quarta-feira, 30 de junho de 2021

300621 - Diário e reflexões (Carta Capital)



Refeição Cultural - Carta Capital 1163


A CPI CHEGA NELE

Pela segunda semana seguida, li a revista Carta Capital de ponta a ponta. É uma revista com muita qualidade na edição das matérias. 

A matéria de capa sobre o genocida - suspeito finalmente de corrupção também - traz as informações sobre as denúncias que apontam que ele prevaricou ao permitir que aliados do PP e militares praticassem corrupção na compra bilionária da Covaxin. Para alguém que desde o início da pandemia foi contra qualquer medida de combate ao coronavírus, permitir que uma vacina fosse negociada não poderia ser coisa boa para o povo e sim para a sua patota. 

E o povo? São 515.985 mortos e milhões de sequelados pela Covid-19 (13,09% dos mortos do mundo). Era para estarmos quase todos vacinados... não estamos por causa do regime do genocida que não nos deu vacina (só com propina teremos vacina?).

No Editorial de Mino Carta, ele afirma que "Lula é ainda, e sempre, a nossa oposta". O jornalista comenta o fato do Nordeste ser o melhor Brasil hoje e São Paulo ser o estado mais reacionário do país. Triste isso!

Nesta semana que passou, o STF finalizou o julgamento da parcialidade do juiz ladrão da república de Curitiba. Moro é suspeito, é um lesa-pátria contratado para destruir a economia do Brasil, a democracia e prejudicar o cidadão Lula e sua família e o Partido dos Trabalhadores. Lula está com seus direitos políticos para contribuir com o país e os brasileiros.

Nas matérias da seção "Seu País", nos atualizamos sobre as movimentações políticas para as eleições de 2022, o Nordeste foi o destaque da matéria: Lula x Bolsonaro na região. Ainda tem uma entrevista com Flávio Dino, que fala sobre o tema e também de sua saída do PCdoB. 

Um artigo de Guilherme Boulos nos alerta sobre um novo golpe à democracia engendrado por aquela parte podre do Congresso eleita em 2018 na onda do lavajatismo, os caras querem piorar mais ainda as regras das eleições brasileiras. Leiam o artigo "A ameaça do Distritão". Boulos nos alerta que "o significado político do Distritão é a personalização completa da política e a perda de relevância dos partidos. Apesar de muitos partidos no Brasil serem balcões de negócios, o partido político é - ou deveria ser - o espaço onde se afirmam projetos coletivos."

Outra matéria que chamou muita atenção é a matéria "Receita perigosa" sobre os lobbys dos empresários dos alimentos ultraprocessados para que essa dieta avance como nunca no Brasil. Hoje, 20% das calorias consumidas por nós vêm dessa alimentação lesiva à saúde. Como nos Estados Unidos, a referência de merda de parte dos brasileiros, se consome 60% de calorias via ultraprocessados, os empresários daqui veem muito espaço pra avançar durante o regime do genocida, aquele que incentiva destruir a natureza, o patrimônio público, os direitos sociais etc.

Dois artigos refletem um pouco sobre a tragédia do bolsonarismo, analisando as mentes dessa gente doente. O de Esther Solano - "Uma história de terror" - mostra em quatro perguntas e respostas a bolsonaristas como estamos lascados. A mente dessa gente é algo inacreditável. O outro artigo "A globalização da angústia", de Luiz Gonzaga Beluzzo, termina apontando de onde brotam os bolsonaristas, da perda da autoestima fruto dos reflexos da globalização e do neoliberalismo.

Na seção "Nosso Mundo" lemos sobre os Estados Unidos de Biden, sobre o novo líder supremo do Irã e sobre "Novos ventos nos Andes", onde esquerda e centro esquerda avançam graças às mobilizações históricas do povo chileno.

É isso! 

Me parece que a Terra tá girando, apesar de ser plana segundo os bolsonaristas. A CPI nesses últimos dias já descobriu tanta coisa sobre corrupção do regime genocida no poder, que parece que a casa-grande vem organizando alternativas para se manter no poder golpista, sem a figura monstruosa que colocaram lá.

A nós, o povo, só resta a rua, as praças, os logradouros públicos como alternativas para mudar as coisas e retomar o país e a democracia com igualdade de oportunidades.

Temos que lutar pelo fim do capitalismo! Temos que construir um mundo cooperativo e solidário. Um mundo inclusivo, no qual a tecnologia sirva para produzir o necessário a todos de forma que todos sejam beneficiados, trabalhando poucas horas e tendo a remuneração suficiente para viver decentemente e com acesso aos bens da humanidade.

Vamos juntos nessa?

William


segunda-feira, 28 de junho de 2021

Mandela - Longa caminhada até a liberdade



Refeição Cultural

"A política de apartheid havia criado um ferida profunda e perene no meu país e no meu povo. Todos nós passaremos muitos anos, senão gerações, nos recuperando daquele ferimento profundo. Mas as décadas de opressão e brutalidade tiveram outro efeito, não intencional, que foi a produção dos Oliver Tambos, os Walter Sisulus, os Chefes Luthulis, os Yusuf Dadoos, os Bram Fischers, os Robert Sobukwes dos nossos tempos - homens de coragem, sabedoria e generosidade tão extraordinárias que iguais a eles poderão não existir novamente. Talvez seja necessária tal profundidade de repressão para criar tais estaturas de caráter. Meu país é rico em minerais e pedras preciosas que estão sob o seu solo, mas eu sempre soube que a sua maior riqueza é o seu povo, mais belo e verdadeiro que o mais puro dos diamantes." (p. 760)

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"Aprendi que a coragem não era a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele. Eu mesmo senti medo mais vezes do que posso lembrar, mas eu o disfarcei sob uma máscara de ousadia. O homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas aquele que conquista aquele medo." (p. 761)

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"Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor da sua pele, ou de sua origem, ou de sua religião. As pessoas têm que aprender a odiar, e se elas podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar, pois o amor ocorre com mais naturalidade no coração humano do que o seu oposto." (p. 761)


Ganhei a autobiografia de Nelson Mandela em agosto de 2014, no dia dos pais. Eu recém começava uma nova jornada de lutas em minha vida de representação eleita da classe trabalhadora. Havia começado um mandato na área da saúde em uma entidade dos trabalhadores do Banco do Brasil. Essa jornada de lutas durou 4 anos, foi até maio de 2018.

Durante o mandato na área da saúde, cheguei a ler a autobiografia de Mandela até a Parte Três (175 páginas), pouca coisa, mas minha vida era quase toda de leituras de trabalho. O grosso volume chegou a viajar comigo para alguns estados brasileiros, eu o lia durante os voos. Ao voltar definitivamente para minha casa em Osasco, o livro ficou quietinho na estante, esperando a leitura e o conhecimento completo desta rica história de lutas de um povo e seus líderes.

A VIDA DO POVO É LUTAR AO LONGO DO TEMPO

O tempo é algo muito presente na vida e na sociedade humana, mas pouco percebido. 

DÉCADAS DE LUTAS PARA AVANÇAR - A luta do povo negro sul-africano pelo fim do regime da minoria branca e as leis raciais do apartheid - luta através do Congresso Nacional Africano (CNA) e de outras instituições populares - durou 82 anos, nos conta Nelson Mandela. Ele assumiu a presidência da África do Sul em 1994, aos 76 anos de idade. Mandela ficou preso pelo regime racial dos africâneres, o apartheid, por 27 anos. A maioria da população, de negros e mestiços, mal conseguia sobreviver em seu próprio país sob aquele regime injusto e opressor.

DÉCADAS DE RETROCESSO APÓS O GOLPE - Estamos em 2021 no Brasil. Há 6 anos o Brasil foi impedido, boicotado, assaltado por uma minoria também (como na África do Sul dos brancos). Um grupo de canalhas da casa-grande organizou um golpe para tirar de forma ilegítima a presidenta do país, golpe para destruir as cadeias produtivas do país, para roubar o pré-sal, para interromper os avanços que o povo conquistava, para dilapidar o patrimônio público e retroceder em todas as áreas da cidadania. Foi um golpe reacionário de uma minoria. 

Em 2018, os golpistas ampliaram o processo de tomada do poder por assalto e corromperam o processo eleitoral. Uma operação chamada Lava Jato - um juiz suspeito e membros de órgãos públicos - interferiu nas eleições colocando o povo contra o maior partido de esquerda do país. Esses funcionários públicos suspeitos prenderam a maior liderança popular - o ex-presidente Lula -, que venceria as eleições e recolocaria o Brasil no caminho dos avanços populares e soberanos. E o pior, os golpistas e suas ferramentas de manipulação do processo eleitoral colocaram o pior tipo de gente que já ocupou o Congresso do país, uma alcateia eleita na onda do lavajatismo, e a consequência mais grave de tudo isso foi abrirem espaço para chegar à presidência um sujeito inominável, um ser desprezível, do mal, e agora acusado de diversas ilegalidades e suspeições de crimes, com mais de uma centena de pedidos de impeachment na gaveta do presidente da Câmara.

6 ANOS, em 6 anos o povo brasileiro vivenciou um retrocesso de décadas de avanços em todas as áreas da sociedade e da cidadania. Com o presidente traidor, o do golpe, e com o inominável alçado ao poder com a prisão do candidato Lula, o Brasil foi desmontado em todos os sentidos. 6 anos de destruição. E uma das consequências foi a morte de meio milhão de pessoas por um vírus para o qual há vacinas há quase um ano e a população segue morrendo porque o sujeito na presidência optou por contaminar a população com o vírus mortal. 6 anos...

Não sei, mas talvez tenhamos um processo longo de reconstrução do Brasil e de libertação do povo - a classe trabalhadora brasileira -, não sei se décadas, acho que sim, mas temos pela frente "uma longa caminhada até a liberdade" parafraseando Mandela.

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A AUTOBIOGRAFIA

Voltando à autobiografia de Nelson Mandela, peguei o livro na estante neste ano de 2021 e comecei a ler de novo. São 765 páginas. A história de Mandela e do CNA se confunde com a história do povo sul-africano. 

O livro é dividido em algumas partes: 1."Uma infância no interior", 2."Johannesburgo", 3."O nascimento de um guerreiro pela liberdade", 4."A luta é a minha vida", 5."Traição", 6."O pimpinela negro", 7."Rivonia", 8."Ilha de Robben: os anos negros", 9."Ilha de Robben: o início da esperança", 10."Conversando com o inimigo" e 11."Liberdade".

Ao ler a história de Mandela, me lembrei um pouco do livro sobre Lula, organizado por Denise Paraná. Não são estratégias de produção textual parecidas, mas ambos os livros abordam a vida dos biografados em épocas e fases da vida. Através da história deles, vemos a história do país e do povo naquele período. As biografias acabam antes do período no qual os protagonistas exerceriam mandatos presidenciais.

Sofri demais na leitura do período dos 27 anos de prisão de Nelson Mandela e de seus companheiros de luta. Esses caras são gigantes!

Fiquei descabriado na fase seguinte à libertação dos líderes do CNA. Mandela mal pisou fora da prisão e as tentativas de negociação para se conseguir o fim do apartheid e do regime racial dos brancos africâneres, e os nacionalistas atuaram para dividir os negros e financiaram um grupo rival do CNA para uma guerra tribal com banhos de sangue, chacinas de centenas de pessoas durante todo o processo de negociação entre 1991 e 1994. Haja persistência de Mandela e seus companheiros para não retornarem à luta armada.

Enfim, conheci muito a respeito do processo de luta pela liberdade do povo negro sul-africano. Em vários momentos daquela história, vi semelhanças com o que já vivemos e podemos ter pela frente no Brasil atual.


FUTURO: SERÁ POSSÍVEL RECONSTRUIR O BRASIL SEM CONCILIAÇÃO?

"Foi durante aqueles longos e solitários anos que a minha fome pela liberdade do meu povo tornou-se uma fome pela liberdade de todos os povos, brancos e negros. Eu sabia tão bem quanto sabia qualquer coisa que o opressor tem que ser libertado tão certamente quanto o oprimido. Um homem que tira a liberdade de outro homem é um prisioneiro do ódio, ele está preso por detrás das grades do preconceito e da pobreza de outra pessoa, tão certamente quanto não estou livre quando a minha liberdade é tirada de mim. O oprimido e o opressor igualmente têm sua humanidade roubada." (p. 763)


Estamos presos ao ódio que envenenou a todos nós. Os organizadores do golpe de 2016 nos ensinaram a odiar.

Me parece que não conseguiremos avançar para um futuro brasileiro sem aprendermos a perdoar e amar.

Se quisermos recomeçar, teremos que superar o bolsonarismo, para além do clã desgraçado que está no poder por causa das fraudes diversas que alteraram o processo eleitoral de 2018.

Além de superar e eleger novos representantes para os executivos e os parlamentos, tanto o federal como os estaduais, teremos que superar o ódio que não nos permite sequer amainar a raiva que sentimos dessa gente que descobrimos serem más, repulsivas, hipócritas e preconceituosas a respeito de tudo. Teremos...

Nessa hora é que veremos o quanto um Mandela, um Lula, são as pessoas mais adequadas para nos ajudar no difícil processo de reconciliação, porque esses caras são diferentes, eles conseguem superar os bloqueios que o ódio nos põe em relação aos que temos raiva, rancor, mágoa etc.

É isso! Mais um livro lido, mais conhecimento adquirido.

William


Bibliografia:

MANDELA, Nelson. Longa caminhada até a liberdade. Tradução de Paulo Roberto Maciel Santos. Curitiba: Nossa Cultura, 2012.


sábado, 26 de junho de 2021

260621 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

"Mas ao conversar com esses jovens inteligentes, fiquei sabendo que eles assistiram a minha liberação na televisão e estavam familiarizados com os eventos na África do Sul. 'Viva o CNA!' falou um deles. Os Inuit são um povo aborígine historicamente maltratado pela população de colonizadores brancos; havia alguns paralelos entre as condições dos negros sul-africanos e do povo Inuit. O que me impressionou fortemente foi o quão pequeno o planeta havia se tornado durante as décadas que passei na prisão; era assombroso para mim que um adolescente Inuit, vivendo no teto do mundo, pudesse assistir à liberação de um prisioneiro político na ponta do sul da África. A televisão havia encolhido o mundo, e nesse processo havia se tornado uma arma poderosa para a erradicação da ignorância e promoção da democracia." (MANDELA, 2012, p. 714)


Sábado, 26 de junho. Osasco.

Vejam só a observação de Nelson Mandela em 1990. Ele havia sido liberado da prisão após 27 anos. Estava visitando alguns países e numa passagem pelo Ártico para abastecer o avião, ele foi até a cerca da pista do aeroporto conversar com um grupo de jovens Inuit, mais conhecidos como esquimós.

Tanto Mandela como quase todo mundo achava que as tecnologias da informação e comunicação iriam melhorar o mundo, dentro daquela lógica de se compartilhar mais informação, conhecimento, contato entre as pessoas e povos do mundo e teríamos uma "erradicação da ignorância e promoção da democracia".

O mundo havia ficado pequeno e diminuía a cada dia. 

Uma década depois, em 2001, vimos ao vivo os aviões se chocando contra as torres gêmeas em Nova Iorque. Vimos ao vivo o Iraque ser bombardeado e destruído e a biblioteca de Bagdá desaparecer junto com toda a riqueza histórica que acumulava. 

Ao mesmo tempo, começavam os Fóruns Sociais Mundiais, com milhares de pessoas de todo o mundo se reunindo para discutir "Um outro mundo possível" na "aldeia global".

Em meados daquela década, nasceriam as redes sociais como o Orkut e depois o Facebook, o Twitter e o YouTube. Os blogs começaram a democratizar o espaço de fala na rede mundial de computadores. Nós nos entusiasmamos e achamos que a democracia na comunicação iria fazer a humanidade dar um salto positivo para o futuro. Qualquer pessoa poderia falar livremente, publicar, opinar e partilhar conhecimento.

Pouco mais de uma década depois, as grandes big techs já haviam mudado tudo. Poucas empresas dominaram todas as formas de comunicação no mundo. As informações de bilhões de pessoas passaram a ser utilizadas para manipular o comportamento humano e interferir em gostos, hábitos e na política dos países.

O povo, inocente até não caber mais, achava que poderia jogar fora suas bibliotecas porque qualquer informação que quisesse era só pesquisar no "Google"... doce ilusão! (Somos feitos de idiotas.). As informações virtuais existem hoje nos links e amanhã não existem mais (ERROR). Cadê a informação que estava aqui? O gato comeu! 

Pesquisar no "Google" significa, muitas vezes, que a palavra ou conceito que você pesquisou vai trazer como resposta a informação da empresa ou fonte que pagou mais para aparecer na primeira página e nas primeiras posições. Pesquisar palavras de determinado campo ideológico significa direcionamento proposital para tais fontes e bloqueio de outras. As esquerdas perderam milhões de acessos na última década por causa de programas de algoritmos.

Em muito pouco tempo, o que era uma ideia de "erradicação da ignorância e promoção da democracia", como pensou Nelson Mandela em 1990, se transformou num sistema mundial de divulgação de mentiras, de manipulação e incentivo à ignorância, negacionismo, ódio e desinformação global. Alguns sujeitos conseguem manipular milhões de humanos. Desacreditam a ciência, a geografia, a filosofia, matemática etc; vacina seria ruim, a Terra seria plana e aberrações do tipo. 

Estudos apontam que os seres humanos estão emburrecendo, que pela primeira vez em séculos as gerações seguintes não estão mais desenvolvidas intelectualmente que as gerações anteriores. Vi uma entrevista do neurocientista Miguel Nicolelis em 2020 (para Luis Nassif) na qual ele citava alguns desses estudos: perda de capacidade de comunicação e linguagem nos jovens norte-americanos, diminuição do quociente de inteligência nas gerações atuais etc.

Enfim, quis registrar isso ao ler a observação de Mandela em 1990.

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Um monstro mentiroso, um corrupto empedernido. Um ser com claros sinais de psicopatia. O inominável... 

O Brasil em uma década saiu de governos democráticos e populares, com distribuição de riquezas, oportunidades para todos, crescimento nos direitos do povo, perspectivas de futuro, para um país destruído, governado por hordas de gente racista, elitista, corrupta, um país cujo regime no poder não tem nenhum projeto para a melhoria de vida do povo brasileiro. Pelo contrário, um regime de morte, de banalidade do mal. Um regime de gente mentirosa, sem-vergonha, canalha. Um regime responsável pela morte de mais de meio milhão de pessoas, assassinadas por falta de medidas contra a pandemia mundial de Covid-19.

Nós já perdemos tantas pessoas conhecidas, queridas, de nosso convívio por toda uma vida, que é difícil falar sobre o tema. Do ano passado para cá, a todo momento vemos morrer nossos companheiros e companheiras de lutas pelo povo trabalhador e por um mundo mais junto e solidário. 

Entre as 1.593 pessoas que perderam a vida hoje para o coronavírus por causa do regime genocida que tem a pandemia como estratégia de governo, estava nosso companheiro de lutas Jeferson Boava, dos bancários de Campinas. Estivemos tanto tempo juntos nas lutas do Banco do Brasil... A minha tristeza pela morte de tantas pessoas é uma tristeza que dá uma gana interna de sobreviver a esse regime nazifascista e ver todos esses desgraçados caírem e nós vamos reconstruir nosso mundo após essa gente ser retirada do poder.

Companheiro Jeferson, presente!

(esses inimigos do povo vão cair, vão ter o que merecem. O povo brasileiro vai voltar a construir um futuro melhor para todos e todas)

William



Bibliografia:

MANDELA, Nelson. Longa caminhada até a liberdade. Tradução de Paulo Roberto Maciel Santos. Curitiba: Nossa Cultura, 2012.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

250621 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Sexta-feira, 25 de junho.


OS CEM MELHORES CONTOS BRASILEIROS...

Ontem e hoje, li contos de um livro de coletâneas. Já faz um tempinho que não lia contos. Na madrugada de ontem, a mais fria do ano em Osasco (12º), não consegui dormir mais a partir das 4 horas da manhã. Fui para a sala e não quis pegar nada que já estava lendo. Peguei o livro Os cem melhores contos brasileiros do século, organizado por Ítalo Moriconi.

A coletânea foi organizada há duas décadas e adquiri o livro pouco depois de seu lançamento. Estava em meus primeiros anos como aluno de Letras na USP. Até hoje não li mais que 30 contos do livro, justamente os contos da primeira metade do século XX, pois o livro é organizado de forma cronológica em relação aos contos. Ou seja, ainda tenho dezenas de contos para ler e conhecer, tanto textos quanto autores. Um dia eu termino o livro.

Li os contos abaixo, da seção "Anos 40/50 - Modernos, maduros, líricos":

- "Um cinturão", de Graciliano Ramos;

- "O pirotécnico Zacarias", de Murilo Rubião;

- "Gringuinho", de Samuel Rawet;

- "O afogado", de Rubem Braga;

- "Tangerine-Girl", de Rachel de Queiroz;

- "Nossa amiga", de Carlos Drummond de Andrade;

- "Um braço de mulher", de Rubem Braga;

- "As mãos de meu filho", de Érico Veríssimo;

- "A moralista", de Dinah Silveira de Queiroz;

- "Entre irmãos", de José J. Veiga;

- "A partida", de Osman Lins.

De cara, gostei do conto de Osman Lins. Me lembrei de minha avó Deolinda, com quem morei um tempo quando voltei para São Paulo na adolescência. E jovem tem dessas coisas de não ser amoroso e carinhoso com as pessoas mais velhas. Creio que fui assim também. Quase todos são assim.

Eu não conhecia nenhum texto do excelente escritor José J. Veiga quando comprei o livro de contos. Agora conheço bem o autor goiano porque já li mais da metade de sua obra. O conto "Entre irmãos" tem a pegada dele, é muito bom.

Adorei os dois contos de Rubem Braga. O autor é muito bom. "O afogado" dá uma agonia grande quando estamos na leitura. Já a personagem com medo de avião é uma cena que todos nós já vimos algum dia.

Que posso dizer do conto de Graciliano? Que merda é a realidade ontem e hoje das crianças espancadas em casa! Eu vi isso na minha infância. Nunca apanhei, mas vi muita criança sendo espancada. Na verdade, tomei uma surra na infância, mas minha pena era o castigo. Moriconi nos informa na introdução que o texto está contido no livro Infância, de G. Ramos. É um livro autobiográfico. Tenho ele na estante, mas não o li ainda.

Gostei de todos os contos que li, mas esses acima me cutucaram mais, me incomodaram ou me despertaram mais lembranças. O de Veríssimo e de Rachel de Queiroz também me chamaram a atenção.

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Seguimos lutando para sobreviver à pandemia mundial de Covid-19 no país que mais morre vítimas no mundo (509 mil mortos), porque temos um regime genocida que adotou a estratégia de contaminar a população toda com a ilusão de atingir uma suposta imunidade de rebanho às custas de alguns milhões de mortos. Tudo em nome de uma ideia equivocada de manter a "economia funcionando". Mentiras, mentiras, mentiras. O regime bolsonarista é o regime da mentira e dos mentirosos genocidas.

Vivemos num mundo onde ninguém quer conselhos nem dicas de nada. É o mundo do capitalismo, do individualismo, da ilusória autossuficiência. Então nem vou sugerir que as pessoas leiam, estudem e procurem preservar e ampliar suas inteligências e culturas. Os tempos são de loas a ignorância e não de homens e mulheres cultivados na cultura geral.

William


quarta-feira, 23 de junho de 2021

230621 - Diário e reflexões (Carta Capital)



Refeição Cultural - Carta Capital 1162


IMBECILIZAÇÃO PROGRESSIVA NO BRASIL

Entre ontem e hoje, li a revista semanal Carta Capital. Não fazia isso há muito tempo! Tenho preferido a literatura e outras leituras em livros para alimentar meu conhecimento. No entanto, faço questão de ser assinante da revista para apoiar o jornalismo sério da revista liderada por Mino Carta. 

Que qualidade nas matérias! A leitura das 66 páginas é de uma facilidade incrível, mesmo sendo as notícias duras e deprimentes, porque os tempos são esses e jornalismo sério não briga com os fatos. A "escola" Mino Carta está de parabéns! A nova geração de repórteres, articulistas e jornalistas é digna da revista.

Os artigos de Mino Carta são sempre imperdíveis! O desta edição aborda "A imbecilização no país do plim plim - Desinformados impunemente pela Globo, somos vítimas de um longo processo destinado a nos afastar da realidade".

A matéria de capa é sobre a destruição da educação pública brasileira. Além de sabermos que as instituições de ensino estão sem verbas até para a manutenção das atividades essenciais, o regime bolsonarista atua para implantar o "Homeschooling" e a matéria pergunta "A quem interessa liberar a educação domiciliar, hoje restrita a 0,03% dos alunos?". Amig@s leitores, enquanto esse projeto é prioridade desse regime da imbecilização das pessoas, 46 milhões de estudantes seguem largados à própria sorte.

Algumas matérias sobre o Brasil e a política nacional - "Seu País" - nos mostram os embates entre a PGR e o STF. Lemos sobre o risco que partidos enfrentam - como o quase centenário PCdoB - por causa da atual lei eleitoral. Também lemos sobre as privatizações criminosas acontecendo no Rio Grande do Sul e no país, como a da Eletrobras. Vi boas matérias na seção de economia nos alertando para o apagão e o custo da energia elétrica no Brasil.

Na seção "Nosso Mundo" eu me atualizei sobre a nova guerra fria que os países do G7 estão desenvolvendo contra a China. Também me atualizei sobre o novo governo de Israel e a continuidade das políticas anteriores, do fascista Netanyahu. Segue o cerco a Gaza. É desesperadora a matéria sobre a forma de tratamento aos trabalhadores do Sudeste Asiático em relação à Covid-19 e as linhas de produção das fábricas que abastecem os países europeus. É um regime de escravidão global.

A seção "Plural" é o respiro n'alma após tanta tragédia factual. Sabemos ali de livros, teatro, cultura etc. Saiu uma biografia de Euclides da Cunha. Eu não terminei a leitura de Os Sertões. Li as duas primeiras partes "A terra" e "O homem" e me falta um dia retomar e ler "A luta". Recomendo a leitura do artigo de Maria Flor "Reflexões sobre a morte". Tive que interromper a leitura com os olhos cheios d'água e arrepiado. Também apreciei o artigo de Arthur Chioro: "Luto pelos 500 mil mortos".

COMENTÁRIO: Que caos vivemos no mundo sob a hegemonia do sistema capitalista! Não dá mais, não dá mais! Nós precisamos reunir pessoas suficientes para construirmos uma nova sociedade, um mundo cooperativo, solidário, sustentável e com igualdade e oportunidade para todas as pessoas. Temos que enterrar o capitalismo e distribuir a riqueza que a humanidade gerou e temos que aproveitar os avanços da ciência para vivermos de outra forma, sem exploração e acumulação capitalista.

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Neste caos em que vivemos no Brasil, destruído por um golpe de Estado que nos legou o clã Bolsonaro e um bando de trogloditas e todo tipo de corrupto predando as instituições da vida nacional, estamos largados à própria sorte. Não temos mais leis, não temos normalidade nas coisas mais comezinhas da vida cotidiana.

Teremos falta de luz e água. Não temos uma estratégia nacional para enfrentar a pandemia de Covid-19. Não temos empregos para as pessoas. Vivemos uma total anomia. Nossos cartões são clonados, a internet não funciona mesmo pagando caro. Nenhum serviço público funciona mais. Caos.

William


segunda-feira, 21 de junho de 2021

32. Hamleto - William Shakespeare



Refeição Cultural - Cem clássicos

"HAMLETO: Ser ou não ser... Eis a questão. Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes? Morrer... dormir... mais nada... Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução para almejar-se. Morrer... dormir... dormir... Talvez sonhar... É aí que bate o ponto. O não sabermos que sonho poderá trazer o sono da morte, quando alfim desenrolarmos toda a meada mortal, nos põe suspensos. É essa ideia que torna verdadeira calamidade a vida assim tão longa! Pois quem suportaria o escárnio e os golpes do mundo, as injustiças dos mais fortes, os maus-tratos dos tolos, a agonia do amor não retribuído, as leis amorosas, a implicância dos chefes e o desprezo da inépcia contra o mérito paciente, se estivesse em suas mãos obter sossego com um punhal? Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo, se não por temer algo após a morte - terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou - que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males conhecidos, sem buscarmos refúgio noutros males ignorados? De todos faz covardes a consciência. Desta arte o natural frescor de nossa resolução definha sob a máscara do pensamento, e empresas momentosas se desviam da meta diante dessas reflexões, e até o nome de ação perdem. Mas, silêncio! Aí vem vindo a bela Ofélia. Em tuas orações, ninfa, recorda-te de meus pecados." (SHAKESPEARE, Hamleto, p. 74)


Reli o clássico Hamleto, de Shakespeare, entre ontem e hoje. Foi minha terceira incursão na tragédia, escrita por volta do ano de 1600. Minha primeira leitura foi ainda na juventude, antes dos 20 anos. Depois, a li em 2005, já adulto e com maior experiência de vida. Agora a releio aos 52 anos. Que tragédia! É um grande clássico da literatura mundial.

Desta vez, a leitura foi motivada por outra leitura em andamento: Ulysses, de James Joyce. Dias atrás, li o capítulo 9 da epopeia irlandesa e parte da temática abordada no capítulo se trata de Hamlet e Shakespeare. Assim que terminei a leitura, pensei em reler o clássico shakespeareano. Ler aqui a postagem sobre a leitura de Joyce.

Essa tragédia deu origem a algumas expressões que se tornaram populares na cultura mundial. O drama do jovem príncipe Hamlet nos põe a pensar sobre a vida e a morte.

A edição que tenho foi presente de meu primo mineiro Jorge Luiz, na tradução de Carlos Alberto Nunes e com ilustrações feitas no século XIX, por John Gilbert.

Ilustração de John Gilbert. Hamleto segura
nas mãos o crânio do bobo do rei, Yorick.

Alguns textos que li sobre Shakespeare me trouxeram conhecimento novo a respeito do dramaturgo e poeta. As leituras de curiosidades se deram após ver o debate sobre o personagem Hamlet através de Stephen Dedalus, personagem de Joyce. 

Shakespeare teve três filhos, e o único filho homem - Hamnet - morreu aos 11 anos de idade. Alguns críticos dizem que as tragédias do dramaturgo ficaram muito mais intensas após isso. No Ulysses, de Joyce, o personagem principal, Leopold Bloom, também padeceu dessa dor indescritível, perder o único filho homem - Rudy -, que no dia em que se passa a estória, teria também 11 anos de idade.

Muitos estudiosos e críticos associam a semelhança entre o nome do filho morto de Shakespeare (Hamnet) ao nome do personagem principal da tragédia (Hamlet).

Algumas passagens de Hamleto são por demais fantásticas, a do "ser ou não ser", a do crânio do bobo da corte durante a passagem de Hamleto pelo cemitério, dentre outras. Veja alguns excertos abaixo:

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"HAMLETO: Recebamo-lo, então, como a estrangeiro. Há muita coisa mais no céu e na terra, Horácio, do que sonha a nossa pobre filosofia." (p. 46)

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"POLÔNIO: (...) Vou falar-lhe outra vez. Que é que o meu príncipe está lendo?

HAMLETO: Palavras, palavras, palavras..." (p. 58)

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"HAMLETO: Pode-se pescar com um verme que haja comido de um rei, e comer o peixe que se alimentou desse verme.

O REI: Que queres dizer com isso?

HAMLETO: Nada; apenas mostrar-vos como um rei pode fazer um passeio pelos intestinos de um mendigo." (p. 107)

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"HAMLETO: Deixa-me vê-lo. (toma o crânio.) Pobre Yorick! Conheci-o, Horácio. Um sujeito de chistes inesgotáveis e de uma fantasia soberba. Carregou-me inúmeras vezes às costas. E agora, como me atemoriza a imaginação! Sinto engulhos. Era aqui que se encontravam os lábios que eu beijei não sei quantas vezes. Onde estão agora os chistes, as cabriolas, as canções, os rasgos de alegria que faziam explodir a mesa em gargalhadas? Não sobrou uma ao menos, para rir de tua própria careta? Tudo descarnado! Vai agora aos aposentos da senhora e dize-lhe que embora se retoque com uma camada de um dedo de espessura, algum dia ficará deste jeito. Faze-a rir com semelhante pilhéria. Dize-me uma coisa, Horácio, por obséquio.

HORÁCIO: Que é, príncipe?

HAMLETO: Acreditas que Alexandre, depois de enterrado, tivesse esse mesmo aspecto?

HORÁCIO: Igual, igual, príncipe.

HAMLETO: E este cheiro? Puá!!

                  (joga o crânio.)"

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É isso. Mais um clássico relido.

Eu sei que deveria focar na leitura das dezenas de clássicos que ainda não li (o tempo de minha vida está escorrendo pelas bordas da terra plana na qual me peguei após o golpe de Estado no Brasil e as mortes severinas ficam nos cercando nos dias que correm), mas não tem jeito. Às vezes, temos que reler clássicos que já vimos muito tempo atrás. Até porque somos outra pessoa, o mundo é outro, o contexto idem e até a leitura coletiva da obra é outra.

Abraços aos leitores e leitoras.

William


Bibliografia:

SHAKESPEARE, William. Hamleto. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Coleção Universidade de Bolso. Ediouro/10983.


sábado, 19 de junho de 2021

#19J Fora Bolsonaro!



O dia 19 de junho amanheceu frio na Grande São Paulo. 

Pela manhã, escrevi uma reflexão sobre os sentimentos de tristeza que nos envolvem o tempo todo por causa das mortes e destruição do país causadas pelas ações do regime genocida que ocupou os poderes estatais desde a farsa da Lava Jato e o golpe de Estado em 2016. Ler aqui a reflexão.

Fui à padaria na qual trabalham diversas jovens brasileiras. Sempre que vou lá, penso na classe trabalhadora e no povo de nosso país. A vida da nossa gente era bem melhor antes do golpe, quando os governos do PT geraram oportunidades para a imensa maioria do povo. O foco dos governos Lula e Dilma foram as classes historicamente exploradas, humilhadas e excluídas dos direitos mais elementares da vida moderna e a vida foi melhor para elas.

Almocei por volta das 14 horas, enchi o peito de coragem porque sei do risco mortal da infecção pelo vírus Sars-Cov-2 e me preparei para sair de casa, pegar o trem, depois o metrô, e ir para a manifestação chamada pelos movimentos sociais, o segundo dia nacional de lutas pelo #ForaBolsonaro e por outros eixos de luta como vacinação para todos #VacinaJá, auxílio emergencial, NÃO à privatização da Eletrobras e em defesa da educação e do Sistema Único de Saúde. Fui no #29M e não poderia deixar de me somar aos militantes nas ruas.

Os meios de comunicação progressistas podem ser consultados para se visualizar o quanto as manifestações no Brasil e no mundo hoje foram importantes, volumosas, cheias de energia e mostram que acumulamos mais força para derrotar esse regime genocida, corrupto, lesa-pátria e indigno de nosso país.

A Avenida Paulista estava linda! Quantos jovens! Que felicidade ver a juventude tomando a dianteira nas lutas em defesa de seus direitos e de nosso país. Milhares de jovens estiveram hoje em luta pelo presente e futuro de sua geração. Nós das gerações intermediárias e mais antigas, que estivemos por décadas à frente das lutas, estamos juntos, estamos lá para apoiar as lutas que nos libertarão a tod@s.

Me cuidei o máximo que pude. Encontrei amig@s. Fiz a minha parte, isso me fez ganhar o dia de hoje. Seguimos lutando em memória dos 500 mil brasileir@s que perderam a vida para a pandemia por culpa do regime genocida.

#19JForaBolsonaro

William


190621 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Manhã de sábado, dia frio em Osasco, São Paulo.

Não tive ânimo de registrar os sentimentos e acontecimentos pessoais e os fatos da política no Brasil e no mundo nos últimos dois dias. 

A vida humana na atualidade é marcada pela velocidade das informações, sobretudo pautada pelo tsunami de mentiras disseminadas de forma consciente e racional para manipular o comportamento de multidões de seres humanos como se gado fossem, rebanhos manipulados por berrantes tocando a boiada rumo ao matadouro.

O ministro da economia do regime de destruição do Brasil, o Paulo Ipiranga Guedes, disse nesta semana que a elite, que come bem demais, deveria dar seus restos de comida para os pobres comerem... ele diz isso e ninguém faz nada em relação a isso. Esse sujeito desprezível já disse tanta coisa nojenta a respeito do povo e dos pobres... esse legítimo representante da casa-grande brasileira só diz o que sua turma pensa. Ele tem história, aprendeu a ser o que é na ditadura chilena de Pinochet.

O genocida no poder mostra para todos que não vai sair do lugar onde nunca deveria ter estado porque é criminoso e porque foi colocado lá por diversas fraudes já comprovadas. Ele comete ilegalidades, contravenções, quebras de decoro, crimes e demais arbitrariedades previstas em lei e legislação, di-a-ri-a-men-te, e ninguém faz nada em relação a isso. Ele prepara uma guerra civil de consequências imprevisíveis e nada parece apeá-lo do poder. As instituições que poderiam interromper a tirania e guerra civil em andamento não tomam a atitude por serem covardes ou por serem corruptas e coniventes e se locupletarem com a situação trágica.

498.499 brasileiras e brasileiros morreram em decorrência da estratégia do regime genocida de incentivar que o povo brasileiro se infectasse logo com o Sars-Cov-2, o novo coronavírus. A decisão do regime liderado pelo clã miliciano equivale a fazer uma roleta russa com a vida do povo. Se temos mais de 200 milhões de pessoas, a estratégia equivaleria a morrer de 2 a 3 milhões de cidadãos. O genocida no poder diria: "E daí..." e "não sou coveiro". Essas informações não são coisa da minha cabeça, são informações das audiências da CPI sobre a pandemia de Covid-19, abertas ao público na internet. 

Nossos entes queridos falecidos, os 498.499 mortos - oficialmente - em decorrência dos efeitos da infecção por Covid-19, poderiam estar vivos e com saúde, os estudos apontam que de cada 4 mortos 3 poderiam ter se salvado caso as medidas existentes tivessem sido tomadas: vacinação, auxílio emergencial para o povo e para os micro e pequenos empresários e uma campanha nacional de informação massiva sobre isolamento social, uso de máscara e medidas de higienização. O regime no poder matou mais de 300 mil cidadãos, nossos conterrâneos.

A Covid-19 não é uma infecção por vírus semelhante a uma gripe, o que o genocida chamou de "gripezinha". Os estudos em andamento apontam que 20 a 30% das pessoas infectadas pelo vírus, mesmo quando foram pacientes assintomáticos e com sintomas leves, desenvolvem doenças crônicas e sequelas que podem durar para sempre. O professor e neurocientista Miguel Nicolelis, em seu podcast "Diário do front", episódio nº 9, citou um estudo feito nos Estados Unidos com 2 milhões de infectados pelo vírus que aponta que 23% (ou seja, quase meio milhão de pessoas) tiveram sequelas da doença: desenvolveram sintomas crônicos em órgãos os mais diversos possíveis - algo como uma "Covid crônica" (ouvir a partir do minuto 14 do podcast). A Covid-19 NÃO é uma merda de uma gripezinha!

Enfim, são tantas informações verídicas e factuais de ilegalidades e ações do regime no poder, ações que estão levando o povo brasileiro à morte e à miséria, que sofremos de forma insuportável ao vermos que a situação se perpetua a cada dia. Cada dia é um absurdo!

Teremos apagão. O povo ficará sem luz e sem água. O povo do Amapá foi salvo do apagão - após semanas de caos - pela nossa Eletrobras, que vai ser privatizada (dada) pelo regime nazifascista aos abutres que apoiam o projeto em andamento de destruição do Brasil. Não teremos luz, água, internet. Mas teremos um povo revoltado, com raiva, fome e medo. A parte que apoia o regime do mal está armada e é perigosa, é irracional e ignorante. As forças de repressão talvez matem mais ainda o povo, que já morre como nunca por ser povo, de pele parda ou escura, preta, marrom.

Como eu poderia comemorar ter chegado a minha faixa etária da vacina contra a Covid-19 em Osasco nesta semana? Eu e a esposa fomos vacinados. Mesmo esperando a nossa vez, eu me sinto um privilegiado ao lembrar de dezenas de pessoas que conhecia que já faleceram porque não tiveram essa chance básica de serem vacinadas pelo Estado. E as trabalhadoras da padaria aqui do lado? Que pegam ônibus lotado todo dia e ficam o dia inteiro atendendo gente sem estarem vacinadas?

Estou nas últimas partes do livro autobiográfico do líder negro sul-africano Nelson Mandela. São quase 800 páginas. Vi Mandela descrever mais de 75 anos de lutas do povo por sua liberdade e por seus direitos à igualdade. O regime no poder era uma minoria branca - os africânderes -, mas tinha o poder da força armada do Estado. O CNA e os negros lutaram décadas através das diversas formas de protestos e mobilizações não violentas enquanto entenderam que elas tinham algum efeito. Os nacionalistas reagiam com violência armada do Estado (o apartheid era lei). Mandela nos ensina que É O INIMIGO OPRESSOR QUEM DEFINE AS ARMAS. A liberdade do povo negro sul-africano só veio depois de mais de duas décadas de enfrentamento armado, da forma que dava, é claro (atentados contra estruturas do governo e guerrilhas)! Lutar contra as forças letais do Estado não é fácil. A África do Sul é um exemplo a ser estudado pelos povos do mundo que lutam por liberdade, justiça e igualdade.

É isso o que tinha para registro neste modesto blog de um ex-dirigente sindical. Sou um cidadão e tenho meus direitos humanos, direitos civis, políticos, sociais.

Mandela, quando começou o período de diálogo com o inimigo, tinha como uma de suas premissas para a deposição do enfrentamento armado uma sociedade não racial, na qual todos tivessem direitos políticos iguais: um homem, um voto. Até o golpe de Estado em 2016, eu acreditei na democracia mequetrefe que o Brasil tinha. As elites nunca perderam o poder, mesmo quando perdiam algumas eleições. Depois do golpe que interrompeu o melhor momento do povo brasileiro na história, eu não acredito mais na democracia que o Brasil tinha. Não acredito. "Cada pessoa, um voto" não funciona mais aqui, nem em outros lugares do mundo. As formas de manipulação de massas já superaram isso. Não sei mais em que acreditar. Não sei mesmo! O regime criminoso no poder já deixa claro que não vai sair do poder, independente do número apurado de votos em eventual eleição... como vamos resolver isso? A democracia não existe mais.

William


quinta-feira, 17 de junho de 2021

Ulysses - Cila e Caríbdis (A Biblioteca)



Refeição Cultural

"- Os nossos jovens bardos irlandeses, John Eglinton censurou, ainda têm que criar uma figura que o mundo ponha lado a lado com o Hamlet do saxão Shakespeare embora eu o admire, como o velho Ben admirava, sem chegar à idolatria" (p. 337)

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"- Os mestres primeiro foram aprendizes, Stephen disse ultraeducadamente. Aristóteles foi um dia o aprendiz de Platão." (p. 338)

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"    Hamlet, sou o espírito de teu pai

pedindo que escute. A um filho se dirige, o filho da sua alma, o príncipe, o jovem Hamlet e ao filho do seu corpo, Hamnet Shakespeare, que morreu em Stratford para que seu outro pudesse viver para sempre." (p. 342)

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"Poderá qualquer homem amar a filha se não amou a mãe? (p. 352)

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"- Pode ser também, Stephen disse. Há uma frase de Goethe que o senhor Magee gosta de citar. Cuidado com o que deseja na sua juventude porque você vai obtê-lo quando maduro." (p. 353)

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"Ele Que a Si próprio gerou, por intermediário o Espírito Santo, e Ele mesmo mandou a Si mesmo, Agenbuyer, entre Si próprio e os outros, Que rebaixado por Seus inimigos, desnudado e verberado, foi pregado qual morcego à porta do celeiro, morreu de fome à arvore-cruz, Que deixou-se enterrar, levantou, devastou o inferno, vagou aos céus e lá por estes mil e novecentos anos senta-se à direita de Sua Própria Pessoa mas contudo virá no último dia para danar os vivos e os mortos quando todos os vivos hão já de estar mortos.

        Glo-o-ri-a in ex-cel-sis De-o" (p. 354)

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"(...) Mas sabemos por alta autoridade que os piores inimigos de um homem serão os da sua própria casa e da sua própria família." (p. 366)

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"(...) O que há em um nome? Isso é o que nos perguntamos na infância quando escrevemos o nome que nos dizem ser o nosso." (p. 370)


Este capítulo de Ulysses, o capítulo 9, que se passa na biblioteca, nos apresenta Stephen Dedalus e demais personagens conversando a respeito da vida e obra de William Shakespeare. Eles falam principalmente a respeito de Hamlet.

A obra de James Joyce é toda permeada de intertextualidades e referências a outras obras literárias, principalmente a Odisseia, de Homero.

Shakespeare foi casado com Anne Hathaway e eles tiveram três filhos. A morte de seu filho homem, Hamnet, aos 11 anos de idade, abalou profundamente o poeta e dramaturgo inglês.

Dedalus desenvolve sua tese sobre Shakespeare e Hamlet neste capítulo. Lá no primeiro capítulo, ouvimos a respeito:

"- Qual é a sua ideia sobre o Hamlet? Haines perguntou a Stephen.

(...)

- Bah! Buck Mulligan disse. Nós já deixamos Wilde e os paradoxos pra trás. É bem simples. Ele prova algebricamente que o neto de Hamlet é avô de Shakespeare e que ele mesmo é o fantasma do próprio pai." (p. 116)

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Venci a leitura de mais um capítulo de Ulysses.

Post Scriptum: ainda curioso sobre Hamnet, o filho de Shakespeare, fui ler a história sobre ele. As coisas não são coincidência em uma obra literária. Não são. Aprendi isso desde que estudo literatura. 

Joyce interliga tudo. O filho varão de Leopold Bloom morreu criança e ele teria 11 anos se estivesse vivo em 16 de junho de 1904 (informação na pág. 179). A mesma idade na qual morreu o filho de Shakespeare. Rudy e Hamnet. Filhos varões mortos. Difícil imaginar tamanha dor! A ausência dos filhos falecidos.

William


Bibliografia:

JOYCE, James. Ulysses. Tradução de Caetano W. Galindo. 1ª ed. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012.


quarta-feira, 16 de junho de 2021

Bloomsday, 16 de junho



Refeição Cultural

Hoje é quarta-feira, 16 de junho. Essa data é considerada o Bloomsday para os irlandeses e para o mundo da cultura e da leitura também. A epopeia do personagem Leopold Bloom pela Dublin de 1904 se passa numa quinta-feira, 16 de junho.

Sou um dos leitores do mundo que teve a oportunidade de ler o romance Ulisses, de James Joyce. Na época, li uma edição com tradução de Antônio Houaiss. Li quando tinha pouco mais de trinta anos de idade. A leitura foi difícil, foi exigente, pois a linguagem literária é bastante experimental. Foi um feito em minha modesta vida de leitor.

Agora, após os cinquenta anos de idade, estou relendo Ulysses, desta vez numa tradução diferente, de Caetano W. Galindo. A leitura se dá em um contexto interessante. Meu amigo Sérgio Gouveia decidiu ler a obra e me convidou para lermos juntos. Legal a ideia! 

Como no meio do caminho tinha uma pedra, ainda não conseguimos sintonizar a leitura. Eu acabei lendo muito rápido no começo e agora vou mais devagar. Como leio muitos livros ao mesmo tempo, vamos de boa, curtindo cada momento do dia de Leopold Bloom (Bloomsday).

Eu já estou nos acontecimentos das 14 horas, "Cila e Caríbdis". Li até agora os capítulos "Telêmaco" (8h), "Nestor" (10h), "Proteu" (11h), "Calipso" (8h), "Lotófagos" (10h), "Hades" (11h), "Éolo" (12h), "Lestrigões" (13h). Joyce faz um esquema do Ulysses com diversas características em cada capítulo. Ver aqui a postagem mais recente.

ODISSEIA (HOMERO)

Uma estratégia bem interessante que adotei desta vez ao ler a epopeia de Leopold Bloom pela Dublin de 1904 foi ler ao mesmo tempo a Odisseia, em versos, de Homero. Eu só tinha lido em prosa a epopeia de Odisseu (Ulisses é o nome latinizado de Odisseu). Joyce cria sua epopeia moderna fazendo paralelos com a epopeia clássica de Homero.

Enfim, se não fosse a leitura, a literatura, a cultura, eu não sei como conseguiria lidar com esses dias que estamos enfrentando no Brasil, um país destruído após um golpe de Estado e dominado pela banalidade do mal.

Amigas e amigos leitores, se puderem, leiam diariamente, incluam momentos de leitura em suas vidas. Vocês estarão fazendo um bem para si mesmos e também estarão salvando a humanidade, e a parte da humanidade com cultura pode salvar o planeta Terra e todas as formas de vida.

William

segunda-feira, 14 de junho de 2021

31. Romeu e Julieta - William Shakespeare



Refeição Cultural - Cem clássicos

"Ama - Seu nome é Romeu, e é um Montéquio: filho único de seu grande inimigo.
Julieta - Meu único amor, nascido de meu único ódio! Cedo demais o vi, ignorando-lhe o nome, e tarde demais fiquei sabendo quem é. Monstruoso para mim é o nascedouro desse amor, que me faz amar tão odiado inimigo.
" (p. 43)


Eu havia lido Romeu e Julieta em 2005. Fiquei impactado pela obra na época. Antes dessa tragédia shakespeariana, já tinha lido Hamlet e Otelo, o mouro de Veneza. E depois ainda li Macbeth. Reli a história dos jovens Montéquio e Capuleto neste domingo. Meu sentimento em relação à obra neste momento de leitura foi de tristeza.

Eu poderia dizer que Romeu e Julieta não se trata de uma trama de amor, se trata de uma estória de ódio, de como o ódio domina e destrói tudo ao redor. É uma tragédia triste demais, mas é uma temática por demais atual, haja vista que a base da destruição das relações humanas no Brasil e dos direitos sociais após o golpe de 2016 é a manipulação das pessoas através do estímulo ao ódio e daí se vai às demais consequências após as pessoas terem se transformado em bichos-feras, em zumbis sem capacidade de pensamento e racionalidade.

A tragédia começa e termina com pessoas brigando e se matando porque são da parte dos Montéquio ou dos Capuleto. Até os deuses estão de saco cheio de tanto ódio de parte a parte e decidem dar uma lição nas famílias destacando o "destino" para colocar um ponto final nas desavenças na cidade com perdas terríveis para todos: as duas famílias e até a família do rei.

"Julieta - É só teu nome que é meu inimigo. Mas tu és tu mesmo, não um Montéquio. E o que é um Montéquio? Não é mão, nem pé, nem braço, nem rosto, nem qualquer outra parte de um homem. Ah, se fosses algum outro nome! O que significa um nome? Aquilo a que chamamos rosa, com qualquer outro nome teria o mesmo e doce perfume. E Romeu também, mesmo que não se chamasse Romeu, ainda assim teria a mesma amada perfeição que lhe é própria, sem esse título. Romeu, livra-te de teu nome; em troca dele, que não é parte de ti, toma-me inteira para ti." (p. 48)

Muito boa essa reflexão da personagem Julieta.

Eu me lembrei do magnífico texto de Rubem Alves sobre o nome (ler aqui). Nós usávamos esse texto nos cursos de formação que fazíamos na confederação dos bancários. Os nomes às vezes podem nos aprisionar ou podem servir para gerar falsas expectativas nos outros, ou ainda, podem nos fechar portas e oportunidades, como no caso do ódio entre os Montéquio e os Capuleto.


EXÍLIO

"Romeu - Exílio! Por misericórdia, diga morte, pois o banimento carrega muito mais terror em seu olhar do que a morte. Não diga exílio.
Frei Lourenço - Desde agora está banido de Verona. Sê paciente, pois o mundo é vasto, é amplo.
Romeu - Não há mundo fora dos muros de Verona, mas sim o purgatório, a tortura, o próprio inferno. Ser daqui banido é o mesmo que ser banido do mundo, e exílio do mundo é a morte. Estar exilado é mero eufemismo para estar morto. Quando o senhor chama a morte de exílio, está decapitando-me com machado de ouro, e o senhor carrega um sorriso no rosto quando o seu golpe me assassina.
" (p. 87)


Uma questão muito em voga por causa da tomada do país pela banalidade do mal após o golpe de Estado e a ascensão da máfia e das milícias ao poder e a desilusão que tem pautado a vida e a morte do povo brasileiro é o exílio, o ir-se daqui. Mesmo estando no século XXI das facilidades tecnológicas do mundo virtual, exílio não é qualquer coisa simples.

Eu particularmente acho algo muito complicado essa questão de exílio, de ir embora daqui, sair do Brasil. Além de não me ver morando em outro país, tem a questão de encarar a tristeza da destruição de nosso mundo por parte do bolsonarismo como algo irreversível. Essa gente pestilenta que chegou ao poder e dominou as instituições do país deve ser retirada de lá e jogada no lixo da história. Temos que recuperar o que é nosso e não podemos desistir do Brasil.


NINGUÉM SENTE A DOR DO OUTRO

"Romeu - O senhor não pode falar daquilo que não sente. Fosse jovem como eu, fosse Julieta o seu amor, estivesse o senhor recém-casado e Teobaldo morto, o senhor louco de paixão como eu e como eu banido, então sim, poderia falar, então sim, poderia arrancar os cabelos e deixar-se cair no chão, como faço eu agora, para ter as medidas de uma sepultura que só falta ser cavada." (p. 89)


Muitos intelectuais discutem essa questão da impossibilidade de se colocar no lugar do outro e de descrever a dor do outro. Muitas vezes é melhor dizer que a dor existe, mas não tentar explicar ou descrever o que os outros sentem.


AS MULHERES TRATADAS COMO COISAS

"Capuleto - (...) Sê minha filha, e entrego-te ao meu amigo; caso contrário, enforca-te, pede esmolas, passa fome, morre nas ruas, pois, pela minha alma, não mais te reconhecerei como minha filha, e nada do que é meu passará para teu usufruto. Pensa bem, reflete, que sou homem de palavra e não volto atrás." (p. 102)


Tem uma frase de Julieta, dita em um dos momentos mais dramáticos da tragédia, que achei muito forte, muito dura:

"Se nada funcionar, tenho a capacidade de morrer" (Julieta, p. 104)

Que foda!


O PIOR VENENO

"Romeu - Aqui está o seu ouro, o pior veneno para a alma humana, o que comete mais assassinatos neste mundo detestável - mais que esses pobres compostos que o senhor está impedido de vender. Sou eu quem estou lhe vendendo veneno; o senhor não me vendeu nenhum. Adeus. Compre comida, e acrescente carnes a esse seu esqueleto. - Venha, licor estimulante. Não és veneno. Vamos até à sepultura de Julieta, pois é lá que devo te usar." (p. 126)


O "DESTINO" DECIDIU

O frei mandou um mensageiro levar uma carta a Romeu, em Mântua, mas o mensageiro sequer conseguiu sair de Verona por causa de uma quarentena de uma peste. Com isso, Romeu veio atrás de Julieta, pois recebera a notícia de sua morte e enterro. Mas o amante não sabia das articulações entre o Frei Lourenço e Julieta e os desencontros se mostraram fatais.

"Príncipe - (...) Onde estão os inimigos? - Capuleto! - Montéquio! - Vejam que maldição recaiu sobre o ódio de vocês, que até mesmo os céus encontraram meios de matar, com amor, as vossas alegrias! E eu, por fechar meus olhos às vossas discórdias, também perdi dois de minha família. Fomos todos punidos." (p. 139)

É isso! Mais um clássico relido.

William 


Bibliografia:

SHAKESPEARE, William. Romeu e Julieta. In: Tragédias. Tradução: Beatriz Viégas-Faria. São Paulo: Editora Nova Cultural, 2003.


domingo, 13 de junho de 2021

Devo ser muito burro! Qual é a estratégia?



Opinião

Eu devo ser muito burro! Eu queria entender qual é a estratégia da parte contrária ao regime bolsonarista e seus crimes diários no Brasil para se defender dele e de seus apoiadores armados e violentos na hora que eles vieram nos ameaçar e eliminar fisicamente. Francamente, não existe estratégia de se defender desarmado de ataques armados contra nossa vida. Não se defende de aço e ferro com o nosso corpinho de carne e osso! Qual a estratégia, afinal de contas?

 

A maior parte de minhas referências políticas e intelectuais acha que as coisas devam ser resolvidas através de processos políticos e pela solução pacífica das controvérsias, processos não violentos e de paz. Democracia, processos institucionais sem rupturas blá blá blá. Acho lindo isso!

No início do século vinte, boa parte das lideranças políticas e intelectuais do mundo também achava o mesmo: não violência, diálogo etc. Aí um sujeito tosco, um bárbaro medíocre em meio aos cidadãos de um dos países mais escolarizados e intelectualizados do continente europeu, uma tal de Alemanha, convenceu esse povo de alto padrão intelectual a se tornarem nazistas. Foi fácil! O país e o mundo viviam uma crise econômica. Bastou falar que a culpa era dos outros e as vítimas eram os alemães (os puros, né! Arianos!).

Enquanto o medíocre bárbaro assumia o poder e começava a falar e fazer as merdas indizíveis e impraticáveis nos primeiros anos de poder (1933, 1935, 1936...), os cidadãos alemães que não pactuavam com aquelas merdas todas ficaram na deles ou foram embora do país. Enquanto as merdas diárias eram feitas pelo sujeito que já se mostrava sem limites, os demais países também não fizeram nada. Não vamos começar nova guerra, diziam (a 1ª Guerra Mundial já havia sido meio foda). Então, deixaram o cara lá fazendo as merdas que ele quisesse.

Aí o sujeito medíocre e bárbaro foi se empoderando de tudo, e com apoio de grupos pequenos de apoiadores violentos no início (e crescente depois). Os não aderentes a ele começaram a perder tudo, começaram a sumir, a morrer, a Alemanha começou a invadir tudo, eliminar quem se opusesse ao domínio dela etc. Internamente, na Alemanha, os alemães - a burguesia - continuavam ouvindo música clássica, comendo de talheres, as propagandas nos meios de comunicação enalteciam cada vez mais o regime e todos que o apoiavam, as crianças arianazinhas brincavam felizes etc. E a caçada aos não adesistas seguia implacável.

Que merda deu não enfrentar o sujeito medíocre e bárbaro enquanto ele construía a violência e o ódio e as armas pra matar tudo e todos que fossem contrários a ele e seu regime totalitário do 3º Reich? Onde ficou o pacifismo ali em 1933, 1935, e 1939, depois 1940, depois 1941 etc? Ficou nos milhões de mortos da 2ª Guerra que até 1942 estava sendo vencida pelo hitlerismo, o nazismo.

Eu devo ser muito burro! Repito. Não sou historiador. Mas gosto de história e cultura. Sou da opinião que a história não se repete porque não tenho essas visões místicas da história e vida humana (mito do eterno retorno etc). Então não acho que a história se repita e reproduza o nazismo alemão ou qualquer outro evento que já tenha ocorrido no passado como, por exemplo, o massacre dos hutus sobre os tutsis e outras formas de extermínio de humanos por humanos. Mas a história serve de referência para nós.

Mas é evidente que fatos são fatos. As coisas estão aí para serem analisadas. Os fatos no Brasil demonstram um percurso perigoso no presente e para o futuro próximo. Vamos esperar os bolsonaristas do momento agirem como agiram os nazistas e os hutus do passado naqueles lugares e naqueles contextos? Vamos deixar eles fazerem o que quiserem conosco, sem limites? Eles não precisam ser a maioria do povo no país por uma questão básica: eles estão armados e o restante do povo não está.

Enquanto construíram o golpe de 2016, os democratas, os "neutros", os "apolíticos", os pacifistas, os "não-é-comigo" ficaram quietos e teve um deputado do baixo clero que votou impeachment declarando o torturador Ustra como símbolo daquela ruptura democrática. Enquanto a casa-grande brasileira (burguesia odiosa) colocava adesivos da presidenta Dilma sendo penetrada em seus carros por bombas de gasolina, ninguém reagiu. Enquanto se inventava que o presidente Lula era ladrão (sem provas), os carros da burguesia odiosa estavam com os adesivos do 9 ("nine"). O JN da Globo passou uma década com aqueles oleodutos correndo dinheiro como painel de fundo atrás daqueles imbecis que regiam o "jornal" fascista.

E hoje, após o criminoso seguir cometendo crimes diários? Seguimos caminhando para algo parecido ao nazismo do século passado. Como devo ser muito burro, eu não estou conseguindo ver a estratégia, então eu pergunto: como nós vamos nos defender daqui alguns dias, meses, ano que vem, sei lá, das ameaças e agressões contra nossas vidas e nossos direitos sem estarmos armados contra esse segmento bolsonarista armado, violento e incontrolável?

Qual é a estratégia para nos defendermos do regime criminoso e violento bolsonarista? É só aquela de "deixar o país" para aqueles que podem?

William


sábado, 12 de junho de 2021

120621 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

"Eu não estava interessado nos Hell's Angels, mas a questão mais ampla que me preocupava era se nós tínhamos, como Strini havia sugerido, nos prendido a uma forma de pensar que já não era mais revolucionária..." (MANDELA, 2012, p. 612)


Temos que pensar de forma revolucionária, temos que ter utopias!

Sábado, 12 de junho. Quando me levantei pouco depois das 6 horas da manhã, o dia estava com uma neblina rara de se ver. Queria terminar mais um capítulo da autobiografia de Nelson Mandela e às 7h já estava no texto.

Ontem, ouvi também um bate papo entre o jurista Pedro Serrano, o historiador Fernando Horta e o linguista Gustavo Conde que me deixou muito pensativo. Ouvir Pedro Serrano não é qualquer coisa para um militante de esquerda e para alguém que luta por justiça social. 

Serrano disse em suas reflexões que o tempo atual é de completa superficialidade nos pensamentos e nos conceitos, nos objetivos e nas questões contemporâneas. A esquerda e a direita são extremamente superficiais. E ele tem razão, na minha opinião. As causas são sempre focadas nas questões emergenciais e não há projetos com engajamentos para médio e longo prazo.

Ao ouvi-lo argumentando sobre a superficialidade das pessoas e dos projetos e objetivos das forças políticas e sociais, concordei com ele que precisamos recuperar os projetos e causas que nos norteiem o futuro coletivo, que nos apontem caminhos para salvar a humanidade e o mundo onde vivemos. Estamos falando em utopias! O que nos move? A que mundo pertencemos? 

Aí pego os exemplos tirados da leitura da autobiografia do líder negro sul-africano Nelson Mandela. A libertação do povo negro sul-africano e o fim do regime racial do apartheid só foi possível porque havia um projeto de futuro, coletivo, de todo um povo, que sofria e que queria mudar aquilo, queria a liberdade, a igualdade, queria usufruir tudo o que a terra pode oferecer a um povo e tudo o que a humanidade criou. E a luta em busca desse sonho, desse objetivo, durou décadas.

Repito a preocupação de Mandela, que citei acima: será que nossa forma de pensar já não é mais revolucionária? Nos acostumamos às merdas com as quais estamos lidando? Não sonhamos mais mudar a realidade?

Isso é sério! Temos que pensar a respeito disso, avaliar com franqueza qual tem sido o sentido de nosso viver e tomar decisões sobre o que queremos pessoal e coletivamente, para nós e para o mundo no qual vivemos.

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Tenho pensado a respeito disso, mesmo aos 52 anos de idade, mesmo fora do movimento organizado de lutas sociais ao qual participei por duas décadas. Avalio que estamos pensando de forma superficial, sim. Todos nós da esquerda. E não acho que vamos mudar a nossa história se não tivermos um projeto de mundo, de humanidade, de vivência para as próximas décadas e estratégias e táticas desenvolvidas para chegarmos lá; o "nós" aqui, o plural majestático, é porque estou falando de nós, nós humanos, nós humanidade, nós seres vivos.

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METÁFORA DA HORTA

"Uma horta era uma das poucas coisas na prisão que se podia controlar. Plantar uma semente, observá-la crescer, cuidar dela e então colhê-la, proporcionava uma satisfação simples, porém duradoura. A sensação de ser o zelador de um pequeno pedaço de terra oferecia um pequeno gosto de liberdade.
  De certa forma, eu via a horta como uma metáfora para certos aspectos da minha vida. Um líder também deve cuidar da sua horta; ele também planta sementes, e então observa, cultiva e colhe o resultado. A exemplo do jardineiro, um líder deve se responsabilizar pelo que cultiva; ele deve ocupar-se com seu trabalho, tentar repelir os inimigos, preservar o que pode ser preservado, e eliminar o que não pode prosperar.
" (p. 597/98)


Profunda essa metáfora que Mandela usa. Em certas situações na vida temos pouca ou nenhuma capacidade de controlar os acontecimentos. Mas sempre há coisas que podemos controlar minimamente, como nosso comportamento, por exemplo. Nossas atitudes são provocadas pelo mundo exterior a nós, é verdade, mas desenvolver técnicas e capacidade de controlar nossas atitudes é algo fundamental para um militante de esquerda e um lutador das causas sociais. Soube que isso é possível ao ser dirigente e líder das lutas dos bancários, negociador e gestor de entidades de classe.


O ENSINAMENTO EM "GUERRA E PAZ"

"Um livro que li muitas vezes foi o grande trabalho de Tolstói, Guerra e Paz (apesar de o título conter a palavra guerra, este livro era permitido). Fiquei particularmente fascinado pela descrição do General Kutuzov, a quem todos na corte russa subestimaram. Kutuzov derrotou Napoleão precisamente porque não foi seduzido pelos valores superficiais e efêmeros da corte, e tomou suas decisões com base em uma compreensão visceral de seus homens e seu povo. Isso me lembrou novamente que, para realmente liderar o seu povo, a pessoa deve também verdadeiramente conhecê-lo." (p. 601)


Outro grande momento do livro de Mandela foi essa passagem na qual ele cita uma obra clássica da literatura mundial, seus personagens e a vida real. Aliás, a citação fala da superficialidade da vida na corte, assim como Pedro Serrano dos tempos que correm.

"para realmente liderar o seu povo, a pessoa deve também verdadeiramente conhecê-lo"

Amig@s, essa é uma questão crucial. Por quase duas décadas fui dirigente sindical e por esse mesmo período de militância fiz trabalho de base junto aos trabalhadores que representava. Nunca deixei de estar nos locais de trabalho porque não conseguiria realizar nada das lutas que empreendi se não estivesse em relação aberta e franca com as pessoas que representava e, é claro, se não tivesse objetivos e utopias a perseguir e nortear meu caminho.

É isso.

Temos que ter utopias, temos que deixar de sermos superficiais, temos que desenvolver projetos e estratégias para salvar o planeta Terra e a humanidade. Entendo que essa é uma tarefa da esquerda. É uma tarefa que não vai a lugar algum sem o engajamento dos jovens e a participação das demais gerações que aqui estão.

William


Bibliografia:

MANDELA, Nelson. Longa caminhada até a liberdade. Tradução de Paulo Roberto Maciel Santos. Curitiba: Nossa Cultura, 2012.


quinta-feira, 10 de junho de 2021

100621 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

"o essencial é viver!" (Carlos Drummond de Andrade)


Quinta-feira, 10 de junho do 2º ano do aparecimento da pandemia mundial do novo coronavírus.

Que dizer neste momento de registro pessoal sobre os acontecimentos da vida? Talvez começar o registro dizendo que estamos na luta para seguir vivendo e para isso estamos o tempo todo buscando significar a existência, tanto pessoal quanto coletiva, da vida humana e da vida no planeta Terra. Dar sentidos às coisas é algo que pode nos dar motivos para suportar as adversidades da existência e seguir lutando pelo viver.

Nesta semana, estou lendo a autobiografia do líder negro sul-africano Nelson Mandela (1918-2013). Hoje não li, mas li centenas de páginas nesses dias. As outras leituras de literatura estão um pouco interrompidas. Em breve, retomo essa atividade que nos humaniza, conforta e fortalece.

Hoje trabalhei algumas horas neste blog de cultura. Eu mesmo fico impressionado com o quanto tive paciência e tempo para postar tanta coisa legal, para compartilhar tanto conhecimento e opiniões. Meu objetivo na época que criei o blog era fazer com que ele fosse uma espécie de Wikipedia (What I Know Is...). Os blogs estavam em seu começo na rede mundial de computadores em meados da primeira década deste século.

Estou revendo o ano de 2008 e ao reler as postagens sobre aulas na Universidade de São Paulo vejo que o conteúdo tem algum valor. Meu blog tem uma certa quantidade de entradas mensais justamente por causa das centenas de postagens com conteúdos de estudos e de cultura em geral.

Hoje e dias atrás, li e estudei sobre Filologia e Morfologia. Bem legais os temas!

Enfim, toda tentativa diária de trabalhar minha mente e minha atenção por algumas horas vale a pena porque querendo ou não é impossível nos desligarmos da realidade trágica na qual vivemos sob a banalidade do mal num país destruído após o golpe de Estado de 2016. E a realidade nos traz sofrimento e temos que suportar isso. Inclusive sabemos que há um genocídio em andamento e a morte virou referência para nossas vidas. A morte iminente é a referência para nós na atualidade...

Brasil paralelo

O regime nazifascista que tomou de assalto as instituições do Estado brasileiro após o golpe da casa-grande e o fim da democracia formal no Brasil em 2016 não será derrotado pelo povo tão facilmente. Diversos fatores apontam para isso. Minha opinião é que as lideranças e forças mais progressistas estão apostando de forma equivocada e ilusória todas as fichas numa hipotética vitória dos democratas em uma eventual eleição em 2022 (estou falando das apostas em Lula). Acho que estão enganados. E espero estar errado quando reler essa reflexão daqui a alguns anos.

Na verdade, nem poderia denominar a banalidade do mal que tomou conta do Brasil e o regime no poder de "nazifascista" porque a história não se repete. A expressão é um empréstimo porque a história cunha os conceitos depois. O hitlerismo, o franquismo, o salazarismo e outros regimes aconteceram com os contextos que os definiram em suas épocas. Talvez no futuro, os livros de história tenham em seus registros sobre o Brasil deste momento denominações como "bolsonarismo" com o mesmo peso trágico e criminoso que o nazismo teve, nazismo que no fundo foi o "hitlerismo".

Enfim, sobre o risco iminente de morte e o genocídio em andamento, registro que hoje morreram de Covid-19 mais de 2,5 mil pessoas no Brasil. Ultrapassamos a marca trágica de 482 mil mortes de brasileiros e brasileiras. Atualmente, um terço dos mortos diários no mundo, nos 200 países, são de pessoas sob o regime do mal do bolsonarismo. A morte por Covid-19 faz parte das estratégias do regime por aqui. É um regime baseado na morte, na retirada de direitos do povo, no favorecimento de algumas pessoas e grupos de bilionários, e baseado na MENTIRA.

A MENTIRA é a base do poder que está destruindo e matando o povo brasileiro e o país. O MENTIROSO sabe dizer as mentiras que os alienados e os manipuladores querem acreditar e enganar os outros.

Mas se até o nazismo - o hitlerismo - que queria durar mil anos não durou para sempre, durou 12 anos (matou milhões de pessoas, é verdade), não seria um regime de gente tão medíocre e tão desprezível como o que temos neste momento no Brasil que duraria dezenas de anos. Eu sei que o salazarismo durou décadas... esperemos que o contexto atual não permita isso, porque a história não se repete e porque estamos vivos e nos opomos a tudo o que significa esse regime do mal.

Por que coloquei o subtítulo de "Brasil paralelo" nesta parte da postagem? Porque impressiona o quanto as pessoas ao nosso redor foram capturadas pelas mentiras do regime do mal no poder. Nossos amigos, familiares e conhecidos estão morrendo por causa da Covid-19 e estão lutando para sobreviver às consequências da infecção pelo vírus mortal. Mas uma parte da sociedade humana foi captura pelas abstrações mentais do bolsonarismo (como nos explica o neurocientista Miguel Nicolelis sobre o cérebro e as abstrações de O Verdadeiro Criador de Tudo). 

Os bolsonaristas ou simpatizantes ao regime não têm medo de pegar o vírus! Eles não têm medo! Têm medo da abstração "comunismo", mas não têm medo dos efeitos da infecção pelo vírus. Cara, fico vendo as pessoas ao meu redor sem máscara e acreditando em tudo quanto é mentira que é repetida mil vezes por dia nos grupos e redes sociais desse mundo paralelo em que eles vivem e eles não têm medo... Temos um Brasil paralelo com essa gente... é assustador!

William