domingo, 20 de dezembro de 2015

São Silvestre 2015 - A dureza "dos" percursos




No próximo dia 31 de dezembro, irei participar da 91ª São Silvestre, em São Paulo. A corrida é uma dureza por causa do calor, da multidão e da altimetria. Será a minha 8ª participação.

Quando iniciamos o ano de 2015, eu tinha algumas metas pessoais em corridas. Minha intenção era manter um ritmo de treinamento e corridas ao longo do ano, para ter uma válvula de escape em meu trabalho, manter a saúde e ampliar meus objetivos esportivos. 

- pensei em correr um prova por mês, em Estados brasileiros diferentes;

- estabeleci o objetivo de correr minha primeira meia maratona (21k);

- correr a São Silvestre (15k) e diminuir o tempo em relação aos anos anteriores.

Eu não consegui correr em vários Estados diferentes, mas até que passei o ano correndo e caminhando. 

META ALCANÇADA - Realizei meu sonho e corri a minha primeira meia maratona em outubro. Cheguei a Florianópolis com várias incertezas, pelos percalços do caminho, mas fui de madrugada para a prova e completei. Fiz os 21k em 2h29'32". Fiquei muito feliz e realizado.

Agora chegou a vez da minha participação na 91ª São Silvestre. Estou o pior possível em termos de condicionamento físico. É mole?

Minha saúde não está mil por cento; não tenho conseguido treinar como deveria nos últimos dois meses; não durmo/dormi o suficiente e não tenho me alimentado adequadamente.

Vou para a Avenida Paulista dia 31 de dezembro da mesma forma que cheguei a Florianópolis para a meia maratona no dia 11 de outubro: sem saber se completarei o percurso correndo.

Mas eu sou um bicho bem teimoso. Foi assim que realizei o sonho da meia maratona. Será assim desta vez. Espero estar melhor do que hoje daqui a dez dias, e com uma cabeça que me guie até a linha de chegada na mesma Avenida Paulista, depois do percurso de 15k com aquela subidona da Brigadeiro.


O QUE FOI POSSÍVEL FAZER NESTE DEZEMBRO DURO PARA MIM

01/12 terça DF - caminhada de 40'

06/12 domingo SP - corrida de 5k / 31' (c/ subidas) e caminhada 5k

13/12 domingo DF - corrida Eixão 7k / 44' e caminhada 5k

16/12 quarta DF - caminhada 3,5k pela manhã

17/12 quinta DF - caminhada 3,5k pela manhã e corrida 3,5k noturna

18/12 sexta DF - caminhada noturna 52' / 27º

19/12 sábado DF - caminhada vespertina 40' / 20º

20/12 domingo DF - corrida 9k alamedas e Eixão 58' + caminhada 3k 27º

Está chegando a hora e meu desejo e determinação são grandes para chegar à Paulista e percorrer os 15k pelas ruas de São Paulo. Vamos ver. Sei que vai ser uma das São Silvestres mais difíceis de minha vida.

Vamos lá!

William

----------------------------------------------------

Caminhando no Parque do Sabiá, Uberlândia, MG.
Eu e meu velho pai no Parque do Sabiá.

Post Scriptum (24/12/15, às 20:40h):

Hoje, caminhei pela manhã 5k no Parque do Sabiá, Uberlândia - MG.

Eu sou apaixonado por este parque. Não havia quase ninguém e aquela maravilha estava lá, toda disponível para meu caminhar. Meu querido pai teve a paciência de me levar até lá e esperar um hora por mim.

A semana foi de muito trabalho, apesar de ser três dias, e só fiz uma caminhada na segunda de uns 35' em Brasília, após o longo dia de trabalho.

Meu desejo e minha mente é que me guiarão nos 15k da São Silvestre.

------------------------------------------------------


Na companhia do paizão no Parque do Sabiá.


Vai uma água de coco aí?

Post Scriptum (22:45h de sábado 26)

Na sexta-feira, contei novamente com meu pai, que foi ao Parque do Sabiá comigo e esperou enquanto eu corria 5k em 33' sob Sol de 32º (isso depois de abusar na noite anterior das comidas natalinas e beber um pouco).

Tenho que treinar sob clima semelhante ao que é previsto para o calor da São Silvestre.

Neste sábado, fomos caminhar os 5k, eu e meu filho, e aproveitamos para ir ao Aquário Municipal lá no Parque.

O Parque do Sabiá é tudo de bom!!!!!!!

-----------------------------------------------------


Corri 10k em Uberlândia com clima semelhante
ao que devo encontrar em São Paulo dia 31.
Que venham os 15k da São Silvestre.

Post Scriptum (27/12/15 às 17:10h):

E então, está acabando meu curto feriado de Natal com família. Já viajo de volta à Brasília logo mais à noite, deixando pra trás esposa e filho e família mineira.

Hoje, corri 10k no Parque do Sabiá. Que momento ímpar. O cansaço bateu cedo na corrida, mas a vontade me levou a fazer duas voltas no circuito. Foi com um calor de 28º e fiz um trote possível em 67'.


Gavião carcará. Imagem 
de internet.
No dia anterior, havia visto um casal de gaviões carcará no Parque e um belo teiú. Hoje, no quilômetro 7 e na moleza do corpo naquele instante, vi um casal de curicacas e foi um deslumbramento que me fez revigorar e acabar meu percurso.
Curicacas que fotografei em Brasília.

Bom, agora, que venham os 15k da São Silvestre. Como disse a mim mesmo em outubro durante a minha primeira meia maratona: quando cheguei no quilômetro 15, pensei: se já fiz os 15, faço os 21...

Apesar do cansaço acumulado pelo ano de trabalho, penso o mesmo: se fiz 10k com calor e cansaço, farei os 15k no dia 31.

William

---------------------------------------------------------- 


Minha 8ª medalha da São Silvestre.


Post Scriptum (31/12/15, às 20:35h)

Enfim, amanheceu o último dia do ano.

Acordei cedo e fui para a Avenida Paulista. Passei na Regional Paulista do Sindicato dos Bancários para cumprimentar o pessoal lá e depois fui para a largada. A nossa Regional é ponto de apoio para os bancários corredores da São Silvestre já faz alguns anos. Ajudei a idealizar esse apoio aos bancários. Várias pessoas no Sindicato trabalham no fim do ano para apoiar nossos bancários corredores em uma das provas mais tradicionais brasileiras.

Cheguei para esta minha 8ª participação na São Silvestre sem condições ideias de saúde e condicionamento físico. O ano de trabalho foi bem difícil e nos últimos dois meses acabei treinando pouco, dormindo pouco, não me alimentei adequadamente e ainda acabei por ter minha pressão arterial alterada. Infelizmente, estou com pressão alta faz semanas e lendo a respeito das consequências disso, fiquei bem chateado. Espero voltar à minha condição normal de saúde em 2016.

A PROVA

Esperei a multidão passar primeiro na largada e acabei iniciando a corrida meia hora depois da largada oficial.

Muita gente! Está cada ano mais difícil de "correr" na São Silvestre. Mal se pode trotar. A cada curva no percurso, a multidão pára.

Apesar de minha condição física não ideal, eu não senti dificuldade no percurso. Completei a prova em 112'. Tempo melhor que o do ano passado e 2012 (116). Em 2013 fiz em 109'. A temperatura de 26º ajudou também.

O MUNDO VIROU UM AMONTOADO DE "SELF"

Cara, eu fiquei muito incomodado com o egocentrismo exacerbado em que se transformou o povo deste planeta. As pessoas não conseguem ficar sem se filmar, fotografar em "self" e com pau de self. Toda hora a gente trombava nas pessoas porque todo mundo corre com a merda do celular na mão, ligado e filmando. As pessoas caem ao tropeçar em um(a) fulano(a) no seu momento de self...

Que situação! Será que é isso que nós humanos nos transformamos? Será que não tem volta?

Já que nós definimos um calendário (Gregoriano desde 1582, que define o ano civil no mundo inteiro) e o ano muda a partir de amanhã, desejo que o ano de 2016 seja uma oportunidade das pessoas se repensarem e talvez pensarem um pouco em um mundo mais coletivo e solidário, com melhor distribuição das riquezas produzidas por nós da classe trabalhadora e menos voltado para os padrões consumistas capitalistas.

Também desejo muita saúde, um pouco mais de paz, tolerância das pessoas com o outro, momentos felizes e mais amor.

William Mendes
Diretor de Saúde e Rede de Atendimento da Cassi

sábado, 19 de dezembro de 2015

Diário - 191215 (Na Cassi é fazer o que tem que ser feito)




Refeição Cultural

Lá vamos nós expressar o que pensamos e sentimos neste instante, e sei que tenho ao menos um leitor, meu velho e querido pai. Quiçá cinco, quiçá dez leitores. Com certeza eu mesmo, daqui algum tempo.

Acordei sonolento, mole, esquisito, neste sábado de manhã fresca em Brasília. Fui dormir antes da meia-noite na sexta. Estou sozinho. Cheguei de meu trabalho no final da tarde de ontem e saí para caminhar por quase uma hora. Depois disso, não fiz mais nada até virar zumbi acordado e ir dormir.

Por mais que eu queira descansar a cabeça dos problemas de meu trabalho como gestor eleito pelos trabalhadores em uma entidade de saúde, não consigo. Acordei pensando nas decisões que tomar na segunda-feira. Que coisa! Não me desligo de meus compromissos.

No esforço de abstrair a mente, já ouvi música clássica barroca da melhor qualidade - Vivaldi, Bach etc. Já li algumas reflexões do filósofo Cortella, livro que ganhei de presente de um grande amigo e companheiro, Jacy Afonso. Este livro do filósofo, Não nascemos prontos (2006), é um belo presente para aqueles que ainda se preocupam com o pensar, o refletir para o viver.

Estou às voltas com meu poeta predileto, Drummond, por causa do mundo, do contexto, da materialidade do momento, por causa do tempo e das coisas.

Peguei o grosso volume um de Os miseráveis, de Victor Hugo. Tão, mas tão apropriado para o momento! Imaginem... com o cansaço que estou, durmo em cima das palavras com poucas páginas. Leitura por prazer, só após o final de minha missão na Cassi.

Enfim, descansar a cabeça não posso, em face dos acontecimentos. Mas resta uma certeza para mim, pensando um texto do Cortella - "O naufrágio de muitos internautas" - que citou uma passagem de Alice no país das maravilhas (1865), de Lewis Carroll.

Alice, perdida, pergunta ao gato, na árvore, para onde leva aquele caminho que ela aponta. O gato pergunta para onde ela quer ir. Ela diz que está perdida e não sabe. O gato lhe dá uma resposta certeira e profundamente filosófica: para quem não sabe aonde quer ir, qualquer caminho lhe serve, é a mesma coisa.

Fiquei pensando sobre a resposta do gato para a perdida Alice...

Como gestor eleito da Cassi, onde passei o último ano e meio de minha vida pessoal completamente focado na missão de fortalecer a entidade de saúde dos trabalhadores e ampliar os direitos em saúde dos associados, afirmo que não tenho o problema da personagem Alice no país das maravilhas. Eu sei exatamente qual objetivo persigo e o caminho que estou construindo e que devo seguir em minha missão. O problema é se me deixarão fazer o que tem que ser feito e se o contexto e conjuntura adversos serão impeditivos ou só obstáculos a superar.

Vamos esperar a segunda-feira para seguir nossa missão. Seguirei fazendo o que entendo ser o melhor para a Cassi e para os associados, decidindo o tempo todo, e sob pressão, sobre o que entendemos que deve ser feito, mesmo que minhas decisões desagradem algumas pessoas, setores e a mesmice das estruturas.

William

sábado, 12 de dezembro de 2015

"Nosso tempo" é tempo de decisões




Refeição Cultural


"Nosso Tempo

I

Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!

Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir...
"


(A rosa do povo, 1945, Carlos Drummond de Andrade)


Considerações

Como diz o poeta, tenho percorrido volumes, viajado e visitado fatos. Tenho palavras em mim buscando canal...

Sou dirigente eleito em uma entidade de saúde dos trabalhadores. Como diz o mestre Antonio Candido "o que somos é feito do que fomos". 

Trago em minha forma de ser e atuar como representante de trabalhadores toda a experiência que acumulei em mais de uma década atuando como dirigente sindical de formação cutista, que sempre levou a sério os princípios, concepções e práticas do bom sindicalismo.

Aprendi logo cedo na direção do movimento sindical a sempre ir para a base conversar com os trabalhadores cada vez que nos pegávamos em dilemas, disputas internas sem fim, chateações, puxação de tapete, dúvidas sobre o que fazer ou que rumo tomar, enfim, cada vez que nossas energias estavam sendo gastas na burocracia interna e concentradas mais para dentro do sindicato do que para os trabalhadores, eu saía e passava horas na base, nos locais de trabalho.

Após conversar com os trabalhadores, voltava curado de qualquer desânimo, tinha muito claro as decisões a tomar e qual era meu papel e meus compromissos para defender aqueles que representava e buscar soluções para suas demandas e necessidades.

Nesta semana que passou, além de ter estado em Brasília para nossas longas e duras reuniões de Diretoria Executiva, cada vez mais tensas em face das crises atuais e divergências internas, estive em quatro estados brasileiros a trabalho - PB, MG, MA, PI. Falei com dezenas de trabalhadores da Cassi, lideranças locais das entidades representativas do funcionalismo do Banco do Brasil e associados da ativa e aposentados que representamos na gestão da entidade. Dormi e comi pouco, mas falamos olho no olho com pessoas, fortalecemos nossos compromissos com a Cassi e os associados. Sei o que represento e a expectativa que gero nas pessoas.

Essa semana de conversas com as bases sociais da Cassi é reflexo do que fiz neste ano e meio de mandato. Para mim, só tem sentido representar se for assim, indo até onde as pessoas estão, mesmo que isso esteja sendo pesado para mim, em termos de agenda dobrada com reflexos até na saúde.

Nos próximos dias e semanas, decisões importantes serão tomadas ou posições serão estabelecidas sobre a nossa entidade de saúde dos trabalhadores. As negociações iniciadas no primeiro semestre deste ano ainda não encontraram soluções consensuais entre o Banco do Brasil e as representações do funcionalismo.

Eu sempre tenho em mente as lições de Edward Said com suas conferências reunidas no livro "Representações do intelectual". Temos que ser claros e honestos na tomada de posição sobre o que entendemos ser o melhor para a situação dada, mesmo que isso não agrade às maiorias ou àqueles grupos políticos ao qual estamos vinculados ou interagindo. Eu atuo assim desde que virei representante eleito pelos trabalhadores.


"Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!

Mas eu não sou as coisas e me revolto..."


Muitas conversas estão acontecendo nos bastidores. Muitas ao meu redor, sem passar por mim, que sou um dos gestores principais. Eu conheço profundamente como funcionam as coisas no movimento. Mas a vantagem é que agora, aliás, também conheço muito mais a entidade que administro.

Nosso tempo será de decisões. As coisas são muito marcadas por contextos, conjunturas e momentos. Nem sempre, os grupos sociais tomam decisões com olhar apenas no objeto sob análise, mas sim no conjunto de interesses desses mesmos grupos.

Muito aprendi e sei o que defendo, principalmente após os milhares de quilômetros que percorri neste ano, ouvindo e falando com milhares de pessoas da base social da nossa Caixa de Assistência, e, sobretudo, percorri o país levando a mensagem do modelo de saúde que defendemos e que queremos estender para todos os participantes - queremos cuidar da saúde deles.

Eu serei muito firme, franco e direto nas posições que tomarei nos próximos dias nos espaços de debate e construção sobre a sustentabilidade e custeio de nosso Plano de Associados. Se for minoria nesses espaços, tenho a certeza e a consciência de que estou defendendo o que acho que é melhor para a Cassi e para os associados que represento.

William Mendes

Lendo: Formação Econômica do Brasil - Celso Furtado



Quando possível, é beber na fonte para ser menos ignorante.
Há que se conhecer para compreender o porquê das coisas.

CANTO TERCEIRO

5

"Além disso, o que a tudo enfim me obriga
É não poder mentir no que disser,
Porque de feitos tais, por mais que diga,
Mais me há-de ficar inda por dizer.
Mas, porque nisto a ordem leve e siga,
Segundo o que desejas de saber,
Primeiro tratarei da larga terra,
Despois direi da sanguinosa guerra."

(Os Lusíadas, Luís de Camões)



TERCEIRA PARTE DO LIVRO

Economia escravista mineira (século XVIII)

XIII. Povoamento e articulação das regiões meridionais


COMENTÁRIO DO BLOG

Com a concorrência dos produtos tropicais franceses e ingleses, Portugal busca saída na extração de minerais

No final do século XVIII, Portugal se perguntava o que fazer com a colônia sul-americana, Brasil, para que ela se autofinanciasse e valesse a pena, já que a produção em monocultura de cana-de-açúcar já enfrentava forte concorrência das colônias francesas e inglesas nas Américas e Caribe.

Definiu-se que era necessário encontrar metais preciosos em terras brasileiras.

"O estado de prostração e pobreza em que se encontravam a Metrópole e a colônia explica a extraordinária rapidez com que se desenvolveu a economia do ouro nos primeiros decênios do século XVIII. De Piratininga a população emigrou em massa, do Nordeste se deslocaram grandes recursos, principalmente sob a forma de mão-de-obra escrava, e em Portugal se formou pela primeira vez uma grande corrente migratória espontânea com destino ao Brasil. O facies da colônia iria modificar-se fundamentalmente." (pág. 77)


COM A MINERAÇAO, HOUVE GRANDE IMIGRAÇÃO PORTUGUESA

"Com efeito, tudo indica que a população colonial de origem europeia decuplicou no correr do século da mineração". (pág. 78)

Furtado nos informa que afora os grandes senhores de engenhos ou terras, os homens livres* não conseguiam nenhuma expressão social. Era miséria pura.

"Ao estagnar-se a economia açucareira, as possibilidades de um homem livre para elevar-se socialmente se reduziram ainda mais. Em consequência, começou a avolumar-se uma subclasse de homens livres sem possibilidade de ascensão social, a qual em certas épocas chegou a constituir um problema". (pág. 79)

COMENTÁRIO DO BLOG

* Mais tarde, nos séculos XIX e XX, essa multidão de homens livres e sem posses, seriam os macunaímas, os jagunços e os agregados nos entornos das cidades, nos sertões e nas casas grandes.


Com o avanço da mineração, cresce o comércio da carne, favorecendo a pecuária da região Sul do país. Outro fator econômico que aparece fortemente é o mercado para animais de carga, pelo fato da região mineradora ser montanhosa e longe do litoral brasileiro.


ETAPA MINEIRA FAVORECE DE FORMA INDIRETA MAIS AO SUL QUE AO NORDESTE

"Se se considera em conjunto a procura de gado para corte e de muares para transporte, a economia mineira constituiu, no século XVIII, um mercado de proporções superiores ao que havia proporcionado a economia açucareira em sua etapa de máxima prosperidade. Destarte, os benefícios que dela se irradiam para toda a região criatória do sul são substancialmente maiores do que os que recebeu o sertão nordestino. A região rio-grandense, onde a criação de mulas se desenvolveu em grande escala, foi, dessa forma, integrada no conjunto da economia brasileira". (pág. 80/81)


SÃO PAULO CONCENTRAVA E DISTRIBUÍA BURROS E BESTAS

"Cada ano subiam do Rio Grande do Sul dezenas de milhares de mulas, as quais constituíam a principal fonte de renda da região. Esses animais se concentravam na região de São Paulo onde, em grandes feiras, eram distribuídos aos compradores que provinham de diferentes regiões..." (pág. 80)


PROCURA POR GADO INTEGROU REGIÕES

"A economia mineira abriu um novo ciclo de desenvolvimento para todas elas. Por um lado, elevou substancialmente a rentabilidade da atividade pecuária, induzindo a uma utilização mais ampla das terras e do rebanho. Por outro, fez interdependentes as diferentes regiões, especializadas umas na criação, outras na engorda e distribuição e outras constituindo os principais mercados consumidores. É um equívoco supor que foi a criação que uniu essas regiões. Quem as uniu foi a procura de gado que se irradiava do centro dinâmico constituído pela economia mineira". (pág. 81)


COMENTÁRIO FINAL DO BLOG

É sempre bom pegar em leituras um pouco mais engajadas, que nos lembram quem somos, de onde viemos e por que as coisas são como são em nosso querido Brasil: uma terra que, apesar das condições naturais ideais, na conformação social é eivada de injustiça, iniquidades, exploração das massas trabalhadoras, com povos com pouco acesso a escolarização e com ignorâncias incentivadas pela elite dominante.

Há que se posicionar e combater sempre isso. É dever de homens e mulheres de bem e que defendem um mundo melhor, mais justo, equânime e solidário se engajarem nas causas sociais em nosso país.

William

domingo, 29 de novembro de 2015

Diário - 291115 (Corrida, filmes, leituras, músicas)





Refeição Cultural


Preguiça de escrever.

Estou num domingão legal porque amanhã é feriado em Brasília e eu vou descansar um pouco, já que não tenho viagem marcada pelo meu trabalho nesta segunda e só terei alguns textos mais complexos para analisar.


CORRIDAS

Minha saúde e condição física não estão nos níveis ideais depois de um ano de trabalho como este que estou enfrentando. Após minha primeira meia maratona no início de outubro, diminuiu mais ainda meu tempo para correr e caminhar. Meu corpo também acumulou dores de treinamento para a meia maratona: nos tendões dos pés, na virilha e um pouco nas costas.

Bom, falta um mês para a minha oitava participação na São Silvestre. Treinar é preciso, para preparar o corpo para correr 15 km. Além do mais, como minha pressão arterial alterou um pouco depois desse ano de trabalho, correr e se exercitar é uma necessidade vital, além de me alimentar melhor. Esses são os efeitos práticos de ser cuidado por um médico de família da Cassi: mais consciência para o autocuidado em saúde.

Na volta às corridas, no domingo passado, voltei ao Eixão aqui em Brasília e corri 5k em 32' e andei mais 6k em 60'.

Hoje, corri no Eixão 7k em 45' e andei mais uns 5k em 50'. Foi bem difícil e o que me levou a completar o percurso correndo foi a determinação de minha mente, porque o corpo pedia que eu parasse desde o km 5. Mas foi legal. Missão cumprida para esta semana.


FILMES

Neste sábado, depois de muita insistência de minha esposa, acabei por assistir ao filme O Pianista, dirigido por Roman Polanski (2002). O filme retrata uma história real de um pianista judeu polonês, que sobreviveu ao Holocausto, escondido no Gueto de Varsóvia. O filme e a história são muito duros. Fiquei bem mal. Dormi mal. Acordei pensando a respeito. Enfim, a história mexeu comigo porque tenho escrito sobre os riscos à paz e à civilidade social que acompanham a ascensão do fascismo em nosso país e no mundo. Se der, depois escrevo sobre o filme.


LEITURAS

Contos. Até o momento neste final de semana, li contos. Vamos ver se leio alguns dos meus livros prediletos entre hoje e amanhã.


MÚSICAS

Acabei de ouvir o 6º CD de meu box com dez CDs de músicas clássicas do estilo Barroco.

Já rolou Bach, Mozart, Vivaldi, Offenbach, Grieg, Massenet, Handel, Haydn, Albinoni etc,


Pai, como sei que você visita o Blog para saber notícias minhas, receba um beijo carinhoso, pra você e tod@s aí em Uberlândia.

William Mendes

domingo, 22 de novembro de 2015

Diário - 221115



Um casal de curicacas no entorno de casa, em Brasília - DF.

Refeição Cultural

Domingo acabando.

Cumpri mais um compromisso com filho e esposa: assistimos ao segundo filme da trilogia "O senhor dos anéis". Ufa, já foram seis horas de filme, em quatro sentadas em frente à tela, nos poucos momentos que tenho com a família. A história e o filme deixam a gente estressado pelas batalhas e violências. Mas compromisso é compromisso.

Para voltar o ritmo cardíaco ao normal, estou ouvindo agora um de meus compositores favoritos: Johann Sebastian Bach - estou ao som dos Concertos de Brandenburgo nº 1, nº 2 e nº 3. Eu tenho uma edição especial em box com dez CDs de compositores barrocos.

Hoje, saí para correr um pouco e caminhar. Já faz algumas semanas que só caminho, e caminho quando dá. Meu condicionamento físico está ruim desde que participei de minha primeira meia maratona em 11 de outubro. A cada semana aumentam a carga horária e o estresse no trabalho. Me esforcei para correr 5 km e andar mais 6 km.


A IMPORTÂNCIA DO AUTOCUIDADO E DO MÉDICO DE FAMÍLIA

O trabalho está afetando minha saúde, assim como ocorre com os meus pares, os colegas bancários. A nossa luta pela defesa e fortalecimento da Caixa de Assistência, onde sou gestor eleito, está alterando minha saúde rapidamente. Eu sei que ocorre o mesmo com nossos bancários nos locais de trabalho, sob forte pressão por metas e assédio, além das péssimas condições de trabalho.

Pois é, estou a três semestres como gestor da nossa entidade de saúde, no modelo de autogestão compartilhada entre eleitos pelo Corpo Social e indicados pelo Banco do Brasil. Felizmente, eu tive a oportunidade de passar a ser cuidado pelo modelo assistencial da Cassi - a Estratégia Saúde da Família (ESF), onde você é cuidado e monitorado por uma equipe multidisciplinar em saúde. O modelo é o que há de melhor no cuidado dos participantes para prevenir doenças e promover saúde.

Nossa agenda de luta e o estresse diário nestes dezoito meses, já alteraram minha condição de saúde e as consequências são as tradicionais: aumento do colesterol ruim e aumento da pressão arterial. Em três visitas de acompanhamento semestral, o médico de família já identificou isso e me recomendou algumas mudanças e atenção na alimentação.

Aí algumas pessoas podem perguntar: de que está servindo eu correr e caminhar quando consigo agenda livre? Se eu não tivesse retomado as corridas, eu já estaria num estágio bem pior de saúde neste percurso de três semestres. Não tenho dúvida nenhuma!

Meu desejo e objetivo durante meu mandato é ampliar a cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF) para o máximo de bancários e associados que for possível em um mandato de quatro anos, porque a Cassi precisa de estrutura para poder cuidar de mais associados no modelo de Atenção Integral à Saúde e ESF/CliniCassi e são necessárias estratégias para essa ampliação, além de recursos financeiros.


MANTER CONTATO COM A BASE SOCIAL É UMA META QUE FAREI ATÉ O FIM DO MANDATO DE REPRESENTAÇÃO

Meu trabalho me exigiu e exige muito estudo e muita negociação, desde que comecei o mandato. Mas uma das coisas mais importantes na vida de um representante eleito é não perder o contato com o Corpo Social que representa. Eu me formei assim nos mandatos eletivos que já cumpri como dirigente sindical.

Nesta semana que passou, eu falei com mais de 300 pessoas em 4 Unidades da Federação - TO, DF, SC e PR. Desde que comecei o mandato tenho feito isso. A consequência é dobrar as jornadas de trabalho. Elas acabam por ser de umas 12 horas pra mais, porque conjugo ser administrador de uma entidade de saúde, negociador que tem na estratégia buscar mobilização dos associados, e um gestor eleito prestando contas à base social que representa.

Acho isso fundamental porque na atualidade social do mundo as representações e as instituições democráticas estão em cheque e são questionadas por falta de representatividade e de cumprimento daquilo que se pactua nos processos eleitorais. Eu defendo a política e a democracia e não a disputa de hegemonia de ideias e ideais através da força, da guerra e da extinção do outro.

Eu estou cansado para começar mais uma longa semana, não deu pra descansar. Mas, amanhã cedo, estarei em pé para mais uma semana cumprindo minhas tarefas e compromissos pela entidade de saúde que administro e em nome dos associados que represento.


William Mendes
Diretor de Saúde e Rede de Atendimento da Cassi


Post Scriptum: também publicado no blog de trabalho, com outro título.

sábado, 21 de novembro de 2015

"Há uma operação de enfeitiçamento em curso", Najla Passos




Em seminário do Fórum 21, professor denuncia que as versões da velha mídia reverberadas pelas redes sociais abalaram a relação entre verdade e ficção


“A mídia não cobre mais os acontecimentos. Ela gera versões e tenta transformá-las em verdade”, alertou o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, professor titular do Departamento de Sociologia da Unicamp e membro do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP, que participou da mesa Comunicação e Novas Tecnologias, durante os “Seminários para o avanço social”, promovido pelo Fórum 21, em São Paulo de 9 a 13 de novembro.

De acordo com ele, mesmo após o advento das redes sociais e dos 13 anos de governos petistas, o sistema da comunicação no Brasil é ainda extremamente concentrador e preocupante porque, historicamente, o PT não soube avaliar o real poder da mídia e a esquerda não conseguiu formular uma análise crítica do seu potencial de formação de consensos.

Santos afirma que, desde a década de 80, o PT já contava que, quando chegasse ao poder, teria a velha mídia brasileira ao seu lado, devido à postura dos oligopólios, como as Organizações Globo, de sempre se posicionarem a serviço dos governos de plantão. Mas não foi o que aconteceu. Para agravar, as redes sociais amplificaram o potencial da mídia de repetir versões para transformar fatos em verdade, o que gerou o quadro atual.

A esquerda não tem uma visão crítica em relação aos meios de comunicação. E se ela não consegue ter essa relação em relação à velha mídia - se o máximo que consegue é propor a democratização e ponto - imagina com as novas mídias”, criticou.

Para o professor, o quadro é de tamanha gravidade que a relação entre verdade e mentira, entre verdade e ficção, está completamente abalada. “Nós chegamos a um ponto em que os ladrões gritam ‘pega ladrão’ para os não-ladrões. E isso cola! É uma inversão de valores gigantesca”, ironizou.

Linguagens totalitárias

O sociólogo sustenta que a dimensão totalitária que a linguagem da velha mídia, reverberada pelas redes sociais, adquiriu no país só encontra precedentes no período pré-nazista e na Guerra Fria. “A mídia é uma parte não só ativa na definição do que acontece, mas é parte ativa na criação de ficções, de versões do que ocorre”, ressaltou.

Para piorar o quadro, a esquerda não consegue sequer reagir aos sucessivos ataques, porque seus instrumentos são poucos e de curto alcance, enquanto os dos oligopólios que dominam a mídia no país vão longe e promovem uma espécie de “enfeitiçamento” contínuo. “Se você coloca só um pouquinho de voz de um lado, não é suficiente para fazer contraponto. A assimetria é enorme”, destacou.

O resultado, conforme ele, portanto, é um campo de versões e mentiras deliberadas, programadas por uma máquina poderosa, que tem uma capacidade de mobilização das mentes das pessoas bastante importante. “Não só a classe média já foi ganha, como também existe a uma capilaridade em setores beneficiados pelas políticas desse governo que começam a se submeter a este enfeitiçamento. Há uma operação de enfeitiçamento em curso”, denunciou.

Como exemplo, Santos cita as pequenas manifestações por impeachment ou a favor de “intervenção militar” que reúnem meia dúzia de manifestantes e um boneco, mas ganham um espaço enorme no noticiário e na agenda política do país, em detrimento de outras muito maiores organizadas pelos movimentos sociais. “Há todo um encadeamento de redes de transmissão que fazem com que não-acontecimentos se tornem acontecimentos, com o objetivo de manter no ar permanentemente a perspectiva de golpe”, alertou.

O não-diálogo

Para o professor, este enfeitiçamento está na base da falta de diálogo que domina o país. “Todo mundo aqui já tentou argumentar com uma dessas pessoas de direita, no sentido de demonstrar os absurdos que ela está dizendo, e bateu em um muro. O esclarecimento não resolve. Não há possibilidade de diálogo nem de discussão, porque o irracional surge. Elas não querem ser esclarecidas. São movidas pelo ódio e o ódio é visceral. E esse ódio é alimentado o tempo todo pela mídia e pelas redes sociais”, argumentou.

Para o professor, o mais grave é que o governo sequer reage a essa ofensiva, tratando essa explosão da linguagem totalitária no país como natural ou próprio da democracia. “Nem corte de grana para emissoras houve. A reação do governo é de submissão e isso estimula o avanço conservador”, acrescentou. Santos sustenta que as forças de esquerda precisam compreender os sinais de perigo e agir. “A linguagem não é só sentido e produção de conteúdo. A linguagem também é ação. E a ação da linguagem totalitária é mobilizar o negativo das pessoas”, denunciou.

O mercado da atenção

Professor de Sistemas de Informação da USP, Mário Moreto Ribeiro, fez uma comparação entre o ambiente do mundo do trabalho e o das redes sociais, que hoje exigem a atenção total do trabalhador/internauta, em uma desgastante briga por sua atenção. “Na internet hoje, o que está em disputa é essa atenção total. Não só o tempo [do internauta], mas a atenção”, afirmou.

Segundo ele, o capital se apropriou do que deveria ser espaço de interação e lazer para os trabalhadores e o transformou em mais uma mercadoria. É por isso que ele classifica o esforço exercido por milhares de usuários das redes sociais para formularem comentários e disputar a atenção de seus seguidores, gratuitamente, é um tipo de trabalho voluntário que contribui para valorizar a marca da empresa, e gerar lucro para o capital.

“Escrever no facebook também é um trabalho. Você gasta tempo, valoriza a empresa. E disputa a atenção dos colegas. Existe um mercado da atenção nas redes sociais. E a gente está disputando esse mercado quando escreve no Facebook. Mas não é um mercado aberto. Ele é controlado por uma empresa”, alertou.


Fonte: Carta Maior


COMENTÁRIO DO BLOG:

Texto fantástico. Quem me conhece ou já me viu falar sobre o tema, sabe que é tudo que tenho dito. Os sublinhados são para destacar.

domingo, 15 de novembro de 2015

Viver segue sendo muito perigoso...


Brasília com suas cores. Estamos em novembro,
mês dos Flamboyants vermelhos e laranjas.

Refeição Cultural - Diário 151115


Domingo em Brasília. Já estou há uma hora ouvindo a sinfonia de pássaros através da janela da sala de casa.

O mundo globalizado viu na última sexta-feira 13 os atentados terroristas em Paris. Quase duzentas pessoas perderam a vida ou estão na iminência de perdê-la. Os atentados foram assumidos pelo Estado Islâmico, um subproduto da destruição entre os anos noventa e dois mil dos países árabes e do Oriente Médio, destruição cuja responsabilidade tem forte relação com os países imperialistas do ocidente, capitaneados pelos Estados Unidos.

Como eu disse num texto anos atrás, o mundo segue hostil. O pior é que as perspectivas não são animadoras. Podemos ter um aumento da barbárie em escala mundial para as próximas décadas. Com o medo e o uso do medo, ampliam-se as intolerâncias, os preconceitos, xenofobias e tudo quanto é mazela do gênero. 

Analistas e estudiosos de história e de guerras afirmam que uma eventual 3ª Guerra Mundial seria muito diferente das duas primeiras registradas no século XX. Estas foram de países de um lado e outro, mas agora o mundo é dominado por corporações, que põem governos de joelhos, e por grupos de afinidades como religião, ideologias e outros liames.

A existência é um "Grande Sertão: veredas", para citar o grande Guimarães Rosa. Ou seja, além da afirmação clássica de que o sertão é em todo lugar, temos a questão das veredas e encruzilhadas da vida para cada ser vivo. Todos os dias, a todo instante, escolhemos fazer isso ou aquilo, decidimos optar por determinado caminho.


As veredas

As veredas... o tempo inteiro em nossa vida nos pegamos escolhidos para trilhar determinado caminho, para realizar determinada tarefa. Riobaldo Tatarana nunca quis ser o que foi, nem coragem ele tinha em ser jagunço, mas lá estava ele, no meio das maiores guerras dos sertões.

Se passa o mesmo com cada um de nós. Aqui no meu mundo, na minha vida. Na sua vida. Ali em Mariana, Minas Gerais, onde uma tragédia anunciada e prevista destruiu centenas de quilômetros de meio ambiente e vida (capitalismo). Lá em Paris, na França, com os atentados terroristas desta última sexta-feira 13. Por mais que planejemos algo, as adaptações extrapolam - e muito - o que estava desenhado.

Me peguei sindicalista. Agora me peguei gestor em saúde. Estava no lugar que procuraram e estava realizando minhas lutas quando me peguei com novas tarefas. Todos escolhemos e somos escolhidos o tempo todo. Já pensaram nisso?

Para voltar nas veredas, no sertão mundo. As pessoas estavam lá em Mariana, Mariana estava lá no meio das perspectivas de exploração e destruição de tudo que significa o modelo de produção capitalista, e a hora do desastre chegou. Porque é claro que o desastre sempre vem. É claro que vamos inviabilizar a existência no mundo. Os desgraçados donos do sistema capitalista e seus lacaios e ideólogos sabem que vão destruir o planeta, mas fazem o cálculo de que não será na vez da vida deles, e então atuam na base do foda-se a geração seguinte.

As veredas... a questão das veredas e do sertão mundo serve para refletirmos sobre qualquer coisa. Dezenas de pessoas foram mortas em Paris na última sexta-feira. As informações dão conta de que era uma linda noite de sexta. E então começaram os ataques e assassinatos de civis.


Viver é perigoso...

Com os novos conhecimentos em saúde que adquiri ao ser gestor de entidade de saúde, eleito por trabalhadores, convivo com nova dor de conhecimento - desde muito novo, partilho do conceito que o conhecimento às vezes nos traz dor e sofrimento, porque não conseguimos mudar as coisas -, enfim, nos dói saber o quanto é benéfico e poderíamos melhorar a vida de toda a população se pudéssemos cuidar da saúde dela desde cedo, atuando na educação em saúde e na atenção primária. 

Mais de setenta por cento das demandas de saúde quando o caso é grave, tem origem na falta de cuidado e acompanhamento de doenças crônicas. Quando a vítima chega à rede hospitalar, se houver rede hospitalar nos locais, ela tem uma chance menor de sobreviver e ficar sem sequelas e o custo para tratar sua demanda de saúde agudizada é exponencialmente mais caro. Grande parte das doenças graves são oriundas do não cuidado de questões básicas como controlar o colesterol, a diabetes e a hipertensão. De se controlar o estresse e a alimentação. De fazer exames periódicos para casos de histórico familiar.

É engraçado e trágico ao mesmo tempo. O ser humano passou a viver mais que três décadas com o passar de alguns milhares de anos porque melhorou a tecnologia das coisas cotidianas. Criamos os condimentos, sal, açúcar, fumo, álcool, gorduras saturadas, alteramos geneticamente os alimentos. Antes, a existência nos demandava esforço físico e aquilo que chamamos de atividades aeróbicas. Hoje, o humano é sedentário.

Na atualidade, os humanos vivem várias décadas a mais, porém morremos basicamente porque nossas veias e artérias entopem e explodem por falta de controle e acompanhamento do consumo de condimentos, sal, açúcar, fumo, álcool, gorduras saturadas, desequilíbrio no que se come. E tem também o estresse do mundo inseguro, caótico e da exploração humana pelo capitalismo. Explodimos também por isso.

Enfim, o mundo segue sendo o que é: um campo de batalha e em disputa por todos os seres vivos que nele habitam. 

Viver segue sendo muito perigoso.

William Mendes

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Y del mucho leer, se le secó el celebro...


Eu e Miguel de Cervantes, Toledo (ESP). 2009.

"En resolución, él se enfrascó tanto en su lectura, que se le pasaban las noches leyendo de claro en claro, y los días de turbio en turbio; y así, del poco dormir y del mucho leer, se le secó el celebro de manera que vino a perder el juicio..."


Em meu trabalho atual, de gestor de entidade de saúde, eleito pelos trabalhadores, há dias em que me lembro muito desta frase famosa sobre nosso Cavaleiro da Triste Figura...

E de tanto ler, seu cérebro secou...

Aff! E o pior é que não é literatura. São súmulas, estudos, trocentas páginas sobre questões de saúde etc.

William Mendes

domingo, 8 de novembro de 2015

Reflexões sobre a vida e nosso papel social





Refeição Cultural

Domingo. Acabou o final de semana. Entrei no casulo sábado para um respiro, mas já acabou. Vamos iniciar mais uma semana num mundo esquisito, duro, indefinido ao extremo, a considerar que o ser humano se organizou em sociedade para conquistar um pouco de segurança e estabilidade. Hoje, no entanto, o sistema capitalista organizou o mundo e as pessoas que nele habitam para o curto prazo.

Não há mais estabilidade em nada. Assim como a própria existência, frágil e à mercê de um instante final, nossas organizações sociais estão todas por um triz.

Como achar sentido na nossa existência tão curta e fugaz, no instante em que passamos por aqui?

Eu me pergunto isso e vivo buscando sentido para as coisas desde muito jovem. Já vivi algumas parcas décadas neste mundo, onde o tempo é infinitamente grande e longo se comparado ao instante que é uma simples vida humana.

Buscando sentidos e observando o mundo em que vivo, neste fim de semana li um pouco de Franz Kafka, O processo, e li um pouco de Mário de Andrade, Macunaíma. Corri e caminhei, pois sei de minha obrigação em ser resistente, como soldados em campos de batalha. Reli textos meus para rever o que já escrevi e o que pensei a respeito de coisas do mundo.

Eu tenho convicção absoluta sobre a importância da leitura de materiais mais densos como livros clássicos e obras que abordem com maior profundidade o conhecimento humano acumulado em milhares de anos. A leitura de obras densas gera a capacidade nos leitores de criarem referências para as coisas do cotidiano da vida - para as decisões a se tomar, porque você pode buscar no conhecimento adquirido com as obras clássicas uma referência sobre o que fazer e as consequências que sua decisão podem gerar.

Quando vejo do que se alimentam meus pares humanos na atualidade, através das redes sociais e ferramentas comunicacionais, produtos de poucas linhas, com imagem e som, as pautas e materiais disponibilizados, os novos "livros" editados, os vídeos, os temas, enfim as coisas que formam ou organizam o pensamento dos humanos situados no mundo em que estamos, fico pensando no que fazer, no meu papel, em como lidar com as pessoas ao meu redor. 

Fico pensando em como trabalhar e representar as pessoas deste mundo novo das coisas curtas, com valores outros em relação ao que eu defendo e luto por implantar no mundo para uma vida melhor das pessoas e do próprio planeta que habitamos.

Eu sinceramente tenho dúvidas do efeito prático da minha forma de agir. Mas eu acredito que tenho que manter minha postura, minha forma de agir, mesmo sendo infinitamente minoria no que penso e defendo. No fundo, desde muito jovem, sempre senti a necessidade de não ser parte das hegemonias ao meu redor.

Acho que isso tem um pouco a ver com ser um militante de esquerda, militar por justiça social, lutar contra injustiças sociais, não ter os valores de sua vida baseados no ter... mas sim em ser algo que valha a pena.

Vou acordar nesta segunda-feira e trabalhar com firmeza pela tarefa que me designaram ao me elegerem para gerir uma entidade de saúde de trabalhadores, em nome deles. 

Vou manter minha postura de não concordar com injustiças e coisas erradas. E vou manter minha franqueza em dizer o que penso e o que defendo, para as batalhas que eu for escolher para enfrentar, porque aprendi com a vida que não posso enfrentar todas as coisas erradas do mundo, mas que devo escolher as batalhas para as quais vou me dedicar.

William Mendes
Uma simples vida humana
(mas importante como todas as vidas humanas)

sábado, 7 de novembro de 2015

Diário - 071115





Refeição Cultural

Sábado. Acordei. Tomei um copo de água. Abri a janela da sala e fiquei minutos vendo o movimento das folhas nas árvores e o movimento dos pássaros. Peguei O processo e li por uma hora. Li o terceiro capítulo.

Lembremos o começo da obra:

"Alguém devia ter contado mentiras a respeito de Joseph K., pois, não tendo feito nada de condenável, uma bela manhã foi preso..."


Passados alguns dias, o personagem começa a viver o processo. Os locais onde deve ir, a forma como as sessões do processo se dá e as pessoas com quem Joseph K. lida são coisas sem sentido, sem lógica. É algo semelhante ao mundo do faz de conta, da fantasia.

Joseph K está preso, mas está livre para ir e vir durante o processo. Mas está preso, porque o processo está em andamento.


Liberdade

Quem de nós está livre? Eu estou preso ou estou livre?

Posso ir e vir... ou seja, estou livre. Mas sou livre?

As obras de Franz Kafka, principalmente O processo, ganharam interpretações às mais variadas ao longo do século 20. É o efeito posterior de boas obras.

Eu li O processo quando era adolescente. Imagine só como era minha cabeça, meu mundo, o mundo, quando li a obra lá nos anos oitenta do Brasil miserável, de minha família em condição financeira miserável, de um mundo miserável, dividido pela Guerra Fria?

E hoje, falamos de um mundo miserável. Falam ou plantam para os jovens de hoje que o Brasil é miserável... Canalhas miseráveis!

Que merda tudo isso! Que processo kafkiano vivemos!

William