terça-feira, 12 de novembro de 2024

Leitura: Ainda estou aqui, de Marcelo Rubens Paiva (1)



Refeição Cultural 

"A memória é uma mágica não desvendada. Um truque da vida. Uma memória não se acumula sobre a outra, mas do lado. A memória recente não é resgatada antes da milésima. Elas se embaralham..." (p. 18)


A MEMÓRIA É UMA MÁGICA 

Marcelo Rubens Paiva descreve com sensibilidade a questão da memória no começo do livro. Sua mãe, Eunice, está com Alzheimer no momento da enunciação do texto, por volta de 2014.

O escritor me pegou de jeito porque uma das coisas que mais temo é alguma doença ou evento que afete o que sou, um ser humano mortal com uma única vida vivida a partir das experiências de meu cérebro, esse organizador do que sou.

Na primeira sentada para ler, já se foram os primeiros três capítulos: "Onde é aqui?", "A água que não era mais do mar" e "Blá-blá-blá...". 

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CANHOTOS ERAM UMA ABERRAÇÃO 

"(...) ela me contou que na escola seu apelido era Italianinha, o que a deixava furiosa, e que davam reguadas na mão esquerda para forçá-la a escrever com a direita, quando o mundo pedagógico achava que canhotos eram uma aberração e que deveriam ser destros." (p. 46/47)

Cara, a mãe do autor, Eunice, passou pelo mesmo caso que eu! Canhotos que foram impedidos de serem sinistros (rsrs) por serem considerados aberrações...

Quem descobriu que eu era canhoto foi a Maria Luíza, colega do Banco do Brasil, em meados dos anos noventa, na agência Rua Clélia. Depois, ao indagar sobre a questão, minha mãe me contou que na época era comum a sociedade tentar endireitar um canhoto.

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A PAZ QUE NUNCA MAIS ENCONTREI

"Minha rotina era de uma paz que nunca mais encontrei." (p. 66)

Cara, que descrição de uma época da vida!

Na hora, vi a vida que vivi até os dez anos de idade no Rio Pequeno, em São Paulo... 

Acho que nunca mais encontrei a paz...

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ADOLESCÊNCIAS: DIVERSAS E ÚNICAS, MAS IGUAIS

Os dois capítulos que fecham a Parte 1 do livro - "Cometas da memória" e "Mãe-protocolo" - me lembraram a infância e adolescência. 

Marcelo Rubens Paiva conta a vida dele, de jovem da classe média alta, diria, mas sua história é um pouco o espelho da história de todos nós, independentemente da classe social.

Os amores platônicos da infância e adolescência. Quase toda memória terá dos seus: Valéria, Márcia, Marael, Simone, Eliane, Ione.

O autor foi detido pela polícia numa moto 125 CC sem habilitação em 1976. Eu fui detido numa CG 125 sem habilitação voltando do trabalho de madrugada, mais ou menos no final de 1987. Trabalhava na lanchonete New Dog. 

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CONHECENDO EUNICE E MARCELO

O leitor termina a leitura da Parte 1 conhecendo bem Eunice, mãe de Marcelo Rubens Paiva, um dos cinco filhos do casal.

O pai, Rubens Paiva, desapareceu quando o autor-narrador tinha onze anos (1971), a família teve mudanças radicais na vida até o momento em que Marcelo sofre um acidente e fica tetraplégico em 1979. 

Que leitura até aqui! Me fez reviver minhas lembranças enquanto conhecia as lembranças de Marcelo, e enquanto conhecia também sua mãe, Eunice.

Sigamos na leitura...

William 


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