sexta-feira, 10 de julho de 2009

A poesia em 1930, de Mário de Andrade


Mário de Andrade, pintura de Lasar Segall.

Mário destaca a aparição em 1930 de 4 livros de "poetas feitos", segundo ele, "quatro livros de poetas na força do homem", destacando que já não são moços e sim poetas. Drummond - Alguma poesia. Manuel Bandeira - Libertinagem, Augusto Schmidt - Pássaro Cego e Murilo Mendes - Poemas.

(aqui focarei Manuel Bandeira)



POESIA CONTEMPORÂNEA: O RITMO


"A poesia brasileira muito que tem sofrido destas inconveniências (da aurora), principalmente a contemporânea, em que a licença de não metrificar botou muita gente imaginando que ninguém carece de ter ritmo mais e basta ajuntar frases fantasiosamente enfileiradas pra fazer verso-livre".


Desprovido o poema de metro e rima, fica o... talento. (Mário de Andrade)



Mário faz duras críticas aos que põem em livros poesias juvenis e pueris: "escrevam se quiserem, mas não se envolumem".



FIM DA IMPERSONALIZAÇÃO DAS MÉTRICAS TRADICIONAIS


"Verso livre é justamente aquisição de ritmos pessoais. Está claro que se saímos da impersonalização das métricas tradicionais, não é pra substituir um encanto socializador por um vácuo individual. O verso livre é uma vitória do individualismo... Beneficiemos ao menos dessa vitória".



COMENTÁRIO DO BLOG: Este é um individualismo positivo, pois que trata do subjetivismo do ser humano.



Libertinagem, é um livro de cristalização de Manuel Bandeira, da sua psicologia e não da sua poesia, já madura. Cristaliza seu ideal estético: Mário diz "libertação pessoal".



POÉTICA


"Estou farto de lirismo comedido
Do lirismo bem comportado...
(...)
Não quero mais saber do lirismo que não é libertação."

A aula de teoria literária de Mário de Andrade é tão complexa que fica difícil escolher trechos para destacar.



BANDEIRA E POESIA: AMANTES BEM CASADOS


"Bandeira lembra esses amantes bem casados que, depois de tanta convivência, acabam se parecendo fisicamente um com o outro. Assim a rítmica dele acabou se parecendo com o físico de Manuel Bandeira. Raro uma doçura franca de movimento. Ritmo todo de ângulos, incisivo, em versos espetados, entradas bruscas, sentimento em lascas, gestos quebrados, nenhuma ondulação. A famosa cadência oratória da frase desapareceu. Nesse sentido, Manuel Bandeira é o poeta mais civilizado do Brasil: não só pelo abandono total do enfeite gostoso, como por ser o mais... tipográfico de quantos, bons, possuímos. Quero dizer: se a gente contar na Poesia a maneira dela se realizar, desde o grito inicial à poesia cantada, à manuscrita que se decora, à recitada com acompanhamento, à declamada, à poesia, enfim concebida exclusivamente pra leitura de olhos mudos: Manuel Bandeira é dentre os poetas vivos nossos o que prescinde mais do som. A poesia dele, na infinita maioria atual, é poesia pra leitura...".


No poema O Cacto, o último verso diz bem o ritmo de então de Manuel Bandeira:


"Era belo, áspero, intratável."



DUALISMO CURIOSO: ESSÊNCIA "INTRATÁVEL" x O LÍRICO


"Aliás se dá mesmo uma luta permanente entre essa essência 'intratável' do indivíduo Manuel Bandeira e o lírico que tem nele. Vem disso o dualismo curioso que a gente percebe nas obras dele, passando de jogos com valor absolutamente pessoal, duma detalhação por vezes pueril (no sentido etimológico da palavra), difícil de compreender ou de sentir com intensidade pra quem não privou com o homem, a concepções profundas, duma beleza extremada e interesse geral. Interesse em que não entra mais o conhecimento pessoal do poeta, ou coincidência psicológica com ele. As melhores obras do poeta, Andorinha, O Anjo da Guarda, A Virgem Maria, Evocação do Recife, Teresa, Noturno da Rua da Lapa, pra citar apenas o Libertinagem, são as poesias em que por mais pessoais que sejam assuntos e detalhes, mais o poeta se despersonaliza, mais é toda a gente e menos é caracteristicamente ritmado. A própria Evocação do Recife que atinge o recesso da família chamada nominalmente (Totônio Rodrigues, dona Aninha Viegas), é bem a maneira por que toda a gente ama o lugarinho natal...".


(SEGUE O ESTUDO...)



Bibliografia:


ANDRADE, Mário de. Aspectos da literatura brasileira. Livraria Martins Editora S.A., São Paulo, 1974, 5ª. edição.

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