questões por bancos.

Ocorreram as mesmas dificuldades e riscos de 2004 por interferência de fatores externos à campanha. Alguns sindicatos menores e/ou de correntes políticas minoritárias nos bancários, que perderam suas proposições nas reuniões do Comando Nacional, passaram a criar calendários próprios de luta, sendo depois seguidos inclusive por alguns sindicatos maiores.

Ao final da campanha conseguimos pelo 3º ano seguido atingir a política salarial de aumento real, além de avanços importantes na PLR (mudar o paradigma na Fenaban, incluindo uma parcela adicional de até R$ 1500 – ainda insuficiente pelo que os bancários produziram). Além disso, tivemos conquistas expressivas na Caixa Federal com relação a questões específicas.

Agora é a Caixa Federal que assina pela primeira vez a Convenção Coletiva de Trabalho da categoria entre a Contraf-CUT e a Fenaban. A Contraf-CUT é a confederação que substituiu a antiga CNB/CUT.

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2007 - Novamente os bancários mantém a Campanha Unificada e definem as reivindicações gerais da categoria e as propostas específicas dos bancos públicos federais.

Além do reajuste de 6% manter a política de aumento real, os bancários conquistaram a 13ª cesta-alimentação, agora em definitivo, pois quando conquistaram a proposta em mesa de negociação em 2004, os banqueiros a retiraram após a rejeição da proposta final, da greve e do julgamento de dissídio dos bancos públicos federais.

Uma campanha em que a negociação rendeu frutos e, quando não rendeu, os trabalhadores foram à greve. Em 2007, os bancários demonstraram grande maturidade e inverteram a lógica da negociação dos últimos anos.

As famosas rodadas em que os representantes da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) diziam “não" para tudo, foram substituídas por reuniões, com quatro rodadas pré-agendadas, que só terminavam após esgotados os debates sobre cada tema.

Ao todo foram 12 encontros realizados em apenas um mês e meio. Assim, o Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban assinaram no dia 11 de outubro a primeira Convenção Coletiva de Trabalho, em quatro anos, fruto somente de negociação, sem greve geral.

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2008 - A campanha nacional de 2008 foi deflagrada em uma conjuntura difícil, bem no meio da explosão da crise financeira iniciada nos Estados Unidos que rapidamente se espraiou pelo mundo todo, fazendo com que os banqueiros endurecessem as negociações alegando que havia muitas incertezas quanto ao futuro.

Além disso, os bancos mais uma vez usaram todo o seu poder econômico e político para enfraquecer o movimento dos bancários: abusaram dos interditos proibitórios, jogaram a polícia contra grevistas em vários Estados e ajuizaram pedido de dissídio de greve no TRT de São Paulo e depois no TST. Mas a greve teve desfecho antes dos julgamentos.

Mesmo assim, os bancários fizeram uma das maiores greves dos últimos anos, com grande mobilização dos trabalhadores de todos os bancos, numa paralisação nacional que durou 15 dias (em algumas bases chegou a 23 dias). Mais de 5.400 agências ficaram paralisadas, além de grande parte dos centros administrativos, atingindo todos os estados brasileiros.

Foi a mobilização da categoria e a força da greve que arrancaram dos banqueiros uma proposta que contemplou diversos pontos da minuta de reivindicações aprovada na Conferência Nacional dos Bancários: aumento real para todos os bancários, valorização dos pisos e menores salários e mudança na regra da PLR.

A proposta da Fenaban trouxe aumento real de 1% a 2,66% e nova PLR, aumentando a distribuição de 80% para 90% do salário mais o valor fixo de R$ 966, com teto de 2,2 salários (era 2 salários).

O reajuste proposto foi de 10% para quem ganha até R$ 2.500 (ordenado e gratificação, sem contar o anuênio/ATS) e de 8,15% para os que ganham mais de R$ 2.500.

Proposta do BB:

O índice de 10% foi aplicado no PCS - VP do E1 e mantido o interstício de 3% no Plano de Cargos e Salários, estendendo o mesmo percentual a todos os níveis.

O percentual de 10% também foi aplicado a todos os VR (Valor de Referência) e NFR (Nível de Função e Representação) para os valores inferiores a R$ 2.500. Para os VR e NFR com valores superiores a R$ 2.500, o índice de reajuste foi de 8,15%.

PLR – O BB manteve o modelo utilizado nos semestres anteriores. Apesar de o pagamento continuar sendo semestral, o acordo a ser assinado passou a ter validade de um ano. Assim, o módulo fixo se manteve em 4% do lucro líquido, distribuídos de forma linear, o que garantiu o valor de R$ 1.916,54, além do valor fixo de R$ 483 (a metade do valor fixo da Fenaban).

Ainda no módulo fixo, foi garantido o valor de 45% do VP do E6 para os escriturários, o que significa R$ 614,93. Para os caixas executivos, 45% do VP do E6 mais comissão de caixa, totalizando R$ 886,61. Para os demais cargos, 45% do VR.

No módulo bônus, para os demais cargos comissionados, foi pago um valor a título de bônus conforme a função, de forma que o montante totalizasse os percentuais divulgados pelo banco, que variaram de 1,70 até 3,0 VR. Esse complemento seguiu condicionado ao cumprimento do ATB (acordo de trabalho) no semestre. Houve pagamento de valores proporcionais em tabela interna do banco para aqueles que não cumpriram integralmente o ATB (exigência nossa nas negociações).

Outras propostas do BB:

Plano Odontológico – O BB concordou em implantar o Plano Odontológico da Cassi até 30 de junho de 2009, sem ônus para os funcionários. O custo da implantação será arcado pelo banco. Para os procedimentos que não forem cobertos pelo plano da Cassi, continuará existindo o financiamento pelo PAS. (esse direito virou uma novela ainda não resolvido em junho de 2010)

PAS – Auxílios e adiantamentos. Os funcionários passaram a ter direito a todos os benefícios previstos, garantindo a isonomia entre antigos e novos.

Ausências – Todos os funcionários passaram a ter direitos iguais, acabando com as discriminações entre pós e pré-98.

Mesas temáticas – O BB concordou com a instalação de mesas temáticas para tratar de assuntos definidos em comum acordo entre as partes, dentre os quais terceirização, assédio moral, PCCS (lateralidade, remuneração etc).

Bônus 200 anos – O banco distribuiu o valor de R$ 120 milhões, divididos de forma linear entre os funcionários, o que deu um valor bruto de R$ 1.300.

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Os ganhos reais de 2004 a 2008

Desde que a unificação começou a ser implementada na prática, em 2004, articulada com as negociações das questões específicas de cada banco, os bancários conquistaram 11,5% de aumento real no piso, 7,3% nos salários até R$ 2.500 e 5,5% de aumento acima da inflação para as demais faixas salariais.

Enfim, esse é um resumo das 6 campanhas salariais dos bancários após a eleição do Partido dos Trabalhadores para a Presidência da República.

William Mendes


Post Scriptum: o capítulo anterior pode ser lido aqui.


Fonte:

O Espelho nov/08
Folha Bancária do Seeb SP (várias)



quarta-feira, 18 de março de 2009

Livro: Fragmentos Contemporâneos da História dos Bancários (Cap.3)



Capítulo 3

Panorama histórico após eleição de Lula/PT

Campanhas salariais de 2003 e 2004, a construção da Unidade da Categoria

Ao dar uma passada pela história mais recente envolvendo os bancários brasileiros, tanto de bancos públicos quanto de privados, alguns avanços foram determinantes para que a categoria seguisse nos dias de hoje sendo uma das mais fortes e com mais direitos coletivos da América Latina.

Na década de 90, a assinatura da Convenção Coletiva de Trabalho - CCT em 1992 -, com abrangência dos bancos privados e bancos regionais, foi o divisor de águas para os trabalhadores, pois o fato marcou o restante da década mantendo os bancários firmes no embate ao neoliberalismo. Mesmo sofrendo uma ou outra perda de direito, os bancários conquistaram o piso nacional, o vale-refeição em 1992, a cesta-alimentação em 1994 e a PLR em 1995.

Os bancos públicos federais tinham Acordos Coletivos - ACT - e, se por um lado, tiveram muitos direitos específicos até 1994, perderam boa parte deles após 1995.

A grande virada na correlação de forças entre bancários e banqueiros/governo se deu na década de 2000 com a campanha unificada e a vinda dos bancos públicos federais para a Convenção. Isso foi o que nos permitiu estabelecer uma política de aumento real de salários por um período contínuo de 6 anos (2004 a 2009), sequência de melhorias nunca registrada na categoria.

Dois acertos no período: povo elege Lula (PT) e os bancários unificam campanha

Os dois fatores influenciaram fortemente o que é o Brasil de hoje, que resiste melhor à maior crise econômico-financeira mundial desde 1929, e o que é a categoria bancária, que está mais forte do que estava na década passada, quando os bancários lutavam isolados, por bancos, e sofriam derrotas dos banqueiros/governos.

Só para enumerar algumas vitórias dos bancários, elencamos alguns fatos do período:

2003 - bancos públicos federais começam a obter vitórias

Bancários dos bancos públicos federais debatem em seus congressos que querem que o governo federal cumpra a CCT da categoria assinada com a Fenaban.

Fechado o acordo da Fenaban, governo faz proposta menor que a da categoria. Funcionários do BB entram em greve e após 3 dias de paralisação de quase 90% do quadro da empresa, governo volta atrás e apresenta proposta com avanços históricos:

-aplicou o índice da categoria de 12,6% na base do PCS, corrigindo os 12 níveis;

-pela primeira vez desde a reformulação da remuneração de pessoal, aplicou o mesmo índice para as demais verbas e referências VR, ou seja, com a regra da Fenaban os comissionados passaram a ter reajuste;

-na questão de isonomia, conquistamos os 5 dias de abono para os funcionários pós-98;

-na questão de organização da base, conquistamos o direito de eleger delegados sindicais com estabilidade;

-a cesta-alimentação do BB era menos da metade do valor da cesta da CCT da categoria. Conseguimos igualar o direito;

-nosso vale-refeição e auxílio-creche eram menores que os da CCT. Conseguimos igualar também.

-E, pela primeira vez, assinamos o acordo de PLR nos moldes da categoria - Acordo de PLR entre CUT/Fenaban, fazendo o BB gastar o dobro do autorizado pelo Dest (órgão regulador de estatais) e deixando de discriminar milhares de funcionários que não recebiam ou recebiam muito pouco comparado aos executivos do Banco.

2004 - Campanha Unificada inicia política salarial do aumento real

Para garantir que o governo federal não fizesse o mesmo que fez em 2003, ao não cumprir a Convenção dos Bancários no BB e na Caixa, o movimento sindical conseguiu a assinatura de pré-acordos com o governo, garantindo a aplicação das conquistas da negociação geral dos bancários.

A Executiva Nacional dos Bancários conseguiu uma proposta final que continha avanços norteados pelos principais pontos debatidos durante a Conferência Nacional dos Bancários daquele ano: aumento real, valorização dos pisos e um direito novo na Convenção - a 13ª cesta-alimentação.

Os bancários queriam inverter uma curva de perda inflacionária nos reajustes da data-base que já durava anos, com índices menores que a inflação, completados, às vezes, com abonos salariais.

A nossa proposta para os baixos salários da categoria era a política de aumento real, ou seja, inflação não se discute e queremos aumento do poder de compra em toda renovação de acordo.

Além do aumento real, os bancários definiram mais duas prioridades naquela negociação: aumento do piso e um direito novo.

A proposta econômica trazia reajuste de 8,5% mais R$ 30 incorporados aos salários até R$ 1.500, ou seja, aumento nos pisos de até 12,77%, frente a uma inflação no período de 6,64% (INPC). Aumento real de 1,74% a 5,75%.

A PLR para bancos públicos e privados proposta era de 80% dos salários mais um fixo de R$ 705,00, sendo 60% na 1ª parcela e 40% na 2ª (exceção do BB, 50% e 50%).

Negociamos incorporar à Convenção a 13ª cesta-alimentação, no valor de R$ 217.

Além dessas premissas gerais atendidas, tínhamos questões específicas propostas para a Caixa e o BB. Neste, propostas como solução para a Parcela Previ e correção do PCS pelo aumento real maior. O Banco do Brasil aceitou aplicar para todos o reajuste de 8,50% + R$ 30 no PCS, o que dava um aumento de 11,77% do E1 ao E12, proposta muito positiva para os funcionários mais antigos que tiveram perdas inflacionárias.

Além disso, estava garantido o aumento real para todas as verbas e comissões (nunca ocorrido) e cumprimento da CCT que trazia a 13ª cesta-alimentação.

Contexto conjuntural da campanha 2004

A campanha salarial dos bancários de 2004 se deu num período de grande confluência de fatores internos e externos ao dia a dia da categoria.

Só para citar alguns:

-eram as primeiras eleições gerais após a eleição de Lula (PT) em 2002. Passado o primeiro ano de governo, a grande mídia buscava movimentos de massa para manipular notícias que jogassem todos contra a administração de Lula;

-alguns bancários integrantes das oposições à CUT, vários deles candidatos a vereança e até a prefeitos por partidos nanicos como o PSTU, PCO etc, usavam o horário eleitoral gratuito na TV para criticar as negociações e fazer falsas acusações à Executiva Nacional dos Bancários, composta por todas as federações e pelos principais sindicatos do país;

-várias eleições sindicais ocorreriam no ano seguinte, como a do Sindicato de São Paulo, Osasco e região, e havia ordens do comando da oposição de fazer o caos nas assembleias dos principais sindicatos de bancários naquele setembro de 2004. Era a velha tese de oposição do quanto pior, melhor.

Greve de 30 dias e julgamento do TST para BB e Caixa

Os bancários rejeitaram a proposta conseguida em mesa de negociação com a Fenaban e iniciamos a mais longa greve geral da categoria.

Foi uma greve histórica e todos aprenderam muito com ela. Tanto o movimento sindical quanto os bancários de base.

Ao final, os banqueiros e o governo conseguiram interromper a greve com o julgamento de dissídio coletivo para os bancos federais, e contaram com o triste apoio da Contec - na época, a única Confederação Oficial de bancários (e que representa menos de 10% da categoria), que sempre foi usada para trair os trabalhadores. E os patrões contaram também com o PSTU e MNOB, hoje Conlutas, que traindo seu discurso de serem "combativos", ajudaram a jogar o destino dos trabalhadores para as mãos da justiça burguesa.

No julgamento, os bancários perderam alguns dos avanços conseguidos na negociação como a 13ª cesta-alimentação para todos; o BB não corrigiu mais o PCS em 11,77% com aumento real de 5%; e os bancários tiveram que compensar a metade do período de 30 dias de greve, criando uma referência para os banqueiros de compensação que dura até hoje.

MAS a greve foi muito positiva para a categoria, pois fez renascer o sentimento de luta de massas e a ideia de que existem limites que precisamos aferir a cada momento de nossa campanha para sair ganhando, como fizemos em todos os anos seguintes, com bancários unidos e trazendo conquistas de 2004 a 2008.

Os bancários também aprenderam que nem sempre os grupos e correntes que disputam espaço no movimento de massas têm como foco a contratação de melhorias para os trabalhadores e sim fazer suas disputas de máquinas sindicais, ficando em segundo plano se os trabalhadores vão ganhar ou perder com a campanha salarial em si.

Enfim, todos nós bancários aprendemos muito em 2004.

William Mendes


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Era dos Extremos - Eric Hobsbawm



Refeição Cultural

A ERA DA GUERRA TOTAL

Lendo este capítulo, percebe-se, antes de mais nada, como sabemos pouco de história. Creio que eu e todos quase nada sabemos.

Vemos também o quanto a história explica o mundo em que vivemos hoje. É impressionante como se encaixam as pedras do tabuleiro-mundo em todos os seus eixos políticos, econômicos, culturais e sociais.

"Ler para viver" como dizia Flaubert. E ler para compreender a vida e buscar melhorá-la.

AS POTÊNCIAS DA ÉPOCA

"Em 1914 não havia grande guerra fazia um século, quer dizer, uma guerra que envolvesse todas as grandes potências, ou mesmo a maioria delas, sendo que os grandes participantes do jogo internacional da época eram as 6 'grandes potências' europeias (Grã-Bretanha, França, Rússia, Áustria-Hungria, Prússia - após 1871 ampliada para Alemanha - e, depois de unificada, a Itália), os EUA e o Japão."

AS ORIGENS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

"Ela começou como uma guerra essencialmente europeia, entre a tríplice aliança de França, Grã-Bretanha e Rússia, de um lado, e as chamadas 'Potências Centrais', Alemanha e Áustria-Hungria, do outro, com a Sérvia e a Bélgica sendo imediatamente arrastadas para um dos lados devido ao ataque austríaco (que na verdade detonou a guerra) à primeira e o ataque alemão à segunda (como parte da estratégia de guerra da Alemanha). A Turquia e a Bulgária logo se juntaram às Potências Centrais, enquanto do outro lado a Tríplice Aliança se avolumava numa coalizão bastante grande."

FASCISMO: CONSEQUÊNCIA DA 1ª GUERRA MUNDIAL

"Os soldados que haviam passado por aquele tipo de guerra (1ª GM) sem se voltarem contra ela às vezes extraíam da experiência partilhada de viver com a morte e a coragem um sentimento de incomunicável e bárbara superioridade - inclusive em relação a mulheres e não combatentes - que viria a formar as primeiras fileiras da ultradireita do pós-guerra. Adolf Hitler era apenas um desses homens para quem o fato de ter sido frontsoldat era a experiência formativa da vida."

NOVOS ALVOS DE GUERRA: OS CIVIS

No confronto da 1ª guerra, em um determinado momento de igualdade de forças (e mortes) na fronteira ocidental entre França e Alemanha, os lados inventaram uma nova forma de avançar na guerra: matar de fome os civis. A Alemanha, via água, com ataques submarinos, impedindo a chegada de suprimentos à Grã-Bretanha; depois os aliados, bloqueando os suprimentos da Alemanha.

Hobsbawm afirma que a superioridade da máquina de guerra alemã foi sempre visível em relação à dos aliados, tanto na 1ª quanto na 2ª guerra mundial, em termos de eficiência na arte da guerra.

QUESTÕES SEMPRE POLÍTICAS E ECONÔMICAS

A Alemanha seria superior mais cedo ou mais tarde, em relação à Grã-Bretanha e à França, que já apresentavam quedas em seus desenvolvimentos econômicos e sociais no início do século XX.

Pra se ter uma ideia, depois de perder duas grandes guerras, no final dos anos 90 a Alemanha já se apresentava como um dos países mais desenvolvidos do mundo novamente.

TRATADO DE VERSALHES: UM DOS FATORES DA 2ª GUERRA MUNDIAL

"A vitória total, ratificada por uma paz punitiva, imposta, arruinou as escassas possibilidades existentes de restaurar alguma coisa que guardasse mesmo fraca semelhança com uma Europa estável, liberal, burguesa, como reconheceu de imediato o economista John Maynard Keynes. Se a Alemanha não fosse reintegrada na economia europeia, isto é, se não se reconhecesse e aceitasse o peso econômico do país dentro dessa economia, não poderia haver estabilidade. Mas essa era a última consideração na mente dos que tinham lutado para eliminar a Alemanha."

e

"O acordo de paz imposto pelas grandes potências vitoriosas sobreviventes (EUA, Grã-Bretanha, França, Itália) e em geral, embora imprecisamente, conhecido como Tratado de Versalhes, era dominado por 5 considerações". Aqui Hobsbawm faz observações sobre o quanto foi arbitrária a divisão ou fatiamento político do mapa europeu pós-guerra. (ler p. 38 e 39)

Só para dar um exemplo de gestação de problemas da época, o governo americano, na figura de Wilson, incentivou a criação de diversos Estados-nação étnico-linguísticos para substituir impérios fatiados - russo, habsburgo, otomano - que ainda nos anos 90 trariam guerras e massacres divisionistas:

"O mapa da Europa tinha de ser redividido e retraçado, tanto para enfraquecer a Alemanha quanto para preencher os grandes espaços vazios deixados na Europa e no Oriente Médio pela derrota e colapsos simultâneos dos impérios russo, habsburgo e otomano. Os muitos pretendentes à sucessão, pelo menos na Europa, eram vários movimentos nacionalistas que os vitoriosos tendiam a estimular, contanto que fossem antibolcheviques como convinha (...) A tentativa foi um desastre, como ainda se pode ver na Europa da década de 1990. Os conflitos nacionais que despedaçam o continente na década de 1990 são as galinhas velhas do Tratado de Versalhes voltando mais uma vez para o choco*" p.39

(*) A guerra civil iugoslava, a agitação secessionista na Eslováquia, a secessão dos Estados Bálticos da antiga URSS, os conflitos entre húngaros e romenos pela Transilvânia, o separatismo da Moldova (Moldávia, ex-Bessarábia) e, na realidade, o nacionalismo transcaucasiano, são alguns dos problemas explosivos que não existiam ou não teriam como existir antes de 1914.

LIGA DAS NAÇÕES: IDEIA QUE NÃO VINGOU

"A Liga das Nações foi de fato estabelecida como parte do acordo de paz e revelou-se um quase total fracasso, a não ser como uma instituição para coleta de estatísticas."


e

"Nenhum acordo não endossado pelo que era agora uma grande potência mundial (EUA) podia se sustentar."

E também:

"Duas grandes potências europeias, e na verdade mundiais, estavam temporariamente não apenas eliminadas do jogo internacional, mas tidas como não existindo como jogadores independentes - a Alemanha e a Rússia soviética."

Esses foram fatores fundamentais para o curto período de paz - com graves crises econômicas nos países envolvidos - até a eclosão da 2ª Guerra Mundial.


Bibliografia:


HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos - O breve século XX, 1914-1991. Companhia das Letras. Tradução de Marcos Santarrita, 2ª edição, 33ª reimpressão

terça-feira, 17 de março de 2009

Livro: Fragmentos Contemporâneos da História dos Bancários (Cap.2)



Capítulo 2

Panorama histórico antes dos governos do PT

Uma das questões que muitas vezes não nos atentamos é com relação ao perfil atual (ano de 2009) da categoria bancária de um modo geral e também dos bancários do Banco do Brasil.

Pelos últimos dados que temos, mais de 50% dos bancários têm menos de 5 anos de banco. Antigamente esse percentual era mais expressivo nos bancos privados, devido a alta rotatividade motivada por processos de demissão. Nos bancos públicos, a substituição do quadro funcional se dava mais por processos de aposentadoria. Isso começou a mudar na década de 90 com o forte ataque aos bancos públicos promovido pelo processo neoliberal brasileiro do período Collor - FHC.

Este perfil dos bancários significa dizer que muitos deles nem sequer têm ideia do que foi ser bancário durante o período de maior ataque aos nossos direitos na história recente do País, ou seja, o que sofremos enquanto categoria entre 1995-2002, período dos 2 mandatos da coligação neoliberal PSDB/DEM/PPS, na gestão FHC. E não esqueçamos o papel "sem ideologia" do tal PMDB, o maior partido brasileiro e que está sempre com qualquer governo de plantão.

Para fazermos um breve panorama histórico, principalmente no Banco do Brasil, apresentamos alguns fatos que marcaram profundamente a vida laboral dos bancários nesse período:

1- Isolamento trouxe congelamento salarial e retirada de direitos

Forte ataque dos banqueiros e do governo federal em relação às políticas de reajustes salariais. O Plano Real havia sido implantado desde 1994 e para a classe dominante - governo demo-tucano e capitalistas - o culpado pela inflação no país era o salário do trabalhador brasileiro. Com isso, os bancários de bancos privados e estaduais, signatários da Convenção Coletiva de Trabalho - CCT, conseguiram no período fechar campanhas com reajustes de índices abaixo da inflação mais um abono salarial, além de conseguirem fechar um acordo de Participação nos Lucros e Resultados - PLR - desde 1995. A remuneração variável era uma pauta capitalista da época.

Os bancos públicos federais, naquela época, faziam suas campanhas sozinhos e quando conseguiam fechar acordos salariais com o governo federal, assinavam Acordos Coletivos de Trabalho - ACT.


Essas batalhas travadas sozinhas contra o governo de plantão, trouxeram derrotas importantes para os bancários do BB. Como não conseguimos correlação de forças suficiente e ainda ficamos expostos aos ataques plantados na grande mídia contra o funcionalismo público, sofremos dois ajuizamentos de dissídios coletivos, um relativo a 1996 e outro em 1999, onde nos impuseram reajuste zero com pagamento de abono salarial a partir de 1996.

Além disso, nas renovações dos ACT, o Banco do Brasil passou a retirar vários direitos como a alteração unilateral do Plano de Cargos e Salários - PCS de 12 níveis, do E1 ao E12 -, que tínhamos em 1995 e que nos garantia reajustes de 12% de interstícios a cada 3 anos e em cada um dos níveis de antiguidade, sendo os últimos 3 níveis de 16%.

TESES ANTAGÔNICAS NO CONGRESSO DO BB: A ARTBAN ESTAVA CERTA

Um embate ideológico foi travado no seio do movimento sindical, no congresso dos funcionários do BB em 1996.

A Articulação Sindical defendia fazer acordo com o BB, mesmo que fosse sem reajuste e com abono, pois o banco aceitaria não mexer nos direitos do PCS. As outras correntes se uniram no congresso e derrotaram a tese da ArtBan e fomos para a campanha sem aceitar acordo com o banco.

As outras correntes defendiam a tese, que se mostrou errada, de que o PCS era direito adquirido e no final vimos o dissídio do TST, ajuizado pelo BB e pela Contec, não entrar no mérito e julgar abono com reajuste zero. O julgamento dizia que não era possível dar reajuste aos funcionários porque o PCS gerava um crescimento vegetativo prejudicial ao banco. O BB aproveitou e mudou o PCS. A Artban estava correta em sua tese.

Em 1999, o Banco nos retirou o anuênio simplesmente deixando de aplicá-lo para os trabalhadores. A pressão pelo fim do anuênio era dos banqueiros em geral. Tanto que houve um plebiscito na categoria, sobre vender e receber indenização pelo direito ou não. Infelizmente a categoria aceitou trocar o anuênio por um valor indenizado. No BB, não teve discussão alguma, foi retirado sem indenização alguma.

2- "Saneamento" e enxugamento do BB para a privatização

A reestruturação dos bancos públicos federais e estaduais que passou a ocorrer tinha objetivo claro de "sanear as empresas" para privatizá-las. Sanear significa enxugamento do quadro e demissões em massa, além do congelamento salarial e retirada de direitos.

Durante aquele período, os tucanos conseguiram exterminar a grande maioria dos bancos estaduais e regionais, e já focavam a privatização dos públicos federais.

No Banco do Brasil, o processo de enxugamento através do plano de demissão "voluntária" - PDV - um eufemismo para terrorismo e chantagem aos bancários que não eram os queridinhos das chefias, extinguiu cerca de 50 mil postos de trabalho, deixando um saldo de 3 dezenas de suicídios de colegas.

3- A PLR da categoria não veio e BB criou um programa discriminatório

Enquanto os bancários signatários da Convenção Coletiva da Categoria - CCT - assinada com a Fenaban já recebiam PLR desde 1995, com regramento claro e definido para todos e sem discriminação, os bancários dos bancos públicos federais não tinham direito a ela.

Em 1998, a direção do BB resolveu criar um plano "provisório" de pagamento de participação nos resultados, uma espécie de PR - Programa de Resultados -, esdrúxulo e sem negociação com os bancários da CUT, organizados na CNB - Confederação Nacional dos Bancários -, que desde sua criação em 1992, representou cerca de 90% dos bancários do País.

O plano era completamente arbitrário e distribuía o quanto queria e para quem queria. Foram 9 semestres de pagamentos "provisórios" de resultado - entre 1998 e 2002.

Em geral, ficavam sem receber nada cerca de 7 mil bancários a cada semestre. Eram os motivos mais variados como, por exemplo, faltar um dia no semestre, a agência ter sofrido um assalto e bobagens do gênero.

Dentre os que tinham a sorte de receber, os valores variavam 100 vezes, ou seja, aos trabalhadores da base da pirâmide como escriturários e caixas executivos, valores de R$200. Para os executivos do Banco, valores de R$20.000.

Foi só com a greve de 2003 que os bancários do BB conseguiram a primeira PLR nos parâmetros da categoria, pois a greve exigiu o cumprimento dos direitos da categoria bancária, contratados entre a CNB/CUT e a Fenaban.

4- BB muda remuneração e privilegia os escolhidos

Outra grande mudança ocorrida nesse período do final dos anos 90 refere-se à remuneração dos bancários do BB. Até meados da década, a parte mais importante da renda do funcionário se baseava em salário fixo e direto, ou seja, ele recebia um vencimento padrão - VP, que estava inserido no plano de cargos e salários, mais anuênio, mais a comissão de caixa ou adicional de função.

No final da década, o banco criou uma referência para os cargos comissionados chamada de VR - Valor de Referência (seria algo como o valor pago pelo mercado bancário para cada cargo e função).

Durante o governo dos tucanos, os comissionados das chamadas gerências médias sofreram tanto quanto os bancários não-comissionados, pois além de não terem reajuste algum no VR - entre 2000 e 2002 houve um pequeno reajuste somente no VP -o banco extinguiu a jornada de 6 horas e passou a burlar a legislação trabalhista para a categoria bancária.

Entre 2000 e 2001, de forma arbitrária, o Banco aumentou o VR de alguns setores ou de alguns cargos ao seu bel-prazer. Chegou a dar aumento de 152% para alguns escolhidos. E o restante dos trabalhadores seguia sem reajustes.

5- Após pressão sindical, FHC abre concursos com menos direitos

A volta dos concursos de admissão no BB só ocorreram em 1998, após grande mobilização e campanha dos sindicatos e da CNB-CUT, pois com a saída de 50 mil bancários, a situação de atendimento e de condições de trabalho era intolerável. Com forte pressão, os sindicatos conseguiram que o governo voltasse a contratar.

Os sindicatos fizeram grandes campanhas denunciando a falta de funcionários e os milhões de horas extras feitas e não pagas aos trabalhadores.

Porém, para dar sequência ao processo preparatório de privatização em andamento nos bancos públicos, o governo FHC abriu concurso para o BB e para os demais bancos federais, não estendendo para os novos concursados a maior parte dos direitos conquistados em décadas de lutas bancárias.

A partir daquele ano de 1998, os concursados entravam com o salário-base, o direito à Cassi e à Previ (agora opcional e para um plano de contribuição definida - CD) e mais alguns poucos direitos. Os colegas bancários passariam a ser chamados pela diretoria do banco, sarcasticamente, como "genéricos", em referência aos remédios genéricos lançados na época, que "faziam o mesmo efeito, mas custavam muito menos".

Esses são alguns dos grandes problemas sofridos pelos bancários dos bancos públicos que não ficaram pelo caminho e que conseguiram vencer aqueles 8 anos de governo da coligação neoliberal PSDB/DEM/PPS, com amplo apoio do curinga chamado PMDB.

William Mendes


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Post Scriptum: o texto anterior pode ser lido aqui. Se houver interesse no texto seguinte, clicar aqui.


segunda-feira, 16 de março de 2009

Marilena Chaui explica Populismo



Refeição Cultural

Em entrevista à Revista Cult, n. 133, a professora filósofa Marilena Chaui nos explica o que é POPULISMO e alerta aos detratores do presidente Lula que eles o acusam sem ao menos saber o que significa o que estão falando.

"Penso também que é preciso dar um basta à tentativa de caracterizar o governo e o presidente da República como populistas. O populismo (tal como concebido pela sociologia brasileira, já que o conceito não é homogêneo para todas as sociedades) é a política da classe dominante para exercer o controle sobre as classes populares e/ou sobre a classe média tanto por meio de concessão de benefícios pontuais quanto por meio da figura do governante como salvador e protetor.

Ora, todos esses traços estão ausentes no governo Lula: o atual presidente da República não pertence à classe dominante, não concede benefícios pontuais e sim assegura a instituição de direitos com os quais se institui uma democracia, consequentemente, a figura do governante não tem a marca da transcendência, necessária à dimensão salvífica e protetora do dirigente não democrático.


Aliás, um dos pontos mais caros à mídia, que serve como ponta de lança nos ataques dirigidos ao presidente, é exatamente sua condição de classe: um operário sem diploma universitário, que não fala várias línguas, que comete gafes em situações de etiqueta e cerimonial etc. Ou seja, a mídia entra em contradição consigo mesma quando junta populismo e presidente operário sem diploma universitário."


A revista está excelente, vale a pena adquirir.

William

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domingo, 15 de março de 2009

Livro: Fragmentos Contemporâneos da História dos Bancários (Cap.1)



Capítulo 1

Cenário atual

Como estamos hoje, março de 2009, em termos de categoria bancária?

Conseguimos avanços importantes para temas antigos e também estamos sofrendo novos ataques do patronato banqueiro nesta década dos anos 2000.

Um sonho antigo dos bancários se realizou: a campanha unificada da categoria e um só acordo geral com todos os direitos valendo para todos os bancos e para todas as regiões do país.

Com a importante greve geral de 2004 conseguimos inverter uma tendência de redução de direitos que vinha da década de 90 e passamos a lutar juntos, bancos públicos e privados, em busca de que todos fossem signatários da Convenção Coletiva de Trabalho - CCT, assinada entre a Contraf-CUT - Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro - e a Fenaban - Federação Nacional dos Bancos.

Desde a Campanha Nacional dos Bancários de 2005, os bancos públicos federais passaram a ser signatários da Convenção Coletiva da categoria - o BB já em 2005 e a Caixa em 2006 - e passaram a assinar acordos aditivos com a cesta de direitos específicos que seus bancários já haviam conquistado ao longo de suas histórias.

Antes, esses bancos tinham Acordos Coletivos de Trabalho - ACT, e isso quando conseguiam fechar as negociações entre as partes, pois muitas vezes o governo não negociava e as campanhas salariais acabavam na Justiça do Trabalho, sendo resolvidas através de dissídios coletivos, muitas vezes prejudiciais aos trabalhadores. 

Os bancários cujas bases sindicais eram de sindicatos filiados à CUT faziam belas campanhas salariais e, no fim, terceiros resolviam a data-base a favor do governo, que contava com uma ajudinha da Contec, a confederação "oficial" à época.

O Banco do Brasil após a eleição de Lula (PT) em 2002

O Banco do Brasil é hoje, entre os bancos públicos federais, aquele que apresenta menos avanços em termos trabalhistas, na minha opinião.

Se, por um lado, conseguimos quase zerar as questões inerentes ao grave problema da isonomia de tratamento e de direitos entre os funcionários admitidos antes e depois de 1998, e se também podemos dizer que houve avanços nas nossas questões de previdência complementar - Previ, por outro lado, temos um quadro extremamente negativo no que diz respeito ao ambiente interno de trabalho com assédio moral e péssimas condições de trabalho, além de ser o único banco público federal onde a diretoria indicada pelo governo Lula não avançou um milímetro em relação ao Plano de Carreira na empresa, o que normalmente chamamos de PCCS - Plano de Carreira, Cargos e Salários.

Entramos o ano de 2009 reivindicando que o BB abra negociações sobre um novo Plano de Carreira e os burocratas da diretoria dizem não haver a menor intenção de se discutir o tema. Boa parte destes burocratas, aliás, vindo do movimento sindical da década anterior e que hoje fazem um papel deplorável enquanto patrões e negociadores da área de recursos humanos.

"Suas ideias não correspondem aos fatos", como diria o poeta Cazuza.

Além de termos que buscar a organização e mobilização das bases bancárias para forçar a abertura de negociações sobre o Plano de Carreira no BB, teremos que focar de maneira muito intensa a mudança das relações internas de trabalho porque o banco hoje detém um quadro funcional adoecido e desmotivado, onde o comum é o assédio moral para o cumprimento de metas irreais de vendas de produtos que nem deveriam ser o foco da empresa, haja vista o momento de crise econômico-financeira internacional em que nos encontramos neste ano de 2009.

Mais que nunca, a crise gerada pelos países desenvolvidos com suas receitas neoliberais e de desregulamentação total dos mercados exige forte atuação dos bancos públicos como apoiadores da atividade econômica através de empréstimos a taxas menores, apoio para novos empreendedores, apoio para a agricultura, crédito para a exportação, além de atuação como balizadores do mercado financeiro em menores spreads, tarifas e juros.

Felizmente, e graças a organização coletiva, em boa parte capitaneada pela CUT - Central Única dos Trabalhadores - e seus sindicatos, o Brasil é um dos poucos países que teve a resistência vitoriosa dos sindicatos e dos bancários de bancos públicos em não permitir que o regime neoliberal dos demo/tucanos FHC e Serra tivesse doado o que sobrou do patrimônio da nação, pois após vaporizarem o sistema de telecomunicação, as mineradoras, os bancos regionais e estaduais e centenas de outras empresas públicas, não tiveram tempo de doar até 2002, a Petrobras (apesar de doarem cerca de 40% das ações para alguns americanos), os bancos públicos federais e o BNDES.

Se é previsível embates duros com a diretoria burocrática e retrógrada do Banco do Brasil, também é belíssima a história recente de luta dos funcionários do banco, unidos aos demais bancários do país que, juntos há mais de 5 anos, reverteram boa parte das mazelas oriundas do governo trágico dos partidos PSDB/DEM/PPS entre 1995-2002.

Irei contanto aos poucos essas campanhas, essas lutas e suas conquistas e as versões que se fizeram e fazem delas por aí.

William Mendes


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Post Scriptum: o primeiro texto pode ser lido aqui. Já o capítulo seguinte pode ser lido aqui.


Corrida na AABB



Hoje foi dia do circuito de corrida da AABB. "Correu" tudo bem, literalmente.

A equipe do Sindicato compareceu com 10 atletas. Fizemos bonito, pois estivemos no pódio com o Pícole e com o Alemão.

Fiz meu percurso de 5,4 Km em 29'.

Depois, fui pra piscina pra dar uma relaxada e umas braçadas.

É isso!

sábado, 14 de março de 2009

Caminhada vespertina



Caminhei hoje cerca de 8 Km na parte da tarde. 

Amanhã correrei na AABB pela manhã.

O século: Vista aérea - Era Dos Extremos, Eric Hobsbawm



Refeição Cultural

Hobsbawm diz algo muito real e que precisamos reverter:

O SÉCULO: VISTA AÉREA

- "Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem"

- "Os acontecimentos públicos são parte da textura de nossas vidas"

- "A única generalização cem por cento segura sobre a história é aquela que diz que enquanto houver raça humana haverá história"

- "Os jornalistas e ensaístas filosóficos que detectaram o 'fim da história' na queda do império soviético estavam errados. O argumento é melhor quando se afirma que o terceiro quartel do século assinalou o fim dos 7 ou 8 milênios de história humana iniciados com a revolução da agricultura na Idade da Pedra, quando mais não fosse porque ele encerrou a longa era em que a maioria esmagadora da raça humana vivia plantando e pastoreando rebanhos"


Hobsbawm faz uma espécie de comparação entre os anos de ouro do capitalismo após a 2ª Guerra Mundial com um impacto maior e duradouro da Revolução Socialista de 1917, que traria a modernização de países agrários e atrasados como Rússia e depois China, onde as populações morriam de fome e miséria absoluta.


Bibliografia:

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos - O breve século XX, 1914-1991. Companhia das Letras. Tradução de Marcos Santarrita, 2ª edição, 33ª reimpressão.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Livro: Fragmentos Contemporâneos da História dos Bancários - Introdução



Introdução

POIS É, assisti nesta quinta-feira, 12 de março de 2009, a uma comemoração que me emocionou muito.

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região fez um evento para homenagear os bancários que participaram de um dos períodos mais gloriosos da história dessa categoria: a vitória da chapa de oposição na eleição do Sindicato em 1979.

O mais marcante, na minha visão, foi relembrar a luta de trabalhadores comuns, pessoas comuns, que enfrentaram na década de setenta a violência da ditadura militar.

É demais! Esses milhares de bancários que antecederam a minha geração deram sangue, suor e lágrimas para melhorar as condições de vida dos bancários, dos brasileiros, e ajudaram a derrubar um regime de exceção iniciado com um golpe militar em 1964.

Regime que calou a democracia e escolheu alguns parceiros civis para enriquecerem e darem cobertura para a ditadura em vigor. Os banqueiros foram alguns dos escolhidos e apadrinhados pelos militares golpistas.

Pertenço a uma categoria que já fez tanto pelo Brasil e pelos trabalhadores em geral que decidi ser mais um na multidão a contar um pouco do período mais recente desta história. Nada nada, eu já percorri quase duas décadas como mais um dos milhares de bancários do país. Sou fragmento. Sou legião.

Se, por vezes, me senti mal por trabalhar em algo tido como inútil para a sociedade, por não produzir nada além de exploração e expropriação dos clientes e usuários, haja vista que banqueiro aqui, e por aí também, quase nunca faz o que os bancos deveriam fazer para o bem de uma economia nacional, por outras vezes, descubro que nós, bancários, já temos uma história de quase um século de organização e luta que trouxe direitos para toda a classe trabalhadora e sempre fomos referência e vanguarda em buscar alternativas para enfrentar o capital e os capitalistas.

São muitos momentos neste século de luta bancária. Muitos momentos esquecidos ou não ditos e não evidenciados por uma história da sociedade brasileira que é geralmente escrita por seus donos do poder. Sempre pelo viés conservador. Muitas vezes pintando e inventando heróis que não existiram ou que não o foram nunca.

Dois materiais importantes registram um pouco desta história dos bancários no Brasil. O livro A História dos Bancários, lutas e conquistas 1923-1993, que conta os 70 anos de lutas dos bancários, produzido pelo Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e região, e realizado sob a direção de Sérgio Rosa e a coordenação de Dainis Karepovs.

O outro livro é Dez anos de lutas, conquistas e sonhos, produzido pela CNB/CUT - Confederação Nacional dos Bancários da CUT, em agosto de 2002, e que traça a história dos bancários desde a criação da Confederação e a assinatura da primeira CCT - Convenção Coletiva dos Bancários -, primeira e única do País, até o ano que encerraria, meses depois do lançamento do livro, o governo neoliberal dos demo/tucanos (FHC) que quebrou o país entre 1995/2002.

De lá para cá, muitas mudanças ocorreram. Muita história passou e continua a ser escrita a cada dia. Vivo dizendo ao movimento sindical bancário que falta um registro mais efetivo deste último período tão rico de nossa categoria.

Só para citar algumas coisas, lembro aqui da retomada do movimento de massas a partir de 2004 com a mais longa greve geral dos bancários na história do país. Antes, em 2003, os bancários do BB e Caixa Econômica Federal entraram em greves fortíssimas exigindo o cumprimento da Convenção Coletiva dos Bancários, nossa querida CCT, única no país.

Depois, seguimos fazendo novos feitos históricos e trazendo conquistas na base da organização, mobilização e greve: voltamos a ter reajustes salariais ao invés de abonos; passamos a ter aumento real desde a greve de 2004; fizemos os bancos públicos federais passarem a cumprir a Convenção da categoria; aumentamos os direitos da categoria como a 13ª cesta-alimentação, conseguimos o reconhecimento formal da Contraf-CUT - nossa Confederação que substituiu a CNB/CUT a partir de 2006 - e o reconhecimento das centrais sindicais, dentre outros feitos.

Não tenho aqui a pretensão de substituir registros que acho que devem ser feitos de maneira mais formal pela Contraf-CUT, revelando em detalhes esta história honrosa dos bancários.

Mas carrego uma vontade de contar um pouco do que vivi, presenciei e ajudei a construir nos últimos anos como cidadão trabalhador e como dirigente sindical eleito desde 2002 pelos meus colegas bancários.

A história da humanidade não é feita por heróis, é feita por pessoas comuns. Eu acredito nisso.

Contarei fragmentos dessa história de forma não-cronológica. Ela virá ao sabor de minhas recordações, virá em digressões a todo instante. Não será em estilo ab ovo, nem in medias res, até porque esta história não tem um começo certo e muito menos um fim determinado, para eu dizer que começo pelo início ou do meio para o fim.

Lembrem-se, estamos construindo a história dos bancários hoje, a cada novo dia.


William Mendes

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