segunda-feira, 24 de junho de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 24 de junho de 2024. Inverno com o calor do mundo fritando.


A DESORDEM MUNDIAL

O título de minha reflexão é o mesmo título do livro de Moniz Bandeira (que já li, por sinal: ver comentário aqui), mas que culpa tenho eu se esse é o melhor grupo de palavras que pesquei no reino das palavras (como dizia Drummond) para expressar um pouco do que tenho avaliado ao observar o mundo ao meu redor?

Vivemos uma verdadeira desordem mundial. Desordem cognitiva, afetiva, social, jurídica, econômica, política, ambiental etc. Estamos sob a era da desordem mundial. E isso é grave! Se quisermos ter alguma chance de vida, temos que mudar a ordem, a tendência, o rumo das coisas.

CENAS COTIDIANAS

As conversas de elevador têm sido cada dia mais desconexas, como se um marciano falasse com um terráqueo, ou um terráqueo com um jupteriano: pergunto a um conhecido sobre a cachorra deles. Ele está meio aéreo, diz não saber quantos anos a cachorrinha tem: aliás, está no elevador que não seria o determinado pelas regras para transportar animais. Encontro um casal que me cumprimenta perguntando se estou de volta, sendo que voltei de Brasília há seis anos. Outra conhecida antiga, talvez com alguma questão de memória pelo avanço da idade, me deixou preocupado por imaginar se ela está morando sozinha e sem cuidador.

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GUERRAS ATÉ O FIM

Nas redes sociais e páginas de informação (ou desinformação) vemos a verdadeira desordem mundial. Para quem se atenta, a dúvida é: quando será o dia D? O império dos humanos que vivem no espaço geográfico chamado atualmente de Estados Unidos da América está em decadência, e já avisou há duzentos anos que se cair, vai cair atirando. Dane-se o nome da guerra ou das guerras que causará, vai cair atirando. Como as tecnologias de destruição em massa são muito mais destrutivas que nas épocas passadas, quando outros impérios caíram, arrisca agora não sobrar lugar no globo terrestre passível de manter vida humana sustentável. Fodeu!

O mundo humano produziu mais de dez mil ogivas nucleares no último século. Estados Unidos e Rússia têm mais de oito mil delas. Os Estados Unidos não aceitam essa questão de BRICS e China e Rússia e o caralho... Os Estados Unidos não aceitam substituírem o dólar como única moeda de troca no mundo - dólar é a moeda sem lastro em ouro e com lastro em bombas -, e além das bombas nucleares, os Estados Unidos sozinhos têm outra bomba mais potente que a atômica, a bomba bloqueio, essa mata pouco na hora e vai matando uma comunidade inteira atingida por ela como são os efeitos radioativos da bomba atômica após o impacto: vai matando de fome, doença, de miséria absoluta de tudo, mata principalmente indefesos: crianças, mulheres e idosos, civis incapacitados e vulneráveis de todo tipo. 

Os Estados Unidos têm e usarão cada dia mais a bomba bloqueio. Olhou feio para eles, bloqueio no país ou governo que ousou levantar os olhos para o imperador...

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CRIAÇÕES HUMANAS NÃO SÃO NATURAIS, NEM OS DIREITOS, NEM A CONCENTRAÇÃO DE RIQUEZA DE UNS E A MISÉRIA DA MAIORIA

É uma desordem mundial. No entanto, a desordem mundial tem método. Não é natural, assim como o professor Pedro Serrano nos ensinou sobre os direitos, nos lembrando que os direitos não são naturais, são criações humanas e por isso precisam ser defendidos, caso contrário não existirão mais (comentário aqui). 

A desordem mundial tem artífices, tem humanos por trás dela. É gente poderosa. Mortal, mas poderosa. Essa gente está viva e está tramando contra nós, nos quer mortos. Se não mortos, nos quer necessitados como exército de reserva. (Os capitalistas) Nos querem ignorantes, burros, seres não pensantes, de fácil manipulação. Seres medrosos (e de novo, me lembro de Drummond nos falando do medo).

As ferramentas tecnológicas (do tipo algoritmos) e as pessoas por trás delas nos roubaram filhos, pais, companheiros e amigos. Roubaram a mente, a atenção de nossos entes mais queridos. Estão nos roubando as características que nos fizeram homo sapiens ao longo de centenas de milhares de anos. 

Nos roubam a criatividade na solução de problemas que realmente importam, soluções para preservação da vida da própria espécie. Estamos nos tornando seres boçais, com características de rebanhos, quase seres bovinos mesmo!

E como um boi vai achar soluções que importam, soluções para evitar as bombas atômicas, as bombas bloqueios dos EUA? Como um boi vai lutar contra a desigualdade social, a injustiça contra as maiorias em favor de alguns?

Que foda!

A desordem é projeto de uma pequena parte dos humanos para dominar a totalidade do ecossistema. E não estamos atentos para isso. Ou estamos e não estamos nos organizando para combater e reverter a desordem.

DETALHE: como me lembrou num almoço o companheiro Deli Soares, e não sabemos nada do mundo, só vemos ou sabemos fragmentos. O que sei eu dos chineses, dos indianos, dos turcos, dos iranianos, dos povos do continente africano etc. Meu olhar atomizado é aqui do mundo ocidental hegemonizado pelo capitalismo... não sei nada de nada, só tenho algumas noções... e devem ser muito pequenas sobre as coisas do mundo.

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A DESORDEM NO TRÂNSITO, AS MOTOS, OS MOTORISTAS

No Brasil, enfrentamos uma revolução conservadora e reacionária ao mesmo tempo, pois são conceitos diferentes. O golpe de Estado em 2016 - perpetrado pelos donos do poder tanto do Brasil, a casa-grande, quanto do império norte-americano, por causa do pré-sal e da participação do Brasil nos BRICS - trouxe uma anomia que perdura mesmo após o fim do mandato de Bolsonaro na presidência do país. Uma anomia. Não existem mais regras comuns e aceitas pela cidadania. Não existem. 

Vejam o trânsito, por exemplo. Não acho que devemos culpar individualmente um homem ou uma mulher pilotando uma moto ou um carro pela desgraça que virou o trânsito nas vias urbanas e nas estradas do Brasil. É a anomia na qual nos encontramos. Milhões de pessoas que andam de motos incorporaram como "regra" que não existem regras de trânsito para elas. 

"Nenhuma regra do código de trânsito do país se aplica a uma moto" deve imaginar alguém que anda de moto... e centenas e milhares de pessoas são atropeladas todos os dias, ocupam os insuficientes leitos de hospitais todos os dias, ficam sequeladas e morrem todos os dias.

A desordem total.

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A SAÚDE QUE DEVERIA IMPORTAR E NÃO IMPORTA

Milhões de dinheiros privados e públicos, o sistema como um todo, são desperdiçados em procedimentos curativos e não preventivos, são investidos em coisas supérfluas ou estéticas como afinar um nariz, tirar uma gordurinha na coxa etc ao invés de serem utilizados nos eventos agudos e crônicos como, por exemplo, traumas de acidentes e violências, ou para salvar vidas de pessoas com câncer, com doenças tratáveis, ou ainda investidos no longo prazo para educar e mudar hábitos alimentares adoecedores da vida cotidiana no mundo em desordem mundial. 

As doenças e a criação de desejos e "necessidades" nos corpos das pessoas significam lucro, dinheiro na conta individual de uma pequena parcela de humanos com conhecimentos técnicos em saúde que deveria ter por objetivo nobre cuidar da saúde das pessoas. 

Mas no mundo organizado e focado no bem-estar dos seres humanos, pessoas com saúde não gerariam lucro para a parcela de pessoas que detém o saber médico como mercadoria e com objetivo de lucro.

A DESORDEM PESSOAL

Feita a reflexão sobre a desordem do mundo humano, finalizo minhas impressões comentando a minha desordem pessoal. Falo a minha, mas imagino que seja a desordem de muita gente por aí.

O dia começa e o dia termina e a gente não consegue cumprir o que imaginou que seria necessário ou obrigação cumprir. Às vezes, sequer sabemos delimitar onde começa ou termina o dia por não ser possível localizar o ponto de saída ou de chegada do "corre" cotidiano de cada um.

Por décadas, meu cotidiano foi organizar a categoria bancária para conquistar um espaço social mais favorável à gente de minha classe. Minha cabeça tinha o foco no coletivo, minha agenda era a mudança no mundo coletivo por saber que isso equivaleria a mudanças positivas em nosso mundo pessoal. 

Hoje, mesmo tendo mais tempo livre para a vida pessoal, mesmo não sendo agente de mudanças nas lutas coletivas com mandato eletivo, minha vida pessoal é o caos, é a desordem total. 

Será que isso acontece com a maioria das pessoas? Tenho impressão que sim. De certa forma, somos reflexo do mundo material real, nosso comportamento e nossas ideias são reflexos da desordem mundial imposta a nós pela hegemonia do capitalismo.

Nossas ideias são capturadas (ou formatadas pela realidade hegemônica), são roubadas de nós pelos mecanismos da imposição de comportamentos do fetiche da mercadoria da desordem mundial capitalista. É o que descrevi acima. Nosso cotidiano comum e banal é o cotidiano do mundo em desordem por causa do capitalismo.

Mesmo sem cumprir jornadas vendendo minha força de trabalho para algum comprador de meu corpo e de meu tempo, sigo a lógica desse mecanismo, desse sistema destrutivo do planeta e dos seres que nele habitam.

Confesso minha desordem pessoal neste mundo em desordem. Confesso minha impotência, mesmo tendo tido a oportunidade de adquirir um pouco de consciência política e de classe.

Até meu corpo está em desordem. Não sei mais o meu papel no mundo, nos espaços por onde habito. E não desisti de nada. Meu percurso existencial não me permitiria jogar a toalha. 

Seguirei observando. Estudando e escrevendo.

William


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