terça-feira, 28 de abril de 2020

280420 (d.C.) - Diário e reflexões



Instantes...

Li um conto pela manhã. Vários interesses na fila de leitura. Mesmo sendo um à toa hoje, o tempo não tá prestando pra nada, quando vê é tarde, quando vê é noite, quando vê não fizemos o que queríamos. O tempo psicológico é muito mais cruel que o tempo da física do universo. É porque estamos caminhando pro fim desde que nascemos. Uns tão mais adiante, outros mais atrás. E ainda me vem essa merda de Covid-19. A vida não tem graça sem sair à rua; pior ainda ter que usar aquelas merdas na cara. E lavar tudo que entra em casa, então? Que saco, que merda! E ainda tem o mundo destruído pelos golpistas; tem a miséria geral do povo no mundo; uns desgraçados no bem bom f... o povo. Que preguiça desgraçada de lavar o banheiro e limpar a casa, mas a gente tem que fazer o que tem que ser feito. E eu fico me perguntando pra que isso, pra que aquilo, se ao final é tudo uma solidão só do existir, mesmo acompanhado, mesmo na multidão. E ainda tem a pressão alta, e o cuidar-se pro corpo não explodir ou falhar... casa pra limpar, isolamento social por fazer, coisas pra ler sem ler. E as memórias que poderiam ser escritas pra ninguém ler... quanta inutilidade, nem sabemos que mundo vai ter. Saco, saco com tudo isso. Que se fodam ao menos os desgraçados que causaram o mal generalizado, porque do lado de cá, do povão, o sofrimento é cotidiano mesmo, com ou sem pandemia, com ou sem bico sem direitos trabalhistas.


Post Scriptum:

O sofrimento é sério, mesmo com direitos sociais de "classe média" mas sem direito à felicidade, sem ser feliz, ou por não ter direito ou por não saber mesmo como abstrair de tudo que infelicita. Como ser feliz em meio a tanta miséria alheia, ao redor, tendo consciência que isso é projeto, é proposital, planejado por uns desgraçados?

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Estudo de línguas - Língua Japonesa (III)



Hiragana

No curso pago que faço na internet os professores dizem que temos que ter paciência e aprender uma coisa de cada vez na Língua Japonesa. Desde o início deste ano, estou fazendo uma matéria optativa de Língua Japonesa em minha graduação em Letras na USP. (ver postagem anterior aqui)

A rede mundial de computadores tem muita coisa interessante quando o interesse do internauta é estudar e buscar conhecimento gratuito. Eu, por exemplo, gosto da Wikipedia desde que foi criada. Como ela é uma fonte livre, uso com frequência em algumas coisas que pesquiso.

Vejamos abaixo, um trecho da Wikipedia sobre os sistemas de escrita e pronúncia do Japonês:

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O japonês faz uso de cinco sistemas de escrita diferentes: Rômaji, hiragana, katakana, kanji e os algarismos indo-arábicos.


漢字 Kanji são os caracteres de origem chinesa, usados em:

- substantivos;
- radicais de adjetivos e verbos;
- nomes de locais e de pessoas.


仮名 Hiragana são caracteres fonéticos japoneses usados em:

- terminações flexionais de adjetivos e verbos (送り仮名 okurigana);
- partículas gramaticais (助詞 joshi);
- palavras para as quais não há kanji;
- palavras cujo autor preferiu não escrevê-las em kanji (por motivo de legibilidade, comodidade, hábito, etc.);
- forma de indicar a leitura de kanji (振り仮名 furigana);

- onomatopeias.

片仮名 Katakana são caracteres fonéticos japoneses usados em:

- palavras e nomes estrangeiros, excluindo aquelas que originaram-se no kanji;

- onomatopeias;
- palavras cujo autor quis destacar (da mesma forma que se escreve em português em tipos itálicos);
- nomes científicos de animais e plantas.


ローマ字 Rômaji são os caracteres latinos, que são usados em:


- acrônimos, por exemplo ONU;
- palavras e nomes japoneses usados em outros países, como em cartões de visita e passaportes;
- nomes de firmas e produtos que necessitem ser lidos tanto no Japão como em outros países como, por exemplo, empresas japonesas: SONY, Panasonic, Pioneer (empresa), Aiwa (que pertence à SONY), etc.


インドアラビア数字 Numerais indo-arábicos


- números árabes (em oposição aos algarismos tradicionais de kanji) são comumente usados para escrever números em texto horizontal. Veja também os numerais japoneses.

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Palavras com os sons das primeiras famílias de katakana que aprendemos em sala de aula. Elas foram ditadas e não peguei o significado de todas elas. Para algumas palavras utilizei o Google Tradutor.

a - i - u - e - o

あい (ai) - amor 
いえ (ie) - casa
いう (iu) - falar 
あお (ao) - azul
うえ (ue) - em cima
おい (oi) - sobrinho
いいえ (iie) - não
おおい (ooi) - bastante

ka - ki - ku - ke - ko 

kaki - ostra (google)
koke - musgo (google)
kiku - ouça (google)
kuko - 
かけ (kake) - 
くき (kuki) - caule
ここ (koko) - aqui
あか (aka) - vermelho


Fontes:

Google
Sala de aula
Wikipedia

domingo, 26 de abril de 2020

Estudo de línguas - Língua Japonesa (II)



Amor (あい)

Nas primeiras aulas que tivemos na matéria de língua japonesa que estou fazendo como optativa na graduação de Letras, nos foi ensinado os dois kanas, o Hiragana e o Katakana. Assim que aprendíamos cada símbolo fonográfico (por famílias "a", "ka", "sa" etc), já éramos testados com ditados. É uma forma do ouvido se acostumar com o som do Japonês, que é diferente do Português em diversos fonemas.

Outra coisa estimulante é sermos convidados a irmos até o quadro escrever as palavras ditadas em sala de aula. Essa é uma forma prática de treinar a memorização do som e do desenho dos kanas. Nós tivemos umas cinco ou seis aulas antes da pandemia do novo coronavírus interromper tudo no mundo.

Se não quisermos perder o que já aprendemos, temos que dar um jeito de rever e memorizar as palavras, as frases de cumprimento e os fonogramas, mesmo que seja na forma de "romaji", ou seja, com o uso do alfabeto romano porque eu não sei utilizar no computador os kanas. No caderno em casa, eu tenho copiado e desenhado os símbolos dos sons.

SAUDAÇÕES (AISATSU)

dô itashi mashite = de nada!

arigatô = obrigado!

onegai shimasu = por favor!

sayônara = adeus! (demorar pra ver ou não ver mais)

ohayô gozaimasu = bom dia! (mais formal)

konnichiwa = boa tarde!

oyasumi nasai = tenha uma boa noite!

ogenki desu ka? = como você está?

genki desu. Anata wa? = estou bem. E você?


OBSERVAÇÃO: como disse na postagem anterior, aqui, essas postagens são registros de estudos meus. Elas não são ideais para outra pessoa estudar o tema porque eu não tenho conhecimento técnico sobre a língua japonesa.


sábado, 25 de abril de 2020

Estudo de línguas - Língua Japonesa



Hiragana.

Neste blog registro alguns estudos que realizo sobre línguas, literatura e cultura. Um dos objetivos das postagens é poder voltar aos estudos feitos para revisão e memorização. 

Algumas postagens têm por objetivo compartilhar conhecimento (WIKI - What I Know Is) como, por exemplo, aulas do curso de Letras que reproduzo aqui ou leituras que faço. Outras postagens como esta têm mais relação com registros pessoais para posterior revisão, não sendo ideais para alguém estudar nelas.


Katakana.

Decidi estudar a língua japonesa neste ano de 2020. Interesse neste idioma eu sempre tive, bem como o interesse na cultura japonesa, que é antigo. Além de me inscrever num curso pela internet em janeiro, me inscrevi também em uma matéria optativa de meu curso de Letras. Até o momento eu aprendi os dois alfabetos fonéticos ou silabários, o Hiragana e o Katakana. E o uso de algumas partículas.

No curso online a metodologia é uma e no curso presencial da USP é outra, completamente diferente. A cabeça e os neurônios estão sendo muito exigidos, o que é muito bom. No curso presencial é lápis na mão e desenho dos fonogramas, e memorizar as palavras. Dá um trabalhão acertar o traço. Na internet é memorizar som, imagem e palavras.

Enfim, estudar línguas é muito interessante e me faz esquecer por algumas horas a realidade desgraçada da política nacional.

William

Post Scriptum (26/4/20)

Uma coisa importante na escrita dos ideogramas e fonogramas da língua japonesa - Kanji, Hiragana e Katakana - é respeitar o sentido em que o lápis ou pincel devem iniciar e terminar o desenho de cada imagem.

Nossos professores do curso de Língua Japonesa Moderna I nos passaram sites em que é possível verificar os traços de cada fonograma. Não consegui abrir as tabelas pelo celular, mas pelo notebook funcionam normalmente. Para ver o Hiragana clique aqui e para ver o Katakana clique aqui.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

240420 (d.C.) - Diário e reflexões



Pandemia: frutas lavadas. Que trabalhão dá fazer isso!

Cenas cotidianas (d.C.)*

"Tive uma noite de insônia.
Entre o viver e sonhar,
uma estranha roeção no abdômen.
Entre o viver e sonhar,
senti perto a morte do homem." (William Mendes)


O Brasil registrou ontem, quinta-feira 23 de abril, 407 mortes oficiais por Covid-19. A palavra "oficiais" não é à toa. O país é um dos que menos testam as pessoas no mundo em relação a mapear quem está e quem não está com o novo coronavírus, uma doença que se transmite com uma velocidade impressionante por não apresentar sintomas por vários dias.

Sendo assim, oficialmente, o Brasil registrou até ontem à tarde, 3.303 mortes e 49.492 casos confirmados de Covid-19. Vários especialistas, inclusive autoridades de instituições públicas, dizem que o número pode ser várias vezes maior, alguns dizem ser até 10 vezes mais o número de pessoas infectadas e não testadas. 

No mundo, chegamos a 2,7 milhões de infectados e 192 mil mortos, sendo os Estados Unidos o país mais vitimado, são 50 mil vítimas fatais em poucas semanas. Os governos de lá e de cá foram contrários às recomendações da OMS e de vários especialistas em saúde e pandemias de que a melhor forma de frear a rapidez de transmissão da doença seria o isolamento social e a quarentena, para evitar o colapso dos sistemas de saúde. Efetivamente, não é uma "gripezinha".

CENAS DE HIGIENE DAQUELA CLASSE MÉDIA PRIVILEGIADA QUE ESTÁ EM QUARENTENA (NÃO DEVERIA SER, MAS É PRIVILÉGIO NO BRASIL TER UMA RENDA CERTA)

O que quero registrar neste diário virtual nesta sexta-feira ensolarada em Osasco, Brasil?

A foto que ilustra esta postagem são frutas lavadas para cumprir a rotina sugerida de higienização para se evitar contrair o vírus maligno e letal desta nova peste pandêmica. Que trabalho da peste! Há que se registrar que eu sou um privilegiado! Vivo num país miserável, que tem um governo miserável contra os pobres, e ter casa, renda mensal e alimento na mesa é um privilégio de menos da metade da população brasileira.

As medidas de precaução em relação ao Covid-19 transformaram o cotidiano num inferno. Pra todo mundo, pra quem tem recursos, pra quem não tem, ricos, pobres, remediados, pra todos a vida ficou bem difícil. Óbvio que nada se compara à situação trágica da imensa maioria do povo brasileiro sem uma renda básica da cidadania, sem ter como sobreviver dignamente diariamente. E essa miséria de mais de 100 milhões de pessoas é uma escolha proposital, política, consciente, por parte dos caras da casa grande.

Antes da pandemia já vivíamos em diversos mundos e realidades paralelas no Brasil e no mundo. Agora isso se exponenciou. Eu realmente fico em dúvida sobre a continuação da civilização humana nas próximas décadas. As cenas cotidianas demonstram que o gênero homo sapiens, da espécie humana, pode estar com os dias contados. E olha que nosso gênero existe há pouquíssimo tempo no planeta Terra. E talvez já vá tarde... já que o estrago e a incivilidade fazem com que o homo sapiens pareça um vírus.

Isolamento e higienização: várias realidades. Na "classe média" -  sempre detestei essas classificações que disfarçam que há duas classes, a dos proprietários do capital e dos meios de produção e a dos que vendem sua força de trabalho para sobreviver, os proletários - temos dois grupos na classe média, aquele que respeita a quarentena e segue as sugestões de higienização e aquele que é bolsonarista, bárbaro e incivilizado. Na classe "povão", que inclui os 38 milhões de trabalhadores informais ou desempregados e as comunidades onde eles vivem, não tem água, não tem comida, não tem nada. Higienização? Isolamento social nos cômodos que moram? Fala sério!

COTIDIANO BÁRBARO E NAZISTA: PESSOAS PROPÕEM CRIAÇÃO DE CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO E MARCAÇÃO DE PESSOAS

Voltando às cenas que gostaria de registrar sobre esses dias.

Uma mulher registrou um vídeo nesta semana defendendo que se marque com um laço vermelho as pessoas que estão respeitando o isolamento social e a quarentena sugeridos pelas autoridades de saúde para se evitar a mortandade da pandemia do Covid-19. A sujeita se diz empresária e quer que a economia volte ao "normal" (aquela desgraça após Lava Jato, Temer e Bolsonaro) e os empregados voltem a trabalhar. Sugeriu que quem não trabalha e fica em casa, que seja impedido de acessar os frutos do trabalho dos outros.

Essa pessoa praticou um ato nazista. O filólogo Victor Klemperer, no livro LTI A Linguagem do Terceiro Reich, em um capítulo chamado "A estrela", afirma que um dos dias mais marcantes para os judeus nos doze anos de Hitler e do nazismo foi o dia 19 de setembro de 1941: "Nesse dia tornou-se obrigatório o uso da estrela de Davi, de seis pontas, aquele trapo amarelo que até hoje simboliza peste e quarentena...". Hitler marcou os judeus para eliminá-los em campos de concentração.

Aliás, por falar em nazismo e campos de concentração, dias atrás um apresentador de TV propôs ao vivo que se instituísse campos de concentração no Brasil para jogar os doentes de Covid-19 lá... Esse meu relato não é ficção! São as ideias e ideais bolsonaristas e de extrema direita em ação no Brasil pós golpe de Estado em 2016. Esse é nosso cotidiano bárbaro com a ascensão do mal e com o fim dos limites sociais que estabeleciam certos padrões de comportamento que eram chamados de "politicamente correto". Os bárbaros não se manifestavam como agora que o presidente os estimula a pôr pra fora todo o mal que representam.

Enfim, são cenas que ficam martelando em nossas cabeças, em nossas vidas. Banditismo no poder estatal, quase um terço do solo brasileiro habitado por bárbaros bolsonaristas e uma parte da sociedade tentando seguir as recomendações sanitárias em defesa da vida humana, tendo um segmento que gostaria de estar se protegendo mas não pode, porque a escolha é morrer de Covid-19, de fome, ou de outras mortes severinas antes dos trinta, dos quarenta, dos cinquenta, um pouco todo dia.

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"Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São Tão fortes as coisas!

Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir."

(Nosso Tempo, Carlos Drummond de Andrade)
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Dentro das paredes da quarentena, as pessoas buscam sentidos nas coisas, na vida. E a vida simplesmente é, até o momento em que não é mais. Queria escrever sobre o movimento sindical, as negociações dos bancários e a experiência no mandato na Cassi, mas não vem a energia pra isso. Queria ler literatura, história e filosofia, mas começo tudo e não termino quase nada. Queria estudar línguas, mas até o Japonês, que fui tão bem por três meses, perdeu o sentido.

A gente faz toda essa higienização que sugerem... a vida ficou um saco por causa disso! E tudo é tão relativo que pode ser que dentro de ti esteja te roendo as tripas alguma doença silenciosa, que tuas veias explodam ou entupam, que o coração pare. Pode ser que o vírus te encontre num vacilo e bau-bau. A tal da máscara eu já tentei mais de um modelo e a merda não para no meu rosto, além de embaçar os óculos. Que saco!

O mundo tá bem ruim com gente nazista e bolsonarista pregando e praticando o mal pra lá e pra cá, cuspindo ódio, salivando veneno e vociferando golpes e morte ao diferente, enchendo todas as fissuras por aí como água de enchente invadindo tudo com doença de ratos, barro e dejetos e cheiro de morte em nossa vida.

Enquanto isso, pelo menos, o dia está lindo lá fora, sol e calor com céu azul, sextou! Como o diabo gosta! E a gente também!

William

*(d.C.): depois do Covid-19


Bibliografia:

ANDRADE. Carlos Drummond. A rosa do povo. 19ª ed. - Rio de Janeiro: Record, 1998.

KLEMPERER. Victor. LTI A Linguagem do Terceiro Reich. 1ª ed. - Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2009.

terça-feira, 21 de abril de 2020

No Decamerão, vemos o cenário da Peste atual



Refeição Cultural

Hoje é 21 de abril de 2020 (d.C.)*. Terça-feira.

O mundo enfrenta uma pandemia que parou a vida cotidiana. O novo coronavírus (Covid-19) chegou chegando, como dizem por aí. Do início do ano até agora, temos mais de 2,5 milhões de infectados pela doença, em praticamente todos os países do mundo, e os mortos já passam de 174 mil. Como não há vacina nem remédio, a orientação é quarentena e isolamento social para frear a rapidez da contaminação e o colapso dos sistemas de saúde. Em 13 dias, os infectados passaram de um milhão para dois milhões de pessoas.

Comecei a ler o clássico Decamerão, de Giovanni Boccaccio, há 20 dias. Inventei uma estratégia de leitura da obra para me obrigar a alguma coisa durante a quarentena: ler uma estória por dia. A obra tem um enredo convidativo em tempos de pandemia e quarentena porque ela se passa no cenário da Peste que devastou a Europa no século XIV (por volta de 1350), causando uma mortandade absurda e alterando drasticamente o cotidiano das pessoas.

Na história do Decamerão, dez jovens decidem se afastar de Florença durante a Peste, pois a morte é certa ali em meio a mortos em casa e nas calçadas, e buscam no isolamento social o conforto e o deleite de contar e ouvir estórias e novelas, sendo que cada dia (jornada) serão dez narrativas, somando ao final das jornadas cem novelas narradas. Completei a leitura de duas jornadas, ou vinte narrativas.

Por que afirmei que no cenário da Peste do Decamerão vemos o cenário da "Peste" atual? Porque as semelhanças em relação a várias questões sociais são impressionantes. 

As mulheres naquela época eram tratadas como uma coisa para escambo, uma subespécie humana, uma posse. Nesta 2ª jornada, que acabei de ler, é nojento o modo como algumas das estórias tratam as mulheres. Com o nosso olhar progressista e igualitário de hoje, dá ânsia de vômito a forma como o cotidiano das novelas tratam as mulheres. A 7ª e a 9ª narrativa são machistas e sexistas ao extremo!

Pois é! Passados quase sete séculos, chegamos a um amontoado de terra continental que usam chamar de Brasil onde o presidente eleito (por fraudes) é o representante máximo do machismo e sexismo em "solo pátrio" (força de expressão, aqui não é pátria de ninguém), um misógino inveterado, com falas públicas que depreciam as mulheres ao extremo. 

No entanto, o misógino político só foi eleito porque milhões de mulheres votaram nele, brancas, pardas, pretas, amarelas. Que fazer? Não posso desistir de viver por causa disso...

No Decamerão, na Idade Média, naquele mundo sem ciência (as ciências engatinhavam), a religião, as crenças, os donos do poder, reis e seus ideólogos, mancomunados com a igreja, dominavam pelo medo, pela manipulação, pela força dos estados violentos. A Peste era castigo de Deus, a salvação se houvesse era através de Deus e das rezas e da fé.

Quase sete séculos depois, após o advento da ciência, do conhecimento testado e incorporado ao cotidiano da vida no planeta, do avanço ao macro e ao micro, da ida ao espaço e do estudo dos átomos e das células, do olhar aos seres microscópicos como os vírus, uma nova seita mundial invadiu países, governos, cérebros dos seres humanos, gerando uma pandemia para além da do vírus, a pandemia da ignorância, do terraplanismo, do mundo sem vacinas. Nesta terra, ela é identificada com a palavra "bolsonarismo".

Entendem como ler Decamerão é mais atual que ver as notícias dos jornalões? Do que ouvir um demente na cadeira da presidência duma terra qualquer dizendo que brasileiro não pega vírus não pega nada porque até mergulha em esgoto? A autoridade fala isso, limpa a remela do nariz na mão e cumprimenta mais um na multidão... 

Gente, é isso! Já sobrevivi até aqui. Estou me cuidando e seguindo as recomendações das autoridades de saúde. Vamos ver se sobrevivo mais 80 dias para ler as outras 80 narrativas do clássico. 

Em tese, não sou um dos 2,5 milhões de infectados no mundo (esse número é formal, de pessoas testadas). Tá certo que a estratégia do país jabuticaba é jamais revelar o número de infectados e mortos pela "gripezinha" que tá rolando pelo mundo. Aqui não haverá testes até porque a pandemia é invenção de comunista pra atacar o mito.

William
Um leitor


Post Scriptum:

*(d.C): depois do Covid-19

Para ler as outras duas postagens sobre a leitura do Decamerão, clique aqui (1ª postagem) e aqui (2ª postagem)

domingo, 19 de abril de 2020

190420 (d.C.) - Diário e reflexões




Amor e Amizade - Fontes de energia vital

Domingo de sol em Osasco, Brasil.

Na última postagem que fiz, três dias atrás (ler aqui), senti um certo cansaço ao escrever e uma sensação ruim de inutilidade no que fiz. Gastei quase o dia todo para confeccionar o texto porque entendo que ao escrever publicamente, mesmo que seja para um leitor somente ou alguns poucos e nobres leitores, não se pode escrever sem cuidado: é preciso pesquisar quando for escrever algo minimamente confiável. Eu me esforço para fazer isso desde que virei diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região lá em 2002. É uma questão de respeito aos outros, ao mundo das letras e a si mesmo.

Hoje me deu vontade de escrever alguma coisa sobre amor ao próximo, aos outros. Falar de amor parece-me algo necessário em tempos de ódio, da ascensão do mal na vida das sociedades humanas deste início de século e milênio. Eu poderia dizer que senti muito ódio e muita ira durante pelo menos a metade de minha curta e longa existência. A pessoa que sou hoje é uma pessoa um pouco melhor, espero, por causa das oportunidades que a vida me proporcionou ao conhecer e participar das lutas coletivas do movimento organizado dos trabalhadores, o movimento sindical. Enfim, sentei para escrever sobre algo que podemos chamar de AMOR.

A vida voltou a ficar muito esquisita e sem sentido depois que saí do movimento de representação e organização da classe trabalhadora. Durante quase duas décadas, especificamente durante dezesseis anos de mandatos, teve muito AMOR no que fiz: acordar, estudar, pensar estratégias e táticas, sonhar utopias, agir e realizar coisas coletivas, sofrer nas lutas e comemorar conquistas (e lidar com as derrotas) e outras ações da vida humana foram as motivações e fontes de energia vital que me moveram. O ser que fazia isso era ao mesmo tempo pai, filho, parente, amigo, amante e conhecido das pessoas. Este se completava por ser aquele. Agora percebo que este indivíduo sem aquelas representações e ações se esvaziou bastante. Os sentidos do viver.

Até conhecer e participar das lutas da classe trabalhadora, de me sentir pertencente a algo coletivo, de representar pessoas, eu sofria dos padecimentos mais comuns e comezinhos dos mortais humanos, sentia dores n'alma e desapego à vida talvez por alguma forma de depressão desde a tenra idade. Viver ou não viver era a mesma coisa pra mim. Mesmo tendo o amor de pessoas queridas, meu egoísmo falava mais alto e não me importava em magoar as pessoas caso morresse. Depois que me peguei dentro do movimento sindical, nunca mais tive recaídas nessas dores d'alma. Viver e viver passou a ser a única alternativa, porque a energia vital das lutas coletivas enchia veias e artérias, músculos e pensamentos de mim. A energia da coletividade é contagiante. Na poesia, Drummond era a referência pra mim: 

"Alguns, achando bárbaro o espetáculo,

prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação." (Os ombros suportam o mundo)

Tudo mudou muito radicalmente na minha vida e isso traz dificuldades de adaptação. Estamos tentando sobreviver e viver nesses novos tempos pessoais e coletivos porque o cara que saiu dessa última fase da existência é o que prevalece em mim. Drummond segue sendo a referência. No limite, prefiro viver que morrer ou prefiro guerrear que me deixar matar. Mas com a ascensão do mal ao nosso redor, ficou muito ruim viver, ficou algo esquisito porque está difícil ver esperança de dias melhores no horizonte de uma vida e até num horizonte coletivo das vidas proletárias.

Chega de escrever. Quando vejo, já estou me alongando. Caramba, vai ser prolixo na casa do chapéu!

AMOR

Sobre o amor, o amor ao próximo, quis registrar que saí para correr porque quero estar vivo por causa de meu filho, por causa da minha companheira, por causa de meus pais, irmã e sobrinhos. Por causa dos amigos, muitos amigos. Porque amo muita gente pela qual vale a pena estar vivo.

Se eu não tivesse pessoas queridas para amar, relações de amizade a cultivar, o amor de tanta gente e para tanta gente que amamos, eu não me importaria nem um pouco de morrer a qualquer minuto. Seja de Covid-19, seja de infarto ou outra merda qualquer, por falha do corpo da gente, enfim, eu não me importaria. 

Eu tento me cuidar de forma consciente para sobreviver porque o amor e a amizade são as energias que me sobraram hoje. Eu me sinto um privilegiado pelas relações de amor e amizade que tenho, e que enchem mais de duas mãos. De novo: se começo a lembrar de pessoas queridas uma... duas... três... oito... dezesseis... vinte e três... tem muita gente querida em meu mundo de relações, mesmo a maioria estando distante fisicamente. O amor e a amizade não ligam para distância física. 

Aprendi a querer viver pela solidariedade, pela justiça social, pela liberdade e igualdade, pela capacidade que os seres humanos têm de praticar o bem e inventar coisas boas. A vida pode ser melhor. Eu fui do ódio, da vontade de morrer ao outro extremo, ao amor e à vontade de viver porque conheci a cultura, a amizade, vi gente lutando pelos outros, se doando para os outros.

Enquanto estiver vivo, vou sonhar e me esforçar para que a sociedade humana se organize de forma diferente da atual, o modelo de produção e acumulação capitalista, onde alguns exploram o restante, acumulam tudo pra eles (o 1%) e os 99% ficam com migalhas. Associativismo, cooperativismo e autogoverno são formas possíveis de organização humana.

Vivi e participei de várias formas associativas e organizativas das classes trabalhadoras e essas oportunidades me transformaram num ser humano melhor, mais decente, mais humano. A Cassi, a Previ, o Sindicato, o condomínio onde moro, tudo isso é fruto de associativismo e cooperativismo. Pensem nisso!

Um abraço carinhoso ao amig@ leitor(a) dessa singela postagem.

William

quinta-feira, 16 de abril de 2020

160420 (d.C.) - Diário e reflexões



Céu de Osasco. A imagem não reproduz o que vi. Mas...

Refeição Cultural

Uma questão de consciências

Quais relações poderíamos fazer entre a história de Walter White, da série Breaking Bad (2008/2013), um discurso sobre a "consciência" nos seres vivos que li hoje de manhã no romance de Morris West, As Sandálias do pescador (1963), a existência de Bolsonaro e Trump e seus seguidores que custamos acreditar que existam, a atual fase do neoliberalismo e o necrocapitalismo, e a pandemia do novo coronavírus (Covid-19)?

Na minha opinião, poderíamos fazer muitas relações entre essas coisas aparentemente desconexas. Muitas. Na minha leitura matinal de hoje, uma coisa me chamou a atenção ao ler o discurso do personagem Jean Télémond, de Morris West: a existência da consciência nos seres humanos. A partir dessa cutucada do personagem, nos lembrando que temos consciência como animais humanos, comecei a fazer várias associações de causas e consequências de diversas coisas como as que enumerei acima.

Consciência biológica é diferente de consciência política

"Toda a evidência aponta para uma lenta emersão das espécies, mas, a certa altura da história, o homem está presente e com ele aparece algo de novo, também... A consciência. O homem é um fenômeno especial: é um ser que sabe, e, o que é mais, um ser que sabe que sabe. Atingimos, como vedes, um ponto crucial da história. Existe uma criatura cônscia de que sabe..." (As sandálias do pescador, Morris West)


O personagem de Morris West nos traz à lembrança um tipo de consciência que sequer percebemos que ela exista, a consciência biológica, animal, instintiva, de sobrevivência. Queiramos ou não, nosso ser animal tem fome, tem sede, respira, busca a reprodução, busca abrigo, calor, prazer, se esforça por existir. Aliás, tem medo, tem raiva, até amor.

Essa consciência é diferente de outras formas ideológicas de consciência. De forma biológica e natural, podemos dizer que todo ser é consciente, com exceção é claro de casos patológicos. Isso não quer dizer que todo animal humano, consciente enquanto tal, tenha consciência política, por exemplo.

Por influência de meu filho, acabei assistindo a série inteira Breaking Bad, exibida entre os anos de 2008 e 2013 e disponível na plataforma de streaming Netflix. Foram 62 episódios e cerca de 50 horas de estória. Ufa! Nem acredito que vi até o fim. Vi o episódio final nesta semana. 

É impossível não ficar pensando na sociedade humana da atualidade ao ver todas as merdas que acontecem na série ao longo das 5 temporadas. Ali está a sociedade norte-americana; ali está a hipocrisia e a essência do necrocapitalismo. Os filmes Beleza americana (1999) e Crash - no limite (2004) já anunciavam a sociedade doentia que o mundo estava seguindo como fonte de inspiração.

Chutando o balde

Breaking Baddirigida por Vince Gilligan. 

Por que o pacato professor de química do ensino médio Walter White se transformaria em Heisenberg? Várias podem ser as motivações levantadas e debatidas. Mas para mim, ao refletir, somar, dividir, multiplicar, ficou evidente o que o personagem de Morris West apontou sobre a consciência do homem, que sabe que sabe: em White vemos uma consciência em atuação.

Ontem, sentei e vi novamente o primeiro episódio da série, e com poucos minutos ficou claro para mim o efeito da consciência biológica daquele ser falando mais alto. 

Walter White é um pacato cidadão americano, muito inteligente, humilhado em sala de aula, ganhando uma miséria e endividado, humilhado pelo patrão no segundo emprego, descobre que está com câncer terminal e o seu seguro saúde sequer cobre alguns exames básicos; o professor fodido e morrendo terá pela frente decisões a tomar: o que ele poderia fazer para deixar algum conforto ou providência para sua família querida: um amoroso filho adolescente com paralisia cerebral e a esposa esperando outra criança?

A essência do necrocapitalismo está no cotidiano que vimos nos 62 episódios de Breaking Bad. Tem muita violência, muita hipocrisia, muita mentira e manipulação, muita dor e sofrimento, muitas drogas, muito dinheiro sujo, muita nudez do sistema; e ao mesmo tempo, até de forma contraditória, temos ali uma solidariedade entre iguais, e muito instinto. Consciência biológica animal na veia. E de tudo isso, pode até surgir consciência política.

Chutando o balde (no Brasil)

O animal que ocupa a cadeira política mais importante do Brasil tem plena consciência biológica e ideológica. Os financiadores e apoiadores do poder instituído no país após mais um golpe de Estado têm plena consciência de tudo também. É um tremendo autoengano, uma ação de conforto psicológico, dizermos que essa parte da sociedade humana onde vivemos, o bolsonarismo, não tem consciência do que faz. Cada ser que apoia tudo o que estamos presenciando é um animal com consciência: "um ser que sabe que sabe". A pessoa LGBT, a suposta "cristã", o povo preto, a mulher, o funcionário público, enfim, a pessoa que defende o "mito" racista, machista, sexista e que odeia o próximo, tem consciência do que faz. 

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Biologicamente, gado de verdade não tem consciência. O bolsonarista pode ser gado metafórico, mas tem consciência e deve ser cobrado pela sociedade por isso.
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Os necrocapitalistas neoliberais donos do mundo, aqueles poucos humanos que detêm todos os meios de produção, todas as propriedades, todos os recursos financeiros e econômicos, todas as formas de manipulação ideológica, têm plena noção que a consciência biológica de sobrevivência dos pobres fala muito antes de qualquer consciência ideológica. Por isso o sistema de exploração capitalista persiste há mais de dois séculos. Eles pagam os ideólogos para manipularem as "classes médias" e os pobres. 

Os milhões de miseráveis agirão pela consciência biológica de subsistência e seus adversários imediatos pela continuidade existencial estão ao seu lado, na horizontal, e não na pirâmide e no andar de cima, distante de suas realidades.

Pandemia do novo coronavírus (COVID-19)

"(...) desde o microorganismo ao macaco hominídeo. Todos eles têm algo de comum: o impulso, a busca, o instinto de preparação para a sobrevivência da espécie. Para usar um termo bastante usado, embora impreciso, é ao instinto de agir, de participar das combinações e associações que lhes permitirão prosseguir ao longo da sua própria linha de continuidade. Eu prefiro usar outra palavra, em vez de 'instinto'. Prefiro dizer que tal impulso, tal capacidade, é uma forma primitiva, mas em evolução, daquilo que no homem culmina... a consciência." (As sandálias do pescador, Morris West)


Podemos pegar como exemplo a atual pandemia de vírus que parou o mundo desde o início do ano. A quarentena para os do andar de cima, bem de cima (o 1% e os outros 5%), é um tormento psicológico com menos viagens e prazeres, presos em suas confortáveis casas e com rendas certas nas contas correntes. Para a imensa maioria, os 94% de vulneráveis restantes, a pandemia e a quebra da "normalidade" de se vender de dia pra comer de noite, é a consciência biológica de continuar a viver ou morrer de qualquer forma que se morre diariamente na periferia, seja com vírus, seja com fome, seja com violência, morte morrida ou matada.

Para os 6% (o 1% + os 5%) do topo da pirâmide da má distribuição de renda no Brasil, a pandemia de Covid-19 e a estratégia de quarentena e isolamento social para reduzir a velocidade de contágio do vírus e evitar o colapso dos sistemas de saúde existentes equivale a gente que nunca pôs a mão numa vassoura e numa água sanitária ter que lavar banheiro e vaso sanitário, fazer comida, lavar louça... Já para os 94% do povo, o isolamento e a hipotética quarentena (de 8 ou 10 pessoas em dois cômodos?) equivaleu até agora ao fim dos bicos, demissão, redução de salários e direitos, fome, fome, carência de mais coisas básicas.

O pior de tudo isso é saber que a riqueza material e imaterial produzida e gerada pela classe trabalhadora, pela mais-valia, está toda aí. Amig@s leitores, entendo que é necessário desapropriar os bens dessa gente que vive da exploração humilhante dos outros (basta desapropriar o 1%). Mas não acho que isso vá acontecer. Estou pessimista com o animal ser humano que temos para o momento. A tendência histórica é que os 94% se ataquem e se matem reciprocamente, horizontalmente, pois os seus semelhantes na pirâmide social são aqueles que estão acessíveis para se canalizar toda a ira e medo gerados pela fome e misérias humanas diversas.

Há outras formas de produção e distribuição das necessidades humanas. Associativismo e cooperativismo são alternativas experimentadas ao longo de milênios e dão certo. Já o modelo capitalista existente há dois séculos e pouco vai nos tirar até o planeta que habitamos e a humanidade que em tese nos definiria: aquela com dimensões diversas como amor, solidariedade, justiça, igualdade, liberdade etc, dimensões humanas para além da consciência de instinto de sobrevivência biológica, na qual vale tudo para se perpetuar vivo, até se alimentar de seu semelhante da espécie.

Pensem nisso!

William


Post Scriptum: ao final da confecção desta reflexão, soube que o Ministro da Saúde do Bolsonaro, o tal Mandetta, havia sido demitido. O tema da demissão do pseudo-herói de nossa gente, o "combativo" ministro que falava "nosso SUS" tomou conta nos últimos dias da pauta da imprensa golpista, parte dela agora também pseudo-heroína de nossa gente. É como se o sujeito não fosse um ferrenho defensor do fim do SUS, da PEC da morte, e a favor da banca privada da saúde; como se ele não tivesse participado de todas as merdas que os golpistas fizeram contra o país e o povo miserável brasileiro... exemplo: a plaquinha do "Tchau, querida" no impeachment sem crime da presidenta Dilma.

- Vai com os deuses, ministro! (O Brasil é mesmo uma jabuticaba!)


Bibliografia:

WEST, Morris. As sandálias do pescador. Círculo do Livro S.A., São Paulo.

terça-feira, 14 de abril de 2020

140420 (d.C.) - Diário e reflexões





Teremos que retomar a pauta da mudança do sistema de produção e exploração capitalista por outra forma cooperativa e coletiva, pois temos riqueza e tecnologia para todos viverem bem: é só trabalharmos menos e distribuirmos a riqueza produzida por todos!


Terça-feira, 14 de abril. Dia nublado e um pouco frio em Osasco. A família completa hoje um mês na quarentena por causa da pandemia mundial do novo coronavírus (Covid-19). Sou o único que saio de casa para repor os itens de necessidade básica, pegar entregas na portaria do condomínio e correr a cada três ou quatro dias.

O confinamento voluntário amplia o estresse psicológico que já era grande nas pessoas que se colocam sob o guarda-chuva daquilo que denominamos como campo democrático-popular ou campo progressista, onde cabem diversas linhas de pensamento como a esquerda, o centro e até setores liberais. Já estamos sofrendo há anos ao ver a destruição do país com o golpe de Estado de 2016.

Após trabalhar com gestão de saúde por quatro anos, consigo imaginar muito melhor hoje como deve estar a condição de saúde de parte importante dos cidadãos brasileiros. Acho que nunca estivemos tão infelizes e desesperançosos em relação ao presente e futuro de nossas vidas pessoais e coletivas. O golpe colocou no poder em todas as instituições do Estado nacional o que há de pior na sociedade. O mal ascendeu ao poder. E isso afetou nossa saúde física e psicológica.

Temos que buscar e inventar ferramentas internas de sobrevivência durante esse período nefasto porque não há ainda o menor sinal de reação por parte da sociedade "civilizada", conceito esquisito mas que talvez aglutine seres humanos que não apoiem o mal representado pelo movimento bolsonarista ou por segmentos humanos semelhantes que pregam o ódio, a violência, o favorecimento dos ricos, o desprezo absoluto pelos pobres e pela classe trabalhadora do país.

É nesse cenário dramático que vemos o desalento e o início de processos depressivos em diversas pessoas que conhecemos, tanto pessoalmente quanto pela convivência nas diversas dimensões sociais em que nos encontramos. Devemos resistir à tristeza e ao desânimo! Resistam, por favor! O mundo vai precisar de cada pessoa de nosso campo de pensamento, tanto para relembrar o passado, sem mentiras ou fake news, quanto para construir um mundo solidário e de esperanças com o que sobrar do mundo.

Ao ler um texto de um grande amigo professor, fiquei muito sensibilizado porque ele expressou aquilo que tenho ouvido dos profissionais da área da educação, tão atacada pelo fascismo no poder. O que eu disse a ele foi justamente para que resista e busque a resiliência necessária para atravessarmos essa fase distópica de nosso mundo. 

Vamos precisar de todos os progressistas de todas as áreas do conhecimento humano - professores, filósofos, biólogos, artistas - tanto das áreas atacadas pelo fascismo quanto das áreas menos atacadas para reconstruir o nosso mundo. Teremos que retomar a pauta da mudança do sistema de produção e exploração capitalista por outra forma cooperativa e coletiva, pois temos riqueza e tecnologia para todos viverem bem: é só trabalharmos menos e distribuirmos a riqueza produzida por todos!

ESPERANÇA - ontem, eu pensava a respeito das pessoas que conheço. Se eu começar a contar nos dedos um... dois... três... quatro... cinco... seis... sete... oito... nove... dez... onze... doze... vejam só, amig@s! Faltam dedos para eu contar quanta gente boa, humanista, que pratica o bem coletivo por amor, por amizade, porque quer um mundo melhor, que são engajadas em alguma atividade coletiva, enfim, se eu continuar a contar, serão dezenas...

Percebi que sou um afortunado! Sou um afortunado por conhecer tanta gente pelas quais vale a pena estarmos vivos. E tenho consciência que também sou um privilegiado - porque no Brasil de passado e presente escravocrata ter condição de sobrevivência é praticamente um privilégio de parte da população.

É através dessa consciência de ser afortunado pelos amigos que tenho e privilegiado por poder sobreviver numa sociedade bárbara e contra a vida que busco vencer os dias nesses tempos duros de pandemia de ignorância e pestes. 

Eu não sei como ajudar o mundo nesse momento (acho que ajudo fazendo a quarentena que nos pedem e não transmitindo vírus Covid-19 a ninguém). Sei que ajudei a construir coisas boas e coletivas durante as décadas que participei do movimento de luta dos trabalhadores. 

Devemos sobreviver a essa desgraça toda para dar ao menos nosso testemunho às novas gerações de lutadores sobre os avanços que tivemos com a unidade e mobilização que ajudamos a construir enquanto dirigentes do mundo do trabalho.

Amig@s, resistam! Os principais valores da sociedade humana não resultaram dos barbarismos animalescos de monstros que pregam o ódio, a morte, a eliminação do diferente, a falta de liberdade, o privilégio de poucos e a exploração das maiorias. Vieram dos pensamentos e atos das pessoas esclarecidas e humanistas.

Abraços fraternos e com solidariedade.

William

sábado, 11 de abril de 2020

Lendo Decamerão, de Giovanni Boccaccio




Refeição Cultural

Hoje é sábado, dia 11 de abril de 2020 do mundo depois do vírus Covid-19 (d.C.).

Dias atrás, comecei a leitura desse clássico da literatura mundial. Giovanni Boccaccio escreveu Decamerão entre os anos de 1348 e 1353, período no qual a Europa e demais países da Eurásia enfrentavam uma pandemia mortal, a Peste Negra ou simplesmente Peste. Dezenas de milhões de pessoas morreram na época. 

Como estamos vivendo um período parecido de pandemia mundial, achei interessante pegar o livro e ver no que dá. Cheguei a ler em 2008 perto de 200 páginas das quase 800 páginas dessa edição que tenho. Aliás, a edição não é boa. Percebo que a tradução é ruim e não teve revisão bem feita. Porém, neste momento da história e da minha vida isso não tem importância alguma.

A pandemia mundial do novo coronavírus avança com velocidade no mundo globalizado. Na primeira postagem que fiz sobre o Decamerão, na semana passada (ler aqui), mais de um milhão de pessoas havia contraído o vírus e 60 mil delas tinham perdido a vida. Os dados atualizados até ontem indicam que agora mais de 1,7 milhão de pessoas contraiu o Covid-19 e o número de mortos saltou para perto de 104 mil.

No país jabuticaba, onde tudo é único no Planeta, o demente no poder e seus apoiadores, incluindo alguns governadores como o de Minas Gerais, continuam defendendo o inverso das medidas recomendadas pelas autoridades de saúde do mundo todo. Contra a quarentena e o isolamento, a contenção das pessoas para amenizar a velocidade de contágio do vírus, o bolsonarismo prega que todos saiam e levem a vida normalmente. Detalhe: os números oficiais daqui também são jabuticabas. Não são verdadeiros, são subnotificados.

Terminei a leitura da primeira jornada, com Pampinéia à frente das moças e rapazes isolados em uma bela propriedade nos arredores de Florença. Cada um deles, as sete moças e os três rapazes, contaram uma história ou novela no primeiro dia de estadia deles naquele isolamento voluntário.

Enquanto lia as narrativas, eu pensava em nosso mundo capitalista com trumps e bolsonarismo; pensava na indústria de manipulação de parte dos neopentecostais evangélicos e outras indústrias de religião, abusando da legítima fé das pessoas; pensava nos algoritmos e robôs que atuam nas redes sociais. Pensava na concentração da riqueza na mão de 1% de predadores humanos enquanto o restante (gado?) se acotovela nos cercados miseráveis das cidades. 

Que tristeza! Ao ver o cenário em que vivemos, o comportamento dos seres humanos que habitam nosso cotidiano, vi que estamos numa situação bem pior que a descrita no cenário das novelas do Decamerão. Lá, ainda se consegue ao menos alterar o comportamento de pessoas que praticam vilania mediante lições de moral. Aqui, o que vemos é o mal e a ignorância arrebanharem cada vez mais adeptos. Não sabemos até onde a humanidade vai chegar. Não sabemos!

Eu iria falar um pouco sobre as novelas que já li, mas fica para uma próxima postagem. Esses registros são quase que desabafos parecidos com diários para si mesmo, em que quase ninguém os lê. Palavras ao vento.

William

sexta-feira, 10 de abril de 2020

100420 (d.C.) - Diário e reflexões




Se todo homem ou mulher que está na miséria por causa do sistema hegemônico de produção e distribuição de riquezas na sociedade (capitalismo) se vingasse de um dos homens que é responsável pela desgraça coletiva, faltaria gente do 1% para ser caça dos miseráveis


Você está preparado para morrer? Será que alguém está? E se você tiver consciência que é real a possibilidade de neste momento estar bem e no seguinte começar a tossir, sentir febre e falta de ar e tiver que ser apartado de seus entes queridos, entrar por uma porta e por lá morrer sozinho, num leito ou num amontoado de gente morrendo do mesmo jeito?

A pandemia do novo coronavírus, o Covid-19, teve o efeito neste momento da história humana de disfarçar um mundo que já não tinha sentido viver nele. O vírus faz com que tudo seja culpa da pandemia. Fala sério! O problema é o capitalismo! O problema é o 1% se apropriar de tudo e os 99% se foderem disputando sobras entre si.

Então o que o PSDB fez com o Brasil ao liderar o golpe de Estado em 2016, ao não reconhecer o resultado das eleições presidenciais de 2014, fica por isso mesmo? Então a destruição dos direitos trabalhistas, previdenciários e a PEC da morte que metralhou o SUS fica por isso mesmo? Então a destruição do país pela Lava Jato fica por isso mesmo?

Então o que todos os barões da comunicação e grandes meios midiáticos golpistas fizeram com o povo brasileiro ao transformar as pessoas em bestas humanas antipolíticas e corpos idiotizados de ódio e fanatismo andando por aí fica por isso mesmo?

Quem está preparado para morrer? Ninguém! E ao mesmo tempo todo mundo que é pobre! Muitas vezes correr o risco de morrer diariamente não é uma opção. É uma necessidade. Faz parte do viver: o risco de viver e morrer a todo instante é o cotidiano da menina que me atendeu agora na padaria da esquina. Do porteiro que abriu o portão pra mim. Do entregador de comida sem direito algum depois de Temer e Bolsonaro.

O dia está bonito lá fora. Hoje é feriado de sol. Dia santo. Os caras do 1% estão por aí. Os caras estão na boa. Nós também, que nos localizamos em algum degrau da merda da pirâmide social onde tem um monte de gente que se acha rica, classe média, que é chefe de alguém, "empreendedor" que está acima dos de baixo. Gente diferenciada... Nós que temos ou tínhamos emprego, aposentadoria, alguma renda de alguma coisa do próprio sistema capitalista.

Ideologia... "sem ideologia..." - tudo uma questão técnica...

Enquanto o mundo se acaba (pra quem morre) tem um monte de vírus por aí nas coisas que a gente toca, na boca de quem fala, tem vírus que mata, tem vírus que não mata.

Você está preparado para morrer? Mas alguém está? Se eu tossir, tiver febre e falta de ar daqui dois ou três dias e entrar por aquelas portas e não sair mais, será o fim para mim. A vida humana seguirá para os que estão por aí.

Se os 99% pensassem, seria possível lembrar que o 1% faz roleta russa com eles há tempos. Se você não é um dos donos do mundo, morrer para você é uma normalidade, é uma estatística ("vão morrer uns 7 mil").

O sistema de produção e distribuição da riqueza humana com toda a tecnologia que o homem criou precisa mudar para aqueles que estiverem aqui amanhã, senão não terá sentido algum viver.

Nas cento e poucas páginas que li do volume um de O Capital, de Marx, vi as explicações muito coerentes que ele nos deu, que ao longo da história humana o capitalismo não foi a única forma de organização social da produção e distribuição dos bens necessários à coletividade.

Temos que sair dessa excrescência de 1% deter tudo e que dane-se os 99%. Rebelem-se! Rebelem-se!

William

quarta-feira, 8 de abril de 2020

080420 (d.C.) - Diário e reflexões




Quarta-feira. Tempos de pandemia mundial do vírus Covid-19. Tempos de pandemia nacional de uma doença mental e comportamental identificada com uma palavra relativamente nova na Língua Portuguesa do Brasil, o Bolsonarismo. Tempos de pandemia do modo de produção capitalista, crise humanitária antiga antiga. Tempos de projetos para por fim à sociedade humana, por mais que não concordem que o resultado das merdas que os humanos estão fazendo vá levar a isso.

Não consegui fazer o que queria nesta manhã de quarentena. Acordei pensando em realizar afazeres pessoais que estabeleci mentalmente como algo que poderia chamar de rotinas para superar a nova realidade existencial com a mudança do mundo a partir da pandemia do novo coronavírus. Mas a verdade é que no contexto atual nosso ânimo varia a cada instante, num segundo queremos vencer todas as dificuldades, no outro achamos que não vale mais a pena tentar algo.

Quarentena e isolamento social são estratégias definidas por parte das autoridades mundiais da saúde para tentar frear a velocidade de contágio do Covid-19, já que não existe vacina ainda e já que ele se espalha rapidamente colapsando os sistemas de saúde existentes. Quanto mais humanos pegam a doença em menos tempo, maior a possibilidade de falência dos sistemas de saúde e mais mortes podem ocorrer por falta de assistência e aparelhos para manutenção da vida.

O Universo é muito antigo. E nele são muito antigas as diversas formas de coisas existentes. E elas se juntam, e se separam e se transformam. Coisas são criadas e coisas são extintas o tempo todo. O próprio Universo é uma dessas coisas. O planeta Terra é uma coisa do Universo. E a Terra tem bilhões de anos e zilhões de coisas, dentre elas a espécie humana, que por sinal é muito recente no planeta, ao considerarmos o tempo de existência de uma e de outra (coisa). Aparecemos dias atrás e já afetamos o planeta de forma a quase inviabilizarmos a coisa.

O novo vírus que está por aí mudou nossas vidas. Ele é invisível a olho nu e cheio de tentáculos para grudar nas coisas; está esperando o contato com novos corpos humanos para se reproduzir e seguir adiante com o seu objetivo (seria involuntário, já que é só um vírus? Uma coisa?). A gente vai dormir com a garganta arranhando, o nariz entupido, um pouco de dor de cabeça e já vem aquele sentimento de que estamos com a peste e podemos morrer em pouco tempo. Ou transmitir a coisa a outras pessoas e prejudicá-las também. Aí você acorda melhor e acha que teve aquilo que teve a vida toda, por décadas, quando baixa a resistência por cansaço ou estresse. E o dia recomeça dessa forma no novo cotidiano dos tempos de pandemia...

Gente, juro pra vocês! A gente tá fazendo tudo que recomendam de higienização. Mas que saco! Se ficar pensando que a vida daqui adiante será assim, vai ser um porre viver! Vai dar preguiça só de pensar nas coisas do dia a dia. Álcool pra lá, álcool pra cá; lava a mão toda hora porque pôs a mão nas coisas. Não pode mais pôr a mão no rosto. Lava tudo que entra em casa que veio da rua. Não pode mais abraçar e beijar as pessoas que a gente ama... Cara! Que saco! E dizem que a vacina demora anos para se atingir a produção em escala para se vacinar as pessoas mundo afora.

Estou sem vontade de fazer as lições de Japonês, que havia começado a estudar há três meses e vinha evoluindo bem. Era algo diferente que estava fazendo para o bem de meu cérebro ainda curioso de cinquenta anos. Depois de um mês sem minhas aulas de Kung Fu, começo a esquecer a quantidade grande de katis (séries de movimentos) que havia aprendido em um ano de prática dessa arte marcial. Foi outra coisa que inventei fazer aos cinquenta para desenvolver a concentração, o condicionamento físico e reencontrar a energia que sempre tive.

Eu adoro ler e estudar e não tenho conseguido avançar na leitura como gostaria já faz um certo tempo, praticamente desde que minha vida mudou radicalmente com a saída do movimento sindical e de representação dos trabalhadores. Talvez eu perceba mais dia menos dia que a força motriz da minha existência tenha atingido o auge ou o ponto de equilíbrio durante a fase de participação nas lutas populares entre os trinta e os cinquenta anos. Foi o tempo que menos vivi para mim e os meus e mais vivi para os outros, para o coletivo. Acho que a questão de pertencimento a algo maior que nossa dimensão pessoal dá sentido ao viver. Viver para a coletividade permite preencher os sentidos, inclusive os pessoais. Já o inverso...

Chega por hoje. Lá vamos nós para mais um cotidiano de saber que parte das pessoas ao nosso redor são bolsonaristas. Isso nos quebrou o moral profundamente... Sei que é impossível se colocar no lugar dos outros, mas dá pra imaginar a tristeza e desilusão que as vítimas dos piores regimes políticos da humanidade sentiram ao verem seus pares apoiarem Hitler ou monstros do tipo.

Lá vamos nós lidar com mais um dia sabendo que, no momento, os banqueiros, empresários e bilionários em geral estão vencendo a corrida pela vida em detrimento dos outros 99%, que estão se ferrando na vida - e são tão humanos quanto eles (e mortais). Não há lei da física ou da biologia ou o raio que nos parta que justifique isso.

Para valer a pena viver as coisas precisam mudar. Ou os 99% acabam com essa situação anormal, não natural, de uns com tudo e o restante com nada, ou a vida da coletividade humana não vale a pena.

Uma década atrás, e isso é um instante no tempo da história humana, parte civilizada dos pensadores do mundo refletiam sobre uma possibilidade e necessidade de mundo em que as pessoas teriam que trabalhar poucas horas e com bons salários para distribuir a riqueza gerada pela coletividade humana, já que a tecnologia existente pode substituir a mão de obra em grande parte das coisas. 

Vários governos democráticos e populares atuavam na América Latina para distribuir melhor os recursos do PIB nacional, mesmo que fosse sem rupturas com o pessoal do 1%. Aí vieram os golpes e rupturas democráticas, com novas formas de ataques aos povos e seus líderes (lawfare). Esse pessoal da casa grande não tem jeito mesmo, não sabe conviver com os pobres!

Ou a gente pega essa riqueza humana e distribui para todos e vamos ser felizes pelo amor e amizade, pela arte e pelo bem comum com tolerância ao diferente, ou a gente se acaba numa barbárie nunca vista de uns contra os outros, mas que comecemos pelo 1% que desgraça a vida humana no planeta.

William