Refeição Cultural
Quinta-feira, 20 de novembro de 2025
CONSCIÊNCIA NEGRA E LUTA ANTIRRACISTA
O dia 20 de novembro é feriado nacional no Brasil por causa da Lei 14.759/2023, assinada pelo presidente Lula. Antes, a presidenta Dilma Rousseff, em 2011, sancionou a Lei 12.519, que estabeleceu o "Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra".
Duas pessoas estiveram em minhas lembranças e reflexões nesta data: minha irmã Telma Lúcia e o deputado estadual pelo Paraná, Renato Freitas, nosso companheiro do Partido dos Trabalhadores. Sou eleitor do PT desde 1988, militante e filiado há décadas.
Minha irmã e eu crescemos no Brasil da ditadura civil-militar dos anos setenta e fomos adolescentes no país ainda governado pelos desgraçados fardados e por seus mantenedores nos anos oitenta. Os mesmos apoiadores que seguiram no poder após o fim oficial da ditadura.
Encerrada a ditadura dos milicos de merda em 1985, os donos do dinheiro e do poder político seguiram barbarizando o povo como sempre fizeram antes e seguem até hoje fazendo a vida de quase todos nós um inferno na terra chamada Brasil.
O companheiro Renato Freitas sofreu ontem mais uma das frequentes agressões racistas que enfrenta desde que nasceu e cresceu nas veredas periféricas de um dos países mais violentos e assassinos do povo negro no mundo. Renato precisa de todo o nosso apoio porque querem calar sua voz e quebrar sua resistência de sobrevivente. Renato, estamos contigo, irmão e companheiro!
Durante a maior parte de minha vida, décadas eu diria, não tive a menor ideia do que deve ter sido a vida de minha irmã Telma. Um branco heterossexual e que conseguiu estudar até a graduação jamais saberá o que é ser negro ou negra no Brasil. Jamais! Não é possível sentir o que sente uma pessoa oprimida e perseguida por preconceito ou discriminação, qualquer que seja o ódio que ela sofra.
Cresci num país violento, machista, racista, desigual, misógino, um país que nasceu sendo uma colônia de exploração de invasores que chegaram aqui, mataram os povos que viviam na terra, destruíram os biomas, trouxeram milhões de seres humanos raptados do continente africano para trabalharem como escravizados.
Durante séculos, as crianças que nasceram aqui eram fruto de estupro de mulheres indígenas e escravizadas africanas. E durante séculos, e até hoje, os homens desta terra, não todos, mas uma grande maioria, se valeram de diversos estratagemas para a manutenção de sua violência contra as mulheres. Até as religiões fizeram parte dessas ferramentas de poder.
Somos um povo de sobreviventes e quase todos nós temos em nosso passado o sangue de uma mulher violada ou abusada por homens que construíram instituições e leis para que os privilégios deles permanecessem para sempre, independente das lutas libertadoras e emancipatórias dos povos oprimidos que foram surgindo ao longo de séculos.
Só depois que tive a oportunidade de conhecer o movimento sindical brasileiro, depois que virei bancário, foi que passei a compreender melhor a vida social e política do povo trabalhador brasileiro. A convivência no movimento sindical cutista e os ensinamentos que vieram com o tempo me permitiram ser a pessoa que sou hoje, incompleta como ensina Paulo Freire, mas um pouco mais consciente.
Temos que lutar por uma sociedade humana onde não haja nenhuma forma de preconceito e discriminação e onde as pessoas vivam suas vidas em condições igualitárias, respeitando as diferenças que nos fazem humanos, seres diversos e únicos em nossas características.
Cresci numa sociedade que insistia em me fazer ter ódio e medo. Andei por caminhos sombrios e muitas vezes só o ódio me moveu. Encontrei luzes nos ensinamentos de minha mãe, de pessoas boas e em boas leituras. O ódio vive me tentando... ao ver um racista ou fascista, o ódio me tenta... mas devo resistir e pensar no amor, na humanidade.
Pensando em minha irmã Telma Lúcia, uma sobrevivente, e no companheiro Renato Freitas, um sobrevivente, penso em todas as pessoas que sofrem pelo racismo e pelos diversos tipos de preconceito e discriminação que depõem contra a sociedade humana.
A vida pode e deve ser boa e feliz para todas as pessoas. A vida humana pode ser vivida num ambiente terrestre que respeite as diversas formas de vida. Lutemos por isso.
William Mendes
Post Scriptum: sempre participo das atividades de rua em datas importantes. Hoje tinha prioridades com questões de saúde de minha família. Não estive na Av. Paulista, mas meu coração bateu forte pelas lutas e resistência do povo negro de nosso país.



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