terça-feira, 22 de dezembro de 2020

11. O caso dos dez negrinhos - Agatha Christie



Refeição Cultural - Cem Clássicos

Li este romance policial da escritora inglesa Agatha Christie na adolescência, nos anos oitenta. Na época, li vários livros reunidos sob a denominação de "best sellers", muitos deles lançados entre os anos cinquenta e início dos oitenta. Eram os livros que mais apareciam para mim naquele momento de minha vida de trabalhador braçal.

Foram leituras importantes para aquele momento de minha vida. Li obras como A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera; Lolita, de Vladimir Nabokov; O poderoso chefão, de Mario Puzo; Admirável mundo novo, de Aldous Huxley; A volta ao mundo em oitenta dias, de Júlio Verne; Shibumi, de Trevanian; A boa terra, de Pearl S. Buck etc. Foram algumas dezenas de livros. Li vários de Stephen King e alguns ficaram marcados em minha memória. 

Enfim, minhas leituras na adolescência e até por volta de uns 30 anos de idade não foram leituras "engajadas" como diriam nas academias e nos espaços de intelectualidade, mas foram leituras interessantes. Segundo alguns textos críticos sobre literatura, as narrativas ficcionais são fundamentais para a formação das pessoas porque a literatura coloca à disposição dos leitores as mais diversas formas de cultura e conhecimento da sociedade humana.

Atribulados como estamos diante das crises que nos assolam neste momento de pandemia de Covid-19 e ascensão de neonazismos, neofascismos e um barbarismo tupiniquim chamado bolsonarismo, às vezes nem ler conseguimos mais. Falta-nos concentração, tesão para leituras e reflexões e nos deixamos levar pelo marasmo do nada fazer. Mas ler é preciso, nem que sejam leituras amenas, de passa tempo.

Foi assim que olhei na estante e peguei um livro antigo para ler no final de semana. Peguei O caso dos dez negrinhos, de Agatha Christie. O livro é de 1939. É um clássico da literatura de romance policial. Não temos nele, ainda, Hercule Poirot nem Miss Marple, personagens clássicas de Christie, mas a estória envolve o leitor do início ao fim. Peguei e fui lendo sem dificuldades as 254 páginas do romance até a solução do caso ao final. Eu não me lembrava de absolutamente nada da primeira leitura que fiz na adolescência.

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"Dez negrinhos vão jantar enquanto não chove;
Um deles se engasgou, e então ficaram nove.
Nove negrinhos sem dormir; não é biscoito!
Um deles cai no sono, e então ficaram oito.
Oito negrinhos vão ao Devon em charrete;
Um não quis mais voltar, e então ficaram sete.
Sete negrinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles se corta, e então ficaram seis.
Seis negrinhos de uma colmeia fazem brinco;
A um pica uma abelha, e então ficaram cinco.
Cinco negrinhos no foro, a tomar os ares;
Um ali foi julgado, e então ficam dois pares.
Quatro negrinhos no mar; a um tragou de vez
O arenque defumado, e então ficaram três.
Três negrinhos passeando no zoo. E depois?
O urso abraçou um, e então ficaram dois.
Dois negrinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, então ficou só um.
Um negrinho aqui está a sós, apenas um;
Ele então se enforcou, e não ficou nenhum.

(CHRISTIE, p. 31)

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O romance cujo nome original é Ten Little Niggers foi traduzido como O caso dos dez negrinhos e também como E não sobrou nenhum por causa das questões relativas ao racismo.

Minha leitura foi descompromissada, de passa tempo como disse, não fiz leitura crítica do romance, nem com olhar atento às questões de linguagem característica das discussões que aprendi durante minha vida na luta do movimento sindical relativas à gênero, raça, orientação sexual e outras temáticas importantes.

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"- Brancos ou pretos, eles são nossos irmãos - retrucou duramente Emily Brent.
'Nossos irmãos pretos... nossos irmãos pretos', pensou Vera. 'Oh! que vontade de rir! Estou ficando histérica. Não sou mais a mesma...'
". (p. 93)

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Pelo exemplo acima, é fácil notar que a narrativa é eivada de preconceito e demais temáticas das lutas identitárias. Mulheres são tratadas como "histéricas", pessoas são tratadas de forma preconceituosa conforme suas raças, origens, posições sociais etc.

Não vamos esquecer que o romance é dos anos 30/40 do século XX e o olhar de mundo do romance de Agatha Christie não deixa de trazer o olhar de mundo do seu lugar de fala, o mundo do imperialismo britânico.

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"- Admirável animal, o bom criado - comentou Philip Lombard. - Continua a trabalhar impassível.
- Rogers é um mordomo de primeira, é preciso que se diga! - volveu Armstrong, com apreço.
" (p. 114)

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Viu o que disse sobre as questões que conseguimos ver claramente no romance?

No entanto, valeu a releitura. Gostei.

Reli Agatha Christie após décadas de contato com a obra dela, e de fato esse romance é um dos mais famosos e clássicos da autora inglesa. 

Eu também li na adolescência Assassinato no Expresso do Oriente (1934) e vi nos anos oitenta uma das adaptações para o cinema, mas não tenho mais o volume para reler agora.

Sigo contando os clássicos que li, os meus livros clássicos, valendo na contagem obras literárias, históricas, ensaísticas, sociológicas, filosóficas etc, vamos ver se uma hora chego ao número cem, cem clássicos da literatura universal.

William


Bibliografia:

CHRISTIE, Agatha. O caso dos dez negrinhos. Tradução de Leonel Vallandro. Círculo do Livro, Editora Globo.


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