segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Instantes (17h12)



Refeição Cultural

A vida é um instante, e sendo instantes é recomendável que os seres viventes tenham atenção. O viver se define nos detalhes...

Com atenção é possível dar mais oportunidades à Sorte, essa deusa mitológica. Sorte, azar, acaso; destino, alguns diriam. Atenção ajuda, tanto a sorte, o acaso, quanto o destino.

Um tempo atrás, ao acompanhar meu pai ao médico, tirei um carcinoma basocelular no mesmo dia. Aquela mancha na cabeça chamou a atenção ao cortar o cabelo. Era coisa ruim. 

Meses atrás, ao observar a boca durante a higiene diária, observei uma mancha branca que não estava ali antes. Fui atrás do diagnóstico daquilo. 

A leucoplasia oral que tinha foi removida na semana passada pelos atenciosos profissionais e estudantes da Faculdade de Odontologia da USP e a vida segue. Viva a ciência e o SUS! Sigo sendo um homem de sorte. 

Depois de uma semana de molho, sem comer quase nada, voltei às atividades físicas, aos poucos, claro.

Minha genética e meu percurso de vida me avisam sobre riscos mais comuns a nós brasileiros e adultos do século XXI... infarto e acidentes vasculares é que são foda!

Amigas e amigos leitores do blog, fiquem atentos a manchas brancas na região bucal, manchas estranhas na pele, e claro, colesterol, pressão alta e diabetes, e sobrepeso. (post scriptum: faltou falar da obesidade e da importância da prática de atividades físicas regulares) 

Viver é uma oportunidade diária de aprender coisas novas e compartilhar o conhecimento, fazer o bem aos outros e à coletividade, e sentir o sol da tarde num dia frio do caramba.

William 

11/08/25

domingo, 10 de agosto de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Domingo, 10 de agosto de 2025.


No calendário da cultura brasileira hoje é Dia dos Pais. Ao acordar, fiquei um tempo olhando para o teto do quarto e pensando sobre isso, o Dia dos Pais, ou o fato de ser pai, ou até a respeito de ser filho. Todos somos filhos de pais e mães. Após pensar um tempo, me senti sem palavras neste momento para escrever sobre pais e filhos. Com as palavras vêm os julgamentos, e não sou nada pra julgar ninguém. Aos pais, fica meu desejo sincero que tenham um domingo bom, não adiantaria desejar o lugar-comum, o mundo humano está numa etapa ruim da história da espécie na Terra.

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"Que eu chegue bem ao próximo final de semana. É o pensamento"

Domingo passado escrevi sobre minha ansiedade em relação à semana que se iniciava, seria uma semana diferente no cotidiano. Hoje posso dizer que cheguei bem. Sigo sendo um homem de sorte. Fiz uma cirurgia na boca e sabia que seriam dias de pouca ingestão de alimentos. A sensação de fundura no estômago, roendo o tempo todo, me fez imaginar - o que não é possível -, mas pelo menos tentar imaginar a fome que os donos do poder estão impondo há tempos às maiorias de seres humanos excluídas dos direitos humanos e, em particular, pensei nos palestinos da Faixa de Gaza, um campo de concentração vergonhoso deste momento de fim de mundo. Também me lembrei da tia Alice, que não conseguia mais comer na fase final de sua doença. Sem conseguir mastigar, a gente percebe como é bom ter saúde. No meu caso, por mais que tomasse iogurte, vitamina de frutas, sucos, leite, o corpo não saciava a fome. Foi bom demais poder voltar aos poucos a ingerir coisas com sustância, com sal. Ao mesmo tempo, com a consciência que tenho hoje, fico triste ao ver tanta gente querida detonando sua saúde e a gente não poder fazer nada por alguém que não queira fazer algo por si mesmo. Parece que vou percebendo cada dia mais que as coisas são como são por falta de educação, a tragédia e a miséria humana não são naturais, são escolhas. 

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Por escolha, por tentar fazer algo que seja bom para o particular e o coletivo, faço parte de um grupo de pessoas que estão participando de um curso de extensão universitária com aulas e professores fantásticos, com aulas presenciais aos sábados, com a temática "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", organizado e ministrado pelo IBEC e Unesp. Ter o conhecimento da realidade do mundo é um privilégio, uma responsabilidade, e um desafio de autoconhecimento para saber administrar o sofrimento que o conhecimento nos dá. Enfim, não gostaria de ser um ignorante, um néscio, um idiota manipulável. Prefiro lidar com a dor e o sabor de acessar o conhecimento e as mais diversas formas de cultura.

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Para a semana que se inicia, desejo coisas simples, na dimensão pessoal. Comer arroz com feijão, pão com manteiga e café. Praticar atividades físicas possíveis. Ler. Escrever. Gostaria de poder fazer algo para salvar a natureza de sua destruição total pelos humanos capturados pela invenção deles próprios, o capitalismo. No entanto, ainda não foi possível convencer maiorias nem no campo popular onde me politizei a lutarem contra o modo de produção e organização social do capitalismo. 

Will i am

(10h40)

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Leitura: Kraken capitalista e destinos da economia mundial - Fábio Antonio de Campos



Refeição Cultural

Artigo: Kraken capitalista e destinos da economia mundial - Fábio Antonio de Campos. Professor do Instituto de Economia da Unicamp, pesquisador do Centro de Estudos do Desenvolvimento Econômico - CEDE, do Núcleo de História Econômica - NIHE do IE/UNICAMP e do Instituto de Estudos Contemporâneos Brasileiros - IBEC

Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema.

Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", ministrado pela Unesp e demais parcerias

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A postagem é uma espécie de fichamento feito pelo autor do blog. Qualquer interpretação divergente do texto original é de responsabilidade deste leitor que comenta o texto.

Abaixo algumas palavras-chave ou ideias que gostei no referido texto.

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- O autor começa explicando o que seria Kraken, monstro conhecido na cultura medieval: 

"Inspirado nos escritos gregos de 2500 anos atrás de Homero, quando em A Odisseia, o poeta mostra a criatura Cila como um animal de seis cabeças, Kraken é uma versão medieval e de origem escandinava para alertar os navegadores sobre os perigos de um monstro que vive no mar. Além de devorar a fauna marítima, seus tentáculos gigantes são capazes de esmagar barcos, colocando em risco a sobrevivência humana nos oceanos" (p. 92)

- O Kraken capitalista, o capital financeiro e seus tentáculos, "além de parasitar o excedente gerado pela exploração da força de trabalho e da natureza, fazem naufragar os horizontes do futuro da humanidade" (p. 93)

- Esse ser destruidor, o capital financeiro: "A força deste ser oligárquico que comanda as dimensões industriais, comerciais, agrominerais, computacionais e militares do capital, se revela na conjuntura da economia mundial pelas redes de poder financeiro que, ao socializarem a produção capitalista em um patamar inédito, se apropriam privadamente dos frutos desta valorização" (p. 93)

- Na lista acima de concentração do poder financeiro oligárquico, eu incluiria a dimensão das comunicações, são tudo os mesmos donos

- O autor fará uma análise da questão do Kraken capitalista sob três dimensões: conjuntura, estrutura e superestrutura

CONJUNTURA

- O comércio mundial cresce menos; cada dia menos corporações dominam todos os mercados; os CEOs das corporações exercem poderes em várias delas; com mercados em baixa, sobram oportunidades para os cassinos financeiros; só uns poucos recebem as informações privilegiadas sobre tudo no sistema

- "Em estudo recente (PHILLIPS, 2024), as 10 maiores empresas de gestão de ativos no mundo, com US$ 50 trilhões em 2022 (quase 50% do PIB do planeta), apresentam 117 indivíduos que, como diretores em posições cruzadas, atuam nos conselhos executivos combinando estratégias oligopolistas." (p. 95)

- Os tentáculos do monstro... "É possível vislumbrar tal poder na imagem recente da posse presidencial de Trump, quando os principais membros das big techs estavam ao seu lado, pagando milionárias contribuições para sua campanha. A GAFAM (Google, Apple, Facebook, Amazon, Microsoft) são abastecidas por participação acionária destes 10 Titãs do capital financeiro, assim como na big pharma, e em outros conglomerados." (p. 96)

- "Em síntese, o que estes dados mostram é que há na economia mundial um aumento do endividamento de corporações, famílias e governos, em que o capital excedente assume majoritariamente a forma fictícia. Decisões de gasto, investimento, crédito, gestão financeira, têm como eixo a preservação e a valorização da riqueza abstrata (monetária), o que relativiza o gasto e acumulação na dimensão produtiva do capital." (p. 96)

- Em consequência desse Kraken capitalista, cada vez menos os governos nacionais conseguem implementar políticas econômicas autônomas e independentes desses capitais piratas

- O autor, Fábio Campos, faz uma boa síntese das questões colocadas em relação à emergência climática

- A China capitalista... "A China está promovendo uma reconfiguração econômica, política e social em escala global. Em suma, diferentemente das economias periféricas, e inclusive da Europa Ocidental, e economia chinesa preservou sua autonomia estratégia e institucional mesmo estando inserida na ordem global, que agora busca remodelar em seu favor. Como afirma Bürbaumer (2024), a China ao tornar-se capitalista minou a 'Globalização'." (p. 101)

- O que temos pela frente na disputa de hegemonia global? "Guerra comercial tende a tornar-se militar, quando uma dimensão do capital financeiro, a economia de guerra se apresenta como um meio de valorização em si mesmo, ao mesmo tempo que define um fim, um alvo a ser atingido, como ensinou Rosa Luxemburgo (1985)." (102)

- Como estamos de ogivas nucleares no mundo, atualmente? Estamos bem!!! Podemos destruir a vida na Terra dezenas de vezes...

"Os países com os maiores arsenais nucleares no mundo são liderados pela Rússia, com aproximadamente 6.375 ogivas nucleares, seguida pelos Estados Unidos, com cerca de 5.800 ogivas. A China ocupa o terceiro lugar, com cerca de 500 ogivas, enquanto a França possui cerca de 290 ogivas nucleares. O Reino Unido possui aproximadamente 225 ogivas. O Paquistão tem cerca de 170 ogivas, enquanto a Índia segue de perto com cerca de 160. Israel, embora não tenha confirmado oficialmente, é estimado a ter cerca de 90 ogivas nucleares, e a Coreia do Norte possui uma estimativa de 50 ogivas nucleares (ICAN, 2025)." (p. 103)

- A concentração dos donos do mundo da comunicação e conexão global, que inclui as tais "nuvens" onde o mundo inteiro acha que guarda suas produções de conteúdo: 

"Temos uma oligarquia digital, em um mercado computacional e de dados, que apresenta uma concentração econômica espantosa das chamadas big techs: em 2023, a Amazon detinha 39%, a Microsoft 23%, o Google 8,2%, o Alibaba 7,9%, a Huawei 4,3%; em um total de 82,4% do mercado global de nuvem (AMADEU, 2024)" (p. 104)

- O autor conclui a dimensão Conjuntura assim: "A incompatibilidade entre a vida terrestre e o sistema mostra os limites deste modo de produção capitalista. Temos uma crise civilizacional, onde o capitalismo para criar suas formas modernas de autoexpansão deve destruir as condições básicas de existência humana. Estamos, portanto, diante de uma crise estrutural do capital." (p. 104)

ESTRUTURA

- "Como afirmou Marx (1982), no capitalismo toda crise é uma crise de superprodução de capital, e não de subconsumo – visto que este modo de produção priva a maioria das pessoas do consumo" (p. 104)

- "Segundo Marx (2013), a crise também está incrustada na própria forma mercadoria. Isso porque o sistema se organiza em torno da produção de valores de troca, e não de valores de uso voltados às necessidades da reprodução social da humanidade." (p. 105)

- Um fator positivo nas crises capitalistas é que podemos fazer disso uma revolução: "A crise não seria o fim do sistema econômico, mas, potencialmente, teria condições de engendrar luta de classes capazes de organizar a revolução para sua superação." (p. 105)

- As tecnologias das últimas décadas e o aumento exponencial da produtividade transformaram as crises cíclicas em crise permanente do capital

"A tecnologia da máquina programável com a microeletrônica, internet e IA impôs um aumento de produtividade, em termos relativos jamais vista, que retirou o elemento cíclico das crises que era vital para a reprodução ampliada do capital. A crise se tornou contínua, constante, uma crise estrutural." (p. 105)

- O 4º órgão... "Segundo Bacchi (2020), nos anos 1960 foi introduzido o quarto órgão daquela máquina que Marx (2013) descrevera no cap. 13 do Livro I de O Capital. Além do motor, a transmissão e a máquina ferramenta do século XIX, surge o 'quarto órgão de controle' que introduz 'a máquina programável' e, com ela, o que determinou a crise estrutural" (p. 106)

- Em seguida vemos a citação de Bacchi, que desvenda a crise atual do capital: 

"como tudo na natureza depende de um limite, quando a taxa de lucro baixa a determinado ponto diferente de zero, mas razoavelmente baixo, na verdade, o capital já não pode suportar, pois a reprodução ampliada se interrompe e o sistema entra em crise que não é cíclica, senão que uma crise generalizada do sistema. Com isto queremos dizer que o capitalismo, a partir deste momento, está condenado a uma decadência constante e irreversível, tal como descreve Marx em suas obras. E o capital como um todo já não consegue conter mais as novas forças produtivas em seu seio (BACCHI, 2020, p.35)." (citado na p. 106 do texto de Fábio Campos)

- A crise estrutural do capital se estabelece por três eixos: a transnacionalização inviabilizou os Estados nacionais e suas políticas econômicas e de gestão social; o fim da sociedade do trabalho, pois a classe trabalhadora não consegue mais pressionar o capital nas relações de produção; o colapso ambiental, pois é impossível ao capital não destruir a natureza

- O imperialismo foi revitalizado pela crise estrutural, colocando o capital financeiro no centro do poder de apropriação de valor

- Formas de opressão do capital: "Uma maneira imperial de circunscrever aqueles que não pertencem ao reino da mercadoria, ou se subordinam de maneira superexplorada, é por meio da racialização como expropriação (FANON, 1961). Ao intensificar as formas econômicas de opressão, políticas e ambientais, a crise estrutural recoloca o racismo, tanto nas periferias quanto nos centros, como instrumento indispensável para a manutenção do trabalho precário, o acesso a terras e aos recursos naturais (FRASER, 2024)." (109)

- Santos finaliza a dimensão Estrutura assim: "Em síntese, o capitalismo em sua crise sujeita as infraestruturas, comportamentos, ecossistemas, capacidades estatais, e, sobretudo, a consciência ao seu regime de valorização e expropriação, cujo resultado é a desestruturação sociopolítica do ser humano (FEDERECI, 2017; 2022; FRASER, 2024)."(p. 110)

SUPERESTRUTURA

- Marx em 1859 abordou a questão da superestrutura jurídica e política do capital: 

"Assim, a produção da vida determinada por certas relações, apresenta uma estrutura econômica que se assenta em uma reprodução material e que sustenta, como ensinou Marx em 1859, uma superestrutura jurídica e política expressa por formas sociais da consciência (Marx, 2012)." (p. 110)

- O esgotamento do liberalismo traz como alternativas autoritarismos como o nazifascismo:

"(...) o nazifascismo no século XX teria sido já a maturação deste modelo contrarrevolucionário para lidar com o esgotamento do liberalismo, ainda mais com guerras totais, primeiras genuinamente capitalistas, e em meio a exitosa Revolução da Rússia em 1917 e a Crise de 1929 (LUKÁCS, 2020; MAYER, 1981). Aquilo que gestou no século XIX como uma exceção para lidar com as contradições do capitalismo em sua dominação política, consolida-se como prática usual no século XX. Essa contrarrevolução na ascensão do nazifascismo também era um instrumento de modernização, projeção do futuro, do progresso para aqueles escolhidos para usufruir do bem-estar..." (p. 111)

- Líderes carismáticos como Hitler e Mussolini conseguiram mobilizar por manipulação dos sentimentos classes populares e trabalhadoras, desviando a revolta delas de um processo revolucionário

"Não se trata de uma doutrina apenas, uma ideologia a serviço da contrarrevolução, mas de uma prática que tem por objetivo atacar e desmoralizar as instituições liberais vigentes, sem, necessariamente, excluir a cooperação com elas. Por isso, excitam as camadas populares contra o sistema, sem transformá-los em rebeldes, e, por isso, utilizam dos mais avançados meios de comunicação de massa, uma modernização dirigida, para instrumentalizar o sensacionalismo em causa própria." (p. 112)

- Na citação acima, vemos um retrato da realidade atual na qual líderes de extrema-direita manipulam massas gigantes de vítimas da crise capitalista - miseráveis e pessoas sem perspectivas - a apoiarem políticas que só vão prejudicá-las mais ainda

- Contrarrevolução preventiva: na segunda metade do século XX, a manipulação das massas mundiais proletárias e miseráveis seguiu com a liderança dos EUA e sua indústria cultural e militar, a Guerra Fria

"Como mostramos em artigo recente, a contrarrevolução preventiva, e, sobretudo, permanente, conseguiu desmantelar pautas tipicamente revolucionárias, anticapitalistas e universais, transformando-as em agendas 'progressistas', 'cidadãs', de reparações históricas e ganhos incrementais. Como as questões identitárias que não se associam à luta de classes; ou ainda, instaurando programas sociais de gestão e de monitoramento da barbárie, como os do Banco Mundial, os de combate focalizado à pobreza, 'empoderamento' nas favelas, empreendedorismo popular etc. (LIMA FILHO; GENNARI; CAMPOS, 2021)." (p. 113)

- O neoliberalismo é uma forma de contrarrevolução permanente

- Surge um novo ser com as burocracias do capital, o empreendedor de si

- O autor afirma "O que chamamos de extrema direita hoje constitui a nova geração da contrarrevolução na crise estrutural do capital, uma face da superestrutura de nosso tempo." (p. 113)

- Uma característica comum aos extremistas de direita: "Para se salvar do apocalipse que se avizinha, resta, pois, os escolhidos por obra divina, reinventar o passado, reencantar o mundo. As diferentes variantes da extrema direita ao redor do globo têm algo em comum que é o tradicionalismo para a preservação da essência espiritual e cultural antiga, se opondo à modernidade." (p. 114)

- Fábio Antonio Campos conclui seu texto:

"Concluindo, a extrema direita atual, embora com suas particularidades, representa a continuidade da contrarrevolução no interior da crise estrutural do capital. No passado, sua utopia de progresso legitimava a dominação; hoje, com a interdição da ideia de futuro, é a própria administração do colapso social que a orienta. Não há, portanto, monstruosidade ou anomalia nesse fenômeno — apenas a expressão ideológica do Kraken capitalista em decadência. Diante disso, impõe-se a necessidade de resgatar o horizonte da transformação radical nas lutas sociais, a fim de abolir o fatalismo que naturaliza a violência como destino na economia mundial." (p. 115)

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Texto excelente! Profundo e necessário!

Leitura feita por

William Mendes

Leitura: Breves notas sobre a ecologia como limite absoluto ao capital em Mészáros - Ivan Lucon Jacob



Refeição Cultural

Artigo: Breves notas sobre a ecologia como limite absoluto ao capital em Mészáros. Ivan Lucon Jacob, doutorando em Desenvolvimento Econômico (IE/UNICAMP) e pesquisador do IBEC

Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema.

Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", ministrado pela Unesp e demais parcerias

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A postagem é uma espécie de fichamento feito pelo autor do blog. Qualquer interpretação divergente do texto original é de responsabilidade deste leitor que comenta o texto.

Abaixo algumas palavras-chave ou ideias que gostei no referido texto.

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- Falência dos dois modos estatais de controle e regulação do capital: o modelo keynesiano, responsável pelo welfare state, e o "tipo soviético", que mesmo tendo partido de uma revolução política, acabou por ser, segundo Mészáros, um "sistema sociometabólico do capital"

- Mészáros avalia estarmos chegando a um "limite estrutural do capital" devido ao seu caráter incontrolável de destruição da natureza

- Diz Ivan Jacob "Marx definiu o trabalho em si em uma concepção de metabolismo, dado que 'trabalho é, antes de tudo, um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por meio de suas próprias ações media, regula e controla seu metabolismo com a natureza"

- Em seu caráter social, quando o homem age sobre a natureza e a modifica, modifica a si mesmo, sua própria natureza, é uma relação metabólica

- Falar de suposto controle ou estabilidade do capitalismo é uma mentira cínica, é enganar quem não conhece a natureza expansiva e acumuladora do capital

- Mészáros afirma que o controle social é "a condição prévia necessária para qualquer relação sustentável com as forças da natureza"

- As "soluções" apresentadas pelas corporações monopolistas do capital, a invenção falaciosa do "desenvolvimento sustentável" nada mais são que a continuidade da destruição do mundo como está se dando agora

- A solução para o mundo não é a reprodução do modelo estadunidense de destruição da natureza e do planeta, no qual 5% da população global consomem 25% dos recursos energéticos disponíveis

- A ciência e a tecnologia poderiam alterar o processo atual de destruição do mundo em função do modelo capitalista? Não, pois o uso vem sendo em função da própria acumulação de capital e em desfavor do planeta e da sociedade humana em geral (p. 47 do artigo)

- "Portanto a questão que se coloca 'não se restringe a saber se empregamos ou não a ciência e a tecnologia com a finalidade de resolver nossos problemas' - dada a obviedade da resposta: sim! - 'mas se seremos capazes ou não de redirecioná-las radicalmente, uma vez que ambas estão estritamente determinadas e circunscritas pela necessidade de perpetuação do processo de maximização dos lucros' (diz Mészáros)

- De novo, só o controle social pode alterar a lógica estabelecida hoje, definindo como produzir e o que produzir, na relação sociometabólica com a natureza

- Se a humanidade deseja sobreviver, é preciso superar a fragmentação social e encontrar a unidade para superar o modo de produção capitalista (destruição incontrolável e consumista da natureza para acumulação de capital)

- Ivan Jacob cita Mészáros e Marx ao abordar a questão do desenvolvimento tecnológico e produtivo para reduzir as horas de trabalho humano, mas com benefício da própria sociedade humana, e numa relação metabólica natureza e sociedade mais equilibrada e sustentável (p. 50, item IV do artigo). Esse seria um objetivo do comunismo

- "Marx argumenta que uma sociabilidade advinda de produtores livremente associados deve existir no âmbito do metabolismo prescrito pelas leis naturais da própria vida, assegurando as condições de existência para as gerações presente e futura" (Ivan Jacob)

- Ivan Jacob cita Clark e Foster (autores de referência no artigo), concluindo o texto: "há uma síntese necessária entre Marx e Mészáros, na formulação de uma concepção de transição para um sistema sustentável de reprodução metabólica social. Tanto a igualdade substantiva quanto a sustentabilidade ecológica são os pilares de uma sociedade livre dos ditames e da lógica do capital..."

- Por fim, é urgente também a "necessidade histórica da criação do movimento dos produtores visando a mudança radical nas formas atuais de controle social visando sua emancipação. A necessidade, portanto, do comunismo." (Ivan Jacob)

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Fecho minha resenha e leitura do artigo, concordando com Ivan Jacob, Clark, Foster, Mészáros e Marx... 

Urge a necessidade do comunismo!

Leitura feita por,

William Mendes

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quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Filmes comentados no Refeitório Cultural


Refeição Cultural

A coletânea apresentada nesta página do blog é bastante diversificada em relação aos gêneros de filmes e documentários que o autor comentou ao longo do tempo. 

O primeiro comentário sobre filme no blog foi publicado poucos meses após o início da produção de conteúdos e os mais recentes são textos comentando alguns filmes na mesma postagem, às vezes interligando a temática das obras.

A pessoa (aquele eu) que comentou os primeiros textos há quase duas décadas fez um esforço consciente em se desenvolver através da educação e cultura para que seus comentários registrassem algo que valesse a pena compartilhar, intuito do blog desde o início.

A página estará em constante atualização, pois os milhares de textos do blog estão sendo sistematizados e encadernados pelo autor.

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2004

1. A Paixão de Cristo (2004), dirigido por Mel Gibson (link)


2006

2. Crash - No Limite (2004), dirigido por Paul Haggis (link)

3. 2 Filhos de Francisco (2005), dirigido por Breno Silveira (link)


2007

4. Edison - Poder e Corrupção (2005), dirigido por David Burke (link)


2008

5. Uma História Real (1999), dirigido por David Lynch (link)

6. Nosferatu, o Vampiro da Noite (1979), dirigido por Werner Herzog (link)

7. Rocky Balboa (2006), dirigido por Sylvester Stallone (link)


(...)


2025.

8. O universo de Pedro Almodóvar (I) - (link)

   1.1 Maus hábitos (1983)

   1.2 O que fiz eu para merecer isto? (1984)

   1.3 A lei do desejo (1987)

   1.4 Mulheres à beira de um ataque de nervos (1988)

9. 

O sentido da vida (5)



Buscar compreensão a partir de fragmentos das coisas

"II - Os escritos desses primeiros filósofos na íntegra se perderam todos, como a maior parte da riquíssima literatura grega. O que sobrou deles foram pequenos trechos, às vezes o correspondente a uma página, às vezes pedaços de frases, às vezes uma palavra, inseridos em textos que séculos depois (IV séc. a.C. - VI séc. d.C.) se escreveram e que, alguns por acaso, se salvaram. Sobraram também muitas notícias sobre a vida e a doutrina deles. E sobretudo sobrou, podemos dizer assim, uma interpretação que logo se tornou definitiva, oficial, e que fixou a posição desses pensadores na história da filosofia..." (Para ler os fragmentos dos Pré-Socráticos, José Cavalcante de Souza, p. 35)


Buscar compreensão e ou sentidos a partir da observação e de fragmentos de coisas. Essas ações conscientes só podem ser realizadas por uma espécie animal no planeta Terra: os seres humanos. 

Um cachorro não pode fazer isso. Uma galinha não pode fazer isso. Uma águia também não. Uma máquina não pode fazer isso. Máquina alguma, nem essa mentira chamada "IA". Humanos podem fazer isso, se estiverem em condições favoráveis para isso.

O homem refletia sobre sua jornada existencial até ali e percebia claramente que havia encontrado respostas para vários questionamentos feitos em décadas do viver.

Estava num momento meio "E agora, José?", tradução existencial espetacular de certo momento do viver, interpretação feita pelo poeta maior, magistral Drummond de Andrade, o Carlos, que foi ser gauche na vida. E poetou. E filosofou.

Seu momento José vinha ocupando seus pensamentos cotidianos, suas ações, o seu viver.

Querendo ou não, seus registros - fragmentos de uma vida de lutas - estavam sendo revistos, sistematizados, interpretados até. 

O homem estava alinhavando tudo aquilo e o sentido de tudo vinha se mostrando a ele.

Compreendia melhor agora por que as coisas são como são.

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domingo, 3 de agosto de 2025

Instantes (21h50)



Refeição Cultural

Não estou tranquilo, apesar de estar em um instante de tranquilidade. A vida é assim.

No silêncio do local, um silêncio de aparente paz, reflito sobre a semana que tenho pela frente. 

Que eu chegue bem ao próximo final de semana. É o pensamento. 

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Nos anos noventa, quando estudei por um tempo Educação Física, pensava em desenvolver pesquisas sobre musculação para as pessoas depois dos 50 ou 60 anos. Não pude concluir o curso, mas confirmaram a importância dessa atividade para a saúde.

Mesmo percebendo os sinais que meu corpo me passa na atualidade - os avisos de cansaço pelo percurso ao qual foi exposto -, tenho tido uma disciplina severa para praticar atividades físicas que melhorem ou alonguem minha jornada de buscas de sentidos e de doações às relações sociais às quais estou vinculado. 

Esse esforço por viver não deixa de ser um ato de amor. Um sentido, assim.

Tive a oportunidade de conhecer o funcionamento do organismo dos animais humanos. Apesar dos excessos praticados contra meu corpo, tenho a consciência de algumas obrigações para seguir por aqui.

Só precisa valer a pena, mediando os sentidos o tempo todo com a inteligência que tenho.

Sigamos com atitude e resiliência. 

William 

03/08/25

Poemas e crônicas de William Mendes


Refeição Cultural

Nesta página do blog, reúno os textos que classifiquei como poemas e crônicas. 

Na enunciação estão presentes eu-líricos que me compõem, ou não. 

Aliás, pela data de criação do texto, sem dúvidas, o eu que fala pode não ter quase nada a ver com o autor atual do blog. 

Somos legião e sempre somos outros ao longo de nossas jornadas existenciais.

É aquela metamorfose ambulante anunciada pelo poeta Raul Seixas...

Assim como as demais páginas de coletâneas deste blog, esta de poemas e crônicas estará o tempo todo em atualização. 

Os acréscimos cessarão quando cessar a existência do criador.

Os textos estão disponíveis nos links.

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2000

1. A viagem (link)


2002

2. Reflexões de um objeto inanimado que enquanto unidade teme a queda, a quebra, o fim (link)

3. Primeiro dia como ajudante de encanador (link)

4. Verbo iludir conjugado (link)


2006

5. Romaria 2006 - Um teste de perseverança, resistência e humildade (link)


2008

6. Três de abril (link)

7. O filho é o pai do homem (link)

8. O filho é o pai do homem II (link)

9. Instantes (link)

10. Romaria 2008 - Velha caminhada; nova experiência, sempre! (link)

11. As partes da Arte (link)

12. 

sábado, 2 de agosto de 2025

Leituras tardias



Refeição Cultural

Ao longo do viver, sempre guardei materiais de cultura que gostaria de ler ou ver algum dia. 

Quando voltei para São Paulo, antes dos dezoito anos, trouxe somente algumas roupas e pequenos pertences pessoais (é o que me lembro). Iria morar na casa de minha avó Deolinda e já moravam com ela outros jovens, meus primos. Apesar do aperto, comecei ali a colecionar livros, revistas, partes de jornais e outras mídias.

Naquela época, anos oitenta, era consenso na sociedade humana que a educação e o conhecimento tinham importância para o caminhar pela vida adulta, principalmente para nós da classe trabalhadora, chamada às vezes de periférica. Queríamos ser inteligentes, ter formação escolar e adquirir cultura para evoluirmos como seres humanos e vencermos na vida, como se dizia.

Tenho materiais de cultura que datam dos anos oitenta e noventa: muitos livros, por suposto, e recortes de jornais e materiais do movimento sindical, inclusive. Nunca tive coragem de me desfazer dessas mídias, a maioria nunca lida por ter outras prioridades no viver diário de um proletário.

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Imigração japonesa - 100 anos (2008)

O caderno que li desta vez é sobre os 100 anos da imigração japonesa para o Brasil, publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, no dia 12 de junho de 2008, uma quinta-feira.

Eu tenho interesse pela cultura oriental desde que era criança, sempre apreciei coisas relativas ao povo japonês e chinês. 

Na adolescência, ao avaliar possibilidades na vida, pensei até em ser decasségui (dekasegi). No fim, um primo é que foi trabalhar no Japão por alguns anos.

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100 anos de imigração completados em 2008

De forma resumida, o caderno traz informações básicas sobre o Japão e o processo de imigração japonesa para o nosso país.

O artigo de Simone Iwasso conta a história da família imperial. As comemorações no Brasil contaram com a visita do príncipe herdeiro, Naruhito, à época com 48 anos, filho do imperador Akihito e da imperatriz Michiko.

Na matéria de Fernando Nakagawa, soube que "Dos japoneses e descendentes que vivem fora do Japão, 60% escolheram o Brasil. Atualmente (ou seja, 2008), há cerca de 1,5 milhão de japoneses e descendentes no País. Em seguida, estão Estados Unidos, com 900 mil, e Peru, com 90 mil descendentes."

Celso Kinjô, em texto feito para o caderno, nos conta que até o fim da 2ª Guerra Mundial os imperadores japoneses eram considerados deuses. Foi o imperador Akihito, em 16 de agosto de 1945, que revelou aos súditos que era "um humano igual a todos" ao declarar que o Japão estava se rendendo ao inimigo. O anúncio foi em rede de rádios.

Márcia Placa nos revela a origem do saquê, descoberto por acaso, quando um barril de arroz não foi vedado corretamente e azedou. No final do caderno, ela faz outra matéria sobre a Turma da Mônica e os personagens Keika e Tikara, criados por Maurício de Sousa em homenagem ao centenário.

A matéria de Valéria Zukeran "O desafio: preservar a memória em papel" é muito boa. Livros e revistas ajudam a manter a história dos imigrantes e à época havia um esforço grande para se digitalizar materiais antigos e disponibilizar outras formas de mídia para a preservação de cultura.


Gostei da reportagem de Fernanda Yoneya sobre os festejos em Santos, SP. Foi lá que aportou, em 18/06/1908, o navio Kasato-Maru, "trazendo os primeiros imigrantes japoneses - uma chegada tão marcante que a cidade, na época, ficou conhecida como Porta do Sol Nascente". Os imigrantes tiveram contribuições importantes na região como, por exemplo, na atividade da pesca.

A cidade de Santos inaugurou no centenário a escultura "Vermelha", homenagem aos 100 anos da imigração japonesa no Brasil, doada pela artista Tomie Ohtake (1913-2015), localizada na extremidade do Parque Municipal Roberto Mário Santini, na orla do José Menino.


Literatura japonesa

A matéria de Renato Cruz, sobre a tradutora Leiko Gotoda, convida a gente a ler os livros traduzidos por ela.

Um dos romances japoneses mais conhecidos no Brasil é Musashi, de Eiji Yoshikawa, publicado no Brasil em 1999. Leiko traduziu diversos livros de seu tio Jun'ichiro Tanizaki, autor importante do século passado.

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O artigo de Jorge J. Okubaro - "Da rejeição à integração" - descreve um pouco do que os imigrantes japoneses tiveram que enfrentar ao longo desse século no Brasil. 

"Em Raça e assimilação, editado em 1933, Oliveira Viana escreveu que 'o japonês é como o enxofre: insolúvel', dando um certo ar científico à tese, popular na época, de que o japonês é 'inassimilável'."

Vejam o que pensava dos imigrantes um dos autores famosos da época, intelectual querido até por gente do campo chamado "progressista". 

O povo japonês veio ao Brasil para trabalhar quase como escravo em lavouras paulistas de café e depois sofreu na pele o peso da 2ª Guerra Mundial ao pertencer ao país associado aos nazistas e fascistas (Eixo).

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A riqueza da cultura japonesa 

Enfim, terminada a leitura do caderno inteiro dedicado ao centenário da imigração japonesa para o Brasil, acrescentei algum conhecimento novo ao pouco que conheço dessa temática.

Quase duas décadas depois da publicação do caderno especial, um leitor do futuro leu as matérias olhando para o passado. A experiência é interessante. Sempre gostei de fazer isso.

A cultura japonesa faz parte do cotidiano do autor do blog porque os mangás e animes fazem parte dos momentos culturais da família, sem contar o interesse que tenho pelo idioma japonês.

Sigamos lendo e aprendendo alguma coisa nova todos os dias de existência neste belo planeta Terra, um mundo sendo destruído pelo animal humano.

William


Bibliografia:

Caderno Imigração japonesa 100 anos. O Estado de S. Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2008.


sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Artigos e textos de William Mendes


Refeição Cultural

Nesta página do blog estão reunidos os artigos e textos que publiquei ao longo de minha vida política como dirigente nacional da categoria bancária. 

Podem constar ainda alguns textos da época estudantil, principalmente do período no qual cursei a graduação de Letras na Universidade de São Paulo.

A página estará em constante atualização, pois os textos serão incluídos à medida que o autor do blog for revisitando as publicações e revisando os textos, dando a eles uma formatação mais padronizada.

Para ler os textos, basta clicar no link.

William Mendes

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2002

1. Que decepção! Poucos humanos nas "humanidades" (link)


2006

2. Eleições 2006 - Por que voto em Lula? (link

3. Contribuição para a Campanha Nacional dos Bancários, de 2007 (link)


2007

4. Preparar a greve no BB para março (link)

5. Entenda a composição da PLR do BB (link)

6. Por que rejeitar a proposta de PLR do BB? (link)

7. PLR do BB: A derrota da solidariedade (link)

8. Acerca da contratação da remuneração dos trabalhadores bancários: uma contribuição ao debate (link)


2008

9. Há que se educar as pessoas (link)

10. Comparações de análise sintática: Bechara X Hildebrando (link)

11. BB avança nas ilegalidades e agora, na imoralidade (link)

12. O apagão ferroviário de São Paulo (link)

13. Pra que serve o Banco do Brasil? (link)

14. Campanha salarial dos bancários 2008 (link)


2011

15. Sobre Bresser-Pereira atribuir acertos do governo Lula a Deus (link)

16. Estratégia 2011 do BB (link)

17. Fim das metas X fim das metas abusivas (link)

18. PSO no bb - Mais uma etapa da terceirização bancária (link)

19. bb - O banco da ilegalidade (link)

20. Curso de formação Sindicato, Sociedade e Sistema Financeiro - Contraf-CUT e Dieese (link)

21. bb - Vale tudo por 1 trilhão (link)


 


quinta-feira, 31 de julho de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 31 de julho de 2025. Quinta-feira.


JULHO

Mais um mês do viver. Mais um registro dos acontecimentos e impressões pessoais daquele que vive e observa. E os registros acabam sendo importantes para o próprio escritor do blog. Com o avançar da existência, vai se percebendo os efeitos da natureza e do percurso percorrido. A memória agradece os registros feitos: são auxílios para o amanhã. Todos os dias recebo sinais do cansaço de meu corpo. Minha consciência enfrenta isso com atitude.

Neste mês li alguns livros e terminei leituras iniciadas antes. Vi filmes interessantes. Estou vendo anime novo com meu filho. Fomos para a colônia dos professores na Praia Grande. Me arrisquei a dar uns trotinhos curtos de 1 a 3 Km; fiz musculação. Estudei coisas novas. Me esforcei para trabalhar nos textos e cadernos dos blogs. Tentei ser uma pessoa decente e fazer algo que contribuísse para a coletividade, mesmo sendo pouca coisa. Fui em algumas convocações de eventos políticos. Finalizei de vez o livro de memórias.

Refleti. Filosofei. Quanto mais observo a minha realidade, o meu espaço de vivência, o mundo ao meu redor, mais consciência tenho sobre as coisas, sobre os motivos das coisas serem como são. 

Os sábios dizem que as pessoas têm que saber identificar as coisas que podem ser mudadas das coisas que não podem ser mudadas, e que temos que ter atitudes adequadas para cada uma delas. Por mais que eu sofra com algumas coisas, eu não tenho como ajudar pessoas que não queiram ajuda. Por mais que eu sofra com algumas situações colocadas, o contexto ao qual estou inserido não me permite alterá-las, por uma questão de medir os impactos que mudanças não combinadas podem trazer.

Viver é uma oportunidade. Só passei a compreender isso depois da metade de minha existência até aqui. Tive oportunidades que abracei e mudaram minha vida por mudar minha forma de ver a vida. E a vida de qualquer ser vivo é um instante. Só existe para mim esse instante. Tenho consciência disso. Cada pessoa tem sua leitura do mundo e da vida. Compreendo muita coisa hoje. Tenho escrito sobre sentidos da vida, e sei que a vida não tem sentido, o sentido é uma construção de cada ser vivente. Minha vida teve sentidos vários conforme o período vivido.

Tenho consciência de que o passado é passado. Tenho que viver o instante que estou vivo. E buscar sentidos para este instante, este. É uma busca foda, por mais que eu seja um homem de sorte e um privilegiado se pensar a minha classe e a minha origem. Não tenho fome, tenho um teto, tenho saúde, tenho acesso aos direitos básicos dos seres humanos que porcentagem grande da humanidade não tem. Às vezes, sinto vergonha por isso.

Enfim, feito o registro para provável consulta minha no amanhã sobre o sujeito que era neste dia do mundo.

Will i am (ainda tenho desejos)

22h07, 12º de frio

Instantes (11h59)



Refeição Cultural

"Proclama Empédocles: 'Não há nascimento para nenhuma das coisas mortais; não há fim pela morte funesta; há somente mistura e dissociação dos componentes da mistura. Nascimento é apenas um nome dado a esse fato pelos homens'." (Pré-Socráticos - Vida e Obra. Ed. Nova Cultural, 1999. Pág. 27)


Mistura e dissociação... é o que todos nós somos, mistura e dissociação, como disse Empédocles. 

No subitem sobre Empédocles, li também sobre amor e ódio. 

Amor e ódio... talvez os animais humanos se movam pela Terra, pela natureza, e como natureza, por causa desses dois sentimentos: amor e ódio. 

Este animal que registra palavras nas nuvens virtuais e passageiras da globosfera adquiriu com a experiência de sobreviver dezenas de outonos uma compreensão melhor sobre a vida, essa mistura e dissociação de elementos da natureza.

Compreender um pouco melhor porque as coisas são como são não é aceitar as coisas como são. Hobsbawm alertou sobre isso ao tentar compreender o nazismo (Era dos Extremos).

Um homem dar 61 socos no rosto de uma mulher; os sionistas matarem de fome milhares de palestinos; ainda encontrar uma pessoa bolsonarista... 

Minha caminhada pela Terra nesses outonos todos me faz compreender melhor hoje por que essas coisas acontecem... 

Esses eventos que citei não são naturais, apesar de serem naturalizados pelos meios do mundo incivilizado do animal humano. Não são naturais.

Se não são naturais, podem ou poderiam ser alterados pelos animais humanos. Educação e cultura adequadas podem mudar os animais humanos. 

Não vejo essa possibilidade acontecer neste momento da história humana. 

Mas que é possível mudar a realidade, isso é. 

Will i am

31/07/25

segunda-feira, 28 de julho de 2025

O sentido da vida (4)



Ser ainda o complemento de outros

Deitado no sofá, tentando cochilar alguns minutos, ficou sentindo o bater compassado de seu coração através de seu ouvido direito encostado na almofada. Tum... tum... tum... o motor da vida.

Se a vida cessasse naquele instante, uma possibilidade absolutamente real e natural, o mundo mudaria no instante seguinte para as pessoas de sua relação cotidiana. Essas mudanças ocorrem o tempo todo há milhões de anos na vida dos seres vivos.

Ao se perceber que aquela vida já não existia mais, a vida de duas, três, cinco pessoas, ao menos, teria necessariamente que ser reinventada. Algumas ausências afetam uma quantidade enorme de vidas. Outras, talvez não sejam sequer percebidas. Ou ainda, afetam de forma intensa algumas vidas.

Talvez o sentido da vida - para um ser vivo e os outros de sua relação - seja essa condição de complementaridade que sua existência gera, a interdependência com outros seres.

Ele tinha essa consciência e por isso queria viver. Só essa condição já justifica o esforço do viver. Amor, talvez...

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domingo, 27 de julho de 2025

Diário e reflexões


Breno Altman: aula sobre o sionismo.

Refeição Cultural

Domingo, 27 de julho de 2025.


PELO FIM DO GENOCÍDIO DO POVO PALESTINO

Hoje, participei de um ato emocionante em defesa da causa palestina na Avenida Paulista, uma manifestação de solidariedade aos palestinos e de denúncia do genocídio de um povo massacrado pelo Estado de Israel, controlado pelos sionistas e apoiado pelo imperialismo norte-americano. Tivemos uma aula espetacular do jornalista Breno Altman, que descreveu a história da região desde o século XIX. 

Muitas lições tiramos dos ensinamentos de Altman, uma delas é de questão moral. O que está acontecendo neste momento no mundo nos dá a chance de conhecer qualquer pessoa em relação à sua índole e caráter. Basta perguntar a ela qual sua posição em relação ao genocídio do povo palestino pelos sionistas de Israel. Qualquer pessoa que esteja a favor disso, também estaria do lado da minoria branca no regime do Apartheid na África do Sul e do lado dos nazistas do 3º Reich entre 1933 e 1945. Estaria a favor de supremacistas.

Com o companheiro Kenzo em apoio aos palestinos.

Eu concordo com os participantes da manifestação que pedem que o governo brasileiro rompa relações diplomáticas e comerciais com Israel. O Brasil seria o exemplo para dezenas de países neste momento de genocídio de milhares de crianças, mulheres, idosos e civis através de bombardeios e pela fome.

Até quando o mundo vai assistir a isso sem fazer nada para interromper o genocídio do povo palestino?

William Mendes

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Leitura: Como evitar o fim do mundo? - Paulo Alves de Lima Filho



Refeição Cultural

Artigo: Como evitar o fim do mundo? de P. A. Lima Filho. Revista Fim do Mundo, Marília, São Paulo. Revista nº 13, jan/jun de 2025.

Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema.

Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", ministrado pela Unesp e demais parcerias

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A postagem é uma espécie de fichamento feito pelo autor do blog. Qualquer interpretação divergente do texto original é de responsabilidade deste leitor que comenta o texto.

Abaixo algumas palavras-chave ou ideias que gostei no referido texto.

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Ideia central do artigo: sendo o capitalismo e os capitalistas o que são, é necessário pensar formas de educação, produção e consumo para que as novas gerações interfiram (em) e alterem a tendência acelerada de fim do mundo numa luta emancipatória sem quartéis.

Palavras-chave do artigo: Colapso climático, emancipação humana, Transição civilizatória.


Introdução ao tema do fim do mundo

O texto começa destacando que os Estados Unidos e suas empresas estão numa empreitada decisiva, ainda a revolução tecnológica, que é ao mesmo tempo uma contrarrevolução, para conter os BRICS e seu significado emancipatório do imperialismo estadunidense.

Segundo o autor, vivemos uma crise inescapável do capital e sua ordem mundial.

Lima Filho tomou emprestado a Krenak o conceito das ideias para adiar o fim do mundo. Temos que fazer algo agora, já, para interromper e reverter as consequências do que está ocorrendo.


Cumpre elaborarmos ideias para impedir o fim do mundo

Reconhecer a ideia de destruição do mundo já é um bom começo e a partir daí temos que forjar armas que nos permitam lutar contra a consumação do fato.


O que fazer antes do fim do mundo e como evitá-lo

O autor nos lembra de processos históricos nos quais diversas civilizações foram dizimadas - o fim de seus mundos -, com invasões de outros povos como os colonizadores europeus destruindo mundos no continente africano e nas américas.


Como chegamos até aqui, no Brasil?

De retrocessos em retrocessos por parte dos donos do poder: após um período de relativos avanços industriais e sociais - entre os anos 1930 e 1960, vem em seguida um retrocesso, como no golpe empresarial-militar de 1964, e depois de alguns anos de democracia conservadora após 1988, outro golpe em 2016...

O que vemos no momento, em pleno ano 2025, é um Brasil "avançando" (ou seja, retrocedendo) ao período pré-1930, um país exportador de commodities para o mundo industrializado.


Estamos dentro do fim do mundo

O autor nos aponta que o mundo todo está na mesma situação, por causa das conexões e dependências globais.

"Hoje, todos os rincões do planeta, todo o tempo cotidiano em todos os países do globo estão sob o império das forças do fim do mundo. Somos todos navegantes das moderníssimas caravelas do fim do mundo. Estamos sendo levados sem que tenhamos forças para contrarresta-lo. Estamos transitando docilmente à auto extinção. Navegamos impertérritos ao cadafalso coletivo, ao final dos tempos. Fatalisticamente."


A situação da ideologia social

"O processo das catástrofes, agora transitado em colapso, é uma bomba social em ação ininterrupta. Objetivamente estão dadas as condições sociais para uma revolução social, mas se apossou da humanidade uma letargia fatal."

Ao ler a descrição feita por Lima Filho me lembrei dos textos do professor e neurocientista Miguel Nicolelis a respeito de uma provável espécie humana substituta da homo sapiens - uma espécie de homo digital - mais acomodada e menos criativa para enfrentar as questões colocadas a seu tempo.


O sentido histórico da cisma política estadunidense

O novo governante Trump rompe com todo o arcabouço político e comercial construído após a 2a Guerra. Quer ser o novo imperador do mundo, deixando de lado o disfarce chamado "democracia".

"Desse modo a crise política mundial do capital se manifesta em três processos concomitantes e contraditórios. O declínio dos EUA, polo dominante, de longe ainda bélica e economicamente o mais poderoso, a reorganização da Europa em moldes continuístas da velha ordem negada agora pelos Estados Unidos e a emersão do novíssimo bloco de forças capitalistas sob a liderança da China, o BRICS+. Três processos concomitantes em sentidos contraditórios."

Os blocos que se organizam no momento serão os atores da disputa hegemônica global.

"O colapso climático, na realidade, é o colapso da relação, da reprodução capitalista mundial de uma forma histórica de produzir (mercadorias, é claro), de uma determinada civilização capitalista. Não é somente um ecocídio, mas um civilizacionicídio. Trata-se do colapso da civilização do capital."

É interessante a lembrança do autor de que mesmo o BRICS+ é da mesma ordem dos outros, é capitalista. Não há diferença na questão central sobre a destruição do mundo pela produção e comercialização de mercadorias.


a. A desfuturização

"À desfuturização se agrega a demanda por uma volta ao passado de pleno poder imperialista mundial que nada mais é do que uma real declaração de guerra a um presente pleno de contradições insolúveis."


b. As razões do capital e o colapso climático: a conflagração da reprodução social mundial

O capital vem desde o início destruindo as fontes de vida na terra - água, ar, terras, recursos naturais -, até que chegamos ao atual capital financeiro.

"Até aqui à voragem natural da relação capital associou-se o taylorismo, o consumismo e o complexo industrial militar como instrumento vital para a reprodução do capital a mais estável possível sob o capitalismo. Por fim, a revolução microeletrônica, no século XX, irá possibilitar o surgimento do quarto órgão na máquina, o órgão de controle, que então completará a primeira fase da revolução industrial ao suprir suas limitações técnicas e fazendo, assim, surgir um novo capital industrial absorvido pelo capital financeiro."

O autor comenta que as minorias donas do poder capitalista sabem da proximidade do fim do mundo, por isso sonham com Marte e a Lua. Os pequenos burgueses e a massa assalariada ainda não se aperceberam da seriedade da situação e seguem vivendo seus cotidianos como se estivesse tudo bem.


c. Etapas da era do colapso

Além das etapas mais previsíveis como as dos eventos climáticos e eventos naturais, existem ainda os eventos imponderáveis como, por exemplo, um evento nuclear e até a chegada ao poder de um líder psicopata... (então f...)


d. A era do colapso e o capital

Interessante a explicação do autor sobre a incontrolabilidade do capital na questão da produção de mercadorias para acúmulo de riqueza (mais valia). Seria necessário o fim desse modo de produção. Teríamos que produzir as coisas somente com valor de uso e de acordo com a necessidade humana.

Outra questão seria o foco na produção agroecológica, mudando drasticamente o uso de água e energia, centrais na produção do agronegócio.


e. A questão da revolução social

"Na realidade todas as revoluções proletárias após 1848 são revoluções comunistas, muito embora prematuras, como as definiu Engels em 1853. Ao ocorrerem, como tem sido a experiência histórica dos séculos XX e XXI, em países capitalistas subordinados e subalternizados da ordem mundial capitalista, colocam diante dos trabalhadores tarefas duplamente ingentes: a de criar simultaneamente os fundamentos econômicos na nova ordem social e o salto qualitativo da emancipação dos trabalhadores, isto é, da emancipação econômica dos trabalhadores e seu controle autônomo da nova reprodução social, controle sobre os processos econômicos e sociais e científicos e controle do próprio estado revolucionário e seu partido. Nessas revoluções socialistas, na realidade, o que se emancipa é o estado, ao passo que a emancipação dos trabalhadores é inevitavelmente bloqueada. Todas elas inexoravelmente transitam ao capitalismo. Todas as sublevações sociais e proletárias na história das revoluções socialistas serão exatamente a expressão dessa necessidade de controle da reprodução social por parte dos trabalhadores."

Explicação interessante do autor sobre as revoluções sociais de trabalhadores enfrentarem dificuldades ingentes e tenderem a reforçar uma lógica capitalista após os processos. O sublinhado é meu.


f. A transição comunista na era do colapso universal da reprodução social capitalista

"De imediato já no atual estágio do colapso climático e social em geral já se faz imperioso conceber uma nova civilização mundial sem mercadorias centrada na produção das necessidades vitais propriamente humanas, negadora das necessidades do lucro sob o consumismo. Isso significa conceber os circuitos sociais sobre o imperativo do uso mínimo de energia, água e matérias-primas com o mínimo de trajetos de uso e consumo dos produtos do trabalho, assim como da tecnologia em prol da sua máxima eficiência humana."

Pelo que entendi, a tarefa central de todos nós é superarmos a forma de produção "mercadoria". Só teremos chances de evitar o fim do mundo se a sociedade humana produzir coisas necessárias por seu valor de uso. Pela lógica do consumismo será o nosso fim.


g. A questão da barbárie na conflagração universal da reprodução social capitalista

"A urgência da nova situação histórica, creio, exige enfrentamento aberto do colapso social mundial em processo. Daí o título deste trabalho. A transformação da sociedade das mercadorias por uma sociedade dos produtores associados de produtos necessários, em decisiva medida nesta era de colapso social, coloca-se como objetivo primordial das lutas emancipatórias."*

A ideia acima é uma síntese da questão colocada a todos nós que queremos impedir o fim do mundo. Temos que enfrentar e derrotar a lógica capitalista. Eu falo isso faz tempo, por ver que o movimento sindical e político do qual vim não tem mais esse foco.

*A nota nesse parágrafo é central. Não adianta virem com esse papo de fontes alternativas de energia com o foco em rentabilidade etc. Nenhuma fonte é párea para os combustíveis fósseis. Só mudamos se mudarmos o foco da sociedade humana. Capitalismo e lucro, não dá!

Um excerto da nota:

"(...) Portanto, sair dos combustíveis fósseis não pode ser entendido como uma ―oportunidade‖ para os negócios como sonham tantos economistas. Ela não é uma operação rentável e, portanto, ―racional‖ do ponto de vista do Homo oeconomicus. É uma decisão tomada contra os valores e a lógica de uma economia mortífera. Essa decisão comporta sacrifícios consideráveis em termos dos padrões e das expectativas de consumo dos 10% ou 20% mais ricos da humanidade que detêm mais de 90% dos ativos globais. Trata-se, portanto, de uma ruptura que enfrentará a oposição renhida dessa minoria, que ainda se crê imune ao caos que se avizinha."


Conclusões

Algumas questões colocadas pelo autor:

"(...) colapso climático. Eis a grande novidade da situação contemporânea. Não é a guerra atômica que nos mobilizará contra o extermínio de todos os humanos, pois ela está sob o controle dos estados e seus líderes, o mesmo não ocorrendo devido à poluição dos rios e ressecamento dos aquíferos a prometer a fome e a desertificação de vastas áreas do país, processos sob controle dos estados, mas, sim, o que pode nos mobilizar a todos, à maioria da humanidade, é a simultaneidade, incontrolabilidade e destrutividade das catástrofes climáticas em processo mais além do controle humano. Será ela ou somente ela capaz de impor a urgência universal, inadiável, inquestionável, mais forte que as ideologias da sociedade de classes. O colapso climático apreende-se pelos sentidos."

Lima Filho faz crítica firme à "esquerda da ordem" citando o exemplo do plebiscito atual, dizendo que isso não altera em nada a emergência da situação.

No lugar dos temas do plebiscito - a jornada 6x1, a isenção do imposto até 5 mil e imposto para os mais ricos -, seria o caso de mobilizar o povo para:

"Poderíamos, isso sim, aproveitar o empenho desesperado da esquerda da ordem e fazermos concomitantemente um plebiscito anticapital e anticapitalista. Creio que seria uma boa ideia."

Minha opinião - Em tese, concordo com todas as proposições do autor nas suas conclusões (p. 48 e seguintes). São possíveis dentro daquilo que acredito sermos capazes por sermos humanos.

Vejamos abaixo mais um trecho das conclusões, concordo plenamente com a afirmação do autor. Escrevo e penso isso faz bastante tempo.

"Como combater a barbárie? Torna-se novamente visível, tal como fora em meados do século XX, ser o colapso da democracia uma obra da própria crise do capital, inexorável e incontrolável nos marcos do capital. Impossível reconduzir a reprodução social mundial a seu estágio vigente, por exemplo, anterior à metade do século passado. Daí, repita-se, a urgência urgentíssima, emergencial, da humanidade tomar nas mãos o seu destino, abolir o controle do capital que nos leva à extinção da vida e consequentemente, da própria humanidade."

Ufa! Leitura feita! Texto denso e potente. O ideal é reler ao menos as conclusões, são muito boas.

Leitura feita por

William Mendes

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Post Scriptum:

ANOTAÇÕES (repito que as interpretações das anotações são minhas, do autor do blog, não reputo ao professor qualquer leitura pessoal que eu tenha feito da aula)

A aula presencial com o professor Paulo foi excepcional! Muito bom ouvi-lo abordando os temas do texto que lemos.

- A novidade da atualidade é o trânsito da catástrofe para o colapso

- Dois processos que mudam a história: Nos EUA, a cisão das classes capitalistas (governo Trump); e o colapso reprodutivo do capital e as relações sociais decorrentes disso

- A educação ou dominação ideológica é feita hoje através da mentira em escala nunca vista, uma guerra cognitiva. Uso da linguagem no processo como, por exemplo, a manipulação da mídia capitalista ("terroristas" do Hamas X "Estado" de Israel)

- Brasil: pela primeira vez na história temos uma esquerda que não é contra a ordem, é quieta, disciplinada, não ocupa as ruas

- Nada faz o povo ir para as ruas no Brasil, as forças de esquerda têm responsabilidade nisso também ("esquerda da ordem", diz o professor)

- Industrializar o Brasil é algo indesejável para as classes proprietárias neocoloniais do país

- Não há capitalismo sem uso e destruição da natureza

- O professor falou sobre uma obra chamada "O Ano Mil" a respeito dos camponeses europeus. Pesquisando sobre, encontrei dois autores, não sei qual seria o citado: Henri Focillon ou Georges Duby

- O otimista e o pessimista: o primeiro seria uma espécie de cego, no conceito de Saramago: aquele que mesmo vendo, não vê. O segundo, seria aquela expressão do pessimismo da razão, pode ser que ele se posicione, tome partido, faça alguma coisa

- Democracia liberal: a política interessa à burguesia para defender os seus interesses e direitos, é claro isso!

- Precisamos de uma outra sociedade, uma nova civilização

- é urgente a volta da centralidade no comunismo e socialismo (o professor abordou a diferença entre ambos, achei bem interessante: no socialismo o Estado é central, no comunismo o foco são as pessoas e as comunidades autônomas)

- Manifesto do Partido Comunista: foi um pedido dos trabalhadores a Marx e Engels

- O professor disse que muitos comunistas não têm muita noção sobre o comunismo, confundem com o socialismo

- As revoluções de 1848 na Europa foram derrotas do comunismo

- Socialismo diferente do comunismo: na revolução comunista o controle dos meios de produção é dos trabalhadores, não do Estado ou do partido

- Na revolução socialista haveria duas etapas: uma acumulação de riqueza (reprodução do capital) para depois dar um salto ao comunismo. Isso é uma complicação, as revoluções acabam se parecendo com as revoluções burguesas, acabam reproduzindo o modo de produção capitalista. Os trabalhadores acabam se despolitizando durante a 1ª etapa

- Nas revoluções socialistas que se tem notícias, o Estado acaba por explorar as pessoas

- A revolução comunista é a teoria da emancipação da reprodução social dos trabalhadores

- O professor Paulo citou o filme "Novecento" ou "1900" (1976), de Bernardo Bertolucci. Disse que a revolução quase aconteceu na Itália. Depois disse que o caso italiano do Partido Comunista é algo surreal: os dirigentes desistiram de ser "comunistas"

- Na opinião do professor, o "marxismo-leninismo" é uma invenção de Stálin. Revolução centrada no Estado e não nos trabalhadores. A revolução socialista é um cânone, um dogma

- Paulo elogiou György Lukács e Jean-Paul Sartre, sobre pensar o mundo sem os "antolhos" do marxismo-leninismo e sobre a conquista da liberdade dos homens

- Na atualidade, todas as contradições do capital estão claras e transparentes. O capitalismo não convive com a democracia, por exemplo. O sistema produz desigualdade absurda e gera sentimentos como o ódio

- Podemos discordar sobre o que fazer, mas a realidade se mostra como uma oportunidade para a humanidade mudar o rumo destrutivo do sistema capitalista

- O capitalismo não oferece possibilidade de emancipação social humana

- As mulheres podem fazer a diferença na mudança da realidade, elas são a metade da população mundial. O capitalismo sabe disso, por isso as pautas de costume e religiões para frear a emancipação feminina

- Sem a liquidação do consumismo e a multiplicação ilimitada das mercadorias, não há chances para a humanidade e o planeta

- Temos que transitar do valor das mercadorias para o valor de uso das produções sociais, para o fim do valor de troca do capitalismo

- Infelizmente (para os pacifistas) temos que fazer uma revolução social que retire o controle do capital

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