domingo, 13 de dezembro de 2020

131220 - Diário e reflexões




"O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, 
            [doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos 
do lobo, na solidão."

(Passagem do Ano, Drummond)

Refeição Cultural

Domingo, dia do Senhor. Foi assim que aprendi quando criança em minha formação ocidental cristã brasileira dos anos setenta e oitenta. Na missa do padre Kirano, na Paróquia São Patrício, no bairro onde nasci - Rio Pequeno - uma das músicas que tocavam aos domingos dizia assim:


"Hoje é domingo, dia do Senhor,
indo para a missa, renovo meu amor,
pois se na semana que passou,
eu me afastei de ti, Senhor,
agora nesta missa, perdoa-me Senhor..."

Fui criado por meus pais na cultura católica. Fui criança e cresci durante a ditadura civil-militar dos anos setenta e oitenta, quando as crianças tinham aquelas obrigações de ficarem em fila nos pátios dos colégios ouvindo o Hino Nacional e nos adestravam com aulas de "Educação Moral e Cívica". Dias atrás, nas eleições, revi o pátio do colégio Adolfino, onde aprendi a ler e escrever.

E ainda tinha, na ditadura, o Silvio Santos fazendo propaganda dos ditadores na sua TV com o quadro "Semana do Presidente", que o empresário lambe-botas tentou ressuscitar, décadas depois, para puxar o saco do fascista genocida no poder por novo golpe da Casa Grande contra a débil democracia brasileira.

Aff, que começo de diário! Comecei falando que o domingo é dia do Senhor e descambei para a lembrança da fossa fétida na qual estamos atolados até o pescoço. Difícil... 

A gente tenta pensar naqueles ensinamentos da cultura cristã, de amor, fraternidade, igualdade, justiça e paz social e a realidade se impõe a nós com todo o ódio, morte, predomínio da mentira, da maldade e da desigualdade e canalhice que os grupos no poder escarram na sociedade brasileira. 

E o pior de tudo, chegaram ao poder abusando da fé das pessoas e usando o nome de Deus e Jesus e Maria e seus apóstolos e anjos e arcanjos; e os ignaros e miseráveis não só caíram no conto do vigário quanto estão cegos, idiotizados e perderam a capacidade de pensar e perceber o quanto foram manipulados por vigaristas e falsos profetas.

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Domingo. Estamos sob a maldição da pandemia do novo coronavírus. Parece que todas as mitologias dos povos primitivos do mundo se realizaram como previsto nos futuros apocalípticos de suas narrativas. 

Depois das duas guerras mundiais e do nazismo e do fascismo, achava-se que o mundo tinha aprendido e que não voltaríamos a viver sob novos regimes genocidas e totalitários e, no entanto, cá estamos com neonazismos e neofascismos pipocando pra todo lado no mundo. Até "nóis" na jabuticaba Brasil agora temos o nosso fascista no poder.

O vírus da pandemia é combatido em quase todos os países do mundo. Quase todos! Aqui onde sobrevivo, o vírus tem o maior aliado que um agente da morte poderia ter: o governo do novo regime totalitário. Aqui o governo quer que os cidadãos peguem o vírus, morram com o vírus, adoeçam e fiquem com sequelas pro resto da vida por causa do vírus da morte Covid-19. O Brasil é o único caso no planeta Terra a ter um governo, um regime, aliado ao Sars-CoV-2.

Eu queria falar das dezenas de crimes passíveis de impedimento do genocida no poder, mas mudei de ideia. Não adianta. Os crimes diários se repetem há dois anos e o golpe foi "com o Supremo, com tudo" e a casta no poder estatal é parte dessa merda toda. Não há saída institucional para o povo, mas o povo está por aí, em festa, mesmo morrendo mortes severinas, comemorando o Natal e o futebol com Covid-19 e comemorando tudo, apesar que eu não consigo ver o que se tem pra comemorar. 

Como diz o poeta "doce morte com sinfonia e coral".

Ahh, os números de mortos e infectados por Covid-19 do dia de hoje, 13 de dezembro (passou um pouquinho dos 7 mil que os bolsonaristas falaram que teríamos) e a pandemia está em ascensão no mundo todo. Vem muita morte por aí, principalmente no Brasil onde o regime atua contra a vacinação, o isolamento social, o uso de máscaras etc:

Mundo: 71,8 milhões de infectados e no Brasil 6,9 milhões. No mundo, morreram 1.607.296 pessoas, e no Brasil (subnotificados) 181.123 mortos. Mas... é preciso registrar que o Congresso está com Bolsonaro; as instituições da República estão com Bolsonaro; os barões da grande imprensa estão com Bolsonaro. Dezenas de milhões de pessoas do povo estão com Bolsonaro: povo preto(a), pardo(a), marrom, pobre, "classe média", "escolarizado(a)" e com alguma fé ou religião. Por isso ele e seu clã seguem no poder.

É isso. Registrado o dia de domingo, dia do Senhor.

William


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