Amor e Amizade - Fontes de energia vital
Domingo de sol em Osasco, Brasil.
Na última postagem que fiz, três dias atrás (ler aqui), senti um certo cansaço ao escrever e uma sensação ruim de inutilidade no que fiz. Gastei quase o dia todo para confeccionar o texto porque entendo que ao escrever publicamente, mesmo que seja para um leitor somente ou alguns poucos e nobres leitores, não se pode escrever sem cuidado: é preciso pesquisar quando for escrever algo minimamente confiável. Eu me esforço para fazer isso desde que virei diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região lá em 2002. É uma questão de respeito aos outros, ao mundo das letras e a si mesmo.
Hoje me deu vontade de escrever alguma coisa sobre amor ao próximo, aos outros. Falar de amor parece-me algo necessário em tempos de ódio, da ascensão do mal na vida das sociedades humanas deste início de século e milênio. Eu poderia dizer que senti muito ódio e muita ira durante pelo menos a metade de minha curta e longa existência. A pessoa que sou hoje é uma pessoa um pouco melhor, espero, por causa das oportunidades que a vida me proporcionou ao conhecer e participar das lutas coletivas do movimento organizado dos trabalhadores, o movimento sindical. Enfim, sentei para escrever sobre algo que podemos chamar de AMOR.
A vida voltou a ficar muito esquisita e sem sentido depois que saí do movimento de representação e organização da classe trabalhadora. Durante quase duas décadas, especificamente durante dezesseis anos de mandatos, teve muito AMOR no que fiz: acordar, estudar, pensar estratégias e táticas, sonhar utopias, agir e realizar coisas coletivas, sofrer nas lutas e comemorar conquistas (e lidar com as derrotas) e outras ações da vida humana foram as motivações e fontes de energia vital que me moveram. O ser que fazia isso era ao mesmo tempo pai, filho, parente, amigo, amante e conhecido das pessoas. Este se completava por ser aquele. Agora percebo que este indivíduo sem aquelas representações e ações se esvaziou bastante. Os sentidos do viver.
Até conhecer e participar das lutas da classe trabalhadora, de me sentir pertencente a algo coletivo, de representar pessoas, eu sofria dos padecimentos mais comuns e comezinhos dos mortais humanos, sentia dores n'alma e desapego à vida talvez por alguma forma de depressão desde a tenra idade. Viver ou não viver era a mesma coisa pra mim. Mesmo tendo o amor de pessoas queridas, meu egoísmo falava mais alto e não me importava em magoar as pessoas caso morresse. Depois que me peguei dentro do movimento sindical, nunca mais tive recaídas nessas dores d'alma. Viver e viver passou a ser a única alternativa, porque a energia vital das lutas coletivas enchia veias e artérias, músculos e pensamentos de mim. A energia da coletividade é contagiante. Na poesia, Drummond era a referência pra mim:
"Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação." (Os ombros suportam o mundo)
Tudo mudou muito radicalmente na minha vida e isso traz dificuldades de adaptação. Estamos tentando sobreviver e viver nesses novos tempos pessoais e coletivos porque o cara que saiu dessa última fase da existência é o que prevalece em mim. Drummond segue sendo a referência. No limite, prefiro viver que morrer ou prefiro guerrear que me deixar matar. Mas com a ascensão do mal ao nosso redor, ficou muito ruim viver, ficou algo esquisito porque está difícil ver esperança de dias melhores no horizonte de uma vida e até num horizonte coletivo das vidas proletárias.
Chega de escrever. Quando vejo, já estou me alongando. Caramba, vai ser prolixo na casa do chapéu!
AMOR
Sobre o amor, o amor ao próximo, quis registrar que saí para correr porque quero estar vivo por causa de meu filho, por causa da minha companheira, por causa de meus pais, irmã e sobrinhos. Por causa dos amigos, muitos amigos. Porque amo muita gente pela qual vale a pena estar vivo.
Se eu não tivesse pessoas queridas para amar, relações de amizade a cultivar, o amor de tanta gente e para tanta gente que amamos, eu não me importaria nem um pouco de morrer a qualquer minuto. Seja de Covid-19, seja de infarto ou outra merda qualquer, por falha do corpo da gente, enfim, eu não me importaria.
Eu tento me cuidar de forma consciente para sobreviver porque o amor e a amizade são as energias que me sobraram hoje. Eu me sinto um privilegiado pelas relações de amor e amizade que tenho, e que enchem mais de duas mãos. De novo: se começo a lembrar de pessoas queridas uma... duas... três... oito... dezesseis... vinte e três... tem muita gente querida em meu mundo de relações, mesmo a maioria estando distante fisicamente. O amor e a amizade não ligam para distância física.
Aprendi a querer viver pela solidariedade, pela justiça social, pela liberdade e igualdade, pela capacidade que os seres humanos têm de praticar o bem e inventar coisas boas. A vida pode ser melhor. Eu fui do ódio, da vontade de morrer ao outro extremo, ao amor e à vontade de viver porque conheci a cultura, a amizade, vi gente lutando pelos outros, se doando para os outros.
Enquanto estiver vivo, vou sonhar e me esforçar para que a sociedade humana se organize de forma diferente da atual, o modelo de produção e acumulação capitalista, onde alguns exploram o restante, acumulam tudo pra eles (o 1%) e os 99% ficam com migalhas. Associativismo, cooperativismo e autogoverno são formas possíveis de organização humana.
Vivi e participei de várias formas associativas e organizativas das classes trabalhadoras e essas oportunidades me transformaram num ser humano melhor, mais decente, mais humano. A Cassi, a Previ, o Sindicato, o condomínio onde moro, tudo isso é fruto de associativismo e cooperativismo. Pensem nisso!
Um abraço carinhoso ao amig@ leitor(a) dessa singela postagem.
William