sábado, 26 de junho de 2021

260621 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

"Mas ao conversar com esses jovens inteligentes, fiquei sabendo que eles assistiram a minha liberação na televisão e estavam familiarizados com os eventos na África do Sul. 'Viva o CNA!' falou um deles. Os Inuit são um povo aborígine historicamente maltratado pela população de colonizadores brancos; havia alguns paralelos entre as condições dos negros sul-africanos e do povo Inuit. O que me impressionou fortemente foi o quão pequeno o planeta havia se tornado durante as décadas que passei na prisão; era assombroso para mim que um adolescente Inuit, vivendo no teto do mundo, pudesse assistir à liberação de um prisioneiro político na ponta do sul da África. A televisão havia encolhido o mundo, e nesse processo havia se tornado uma arma poderosa para a erradicação da ignorância e promoção da democracia." (MANDELA, 2012, p. 714)


Sábado, 26 de junho. Osasco.

Vejam só a observação de Nelson Mandela em 1990. Ele havia sido liberado da prisão após 27 anos. Estava visitando alguns países e numa passagem pelo Ártico para abastecer o avião, ele foi até a cerca da pista do aeroporto conversar com um grupo de jovens Inuit, mais conhecidos como esquimós.

Tanto Mandela como quase todo mundo achava que as tecnologias da informação e comunicação iriam melhorar o mundo, dentro daquela lógica de se compartilhar mais informação, conhecimento, contato entre as pessoas e povos do mundo e teríamos uma "erradicação da ignorância e promoção da democracia".

O mundo havia ficado pequeno e diminuía a cada dia. 

Uma década depois, em 2001, vimos ao vivo os aviões se chocando contra as torres gêmeas em Nova Iorque. Vimos ao vivo o Iraque ser bombardeado e destruído e a biblioteca de Bagdá desaparecer junto com toda a riqueza histórica que acumulava. 

Ao mesmo tempo, começavam os Fóruns Sociais Mundiais, com milhares de pessoas de todo o mundo se reunindo para discutir "Um outro mundo possível" na "aldeia global".

Em meados daquela década, nasceriam as redes sociais como o Orkut e depois o Facebook, o Twitter e o YouTube. Os blogs começaram a democratizar o espaço de fala na rede mundial de computadores. Nós nos entusiasmamos e achamos que a democracia na comunicação iria fazer a humanidade dar um salto positivo para o futuro. Qualquer pessoa poderia falar livremente, publicar, opinar e partilhar conhecimento.

Pouco mais de uma década depois, as grandes big techs já haviam mudado tudo. Poucas empresas dominaram todas as formas de comunicação no mundo. As informações de bilhões de pessoas passaram a ser utilizadas para manipular o comportamento humano e interferir em gostos, hábitos e na política dos países.

O povo, inocente até não caber mais, achava que poderia jogar fora suas bibliotecas porque qualquer informação que quisesse era só pesquisar no "Google"... doce ilusão! (Somos feitos de idiotas.). As informações virtuais existem hoje nos links e amanhã não existem mais (ERROR). Cadê a informação que estava aqui? O gato comeu! 

Pesquisar no "Google" significa, muitas vezes, que a palavra ou conceito que você pesquisou vai trazer como resposta a informação da empresa ou fonte que pagou mais para aparecer na primeira página e nas primeiras posições. Pesquisar palavras de determinado campo ideológico significa direcionamento proposital para tais fontes e bloqueio de outras. As esquerdas perderam milhões de acessos na última década por causa de programas de algoritmos.

Em muito pouco tempo, o que era uma ideia de "erradicação da ignorância e promoção da democracia", como pensou Nelson Mandela em 1990, se transformou num sistema mundial de divulgação de mentiras, de manipulação e incentivo à ignorância, negacionismo, ódio e desinformação global. Alguns sujeitos conseguem manipular milhões de humanos. Desacreditam a ciência, a geografia, a filosofia, matemática etc; vacina seria ruim, a Terra seria plana e aberrações do tipo. 

Estudos apontam que os seres humanos estão emburrecendo, que pela primeira vez em séculos as gerações seguintes não estão mais desenvolvidas intelectualmente que as gerações anteriores. Vi uma entrevista do neurocientista Miguel Nicolelis em 2020 (para Luis Nassif) na qual ele citava alguns desses estudos: perda de capacidade de comunicação e linguagem nos jovens norte-americanos, diminuição do quociente de inteligência nas gerações atuais etc.

Enfim, quis registrar isso ao ler a observação de Mandela em 1990.

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Um monstro mentiroso, um corrupto empedernido. Um ser com claros sinais de psicopatia. O inominável... 

O Brasil em uma década saiu de governos democráticos e populares, com distribuição de riquezas, oportunidades para todos, crescimento nos direitos do povo, perspectivas de futuro, para um país destruído, governado por hordas de gente racista, elitista, corrupta, um país cujo regime no poder não tem nenhum projeto para a melhoria de vida do povo brasileiro. Pelo contrário, um regime de morte, de banalidade do mal. Um regime de gente mentirosa, sem-vergonha, canalha. Um regime responsável pela morte de mais de meio milhão de pessoas, assassinadas por falta de medidas contra a pandemia mundial de Covid-19.

Nós já perdemos tantas pessoas conhecidas, queridas, de nosso convívio por toda uma vida, que é difícil falar sobre o tema. Do ano passado para cá, a todo momento vemos morrer nossos companheiros e companheiras de lutas pelo povo trabalhador e por um mundo mais junto e solidário. 

Entre as 1.593 pessoas que perderam a vida hoje para o coronavírus por causa do regime genocida que tem a pandemia como estratégia de governo, estava nosso companheiro de lutas Jeferson Boava, dos bancários de Campinas. Estivemos tanto tempo juntos nas lutas do Banco do Brasil... A minha tristeza pela morte de tantas pessoas é uma tristeza que dá uma gana interna de sobreviver a esse regime nazifascista e ver todos esses desgraçados caírem e nós vamos reconstruir nosso mundo após essa gente ser retirada do poder.

Companheiro Jeferson, presente!

(esses inimigos do povo vão cair, vão ter o que merecem. O povo brasileiro vai voltar a construir um futuro melhor para todos e todas)

William



Bibliografia:

MANDELA, Nelson. Longa caminhada até a liberdade. Tradução de Paulo Roberto Maciel Santos. Curitiba: Nossa Cultura, 2012.

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