Refeição Cultural
Quarta-feira, 30 de abril de 2025.
ABRIL
O que sei? Por enquanto, sei o que sou, o que fui, e não tenho como saber o que serei, nem se serei alguma coisa. Não poderia dizer que "sei que nada sei", porque eu sei alguma coisa: honestidade intelectual.
Sei, por exemplo, ou tenho forte impressão, por leitura de cenários e por alguma experiência política, que grandes mudanças estão em curso na sociedade humana, grandes mudanças (não são mudanças positivas para as maiorias).
Sei algo da emergência climática. Sei algo das movimentações da direita fascista. Sei algo do passado, a História, e vejo sinais de grandes tribulações em breve. Sei algo das fragilidades da esquerda para resistir ao que vem por aí.
Me parece que não mudaremos o mundo neoliberal e capitalista por vontade política, não tivemos força de vontade suficiente nem inteligência para isso. As mudanças se darão da forma mais distópica possível: pelas consequências do capitalismo neoliberal. Mundos distópicos são lugares de opressões, falta de liberdades e misérias.
Os recursos naturais do planeta Terra e as melhores possibilidades materiais de existência da vida humana e das demais formas de vida estão se esgotando rapidamente pelo simples desejo de meia dúzia de animais humanos que não merecem esse poder todo de foder o mundo. "Meia dúzia" é forma de expressão: uma ínfima parcela da espécie está fodendo toda a espécie e o ambiente.
Um indivíduo de nossa espécie pode hoje destruir milhões de formas de vidas, ecossistemas inteiros e nada acontece a ele. Outro indivíduo pode dominar sistemas globais de comunicação ou de fornecimento de meios produtivos que fazem milhares de comunidades funcionarem, ou NÃO funcionarem, e milhões de humanos acham isso "normal". Um indivíduo pode inviabilizar milhões... e acham isso normal!
Privatização é isso, por exemplo. E até você que me lê, pode ser que ache isso normal.
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56 OUTONOS
Meu abril está terminando. Mais um mês de vida. Essa leitura do tempo é uma abstração humana, invenção da nossa espécie. Estou sobrevivendo na superfície deste planeta há 56 outonos.
Este animal que registra palavras nesta página virtual das plataformas digitais de nossos inimigos da humanidade sabe que os milhares de textos que produzi nas duas últimas décadas nessas páginas chamadas de "blogs" não vão durar para sempre aqui. Se um(a) produtor(a) de cultura do passado tivesse guardado sua produção numa "nuvem" como se faz hoje, jamais conheceríamos a produção dessa pessoa.
Meu caso vale para os milhões de textos e produções da criação humana das últimas três décadas: boa parte de todo o conhecimento de nossa espécie produzido dos anos noventa para cá está nas "nuvens" de meia dúzia de capitalistas. E quem está preocupado com isso? Muitas pessoas e instituições que já produziram conteúdo não guardaram sua produção em outras mídias.
Em um eventual mundo distópico, desses que queimam livros como em "Fahrenheit 451", de Ray Bradbury, os ditadores e seus "bombeiros" não precisarão fazer nada mais que apertar um botão de "delete". Vaporizado!
Primeiro nos tornam usuários e dependentes e depois nos dominam pelo vício e pelo costume, pelas "facilidades", e pela perda da capacidade de viver sem aquela coisa.
Nas próximas etapas de disputas da espécie humana pelo espaço vital - o próprio planeta e seus recursos -, alguns detentores de tudo, absolutamente tudo, irão inviabilizar todas as comunidades-alvo simplesmente através do corte de energia e transmissão de dados. Eu e vocês, reles mortais, ficaremos iguais baratas tontas, sem ter o que fazer... sem energia elétrica, sem as parafernálias funcionarem...
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SISTEMATIZAÇÃO DE MINHA PRODUÇÃO TEXTUAL
E foi assim que percebi nas reflexões dos últimos tempos que não poderia mais priorizar nenhum de meus desejos pessoais como leitura dos clássicos da literatura mundial ou dos livros que gostaria de ler do que dedicar meu tempo livre possível para tratar dos milhares de textos que produzi e que não estão organizados e sistematizados de forma segura e cronológica como acho digno estarem.
Sigo relendo, diagramando, encadernando e sistematizando o que escrevi durante a fase mais produtiva de minha vida. Já encontrei textos que seguem válidos, já encontrei muita história coletiva, porque somos seres sociais, já refleti muito no presente mediante o que escrevi no passado. O que somos é feito do que fomos, como nos explica o professor Antonio Candido. Sei disso, percebo isso.
Os dois cadernos que finalizei nesta semana, que ilustram essa postagem, são exemplos do que estou dizendo. Um caderno é do primeiro mês do blog, de 2007, e nele Machado de Assis é o centro temático do blog. Outro, os primeiros três meses de 2025: um catatau de 300 páginas, com poesias próprias, com comentários sobre filmes, com reflexões diárias sobre livros, política, o mundo e a vida.
Eu sinto que não tenho um minuto a perder em relação ao trabalho que tenho que fazer com os milhares de textos de minha vida. Meu corpo me avisou que cansou, eu sinto isso ao contatar meu eu interior. Nos textos, estão registrados muitos momentos da minha passagem pelo mundo. Tenho que seguir na tarefa. Se eu completá-la, penso na vida no dia seguinte.
William
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