terça-feira, 2 de julho de 2024

One Piece - Eiichiro Oda v.1



Refeição Cultural 

O mangá One Piece foi publicado pela primeira vez no Japão em 1997. A publicação saiu no Brasil pela Panini em 2012. 

Meu filho gosta do mangá e anime desde pequeno. Por incentivo dele, estamos assistindo ao anime e já passamos dos 300 episódios, terminamos os arcos Water 7 e Enies Lobby. Contei sobre essa aventura de assistir One Piece aqui.

Peguei o volume 1 do mangá para ler. O primeiro capítulo "Romance Dawn - O amanhecer de uma aventura", nos apresenta alguns personagens da saga: Monkey D. Luffy, o garoto do vilarejo; Gold Roger, o lendário "Rei dos Piratas"; Shanks, o ruivo, líder dos piratas do vilarejo; Makino, a dona do bar do vilarejo; e Higuna, líder dos bandidos da montanha. 

A história de Luffy começa com uma cena impactante: o garoto está na ponta da proa do navio, com uma faca na mão, e de repente se corta no rosto, ferimento próximo ao olho esquerdo. 

Mais adiante, vemos que o ato foi para provar sua coragem ao capitão Shanks, pois ele queria ir embora com os piratas, mas por ser muito novo não conseguiu realizar seu desejo.

Outra informação central na história foi saber que Luffy, sem querer, acabou comendo um fruto do diabo, um "akuma-no-mi", um dos tesouros dos mares. 

Luffy comeu uma fruta "gomugomu-no-mi" que transformou o garoto em homem-borracha. O problema disso foi que Luffy nunca vai aprender a nadar, uma habilidade considerada quase que indispensável para um pirata, como o capitão Shanks sugeria ao garoto quando negava levá-lo junto à tripulação do navio. 

A ação do primeiro capítulo se desenvolve quando o bandido das montanhas Higuna humilha Shanks e seu bando no bar de Makino. Shanks não reage às provocações de Higuna e o garoto Luffy fica indignado com o fato. Foi uma decepção para o menino não ver o capitão pirata reagir às provocações do bandido da montanha.



A AMIZADE, UM VALOR NOBRE

No final da ação, o que ficou demonstrado para os leitores foi que o capitão Shanks tem uma paciência enorme para provocações violentas de adversários, ele evita brigas e combates até o último instante. 

No entanto, quando alguém ameaçou um amigo de Shanks, a reação foi necessária. O bandido Higuna estava maltratando Luffy quando os piratas voltaram ao vilarejo. Nesse momento, os piratas reagiram às provocações do bando da montanha.

Shanks salva Luffy por duas vezes, primeiro do bandido Higuna e depois no mar, quando um monstro devoraria o garoto. A cena do salvamento de Luffy e de Shanks se expondo frente ao monstro é um marco na história da vida de Luffy e da saga One Piece.

Luffy promete a Shanks que vai se tornar um pirata quando crescer e que será o Rei dos Piratas. Antes de partir definitivamente, Shanks entrega a Luffy seu chapéu preferido, o Chapéu de Palha, e diz para o garoto guardar com ele o chapéu até esse dia no futuro em que Luffy será melhor que o bando dele, será o Rei dos Piratas.

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A FORÇA DAS IDEIAS E A FORÇA DA VIOLÊNCIA

Uma cena do primeiro capítulo de One Piece me fez lembrar um evento pessoal de meses atrás. Um evento triste.

Uma pessoa querida defendia a ideia que ao ser provocado num bar por tipos como Higuna a reação adequada seria resolver o problema com a força da violência ao invés da força das ideias, como fez Shanks naquele momento de humilhações no bar sem reagir a Higuna e seu bando.

O garoto Luffy ficou muito bravo com Shanks e ficou decepcionado com a não reação do capitão à provocação de Higuna. A atitude pareceu a Luffy covardia. Essa ideia era a que a pessoa querida defendia, que homem que é homem não poderia deixar de reagir perante uma provocação em uma cena de bar.

À época, eu tive a infeliz ideia de dar a minha opinião sobre essa questão de ser ou não ser homem através da atitude de reagir com violência ou não numa cena de provocação de bar. Foi uma merda. Ao dizer que isso era uma atitude de pessoas sem educação formal e formação cultural e sem ter tido contado com o mundo das ideias, a pessoa se sentiu ofendida. E nunca mais tivemos uma relação próxima como antes.

Eu não mudei de ideia, na essência do que quis dizer. Continuo achando que uma pessoa que teve acesso à cultura, que pôde alimentar as ideias e o espírito, deveria ser contra o império da força e da violência gratuita. Quem defende isso é o extremista de direita, é o fascismo.

O que mudei é que hoje eu não daria a minha opinião sem ser chamado a dá-la. O que tenho percebido é a mudança radical nos seres humanos da atualidade. Talvez tenhamos que tratar a todas as pessoas como estranhas, porque talvez todos sejamos estranhos uns aos outros. Sem intimidades ou ideias de laços inquebráveis pela convivência ou antiguidade da relação.

Me lembro quando criança os ensinamentos que eram repetidos ad nauseam pelo mestre de Kung Fu e seus discípulos que nós os alunos nunca deveríamos brigar nas ruas, deveríamos evitar ao máximo reagir com violência às provocações dos moleques na rua, eu tinha uns doze ou treze anos, porque vencedor era o que vencia sem lutar, mesmo tendo o dom de vencer lutando. No dojô tinha uma placa com esses dizeres na parede central da academia.

O que Shanks demonstrou ao garoto Luffy foi exatamente isso. Não valia a pena reagir com violência àquelas provocações no bar por tão pouco.

No entanto, o valor da amizade falou mais alto. Ao ver o mesmo bandido maltratando e ameaçando um amigo, Luffy, a reação de Shanks e seu bando foi outra.

Essa cena do primeiro capítulo de One Piece é uma carta de princípios, um valor a se defender, mesmo no mundo dos piratas: não se deve lutar sem necessidade e deve-se defender uma amizade a qualquer preço.

William


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