quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Quarta-feira, 20 de novembro de 2024.


Dia da Consciência Negra

*Conceição Evaristo

Pela manhã, li um conto de nossa querida escritora Conceição Evaristo. Li "Aramides Florença", do livro Insubmissas lágrimas de mulheres.

Aos poucos, vou entendendo melhor o conceito de escrevivência. Já li alguns livros de Evaristo e seus textos são muito potentes, são delicados e duros ao mesmo tempo. 


Insubmissas lágrimas de mulheres.

A escritora aborda temas da vida cotidiana do povo preto e pobre, sobretudo de mulheres pretas e pobres, mas ela tem um jeito único de narrar as histórias duras de personagens que podem ser reais ou fictícias e que representam todas as situações reais da vida das pretas e pretos e pobres do Brasil.

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*"Eu, capitão"

Vi nesta semana o filme "Io Capitano" (2023) em cartaz no 19º Festival de Cinema Italiano. O filme do diretor Matteo Garrone narra a saga de dois primos de Dakar, Senegal, para realizar o sonho de irem trabalhar na Europa, para terem mais oportunidades na vida. 

Seydou e Moussa enfrentam os perigos do deserto do Saara, os horrores dos centros de detenção na Líbia e os perigos da travessia do Mediterrâneo. Eles são menores de idade e os espectadores vão mergulhar na realidade cotidiana dos imigrantes que saem de seus locais de origem rumo a países mais desenvolvidos do Norte global na luta pela sobrevivência. 


Cena da travessia do deserto do Saara.

Eu sofro muito durante a sessão de filmes com essa temática da realidade da miséria humana provocada, muitas vezes, pela maldade e crueldade de alguns animais humanos. No meu caso, filmes assim não são entretenimento. Mas são filmes muito necessários. 

O diretor Matteo Garrone consegue dar uma leveza na história quando foca Seydou com sua família, na relação de amor entre as pessoas e nas pequenas vitórias da vida cotidiana.

A arte traz sempre a esperança de transformar as pessoas pela catarse, pelo impacto que causa em quem tem contato com ela. A história de Seydou e Moussa foi perfeita para pensar a questão da consciência negra sendo eu um branco num dos países que mais assassinam e exploram pessoas afrodescendentes há séculos.

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*Ato da consciência negra

Hoje foi dia de atos e reflexões pelo Brasil para marcar o Dia da Consciência Negra. Em São Paulo, os movimentos se reuniram na Avenida Paulista para depois sair em marcha. Ouvimos boa música, manifestações de lideranças e pude trocar ideia com amigos.

Como tinha um compromisso no final da tarde, fui no horário marcado pela organização, 13 horas, para poder participar por algumas horas do ato.


Ato na Avenida Paulista.

Encontrei companheiros e conhecidos por lá durante as três horas em que estive na Paulista. Tive a impressão que a participação não foi muito grande. Avalio que os sindicatos e partidos poderiam ter jogado peso na convocação e lotado o ato. Vi poucos sindicalistas e quase ninguém com mandato parlamentar. 

Fiquei pensando no tema atual do identitarismo e da luta de classes sob a ótica dos debates no campo da esquerda. 

Penso que o sindicalismo e os partidos de esquerda não jogarem peso em um evento que tem uma temática identitária não agrega esses movimentos à causa central, a luta de classes. 

Vi o desenvolvimento dessa questão nos últimos trinta anos. Questões de raça, gênero, orientação etc não deveriam ser questões somente dos interessados diretos. Vira uma coisa meio de reciprocidade, um grupo só se envolve com seu tema de interesse e mais nada. É minha leitura.

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É isso.

Mais um dia de vida.

William Mendes


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