terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Diário e reflexões - Cuba V (17/01/23)


Seguem os estudos sobre Cuba.

Refeição Cultural - Cuba (V)

Osasco, 17 de janeiro de 2023. Noite de terça-feira.


Li hoje mais um capítulo do livro do escritor cubano Leonardo Padura. A cada capítulo que leio, percebo o quanto a leitura é densa. Li o capítulo 8. Esse que li e o capítulo 6 se passam num cenário espanhol, anos trinta, e a Espanha está em guerra civil. O personagem focado é Ramón Mercader.

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DIGRESSÃO DE LEITOR

Antes de seguir com algum comentário ou anotação sobre a leitura do romance de Padura, fiquei pensando numa questão de leitor: cara, não sou leitor pra essas coisas digitais e virtuais, o Kindle. Não sou! Que saco! Até estou me esforçando, mas como é ruim não ter o livro impresso na mão!

Já li alguns livros que acabei comprando ou baixando gratuitamente no Kindle, mas é como se eu não tivesse o livro. O último que adquiri foi o livro comemorativo com textos do escritor cubano José Martí (1853-95), uma antologia. Já me arrependi. Deveria ter comprado o livro impresso. Que saco!

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REVOLUÇÕES

Voltando à leitura do livro O homem que amava os cachorros, o romance alterna idas e vindas no tempo histórico, e a parte que conta a história da revolução russa e demais revoluções em andamento e seus personagens é uma parte fascinante e me lembra um pouco o excelente texto "Trótski - A paixão segundo a revolução", do poeta e intelectual paranaense Paulo Leminski. (ler comentário aqui)

Aliás, a difícil questão das divisões históricas entre nós do campo da esquerda é bem retratada na obra de Padura e me faz lembrar o tempo todo os mais de 20 anos envolvidos na militância sindical bancária, inclusive como dirigente eleito por 16 anos, atuando na corrente Articulação Sindical da CUT. 

Ontem e hoje, me parece não haver mudanças significativas nas concepções e práticas das mais diversas correntes políticas no campo da esquerda brasileira e mundial. A divisão é a regra, é quase como a lei da gravidade na Física...

Nos capítulos já lidos, relativos ao cenário espanhol dos anos trinta, o embate entre a direita e os fascistas versus a esquerda e um conjunto de grupos diferentes - republicanos, anarquistas, socialistas, comunistas, trotskistas - me passa a impressão que a história da esquerda no mundo nunca mudou: a unidade é impossível, quando é construída a duras penas tem duração pequena, é uma unidade efêmera.

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Alguns excertos interessantes do romance O homem que amava os cachorros:

ESPANHA: ANOS 30

"A orientação partidária do momento era primeiro consolidar uma república para mais tarde radicalizá-la, e por isso, os jovens comunistas apoiaram naquele instante crítico as acanhadas medidas do governo contra os latifundiários e o poder da Igreja, pela igualdade entre mulheres e homens, pelos direitos dos trabalhadores e, sobretudo, da grande massa camponesa espanhola, atrasada e paupérrima..." (p. 102)

TROTSKISTAS X COMUNISTAS

"(...) afirmou sua convicção de que os trotskistas eram os mais sibilinos inimigos dos comunistas e de que anarquistas e sindicalistas só podiam ser encarados como companheiros de viagem descartáveis na escalada em direção aos grandes objetivos, que seriam divergentes quando eles, comunistas, estivessem em condições de promover a verdadeira Revolução, que conduziria a uma necessária ditadura do proletariado." (p. 103)

REVOLUÇÃO NO AR

"(...) Madri, onde os partidos da Frente Popular tinham organizado uma grande manifestação para comemorar a vitória e a formação do novo governo. Na capital, encontraram aquele ambiente festivo e nervoso que imperou na Espanha até o início da guerra. Os galões de vinho saltavam das calçadas para os caminhões dos recém-libertados, as moças atiravam-lhes flores, cruzavam-se vivas à liberdade e morte à monarquia, à burguesia, aos latifundiários e à Igreja. Podia-se sentir a revolução no ar." (p. 108)

BARCELONA

"Ser trabalhador, militante, miliciano ou soldado da República transformara-se num sinal de distinção..." (p.130)

DIVISIONISMO

"O maior perigo que as forças republicanas enfrentavam, segundo a jovem, era o divisionismo, exacerbado desde o início da guerra. Nacionalistas catalães, sindicalistas de tendência anarquista ou de filiação socialista e renegados trotskistas como os do Partido Operário de Unificação Marxista (Poum) - à frente do qual estava agora a espinha atravessada do obstinado Andreu Nin, membro do próprio governo da Generalitat - já se opunham à estratégia comunista e tinham colocado sobre a mesa a questão mais transcendente do momento: a guerra com revolução ou a guerra com vitória mas sem revolução." (p.130/131)

Enfim...

O capítulo descreve as divisões, as desconfianças e as traições que iriam movimentar o atribulado campo da esquerda naquele período.

Os comunistas sob ordens diretas dos soviéticos estavam insatisfeitos com o governo socialista de Largo Caballero, etc.

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ESTUDAR É MELHOR QUE NÃO ESTUDAR, SEMPRE!

Seguimos lendo e estudando e observando o que ocorre no mundo da política em nosso Brasil do governo Lula. E a cada dia vou conhecendo um pouco mais sobre Cuba e o povo cubano. Já estou ouvindo, também, canções de Pablo Milanés, recém-falecido. 

Estudos cubanos anteriores podem ser lidos aqui. Meu blog é uma espécie de fichário de estudos, consigo rever várias coisas nele. Estudar é sempre melhor que não estudar. 

Não consigo entender a perda de interesse nos estudos como vejo ao meu redor nos tristes dias que correm. Há uma espécie de incentivo à ignorância! É assustadora a ignorância (não saber) em tanta gente por aí.

William


Bibliografia:

PADURA, Leonardo. O homem que amava os cachorros. Tradução de Helena Pitta. 2ª ed. - São Paulo: Boitempo, 2015.


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