sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 24 de janeiro de 2025. Sexta-feira.


"O óbvio é aquilo que nunca é visto até que alguém o manifeste com simplicidade" (Kahlil Gibran)


Na minha cabeça as cismas são relativas a sentimentos diversos, sentimentos que não me fazem bem, é certo. Tenho maturidade e experiência para lidar com sentimentos ruins, pelo menos se comparar com o comportamento que tinha décadas atrás. As oportunidades que tive nas veredas que trilhei me moldaram para não ser pior do que era antes, acho até que melhorei sim com o aculturamento que tive nas últimas etapas da existência.

Na minha cabeça algumas palavras que significam coisas profundas ficam vibrando ando ando, palavras como memória, identidade, liberdade, morte, história, vida, tempo, consideração, responsabilidade, pertencimento, conhecimento e outras palavras ou expressões com significados que qualificam* a experiência do animal humano enquanto existe ou até mesmo que o qualificam após sua passagem pelo planeta Terra.

* Substantivos que dão sentido à existência, é o que quero dizer com qualificar a experiência humana. 

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"O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
"

(Poema de sete faces, CDA)

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Em dias como hoje, com dores no quadril e na região lombar, minha consciência acende um sinal de alerta que fica piscando piscando piscando dentro da cabeça, cismando com cenários quiçá catastróficos para a sequência de minha existência. Não sou o homem por trás dos óculos e do bigode, como diz Drummond, mas sou o homem que associa bastante sua vida aos olhos e às pernas, para ler e para caminhar.

Meu passado público não existe mais, não tenho passado, até porque passado real não é nada mesmo em tempos de ascensão nazifascista, quando só a manipulação e invenção de passados interessam aos grupos que estão na disputa pela hegemonia total dos ambientes materiais e imateriais. 

Sem passado, meu medo é perder minha memória, minha identidade. Ao menos eu mesmo teria que saber se o que fiz na vida foi real ou se tudo não passa de uma invenção da minha imaginação. Já pensou se uma doença degenerativa apaga minha memória já apagada por outros?

Como não tenho domínio sobre o tempo, assim como não tenho domínio sobre o passado, a vida e a morte, devo exigir de mim mesmo, de minhas faculdades mentais, a definição de prioridades para o presente, o instante, o minuto que vivo estou.

Em face das leituras de realidade que faço, avalio que devo focar meu tempo em resgatar minha história de lutas e estudos e minhas reflexões e contribuições ao mundo registradas em meus blogs o mais rápido que puder. Não sei o dia de amanhã, nem o meu como ser humano mortal, nem o do ecossistema virtual onde estão meus milhares de textos de toda uma vida cultural e política.

Vou parar uns dias e a partir do mês que vem, vou me concentrar na tarefa de minha produção literária de duas décadas. Tenho que seguir relendo, diagramando e encadernando milhares de textos dos dois blogs que mantenho desde 2006.

Também seguirei tentando ler os clássicos da literatura universal porque era um sonho antigo e ainda tenho pilhas de livros para ler. Os desejos de leituras tinham motivações diferentes a cada aquisição de livro desde a adolescência. Agora, a leitura deve ser somente por sede de saber e por prazer.

Às vezes, me envolverei em questões políticas porque político sou, não sou alienado. Nesta semana mesmo, por ter leitura diferente do encaminhamento tomado pelo movimento sindical ao qual militei por décadas, dediquei um tempinho em me informar sobre temas do momento e escrevi minha opinião a respeito da questão no blog A Categoria Bancária.

Mas pretendo focar meu tempo relativamente saudável aos meus textos, leituras e coisas que não me tragam tanto sofrimento quanto os desgostos da política.

Acho que é isso.

A frase que abre esta reflexão, sobre o óbvio, foi um presente que ganhei de funcionários da Cassi nos primeiros meses como gestor eleito da autogestão. Enfrentei absurdos cotidianos com muita coragem, pois pouca gente parecia disposta a dizer o óbvio naquele ambiente no qual militei na defesa de direitos em saúde e na defesa da Caixa de Assistência e seu modelo assistencial.

William


2 comentários:

  1. Maravilha de frase, não a conhecia.

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  2. Amiga Marili, como anda necessário dizer o óbvio para as pessoas! Abração aos queridos familiares!

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