sexta-feira, 31 de maio de 2024

6 de 100 dias



6. Demos gargalhadas no fim da noite deste sexto dia de minha centena de dias de provável viver. Estamos na colônia de férias do Sindicato dos Professores, na Praia Grande. Estávamos com amigos jogando Master, jogo de perguntas e respostas sobre conhecimentos gerais. Enquanto jogávamos, aprendíamos sobre os mais diversos temas. Também lemos poesias hoje.

Para fechar o mês de maio, corri no cenário que ilustra esta postagem, na orla da Praia Grande. Fiz uma atividade física diminuindo o tempo que marco normalmente no percurso. Durante as corridas do mês, reduzi o tempo no percurso de 5,6K de 44' para 38'36". 

Nos próximos dias, vou fazer exames do quadril para saber como estão os meus desgastes na estrutura de locomoção. Tenho corrido com muita consciência no movimento, para fazer um trote suave. Correndo, melhoro minha condição cardiorrespiratória e circulatória.

Minha irmã está em casa, ainda sem darem a ela o diagnóstico final do que a está debilitando. A suspeita é Chikungunya, e minha irmã acabou de sofrer com uma dengue. É seguir torcendo pela recuperação da Telma.

Enfim, vamos dormir para descansar o corpo e a mente.

William


Diário e reflexões - Maio



Refeição Cultural - Maio

Praia Grande, 31 de maio de 2024. Sexta-feira.


Fechando mais um mês de existência neste pálido ponto azul. Ao reler meu registro de retrospectiva do mês passado (aqui), as questões de saúde da família e as filosofadas que fiz, vi que não houve muita diferença de um mês para o outro. Tivemos problemas de saúde na família neste mês também. Todos vivos, felizmente.

MUNDO

Em relação à sociedade humana, este foi um mês de desencanto, mesmo vendo a rede de solidariedade do povo brasileiro para ajudar os irmãos e irmãs do Rio Grande do Sul. O desencanto é com relação à tendência de futuro. O projeto da extrema-direita e do capitalismo neoliberal, que é tudo a mesma merda misturada, vem se sobrepondo a qualquer ideia alternativa à sociedade capitalista destruidora da vida na Terra: é um cenário de fim do mundo, sem um exército de libertação para nos salvar.

AUTOCONHECIMENTO

Em relação aos meus estudos e leituras, vi filmes muito bons, li mais que o mês passado, e escrevi o dobro de textos em relação ao mês anterior. A média de acessos aos textos no blog foi mantida. Ainda tenho leitoras e leitores de meus textos. É uma honra ter mais de vinte mil acessos por mês ao blog. Saibam que escrevo com muita responsabilidade e baseado naquilo que leio e estudo e nas minhas opiniões políticas e com o conhecimento de mundo que tenho.

BRASIL

Em relação ao Brasil e ao povo brasileiro, minha leitura é pessimista. O governo que elegemos para tentar reverter parte das desgraças produzidas pelos dois governos de merda que tivemos, Temer e Bolsonaro, está acuado, não tem maioria em nenhuma instância política, e não tem uma base de esquerda sindical e política que consiga influenciar e liderar massas populares para evitar a derrubada do governo. Os inimigos já contam os votos para o impeachment, e têm os votos. Por enquanto, segue a manutenção de Lula nas cordas sofrendo humilhações seguidas pelo bolsonarismo, pelo Centrão e pela casa-grande com sua mídia golpista. Isso ajuda na derrota eleitoral, caso não golpeiem Lula antes de 2026.

CUT E PT

Na minha opinião o movimento sindical e partidário deveria se apresentar com bandeiras claras de que tipo de sociedade defende, quais ideias teria para um eventual futuro humano e para o país. Quais as utopias que a CUT e o PT têm para oferecer à classe trabalhadora, aos povos despossuídos e aos segmentos que não compõem o 1% dono de tudo? Na boa, qual a diferença hoje do PT em relação aos demais partidos do país? Sobre o capitalismo, por exemplo? Sobre a terceirização? Sobre a democracia? E a CUT? Quais concepções e práticas sindicais da Central e seus sindicatos hoje são diferentes das outras forças sindicais que combatíamos no passado?

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QUAIS SÃO NOSSAS UTOPIAS? "HUMANIZAR" O CAPITALISMO?

Nós que pensamos um mundo diferente desse que está aí precisamos de lideranças que se apresentem com ideias e ações práticas (que façam o que falam, que tenham coerência) que demonstrem perspectivas de um amanhã que seja diferente do mundo feio e triste para o qual estamos caminhando.

Nossos inimigos estão nos bastidores preparando o terror para nós. Qualquer pessoa politizada com leitura de mundo consegue ver isso. Eu sei que as maiorias esmagadoras das pessoas ao nosso redor não têm visão política dos bastidores da política, porque estão no corre para sobreviver mais um dia, estão alienadas por falta de oportunidade de educação libertadora, e não se politiza uma pessoa com um toque de mágica.

E aí, o que fazer? Vamos "humanizar" o capitalismo? É isso?

William


quinta-feira, 30 de maio de 2024

5 de 100 dias



5. O que fazer numa centena de dias quando se está percebendo o mundo em processo progressivo de desfazimento? Hoje, entendo Drummond quando seus eu-líricos diziam que viver é uma ordem, viver apenas, sem mistificação. Compreendo o poeta. Viver para mim é uma necessidade (e não por mim)!

Eu posso parar as guerras em andamento? Posso interromper o extermínio do povo palestino executado pelos sionistas de Israel? Posso ajudar meus irmãos e irmãs cubanos vivendo carências materiais essenciais sob um bloqueio criminoso por parte do país mais terrorista do mundo, os Estados Unidos? 

Eu posso interromper as humilhações que os inimigos do povo e da classe trabalhadora brasileira e do país estão impondo ao presidente Lula através daquele parlamento com 400 bárbaros comprados com o dinheiro das poucas famílias bilionárias, o 1%, e comprados com o orçamento (inclusive o secreto) do país capturado por aqueles canalhas?

O que está ao meu alcance fazer para frear as injustiças e violências e ignorâncias do mundo no qual estou inserido como um dos participantes da sociedade humana? O que fazer?

Eu não sei.

Nos últimos dias, o que fiz foi me sentar com pessoas com as quais trabalhei e convivi por muito tempo e que considero como amigas para comermos uma pizza e conversarmos. 

Também estou passando uns dias com a família e com amigos na colônia dos professores do Sinpro SP na Praia Grande. Estou conversando com pessoas com as quais se pode conversar ainda. Isso é bom.

Em relação às leituras e textos em andamento, sobre a ideia de ser mais "acabativo", terminei mais um dos volumes do Gen Pés Descalços, História em Quadrinhos de Keiji Nakazawa, um mangá extraordinário que conta ao mundo a tragédia vivida pelo povo de Hiroshima, comunidade humana vítima da bomba atômica lançada pelos Estados Unidos, o país mais terrorista do mundo. Li o volume sete, agora faltam três. (comentário aqui)

Enfim, não estou numa função social atualmente que me permita ou que me facilite a condição para mudar a realidade injusta e perversa da sociedade humana. Isso não é uma desculpa para não fazer nada para mudar a realidade ruim, não é. Mas ainda não me vejo pertencente a um movimento desses muda-mundo.

Se for avaliar criticamente e honestamente, diria até mesmo que os movimentos aos quais participei por um bom tempo em minha vida profissional, movimento sindical e partidário, que já tiveram força para mudar realidades da classe trabalhadora, hoje têm dificuldade para apontar um horizonte e utopias para o povo trabalhador e sem posses.

Se o Partido dos Trabalhadores não for enfático em alguma bandeira que o diferencie dos demais partidos tradicionais, dizendo aos seus filiados, militância e simpatizantes qual sua posição em relação ao capitalismo, por exemplo, terá cada dia mais dificuldade de mudar a realidade do povo trabalhador e sem posses.

É a minha opinião.

Muitas lideranças do PT querem "humanizar" o capitalismo, ao invés de deixar claro que temos que superar esse sistema destrutivo do mundo e do ser humano.

Acho isso foda! Francamente!

Bom, como a vida de todos nós está muito instável, não sabemos se as guerras tomarão conta de tudo e nosso cotidiano será invadido por uma delas, talvez seja bom estar com mais pessoas queridas nessa centena de dias que estou por aí, vivendo, sem mistificações. Conversar com amigas e amigos é bom.

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Ah, sobre a "condenação" do bárbaro Trump, que tomou conta das notícias das mídias no dia de hoje... para mim é nuvem. Nuvem. Não muda nada nos Estados Unidos e não muda nada para os palestinos, para os cubanos, para os venezuelanos, para os chineses, não muda nada em relação ao que a extrema-direita e o 1% estão organizando para inviabilizar qualquer desejo de Lula de desfazer alguns dos crimes de lesa-pátria e lesa-humanidade praticados pelos bárbaros no poder político até 2022: bolsonaristas et caterva da laia deles. Não muda nada. O que vão fazer com Lula e conosco já está traçado pelos 400 bárbaros do Parlamento. O problema é o nosso lado da classe, as nossas lideranças sindicais e partidárias. Nosso lado não está sendo organizado para reagir, resistir e lutar pela nossa ideia de mundo. Nada a ver com o merda do Trump ou o merda do Biden. Nada!

William


quarta-feira, 29 de maio de 2024

4 de 100 dias



4. Vivo um dilema pessoal sobre como levar meus dias. As circunstâncias me permitiriam gozar os dias que tenho pela frente. Gozar num sentido lhano, aproveitar os dias de vida fazendo o que gosto depois de trabalhar quase quarenta anos de minha vida.

Gosto de ler, estudar, escrever. Por décadas de vida adulta, não pude ler e estudar como gostaria porque a vida de trabalhador me consumia as energias na luta diária pela própria sobrevivência. Além de não me ver realizado como pessoa em diversos trabalhos que fiz antes de me tornar trabalhador de empresa pública de economia mista, acabei não fazendo o que pensei fazer na vida.

Quem faz o que gosta e coincide em fazer o que gosta sendo algo bom para a sociedade humana e ou para o planeta Terra deve se sentir bem. Acho que só me senti bem fazendo meu trabalho algumas vezes na vida. 

Quando olho para trás, avalio que atendi decentemente as pessoas nos quase dez anos que atuei nas agências do Banco do Brasil. Também avalio que fiz um trabalho honesto e com repercussão positiva para a vida das pessoas quando fui sindicalista e quando fui gestor de nossa Caixa de Assistência.

Desde que saí da empresa pública onde passei o maior tempo de minha vida adulta, fiz um esforço para preencher meus dias com atividades que me dessem um pouco de prazer pessoal. O tal gozo que disse no início da reflexão. Li algumas dezenas de livros, de diversos temas e áreas do conhecimento humano. E essa atividade cultural foi boa, valeu a pena. 

Entretanto, de alguma forma, esse ganho pessoal não me trouxe felicidade. A consciência do mundo ao meu redor só fez aumentar a minha infelicidade. Talvez esteja me sentindo tão infeliz quanto fui infeliz nos piores momentos do viver. 

É uma infelicidade misturada com gratidão por ser um privilegiado, uma pessoa de sorte. Eu posso fazer hoje as coisas básicas da cidadania, coisas que TODAS as pessoas deveriam poder fazer, mas meus pares da classe trabalhadora não podem. Isso me mata!

De tão deslocado, me sinto infeliz. Talvez por isso fico arrotando revoluções proletárias que sei que não ocorrerão. Talvez por isso fique puto por ver os movimentos organizados do meu lado da classe serem o que são, serem o mesmo que fui, não-revolucionários, reformistas ou conciliadores com os adversários e inimigos. E como os tempos não são mais de conciliação, descarrego minha impotência arrotando revoluções que não estão no cenário político.

Que foda! Que merda!

Ao não me sentir com pertencimento aos movimentos conciliatórios aos quais eu mesmo militei a vida toda, ao perceber que acho quase inútil despender energia convidando a classe trabalhadora para acreditar na política como ela é no Brasil e na democracia de mentira montada pelos donos do poder da casa-grande, vejo que não posso seguir vendendo ideias que acho ilusórias. 

Desde o golpe sem um tiro sequer que depôs a nossa presidenta Dilma Rousseff, uma mulher honesta, aguerrida e democrática, desde aquele fatídico dia 17 de abril de 2016, eu não acredito mais em democracia "liberal", "representativa", nos moldes das democracias do Brasil e dos Estados Unidos, que nada mais são que plutocracias. Não acredito mais nessas democracias de faz-de-conta.

Desde o impeachment de nossa presidenta Dilma, sem luta nas ruas, sem enfrentarmos aquela gente fascista odiosa e cuzona, porque fascistas são cuzões, só em bando se fazem de corajosos, mas são cuzões, desde aquela armação kafkiana "com o Supremo com tudo" eu não acreditei mais na democracia, não queria mais saber dessa mentira do voto.

Avalio que o maior erro de minha vida política foi seguir na política representativa depois daquele impeachment ridículo, com o meu lado da classe trabalhadora aos gritos de frases de autoengano "não vai ter golpe!" "não vai ter golpe!", sabendo que o golpe estava rolando e não estávamos fazendo nada efetivo para impedir o golpe, como o povo venezuelano fez quando deram o golpe em Chaves e o povo o libertou em 48 horas, percebi o quanto nós mesmos éramos também uns sonhadores (ou cuzões), ou péssimos em avaliação de conjuntura.

Eu não deveria ter participado mais de processos eleitorais depois do golpe de 2016. Eu fiz tudo que se deve fazer como representante da classe trabalhadora, mas no fundo eu sabia que os mandatos de nosso lado não eram mais respeitados pelos nossos inimigos. 

Tínhamos que pensar alternativas para lutar pela manutenção dos direitos e conquistas do povo brasileiro de forma mais contundente. Nós deixamos os inimigos abusarem tanto que viramos piada, chacota deles. Montavam lawfare contra nossas lideranças e não sofriam nada com os abusos. Depois de Dilma foi a vez de nosso companheiro Lula passar o que passou e nós de novo não impedimos o que fizeram com nossa liderança que nunca roubou uma agulha, deixamos Lula ser preso e humilhado como "ladrão". O povo tirou Chaves das masmorras em 48 horas. Nós deixamos Lula 580 dias naquela masmorra de merda em Curitiba.

Enfim, acabei lendo, estudando e escrevendo um pouco mais depois que saí de meu dia a dia na empresa pública para a qual dediquei o melhor de minha vida adulta. Mesmo assim, sinto uma coisa esquisita em ficar lendo, estudando e escrevendo e a desgraceira toda rolando ao meu redor contra o povo trabalhador que amo e respeito. Essa impotência me dilacera.

Que fazer nessa centena de dias que vai até dois de setembro (invenção minha de viver de 100 em 100 dias)? Ficar lendo, estudando e escrevendo e seguir vendo as humilhações que estão impondo a Lula naquele antro do parlamento brasileiro? Essa merda aqui não é democracia, nunca foi! Se aqueles trastes votarem a volta da escravidão ou transformarem a Amazônia e o Pantanal em pasto e cimento, a gente vai cumprir a porra da "lei"?

Vai pra casa do caralho com essa palhaçada de ficar discutindo esse lero-lero de fim de mundo imposto a nós por uma ínfima parcela de animais irracionais humanos mortais!

Essas são minhas reflexões ao final do 4º dia dos 100 dias que pensei dias atrás em ver o que faria dessa centena de dias de minha hipotética vida até dois de setembro. Sei lá se minha mente ainda é criativa para mudar o rumo de alguma coisa ao menos na minha vida.

William

terça-feira, 28 de maio de 2024

3 de 100 dias



3. Os altos e baixos da vida. À tarde, ao falar com minha mãe, soube que minha irmã querida está internada desde ontem. Ainda não nos informaram o diagnóstico. Preocupação! As últimas semanas não foram fáceis para nosso núcleo familiar. Quase todos em Uberlândia tiveram seus dias difíceis.

Na última vez em que estive em Uberlândia, dormi na casa da Telma. Ao passarmos horas conversando, disse a ela algo que tenho percebido neste momento do viver e do mundo no qual estamos enfiados. Disse que nós não nos conhecíamos. Que acho que as pessoas quase não se conhecem mais ou nunca se conheceram, mesmo quando acham que conheciam as pessoas de suas relações.

Em poucas horas, contamos um ao outro coisas de nossas vidas passadas que não tínhamos a menor ideia de que aquilo poderia ter acontecido com um e com o outro. Onde estávamos que nunca soubemos o que aconteceu com uma pessoa tão próxima a nós? Estávamos mergulhados em nossos dramas pessoais tentando sobreviver, eu acho.

Vamos torcer para que minha irmã esteja melhor amanhã.

Como disse, a vida é de altos e baixos.

Voltei agora há pouco de um encontro com amigas e amigos do trabalho. Isso é uma coisa boa se considerar que já saí do banco faz cinco anos. Fomos a uma pizzaria aqui do bairro, uma pizzaria que é ponto de encontro há muito tempo dos colegas da Agência Vila Iara do Banco do Brasil.

Noite fria. Corações quentes. Durante nossas conversas fraternas o dia a dia do banco, os filhos e família, os cotidianos de cada um, as dificuldades e as esperanças num amanhã melhor. Adorei ver as amigas do banco falando orgulhosas de seus filhos e filhas. Sempre admirei e respeitei profundamente as mulheres pelo papel organizador do mundo, independente dos papéis que estejam desempenhando. Sem elas, a sociedade humana não teria a menor chance.

Falei o quanto acho injusto o Estado no qual a coletividade vive não ter sido desenvolvido para cuidar de nossas crianças e de nossos idosos e pessoas adoecidas para dar melhor oportunidade às mulheres e homens em idade produtiva de se dedicarem às suas áreas profissionais sem ter que abrir mão delas por não terem quem cuide de seus familiares tanto na infância quanto nas fases maduras da vida.

O Brasil terá cada vez mais pessoas nas faixas etárias maiores e é uma injustiça deixar a ampla maioria do povo por sua conta e risco em relação aos seus familiares idosos ou adoecidos. O Estado nacional deveria ser organizado para estabelecer justiça social e justiça social é igualar as condições de mulheres e homens em relação às oportunidades de trabalho e vida. Em nosso país, as maiorias das mulheres cuidam sozinhas de toda a família, descendentes e ascendentes.

Fica registrada a minha admiração e o meu respeito às mulheres.

Hoje escrevi dois textos com opiniões políticas e culturais em meu blog. Espero que as leitoras e leitores gostem ou que reflitam de alguma forma a partir do que argumentei nos textos. 

É o que fiz nesse terceiro dia da centena de dias que espero viver até dois de setembro. Espero ter vivido o dia dignamente e sem ter piorado o mundo, se não tiver conseguido contribuir com nada que o melhore.

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Ah, ia me esquecendo. Recebi no final do dia, a amostra digitalizada do livro coletivo que participei sobre as mães. Ficou muito legal. Fiz lá minha contribuição, um texto para a minha mãe querida. Nossa editora, a Cleusa Slaviero, é muito boa naquilo que faz. Já imagino como vai ficar legal a edição de minhas memórias sindicais, que ela está editando. Não vejo a hora de levar o livro das mães para a minha mãe.

Essa vida humana é um instante. Estava pensando comigo mesmo. Do mesmo jeito que estamos vivos, num instante não estamos mais. Se desaparecer qualquer hora dessas, espero que só falem de mim quem me considerou de verdade.

William

Leituras Capitais - Nem assim



Refeição Cultural - CartaCapital nº 1311

Osasco, 28 de maio de 2024. Terça-feira.


NEM ASSIM

A matéria principal da revista nos desafia à indignação. E eu me pergunto até que grau a indignação nos move?

"Enquanto as enchentes continuam a castigar o Rio Grande do Sul, o Congresso avança no desmonte das políticas ambientais"

Amigas e amigos leitores, eu serei direto nas minhas argumentações e reflexões sobre a nossa passividade quase bovina em relação a não tomarmos atitude perante as merdas de alguns sujeitos, alguns, porque se somos 200 milhões de pessoas nesta terra e umas duas mil famílias fodem tudo e não impedimos essa gente, é porque permitimos que alguns dos 0,00alguma coisa por cento destruam o nosso mundo.

Destaques da matéria de Maurício Thuswohl:

A culpa é de quem? Passou da hora de apontar as responsabilidades de quem nega as mudanças climáticas e contribui para a devastação dos biomas brasileiros

*A tragédia gaúcha não comoveu a bancada ruralista, que mantém a ofensiva contra as leis de proteção ambiental

*O Observatório do Clima aponta 28 propostas legislativas que podem causar "danos irreversíveis aos ecossistemas"

*As big techs são coniventes com o negacionismo climático que grassa na web

Amig@s, fala sério! É o modelo de organização de nossa sociedade: o capitalismo. Não dá!

E não tem como remediar o que os poucos fizerem em benefício próprio e contra nós milhões, não tem!

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E se formássemos milícias populares de defesa da natureza, independente de limites escriturais, papéis do homem, para proteger a natureza? Esses fdp NÃO TÊM O DIREITO de destruir o NOSSO MUNDO!

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Pela lógica do capitalismo, um (1) cara pode ter o dinheiro de 100 milhões de pessoas e "comprar" uma área do tamanho de um estado e cimentar aquela área inteira. Esse mesmo 1 cara compra os parlamentares que votam a "lei" para ele cimentar a área "dele". Bastam 41 caras de uma casa e uns 342 caras da outra casa legislativa para "aprovarem" uma "lei" que permita tudo a ele.

Vocês aceitam isso? Vocês vão cumprir a "lei"?

Entendem o limite da defesa de nosso mundo em relação à suposta "lei"?

As outras matérias da seção "Capa" vão na mesma linha de denúncia de que os privilegiados no poder econômico e político, comprado pelo poder econômico, seguem impunes e dando as cartas.

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SEU PAÍS 

Aí entramos na seção "Seu País" e lá está ele o "MERCADO" (aqueles poucos fdp que citei acima) agradecidos porque a "parceira" Tebet quer tirar o reajuste dos aposentados da regra do salário mínimo...

Pqp!

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Artigo "Maquiagem corporativa". de Antonia Quintão (p. 25)

Excelente texto da presidenta do Geledés - Instituto da Mulher Negra sobre a forma como o mundo corporativo arranja desculpas para justificar a pouca ou nenhuma participação das mulheres negras em cargos de chefia.

Quando ela criticou os argumentos que usam para dizer que no continente africano já havia regime de escravidão, me lembrei na hora do episódio 2 "A guerra dos Palmares" da série "Guerras do Brasil.doc" (2019). 

Os caras lá falaram sobre isso. Na verdade, a questão de escravizar humanos por motivos culturais - dívidas, derrotas em guerras etc - desde tempos imemoriais não é a mesma lógica do sequestro e escravização dos povos africanos nos últimos séculos para fins econômicos como fatores de produção no mercantilismo e capitalismo.

Ainda na seção "Seu País"...

Temos a matéria "Asfixia financeira" que o carioca governador de São Paulo está fazendo na educação do estado. (p. 26)

"SÃO PAULO - Tarcísio de Freitas apresenta proposta orçamentária com brecha para reduzir a verba da Fapesp em até 30%", matéria de Mariana Serafini

Tristeza geral cada vez que ouço, leio e vejo o que esse bolsonarista está fazendo em nosso estado paulista. Que dureza! Como frear de forma pacífica como agimos o trator desse desgraçado?

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NOSSO MUNDO

A Europa hipnotizada (p. 40)

"O avanço da extrema-direita nas eleições de junho deve impulsionar os partidos nacionalistas em todo o continente"

Essa matéria é um alerta ao que já sabemos: o avanço contínuo dos segmentos fascistas e de ultradireita no mundo. 

Essa seção é uma das que mais gosto na revista.

Depois lemos a matéria sobre o extermínio dos palestinos por parte do governo sionista de Israel. O mundo assiste ao vivo a tomada da terra de dois milhões de pessoas sem frear a máquina assassina dos sionistas.

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PLURAL (p. 48)

Por fim, na seção sobre cultura, adorei a matéria sobre as livrarias. Leiam, está muito legal!

A reportagem de Ana Paula Sousa nos conta sobre o movimento de tentativa de ocupação das ruas por livrarias mais estilizadas e temáticas.

Bem interessante.

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Enfim, eu ganho muito quando consigo ler uma edição completa da revista CartaCapital. Como não fico lendo notícias em sites de mídias que gosto, prefiro ler de uma vez um apanhado geral da semana feito pela equipe do Mino.

É isso! A postagem anterior sobre a leitura de CartaCapital pode ser lida aqui.

William


Vendo filmes (XVII)



Refeição Cultural

Muito do que vejo, leio, ouço, sinto e percebo, olhando para o presente, para o passado e imaginando o futuro sinaliza guerra, guerra total!


Em busca de algo espiritual, alimentos culturais para a essência do que somos, animais da espécie homo sapiens, tenho feito um esforço de sair para ir ao cinema ao menos uma vez por semana. Por enquanto, pegamos uma sequência de filmes catárticos, tensos, daqueles dos quais saímos do cinema cambaleantes.

Vimos desta vez Furiosa. Na semana passada vimos Planeta dos Macacos: O Reinado, e na semana retrasada vimos Guerra Civil. Três pauladas! Comento a seguir minha impressão ao assistir a mais uma história da série Mad Max e também a saga do embate entre homens e macacos.

Sei não... essa quantidade enorme de filmes que apresentam cenários distópicos, de fim de mundo e fim de humanidade, não é à toa. Já sabemos que o que fizemos com o mundo, a emergência climática, fodeu geral a vida no planeta de agora em diante.

Minha teoria antropológica e ou sociológica, não apresentada de forma acadêmica, mas toda desenvolvida em minha mente, me diz que alteramos drasticamente e em muito pouco tempo a mente e o comportamento dos seres humanos nas duas últimas décadas. 

Com o advento das redes sociais concentradas nas mãos de meia dúzia de donos dessas ferramentas - máquinas que usaram e abusaram da neurociência e da psicologia para alterar o comportamento de bilhões de seres humanos -, avalio que não teremos boas chances de interrompermos guerras totais de agora adiante porque os humanos não são mais os mesmos seres racionais que éramos décadas antes.

Assistimos a filmes como Guerra Civil, Planeta dos Macacos e Mad Max num momento no qual um governo de um país decidiu tomar as terras de um grupo de humanos que lá viviam e para isso está exterminando aquele grupo. O genocídio é televisionado e não fizemos nada real para interromper o extermínio do povo palestino.

Assistimos a filmes como Guerra Civil, Planeta dos Macacos e Mad Max num momento no qual costuraram um acordão "com o Supremo com tudo" para livrar alguns fdp que destruíram tudo no Brasil, um juiz ladrão e agente do império que destruiu milhões de empregos e empresas, um ex-presidente e seu clã que destruiu a fauna, a cultura, a sociabilidade num país de 200 milhões de pessoas, fdp que além de enriquecerem sem comprovarem origem dos recursos, são responsáveis por dezenas de milhares de mortes por Covid-19. Não vão punir nenhum tubarão! Só bagre mesmo...

Assistimos a filmes como Guerra Civil, Planeta dos Macacos e Mad Max num momento no qual um estado foi arrasado por eventos climáticos, centenas de milhares de pessoas estão sem segurança ou certeza sobre suas vidas de agora em diante, e os fdp do poder econômico e político estão propondo entre 81 caras e mais 513 caras dividir o mais rápido possível o butim da guerra que empreenderam contra o Brasil dos 200 milhões de miseráveis. Querem fortalecer o capitalismo! Aquele 1% que detém todos os recursos, poderão comprar as praias do país e continuarão podendo cortar todas as árvores e cavucar todo o solo para encher o cu de dinheiro de alguns beneficiários do garimpo onde antes eram biomas cheios de vida. 

Eu fico pensando... se 41 caras e mais uns 342 aprovarem cimentar e asfaltar toda a Amazônia e o Pantanal, o povo do meu país vai ficar discutindo se a "lei" deve ser cumprida ou não? Um cara cimenta o chão da Amazônia e as lideranças da "esquerda" ou "ambientalistas" ficam nos fóruns digitais discutindo se isso é certo ou errado, se se cumpre a lei ou etc.

(fazer um exército e ir para lá formar uma barreira humana armada contra a destruição definitiva do bioma ninguém pensa, né!?)

É ou não é um mundo Mad Max, um Planeta dos Macacos, uma Guerra Civil? Estamos nas mãos de uns merdas do tipo Dementus ou Immortal Joe e meu lado da classe fica discutindo humanizar o capitalismo... é de morrer!

William Mendes

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FILMES

Furiosa - Uma Saga Mad Max (2024) - Direção: George Miller. Com: Anya Taylor-Joy, Chris Hemsworth, Tom Burke.

Sinopse: A jovem Furiosa cai nas mãos de uma grande horda de motoqueiros liderada por Dementus. Varrendo Wasteland, eles encontram a Cidadela, presidida por Immortan Joe. Enquanto os dois tiranos lutam pelo domínio, Furiosa logo se vê em uma batalha ininterrupta para voltar para casa. (sinopse divulgação do filme)

Comentário: um road movie do caralho! O mundo do cenário do filme é o mundo que estamos criando na vida real e que me parece que não teremos líderes capazes de interromper a trajetória coletiva rumo ao caos social e ambiental. 

A saga Mad Max marcou minha geração. Um mundo do salve-se quem puder. Dos sobreviventes do caos. Sobreviventes de um mundo com escassez de recursos energéticos, escassez de recursos básicos à vida humana como água, alimento e sociabilidade. 

Tcham! Um mundo como o mundo que estamos criando na vida real sob a hegemonia do capitalismo e de alguns poderosos donos de tudo, uns fdp que definiram destruir o planeta de todos os seres e ninguém faz nada para interromper as ações desses poucos humanos.

Sobre este episódio da saga, com enfoque na personagem Furiosa, gostei! É doidão como tem que ser um filme Mad Max. Qual líder se deve seguir, o louco da Cidadela ou o louco dos motoqueiros? Não quer seguir nenhum dos dois... sei... vive onde e como, então? Esse é um pouco do dilema daquele mundo. 

Mas por que o mundo chegou naquele momento? Por que ter que escolher entre Dementus ou Immortal Joe? Hã? O que levou o mundo até aquele cenário?

Neste momento no qual escrevo, tem um fdp propondo que uns caras com todo o dinheiro do mundo comprem os 8 mil quilômetros de praia num lugar chamado atualmente Brasil. Tem uns fdp transformando biomas do tamanho de países em pasto ou extensão de soja... e os milhões de gentes e seus pensadores ficam discutindo o sexo dos anjos, se se deve aceitar isso ou não...

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(Post Scriptum)

Mad Max: Estrada da Fúria (2015) - Direção: George Miller. Com: Tom Hardy e Charlize Theron.

Sinopse: Perseguido pelo seu seu passado e por gangues, Max (Tom Hardy), acredita que a melhor forma de sobreviver é não confiar [em] e depender de mais ninguém além de si próprio. Por estar capturado, e sem escolhas, ele se junta a um grupo de rebeldes que atravessa a Wasteland, numa máquina de guerra conduzida por uma imperatriz de elite, Furiosa (Charlize). Este bando está em fuga de uma Cidadela tiranizada por Immortal Joe, de quem algo insubstituível foi roubado. Desesperado com a sua perda, o líder da Cidadela reúne o seu exército e inicia uma impiedosa perseguição aos rebeldes e provoca a mais implacável guerra já vista nas estradas e desertos. (da Wikipedia, com adaptações do blog)

Comentário: amigas e amigos leitores, que legal assistir a esse filme de 2015 e ao filme Furiosa, de 2024! George Miller é um mestre do cinema! Se, por um lado, é verdade que o espectador não precisa ter visto os outros filmes da saga Mad Max para viver a experiência da história de Furiosa, por outro, ter visto Estrada da Fúria e ligar a sequência com Furiosa nos dá uma experiência muito melhor! Demais! Os dois filmes têm uma pegada alucinante, de deixar o espectador sem fôlego, apesar que Furiosa tem um pouco mais de história, de respiro. Não vou me alongar na trama para não dar spoiler. Vejam os dois filmes, se for possível!

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Planeta dos Macacos: O Reinado (2024) - Direção: Wes Ball. Com: Owen Teague, Freya Allan, Peter Macon.

Sinopse: a estória se passa numa época na qual os macacos dominam o ambiente - chimpanzés, gorilas e babuínos -, desenvolveram a linguagem articulada, a fala, e se organizam em clãs. O clã em evidência no filme aprendeu a dominar as águias e elas fazem parte do cotidiano do grupo, inclusive para a pesca. É desse clã Noa (Owen), Soona e Anaya, jovens amigos e futuro do grupo. Após ataque por outro grupo de macacos, Noa terá que libertar seu povo de um líder macaco que está escravizando sua espécie para tentar adquirir tecnologia humana, preservada numa antiga fortaleza. Os humanos que ainda existem, não falam e são como os demais animais na savana. Em sua jornada, Noa terá uma companheira inesperada, uma humana: Nova ou Mae (Freya).

Comentário: gostei do filme, assim como gostei dos filmes anteriores dessa série com décadas de existência. Homens e macacos podem conviver em paz nos mesmos ambientes e disputando a hegemonia do poder político sobre o ambiente?

Os filmes da saga Planeta dos Macacos podem até ser categorizados como puro entretenimento, mas as questões envolvidas nos fazem pensar nas tragédias e comédias gregas, cujos objetivos também incluíam o desejo de educar e mudar os espectadores, através da catarse. 

De que valeu todo o ensinamento ético daquele que seria o responsável pela ascensão dos macacos ao domínio do ambiente sobre as demais espécies, se agora macaco mata macaco, macaco escraviza macaco, macaco quer acesso às tecnologias que os humanos criaram porque ele próprio não tem capacidade para criar aquela tecnologia, enfim, se é assim que as coisas estão no cenário de Planeta dos Macacos: O Reinado, então de nada valeu os ensinamentos e esforços de Caesar no passado. 

E aí voltamos ao problema atual da humanidade: história, educação e ciência para quê? Na minha opinião, os macacos deste filme simbolizam os humanos aderentes às ideias da religião "capitalismo", religião que reúne extremistas de direita, nazifascistas, sofistas enganadores da fé alheia e hordas de gente ignorante de tudo na vida, gente que só espera o apito de algum líder para segui-lo em qualquer sandice que ele aponte (que poderíamos chamar também de "moda").

Não vou me alongar neste comentário. Registro só mais uma imagem que tenho em minhas leituras de mundo pensando a questão da saga Planeta dos Macacos, o embate entre as espécies macacos x humanos, alguma coisa parecida por uma ideia de civilização x barbárie:

No filme, os macacos são a força bruta, o físico. Os humanos são a espécie mais fraca, não podemos sair na mão com os macacos - por isso desenvolvemos ferramentas complementares à nossa fragilidade. Fico pensando os brutamontes do novo mundo de extrema-direita... fico pensando a defesa atual da ignorância, o negacionismo e a perseguição à cultura, à ciência e à educação. 

Em Planeta dos Macacos: O Reinado, não fossem as poucas personagens que conhecem a história, a cultura e a ciência, nada mudaria no desenvolvimento da história. Nem o Clã das Águias sabia da história de Caesar! Felizmente, ainda havia naquele cenário um macaco - um babuíno - que conhecia a história real dos ensinamentos de Caesar, e ainda havia um humano - Mae - que sabia como acessar a fortaleza e "como" funcionam as tecnologias dos humanos. 

Fiquei pensando nos poucos humanos capitalistas que estão destruindo o mundo - uns bostas, alguns milhares de humanos em prejuízo de bilhões de outros - e nos bolsonaristas daqui do Brasil - uma porcentagem maior de gente ignorante e perversa - destruindo nossas chances de desenvolver a ciência, a cultura e a educação... parece que estamos fodidos!

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Amigas e amigos leitores do blog, caso aja interesse em ler o comentário anterior sobre filmes, é só clicar aqui.


segunda-feira, 27 de maio de 2024

2 de 100 dias



2. Abrição de boca, bocejando sem parar. Não é nem meia-noite ainda. Cansado. Voltamos do cinema agora à noite. Terceira semana seguida que conseguimos ir ao cinema. Bom isso! Alimento cultural.

Ontem, enquanto refletia sobre minha vida, o que incluiu pensar minhas relações com o mundo e algum tipo de busca de satisfação ou entendimento pessoal, vi que me encontro num momento da vida parecido com o que vivia nas primeiras etapas da vida adulta. 

Parecido, mas diferente. Naquela época, vivia tempos de fúria, de incertezas sobre o futuro nas questões mais comezinhas do viver de um membro das classes subalternas de um dos países mais injustos e desiguais do mundo. Num determinado momento de crise, inventei um jeito de ir vivendo dia a dia. Não tinha nem trinta anos de idade. E fui vivendo.

Hoje, reflito sobre incertezas a respeito do futuro em condições diferentes das condições daquela época. Tenho certa segurança e regularidade em relação à vida social e econômica, tenho perspectivas de pagar em dia as despesas do viver. Essa condição veio após quase quarenta anos de venda de minha força de trabalho como uma pessoa que nasceu no seio das classes inferiores socialmente.

Refleti ontem sobre minha saúde. Ou melhor, sobre minha não-saúde, sobre minha condição de perda da condição de saúde. Cada roteiro de vida é único e com ele vem as consequências do percurso. Imagino que o meu percurso foi foda. Agora é hora de fazer os remendos que forem possíveis no meu tecido esgarçado.

Enquanto corria no parque, pensei em viver a cada 100 dias perseguindo algo possível de se alcançar ou realizar nesse curto espaço de tempo. Eu efetivamente não vejo com clareza como será o nosso Natal. Já escrevi sobre isso. Não quero e avalio que não posso deixar de estar com minha mãe nesta data. No entanto, sei que colocar todos juntos no mesmo local e data não será simples. 

Por mais que estejamos chegando ao meio do ano civil, pensar dezembro está meio esquisito para mim. E o mundo então? Minha visão de mundo com a formação que tenho tem me deixado desesperançoso em relação à minha espécie, a única que pode ser educada, como diz Paulo Freire. Quem quer e quem querendo pode ser educado hoje?

Se chegar ao dia dois de setembro, 100 dias a partir de ontem, o que poderia ter feito até lá? No final da reflexão de ontem, avaliei que poderia tentar ser mais "acabativo" porque sempre comecei trocentas coisas e acabei poucas delas. Acabativo...

Foi pensando nisso que peguei para acabar a coleção de dez volumes do clássico Gen Pés Descalços, mangá ou História em Quadrinho (HQ) de Keiji Nakazawa. Uma história porrada sobre a bomba atômica lançada sobre Hiroshima e os efeitos da guerra e da radiação nas vítimas, principalmente civis. Comecei a ler a história da família Nakaoka lá no final de 2022 e até agora só tinha lido cinco volumes. Decidi ler todos os que faltam em sequência e de ontem para hoje já li o volume 6 (comentário aqui).

Quem sabe assim, não tento me tornar mais acabativo nesses 100 dias de vivência neste mundo de instabilidade crescente em meu país e nos países todos deste planeta em destruição acelerada e sob comando de alguns poucos homens fdp. E que nenhum acidente vascular ou infarto ou doença ruim dê cabo de mim, torço por isso!

Não sei se vivi tudo o que poderia viver neste segundo dia de uma centena de dias. Não fiz nada que mudasse o mundo. Mas não sei se é pra tanto a minha vida. Percebi o básico: como santo de casa, não faço milagre algum. 

William


Leitura: Gen Pés Descalços (6) - Keiji Nakazawa



Refeição Cultural

Gen Pés Descalços

Volume 6


Retomei a leitura do clássico japonês Gen Pés Descalços, de Keiji Nakazawa. O mangá foi lançado em 1973 e a tradução brasileira é de Drik Sada, publicado em dez volumes no Brasil a partir de 2011 pela Conrad. Ganhei a coleção de presente de meu filho.

O mangá conta a história da família Nakaoka, residente em Hiroshima, e os fatos se passam a partir de um momento anterior ao lançamento da bomba atômica e segue narrando o drama do povo japonês nos anos seguintes à derrota do Eixo na 2ª Guerra Mundial e após as duas bombas lançadas pelos EUA em Hiroshima e Nagasaki.

A dramaticidade é muito impactante para os leitores, tanto pela qualidade excepcional dos traços de Nakazawa quanto pelo próprio enredo. Vale lembrar que a história é muito real, pois o autor é um sobrevivente da bomba e tinha seis anos quando Hiroshima foi destruída pelos norte-americanos. Só sobreviveram Keiji e sua mãe.

Sejamos fortes como
o trigo pisoteado.

VOLUME 6

Nesta parte da história de Gen vemos a dificuldade do povo japonês em sobreviver em um país ocupado pelo inimigo vencedor e o que impera no cotidiano é a miséria, a fome, a injustiça e a violência nas relações entre as pessoas, tanto a forma rude como são tratadas as pessoas do povo, como a maldade estabelecida no coração de quase todo mundo. O comum é o "cada um por si" e ninguém ajuda ninguém.

A ordem estabelecida é o capitalismo. Dinheiro é o deus e o salvador para tudo. Todas as relações são relações capitalistas, tudo é mercadoria. Um dos momentos mais marcantes neste volume é a decisão do pequeno Ryuta para conseguir dinheiro para salvar a mãe de Gen que precisa de atendimento médico.

Gen é uma exceção à regra, um rapazinho de bom coração e que está sempre tentando cuidar dos seus e ainda ajudar as pessoas com problemas. Os temas que são abordados no mangá são bem pesados: violência, suicídios, exploração humana e maldade gratuita são alguns deles.

Neste volume, vemos a vida cotidiana no Japão após três anos da derrota e do lançamento das bombas atômicas. O garoto Gen faz de tudo para conseguir alguns trocados para alimentar sua mãe, irmão e amigos. E até o dono do ferro velho que compra tudo que Gen consegue nos escombros dá um jeito de explorar e pagar valores irrisórios ao rapaz.

A história é muito dura! Mas é uma narrativa importantíssima em tempos de autoritarismo, de ascensão da extrema-direita no mundo e de guerras de extermínio como temos visto na Palestina, com centenas de milhares de crianças, mulheres e civis árabes palestinos sendo dizimados impiedosamente pelas bombas dos sionistas do governo Netanyahu.

O cenário de destruição, morte, fome e sede que estou lendo em Gen Pés Descalços é o cenário do cotidiano de dois milhões de palestinos na Faixa de Gaza. 

O mundo viu as consequências para o povo japonês das decisões políticas do imperador ao se aliar aos nazistas e fascistas. Viu as consequências por décadas do lançamento da bomba atômica sobre uma população civil e as mortes instantâneas e por câncer décadas seguidas.

Guerra é uma merda! Nazifascismos e autoritarismos antidemocráticos são uma merda!

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Chama muito a nossa atenção na história e cenário de Gen Pés Descalços a condição das vítimas da guerra, em especial a condição das crianças e das mulheres: pessoas mutiladas, desamparadas, adoecidas e maltratadas pelos homens naquele contexto rude do pós-guerra.

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Para as pessoas que estudam, sabemos disso olhando o passado. E a sociedade humana não aprende nada com a história, estamos caminhando para a repetição de tudo que o mundo viveu com as guerras do século passado.

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PEDRAS NO CAMINHO

Simbolismo: além da marca simbólica do sol nos desenhos de Nakazawa, apontando a passagem do tempo, o símbolo do país - terra do sol nascente - e a própria bomba e o calor de mil sóis, vemos algumas vezes neste volume o tropeço ou o chute em uma pedra no caminho de Gen ou de Ryuta. Há que se resistir às pedras no caminho...


Vamos para o próximo volume de Gen Pés Descalços. Caso haja interesse das leitoras e leitores do blog em ler os comentários anteriores sobre essa leitura de Keiji Nakazawa, é só clicar aqui para ler o primeiro texto e os seguintes. 

Para ler sobre o volume 7 é só clicar aqui.

William Mendes


domingo, 26 de maio de 2024

1 de 100 dias



1. A mão estava formigando. Já não bastam as dores no quadril? Já não basta a falta de bunda pra ler e escrever por algumas horas ao dia?

Como sou um dos privilegiados no país que tem um plano de saúde, comecei a fazer uns exames. Vou fazer a minha parte já que ainda tenho pessoas que dependem de mim.

Fui num capitalista dermatologista para ver se algumas suspeitas minhas de manchas na pele não eram nada sério. Não eram. Uma pomadinha numa delas e tudo bem. No fim de 2021 me tiraram um carcinoma basocelular do topo da cabeça. Sou um cara de sorte. A coisa ruim foi descoberta por acaso.

Fui fazer uma consulta com um capitalista especialista em quadril. Faz mais de cinco anos que descobri desgastes na estrutura do quadril. Foi uma descoberta muito triste. Uma merda. O médico que fui agora me explicou alguma coisa sobre uma possível cirurgia, quando e se necessário. Vou fazer uns exames de imagem para ver o estrago atual. É recomendado fazer musculação na região. Eu sei disso desde criancinha... mas não faço o que deveria.

Tive uma sarcopenia acentuada nos últimos anos. Quando crianças somos parecidos nas etapas do desenvolvimento e crescimento, em condições normais, claro. No envelhecimento, somos únicos, cada um traz uma genética, uma vida percorrida, uma condição do viver registrada no corpo. Apesar de ter praticado algum tipo de esporte a vida inteira, eu resumiria o percurso do uso do meu corpo como algo absurdamente extravagante. Meu corpo sofreu violências e excessos muito acima da média da minha espécie. Agora é hora de colher os efeitos do abuso.

Não tenho mais objetivos semelhantes aos que tinha quando estava nas outras etapas da existência, pessoais ou coletivos, não desempenho mais os papéis sociais que desempenhei - fui um cara de sorte e tive a oportunidade da formação política durante minha vida laboral -, não sonho mais um monte de futilidades que sonhava quando era pouco politizado. Eu poderia ter um papel um pouco mais produtivo coletivamente, mas não tenho. Cansei de me sentir disponível para contribuir num mundo onde cagam para uma hipotética contribuição minha. Já me senti muito mal por isso. Foda-se.

Quando desci para a academia do condomínio para fazer uns exercícios para fortalecer meu quadril, o aparelho principal estava desmontado, em manutenção. Acabei saindo para correr no parque e fiz uma atividade forte para minha condição atual, diminuí dois minutos o tempo que faço naquela distância que corri (5,6K). Minha frequência cardíaca foi a 203 no auge. Um pouquinho a mais que o teto quando corro. Enquanto corria, pensei de novo em como mudar alguma coisa em meu cotidiano insatisfatório, ruim, que me coloca abaixo do chão. Vou experimentar alguma coisa diferente. Tenho que viver o dia como se fosse o último, até porque pode ser mesmo o último, meu e de todo mundo.

O que poderia fazer nos próximos 100 dias? Como poderia ajudar algumas pessoas que ainda fazem parte de minha relação do viver? Não se pode ajudar quem não queira ajuda. Como poderia ajudar a coletividade? Como superar o mal-estar que sinto em relação à política em meu mundo? "Meu mundo" seria algo como o movimento sindical e político ao qual não faço mais parte, algo como o próprio país onde nasci e vivo, e para o qual militei por mais de duas décadas como um político com mandato de representação. Estou tão fora de tudo e tão sem pertencimento a algo, que sequer posso votar no Daniel Kenzo num eventual PED do PT Butantã e na Luna Zarattini para um mandato de vereança em São Paulo. Sou de Osasco e eles da capital paulista.

Talvez deva diminuir meu contato virtual e presencial com esse mundo político ao qual não faço mais parte. De alguma forma, isso me lembra o tempo todo que não faço mais parte daquilo. Eu não esqueci o que sei, mas isso não faz diferença alguma. Preciso fazer algo por mim para seguir procurando algo de útil onde me encaixe

Minha cabeça política atual fica martelando revoluções que não vou fazer, com um corpo definhando fico cobrando uma revolução pau a pau com os inimigos armados e não é coerente de minha parte essa atitude. Se acho que o meio político de onde vim é cuzão, eu sou um cuzão. Óbvio isso! Minha formação política é toda a partir da conciliação de classes. Se tenho a leitura política que acabou o tempo de conciliação, não é coerente cobrar que o grupo que nunca foi revolucionário passe a ser de uma hora para outra. Estamos danados... de onde vim não vai sair enfrentamento algum à extrema-direita da forma como minha mente fica arrotando hoje. Não vai.

Enfim, tenho que procurar meu caminho. Tenho que fazer a minha parte e adiar o fim do meu mundo único, meu corpo, para estar disponível para algumas pessoas de minha relação. 

Bem provável que vá diminuir minha pouca presença nos espaços políticos aonde ia. Sei que é importante ser mais um até para fazer volume na parca luta da esquerda. Tenho toda a admiração do mundo pela militância que faz mais que os comuns. Mas estou me sentindo mal faz muito tempo com a situação na qual me peguei nos últimos anos. O esforço de escrever o que sei, estudo e penso até tem me mantido. Sem essa atividade, talvez já tivesse virado pó e micróbios.

Vou viver de 100 em 100 dias. Hoje saí e corri para sobreviver. O que será que consigo fazer no campo pessoal em 100 dias? Não sei. Minha vida foi tão diferente do que imaginei um dia, que não sei nem por onde começar. E sou um cara de sorte, como sou!

Vou pensar em algo para perseguir por 100 dias a partir de hoje.

Nunca fui "acabativo" na vida. Sempre fui "iniciativo". Comecei milhares de coisas, terminei poucas delas. Deveria ser mais acabativo. Não sei nada do amanhã, que dirá dos próximos 100 dias.

William


Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 26 de maio de 2024. Domingo. 135 anos depois da publicação do texto de José Martí "Las ruinas indias", do livro Edad de Oro


"(...) Hubo sacrificios en masa, como los había en la Plaza Mayor, delante de los obispos y del rey, cuando la Inquisición de España quemaba a los hombres vivos, con mucho lujo de leña y de procesión, y veían la quema las señoras madrileñas desde los balcones. La superstición y la ignorancia hacen bárbaros a los hombres en todos los pueblos." (Martí, p. 520)


SUPERSTIÇÃO E IGNORÂNCIA 

A superstição e a ignorância fazem bárbaros aos homens e mulheres de todos os povos.

José Martí afirmou isso em agosto de 1889. Eu afirmo isso em maio de 2024. Lógico que não é preciso ser nenhum sábio como Martí para perceber isso que se afirma. Um sujeito mediano e alfabetizado como eu consegue perceber a questão, basta saber ler o mundo. Basta não querer enganar aos outros e a si mesmo.

Olhando a história e observando as perspectivas atuais, não é difícil imaginar, numa data futura, a mim mesmo ou a alguém que vê o mundo como eu e com algumas décadas a menos de vida, sendo martirizado aos olhos dos espectadores adoradores de alguma das religiões dominantes num lugar chamado Brasil já dominado por essa gente que hoje cresce em domínio da mente das massas. 

Alguns séculos atrás é nada para vermos a humanidade em movimento. Nossa espécie faz isso, martirizar e sacrificar semelhantes, há milênios.

Há oitenta anos nossa espécie estava queimando milhões de pessoas em alguns lugares da Europa. Durante muito tempo, as pessoas comeram de talheres em suas salas sabendo que tinha gente sendo queimada e faziam de conta que não sabiam ou que aquilo não era problema delas.

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DESCRENÇA NA MINHA ESPÉCIE, APESAR DE NÃO SER DETERMINISTA

Apesar de já conhecer alguma coisa de José Martí e Paulo Freire, duas figuras humanas extraordinárias, humanos que acreditavam na educação e cultura como ferramentas de construção de seres humanos capazes de alterar a realidade insatisfatória e criar sociedades melhores para todos, me encontro pessoalmente num momento de descrença no presente e no futuro de minha espécie. 

Não sou determinista, entendi o ensinamento do mestre Freire, mas minha leitura de mundo, uma leitura de conjuntura e contextos históricos, me faz ter uma leitura desesperançosa do presente e do futuro de minha espécie e por conseguinte de diversas espécies viventes nos biomas nos quais o homem habita e destrói.

A leitura desse texto LAS RUINAS INDIAS de José Martí, descrevendo a diversidade e a riqueza material e intelectual dos povos que habitavam as Américas e que foram destroçados pelos povos que habitavam a Europa e que aqui chegaram para se apossar das terras dos que aqui estavam, e a própria descrição de Martí nos contando que os povos daqui também faziam isso uns com os outros, me fez pensar na "normalidade" de tudo o que se passa neste momento na terra onde habito, um lugar chamado atualmente de Brasil.

Não é "normal" a barbárie do capitalismo neoliberal, o fascismo do bolsonarismo, não é normal. Mas é fato o poder dos donos dos meios capitalistas de normalizar a barbárie. Infelizmente.

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"De Cholula, de aquella Cholula de los templos, que dejó asombrado a Cortés, no quedan más que los restos de la pirámide de cuatro terrazas, dos veces más grande que la famosa pirámide de Cheops. En Xochicalco solo está en pie, en la cumbre de su eminencia llena de túneles y arcos, el templo de granito cincelado, con las piezas enormes tan juntas que no se ve la unión, y la piedra tan dura que no se sabe ni con qué instrumento la pudieron cortar, ni con qué máquina la subieron tan arriba..." (p. 523)

Vejam essa descrição de Martí e pensem agora alguém descrevendo num eventual futuro a antiga Faixa de Gaza... algum eventual sábio como Martí (se ainda houver) contando sobre os povos milenares que ali viveram, árabes palestinos, com sua cultura e construções etc.

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BRASIL DA SUPERSTIÇÃO, DA IGNORÃNCIA E DA IMPUNIDADE

Surpresa alguma ver os acordos para manter numa boa sujeitos como o marreco de Curitiba - um agente do império que fode com nossa terra e nossa gente e ainda é aclamado por milhões -, o clã de genocidas e milicianos do Rio de Janeiro - nenhum deles será preso e podem barbarizar o quanto quiserem -, os homens livres e inimputáveis com carros que custam um milhão de moedas que matam pobres ou arrancam a perna das pessoas miseráveis por dirigirem bêbados etc. Surpresa alguma. Sei ler o mundo.

Surpresa alguma ver o trator passando por cima de nosso estado de São Paulo, pisoteando e martirizando pobres, pretos, estudantes, o trator do fascismo cagando e andando para as manifestações pacíficas de nosso lado. O inimigo está armado, o inimigo manda nas forças repressivas e estimula a violência contra nossos corpos... não somos nada a não ser alvo, mira. Não vamos vencer nossos inimigos com flores, palavras, ideias. Esse tempo passou. Ou reagimos com as mesmas armas ou seremos os povos descritos por José Martí antes da chegada dos homens com armaduras e armas letais.

Minha repreensão, minha cobrança, vai para aquelas pessoas físicas e jurídicas que deveriam politizar a minha classe e não alienar o meu lado. Isso me dá raiva! Tem horas que fico enojado da gente que se diz de "esquerda" ficar iludindo e enganando a massa miserável do meu lado da classe. Meus ex-companheir@s e meus jornalistas preferidos chamam até por apelido o fdp da Corte burguesa feita para favorecer os donos do poder e foder com a nossa vida como há séculos. Mas, e daí? Que diferença isso faz lá fora, lá fora de minha casa, fora de meu corpo?

Acho que os sinais estão claros para mim. Sinais de meu corpo, sinais que vêm lá de fora. É hora de tentar compreender os sinais, ler o mundo e o meu mundo. Acho que não quero mais. Não quero mais participar dessa enganação da gente do meu lado que não acorda o povo para a luta de vida ou morte contra os donos do poder, que não querem conciliar porra nenhuma com o nosso lado. Tínhamos que ir para a guerra total com esses desgraçados. Se for esperar o meu lado reagir, não vai sobrar um de nós. E acho que não vai sobrar mesmo.

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"(...) Hay piedra en que un hombre en pie envía un rayo desde sus labios entreabiertos a otro hombre sentado. Hay grupos y símbolos que parecen contar, en una lengua que no se puede leer con el alfabeto indio incompleto del obispo Landa, los secretos del pueblo que construyó el Circo, el Castillo, el Palacio de las Monjas, el Caracol, el pozo de los sacrificios, lleno en lo hondo de una como piedra blanca, que acaso es la ceniza endurecida de los cuerpos de las vírgenes hermosas, que morían en ofrenda a su dios, sonriendo e cantando, como morían por el dios hebreo en el circo de Roma las vírgenes cristianas, como moría por el dios egipcio, coronada de flores y seguida del pueblo, la virgen más bella, sacrificada al agua del Nilo. ¿Quién trabajó como el encaje las estatuas de Chichén-Itzá? ¿Adónde ha ido, adónde, el pueblo fuerte y gracioso que ideó la casa redonda del Caracol; la casita tallada del Enano, la culebra grandiosa de la Casa de las Monjas en Uxmal? ¿Qué novela tan linda la historia de América!" (p. 526)

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Inteligência, ainda tem na minha espécie. Ainda somos animais passíveis de sermos educados: só se educa gente, nos ensina Paulo Freire. Habilidade, ainda temos. Eu acho que nos faltam líderes. Líderes que compreendam os novos tempos e que tenham desejo verdadeiro de salvar a humanidade e a vida no planeta DERROTANDO nossos inimigos, que estão dispostos a nos derrotar. É uma guerra de vida ou morte. A perspectiva atual é de morte. Mas a vida é sempre uma alternativa. E aprendi que viver é bom, viver é uma oportunidade diária. Mas pra viver temos que derrotar nossos inimigos, que atuam para nos eliminar. É só olhar a história!

Não sei do amanhã. Mas sei que não tenho mais pertencimento a esses grupos que pregam a alienação ao meu lado da classe.

Cheio de alienações.

William


Bibliografia:

Martí en su universo - Una antología. Edición Conmemorativa. Real Academia Española y Asociación de Academias de la Lengua Española. Impreso en Barcelona, 2021.


quinta-feira, 23 de maio de 2024

Os miseráveis - Victor Hugo (XII)



Refeição Cultural

Osasco, 23 de maio de 2024. Quinta-feira.


Os miseráveis. Que denominação mais certeira essa do escritor Victor Hugo para descrever a condição das massas humanas reunidas em sociedades organizadas sob a ideologia do dinheiro, do capital, as sociedades capitalistas!

Aglomerações humanas de miseráveis, convivendo com uma pequena parcela de privilegiados. Sociedades capitalistas são sociedades de privilegiados. Desde o início dessa forma de organização das sociedades, o privilégio de poucos é a regra no e do capitalismo.

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Comecei a leitura do clássico de Victor Hugo no ano de 2023, sabendo que a leitura de uma obra de mil e quinhentas páginas seria uma leitura lenta, como se fosse uma novela ou série com centenas de episódios. Assim será a minha leitura de Os miseráveis. Lenta. Não tenho pressa. Vou sofrer lentamente com o martírio das personagens. Já sofro assim ao perceber o mundo ao meu redor.

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Durante a leitura da Parte 1 "Fantine", dos livros I (Um justo), II (A queda) e III (No ano de 1817) fiz postagens com alguns dados da narrativa, e com algumas reflexões. As postagens trazem informações essenciais sobre o romance. Pena que as postagens de literatura não são as mais acessadas no blog. As pessoas preferem outros tipos de textos.

Como o objetivo do blog desde o início é compartilhar conhecimento e cultura, vou ler Os miseráveis fazendo postagens a partir das leituras do livro. A primeira postagem, com link para a postagem seguinte, pode ser lida clicando aqui.

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PRIMEIRA PARTE - FANTINE

LIVRO IV: CONFIAR É, ÀS VEZES, ENTREGAR


I. Uma mãe encontra outra

"Fantine ficara só. O pai de sua filha estava longe - infelizmente esses rompimentos são irrevogáveis -, ela viu-se absolutamente isolada, com o hábito do trabalho a menos e o gosto pelo prazer a mais..." (p. 190)

Hoje dei sequência à leitura do clássico de Victor Hugo. Já havia conhecido o Monsenhor Bienvenu, Jean Valjean e Fantine. Agora conheci a pequena Cosette, ou a Cotovia.


"Teve a ideia de regressar a sua cidade natal, Montreuil-sur-Mer, onde talvez alguém a conhecesse e lhe arranjasse trabalho. Sim, mas precisava ocultar sua falta. E entrevia confusamente a possível necessidade de uma separação mais dolorosa ainda do que a primeira. Ficou com o coração apertado, mas decidiu. Fantine, como veremos, tinha a bravura feroz da vida. Já havia renunciado resolutamente à aparência, vestindo-se de chita e colocando toda a sua seda, os seus enfeites, fitas e rendas sobre a filha, única e santa vaidade que lhe restara (...) Aos vinte e dois anos, em uma bela manhã de primavera, deixava Paris, levando a filhinha. Quem quer que as visse passar, teria compaixão. Aquela mulher só tinha aquela criança no mundo e aquela criança só tinha aquela mulher no mundo. Fantine amamentara a filha, o que havia cansado seu peito, ela tossia um pouco." (p. 191)

A qualidade da crítica de Victor Hugo na forma como ele narra os acontecimentos do romance é impressionante! 

É difícil não sofrermos com os acontecimentos em alguns momentos dos três capítulos nos quais nos são apresentados Cosette, o casal que ficará com ela de forma provisória a pedido de Fantine e a condição miserável na qual é colocada a pequena Cosette.

Ao ver a condição de Fantine e Cosette, vemos milhões de mães colocadas em condição semelhante pelos homens donos do poder nas sociedades capitalistas, cuja base das ideias e dos costumes é a propriedade do dinheiro.


"Cosette, leia-se Euphrasie. A pequena chamava-se Euphrasie, que a mãe fez Cosette por esse doce instinto das mães e do povo, que faz de Josefa, Pepita e de Françoise, Sillette. Este é um gênero de derivados que atrapalha e desconcerta toda a ciência dos etimologistas. Conhecemos uma avó que conseguiu fazer de Théodore, Gnon." (p. 193)

O tempo todo, o narrador faz essas observações inerentes às mais diversas dimensões da vida social francesa daquele momento histórico no qual se passam os acontecimentos no romance.


II. Primeiro esboço de duas figuras suspeitas

"Essas pessoas pertenciam àquela classe bastarda, composta de gente grosseira que subiu na vida e de gente inteligente decaída, que está entre as chamadas classe média e classe inferior, e que combina alguns dos defeitos da segunda com quase todos os vícios da primeira, sem ter o generoso impulso do operário, nem a honesta ordem do burguês." (p. 195)

Viram a intensão de análise antropológica e sociológica de tipos daquela sociedade francesa no ano de 1817?


"De resto, diga-se de passagem, nem tudo é ridículo e superficial nessa curiosa época à qual aqui fazemos alusão, no que poderíamos chamar de anarquia dos nomes de batismo. Ao lado do elemento romanesco, que acabamos de citar, existe o sintoma social. Não é raro hoje em dia que um vaqueiro se chame Arthur, Alfred ou Alphonse, e o visconde, se é que ainda há viscondes, Thomas, Pierre ou Jacques. Este deslocamento, que dá ao plebeu um nome 'elegante', e um nome camponês ao aristocrata, nada mais é que um borbulhar de igualdade. A irresistível penetração do novo sopro está nisso como em tudo o mais. Sob essa aparente discordância, existe uma coisa grande e profunda: a Revolução Francesa." (p. 197)

O narrador aproveitou a crítica que fez aos nomes das filhas do casal Thénardier, Éponine e Azelma (que quase se chamou Gulnare), para tecer um comentário a respeito das mudanças oriundas da recente Revolução Francesa em relação ao tempo histórico da história do romance.


III. A Cotovia

"Na aldeia a chamavam de Cotovia. Agradou ao povo, que gosta de imagens, denominar assim aquela criaturinha, pouco maior que um passarinho, trêmula, assustada, medrosa, primeira a se levantar toda manhã, não só na casa, mas em toda a aldeia, e sempre na rua ou nos campos antes da aurora. Mas a pobre Cotovia jamais cantava." (p. 199)

É uma dureza saber o que o casal Thénardier faz com a pequena Cosette sem o conhecimento de sua mãe, Fantine, que paga religiosamente valores mensais para que a filha seja criada enquanto ela não pode ir buscá-la.

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COMENTÁRIO FINAL

Enfim, retomei a leitura do clássico de Victor Hugo, um romance de temática bastante atual no ano de 2024, a considerar os bilhões de miseráveis do mundo hegemonizado pela ideologia capitalista.

A cada página que leio mais me convenço do ensinamento de Italo Calvino sobre os clássicos: é melhor ler que não ler os clássicos!

Seguiremos lendo.

William Mendes


Bibliografia:

HUGO, Victor. Os miseráveis. Tradução de Regina Célia de Oliveira. Edição especial. São Paulo: Martin Claret, 2014.

domingo, 19 de maio de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 19 de maio de 2024. Domingo.


JOSÉ MARTÍ

A efeméride do dia é sobre José Martí, o apóstolo da libertação de Cuba. Rendo minha homenagem a essa figura humana extraordinária! Martí faleceu em combate no dia 19 de maio de 1895, aos 42 anos de idade, quando liderava o povo cubano nas lutas de independência do domínio espanhol.

Para marcar a data, li um de seus textos na obra "La Edad de Oro". O texto "Tres Héroes" nos conta sobre homens que marcaram a nossa história de independência em relação ao jugo europeu: Simón Bolívar, da Venezuela, San Martín, do Rio da Prata, e Hidalgo, do México. No artigo, Martí descreve os feitos e a liderança desses libertadores das Américas.

Viva Martí! Viva a liberdade e autonomia do povo cubano e dos povos de Nuestra América!

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AABB - ESPORTE E SAÚDE

Hoje participei da 16ª Corrida da AABB SP.

Já fazia um tempo que eu não participava desse evento esportivo importante no calendário de nossa Associação Atlética do Banco do Brasil. 

Me lembro das primeiras edições das corridas, quando estimulava a participação de uma equipe de pessoas do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região.

Só tenho elogios à organização e ao clube. Nesta prova de hoje, o percurso foi de 5,6 Km e tivemos também equipes de revezamento e uma caminhada.

Na minha atual condição de dores na estrutura do quadril, fico feliz de ainda poder completar um percurso de corrida, mesmo que seja num trote lento e contínuo. Sou natureza e como tal enfrento hoje as consequências do existir. Cada percurso de um ser vivo é único.

No final da prova, não faltaram frutas e sucos e toda estrutura de apoio aos participantes. Foi bem legal.

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ESTUDOS E PRODUÇÃO TEXTUAL

Nesta semana que passou, tentei minimamente estabelecer uma agenda de leitura e estudos. Percebi como tenho dificuldade de controlar de forma satisfatória o tempo. O tempo...

Defini que durante a semana gostaria de avançar nas leituras de alguns livros e textos, que iria estudar alguns temas e escrever um pouco também. Fiz cinco textos na semana e estudei um pouco a Cassi, nossa Caixa de Assistência da comunidade BB.

Um dos objetivos de produção textual deu trabalho e não consegui finalizar a tarefa: a revisão das 140 páginas dos meus textos de memórias sindicais para a edição impressa de um pequeno livro. Quase acabei a revisão, mas ainda faltam umas vinte e poucas páginas. 

Para retomar a leitura do clássico de Victor Hugo, Os miseráveis, estou relendo todas as postagens que fiz ano passado no blog sobre a obra. As postagens estão muito boas, modéstia à parte. Mas não terminei a leitura de todas elas. (post scriptum: terminei no dia seguinte de manhã. Interessados podem ler as onze postagens aqui, cada uma tem um link para a seguinte)

Os livros sobre José Dirceu e Frei Betto estão nos objetivos de leitura também. Os livros são enormes, os dois somam mil páginas... é trabalho de fôlego.

E pretendo ler e falar sobre a nossa Caixa de Assistência todas as semanas. É algo que tenho conhecimento e tem dias que me sinto na obrigação de falar algo a respeito. Os textos nos blogs são contribuições. Lê quem tiver interesse. A série que farei sobre a Cassi será no blog A Categoria Bancária (link aqui).

Por fim, tenho que ter disciplina para trabalhar na revisão e impressão de meus textos nos blogs. São mais de cinco mil textos e uma parte deles tem valor. Venho trabalhando na revisão e impressão faz tempo, mas devo ter disciplina. Já tenho alguns cadernos impressos. Falta muiiiito ainda.

Enfim, vamos para mais uma semana de vida. Avalio que escrever seja algo de útil de minha parte em relação à sociedade humana à qual pertenço. Duas coisas chamam a minha atenção: meus olhos e minha capacidade de locomoção. Não sei até quando terei essas habilidades centrais na minha vida. Ver e caminhar. O amanhã não existe, a não ser que eu acorde nele. E quero acordar vendo e andando.

Como é bom ver e como é bom andar. Aproveitem essas habilidades vocês que às têm. Leiam, olhem com atenção e caminhem.

É isso!

William Mendes